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Artes - O legado da obra de Christo, genio da arte contemporanea mundial

RFI

Um dia por semana, em média, veja aqui os nossos destaques no mundo da cultura e das artes. Excepcionalmente, em função da actualidade, esta rubrica pode ter vários destaques.

Location:

Paris, France

Networks:

RFI

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Um dia por semana, em média, veja aqui os nossos destaques no mundo da cultura e das artes. Excepcionalmente, em função da actualidade, esta rubrica pode ter vários destaques.

Language:

Portuguese


Episodes

"Nome", cinema da Guiné-Bissau, em encerramento da mostra ACID de Cannes

5/26/2023
"Nome", a mais nova longa metragem do guineense Sana Na N'Hada, estreou em Cannes no encerramento da mostra ACID, consagrada ao cinema independente. O realizador misturou os seus arquivos da luta de libertação com uma ficção cuja intriga decorre desde os finais dos anos 60 até aos primeiros anos da independência, proclamada em 1973 e reconhecida no ano seguinte pela ex potência colonial, Portugal. "Nome", é assim que se chama, também, o protagonista do filme. Ele acaba, em 1969, por se juntar ao PAIGC, Partido africano para a independência da Guiné e Cabo Verde. Dos ideais da luta contra o exército colonial português sucede-se a ganância do protagonista, nos primórdios da independência. Um filme que causou sensação na sua estreia em Cannes e que, com a mostra ACID, tem a garantia de ser projectado numa série de cidades europeias, em França, em Portugal, na Sérvia, por exemplo. O realizador, que trabalhou com João Ribeiro, na fotografia, e Remna Schwarz, na música, garante que estão também a ser envidados esforços para permitir a estreia da longa metragem na capital guineense.

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Cabo Verde com curta metragem na programação no Festival de Cannes

5/26/2023
Patrícia Silva realizou "Mãe pretinha", curta metragem cabo-verdiana programada no "Short film corner" do Festival de cinema de Cannes. A também socióloga ligada ao teatro, oriunda da ilha de São Vicente, veio, pela primeira vez a este certame e partilhou as suas impressões sobre a experiência.

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Obras de Jean-Michel Basquiat e Andy Warhol a quatro mãos na Fundação Louis Vuitton

5/23/2023
Até Agosto, a Fundação Louis Vuitton em Paris expõem dezenas de obras feitas em conjunto por Jean-Michel Basquiat e Andy Warhol, contando não só a parceria artísitca entre estes dois vultos da arte contemporânea, mas também a sua amizade e como este encontro influencia a arte e os artistas em todo o Mundo até hoje. Há 35 anos desaparecia o artista norte-americano Jean-Michel Basquiat. Durante os seus 27 anos de vida teve uma produção fulgurante deixando mais de 2.000 quadros e desenhos, assim como escritos e também uma grande influência nos estilos urbanos como o grafiti, mas também a música dos anos 80, especialmente no rap, tendo chegado mesmo a integrar diversos grupos e a produzir discos de artistas nos quais acreditava. Na sua curta vida, Jean-Michel Basquiat, que tinha origens haitianas e porto-riquenhas, procurou um regresso à sua ancestralidade, apresentando na sua representação da arte moderna, uma reinterpretação da arte africana, como máscaras cerimoniais e silhuetas inspiradas na arte tradicional, dando, pela primeira vez na história da arte ocidental, um lugar de destaque às figuras negras. Ainda em vida, Jean-Michel Basquiat atingiu o estrelato e a admiração do mundo da arte, e, nesta trajectória, um dos momentos mais importantes para o artista foi a parceria com um dos seus ídolos, Andy Warhol. Com 30 anos de diferença, Warhol e Basquiat travaram uma amizade que os marcaria profundamente a nível pessoal e uma colaboração artística intensa que durou entre 1982 e 1985 tendo produzido 160 quadros a quatro mãos. Para lembrar este período áureo da arte contemporânea e assinalar os 35 anos da morte de Jean-Michel Basquiat, que morreu de uma overdose de drogas em 1987, a Fundação Louis Vuitton, em Paris, organiza até final de Agosto, uma retrospetiva com as principais obras elaboradas por Basquiat e Andy Warhol. Os dois artistas vão trocar entre si hábitos e formatos, com Andy Warhol a voltar a pintar e Basquiat a descobrir-se através dos grandes formatos comos explicou Olivier Michelon, comissário da exposição BASQUIAT versus WARHOL, À QUATRE MAINS, em entrevista à RFI. "Não sei se a influência no estilo se possa ver na forma como criavam, mas sobretudo na maneira como pensavam e esta influência vê-se nos quadros. Temos elementos que podiam ser pintados por Warhol ou por Basquiat e vice-versa. É verdade que Andy Warhol volta a pintar e isso é um pedido de Basquiat. Já Basquiat vai utilizar serigrafias, algo que é muito característico de Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat vai utilizar muito esta técnica. Depois temos também o formato das telas e como Andy Warhol é já um artista conceituado, tem muitos assistentes e trabalha sobre grandes telas, algo que Basquiat vai passar também a fazer", disse Olivier Michelon. A energia contagiante vai levar os dois artistas numa primeira fase a ocuparem um antigo atelier de Andy Warhol onde conseguem levar a cabo pinturas de grande formato. Algumas eram começadas por Andy Warhol com logos de produtos de higiene Arm & Hamer, ou da General Electrics, e com Basquiat a desenhar por cima figuras africanas, palavras com impacto social, desconstruindo os ícones da arte pop que inspiravam Warhol. "Há cerca de 30 anos de diferença entre os dois artistas. Andy Warhol manteve-se sempre muito aberto a tudo o que se passava à sua volta e vê na cena jovem de Nova Iorque nos anos 80 um regresso à efervescência dos anos 60, com uma liberdade na pintura, algo que ele talvez tivesse perdido de vista. Há realmente uma energia renovada com Basquiat", indicou o comissário. Esta colaboração vai reflectir também o momento que se vivia nos Estados Unidos. De um lado um ambiente cultural em ebulição, com o aparecimento de novos artistas como Keith Haring e de fenómenos com Madonna, que teve uma relação com Basquiat… Do outro lado, o racismo, que nem os movimentos dos direitos civis dos anos 60 e 70 conseguiram apagar e que tornavam difícil para Jean-Michel Basquiat conseguir apanhar um mítico táxi amarelo...

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Remna Schwarz em Cannes entre o cinema e a música

5/23/2023
Remna Schwarz tem tido uma vida de nómada: nascido no Senegal, viveu entre muitos países africanos e europeus, ou ainda nos Estados Unidos. Filho de uma das maiores referências da música guineense, o já desaparecido José Carlos Schwarz, ele marca presença em Cannes em torno da estreia do filme "Nome" de Sana Na N'Hada. Viajando entre tonalidades musicais muito distintas na sua trajectória, como o rap, o hip hop ou o reggae, neste trabalho de composição para a longa metragem de Sana Na N'Hada ele não deixou de explorar o instrumento tradicional, que é o bombolom. A RFI esteve à conversa com o músico, determinado em aliar dois grandes prazeres seus: a música e o cinema.

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Português Rui Poças em júri de mostra do Festival de Cannes

5/19/2023
Rui Poças trabalha com nomes consagrados do cinema, em Portugal, e no estrangeiro há largos anos. A sua fotografia tem-se celebrizado mundo fora e valeu-lhe um lugar no júri da "Semana da crítica", mostra paralela do Festival de cinema de Cannes. O director de fotografia falou com a reportagem da RFI sobre os ingredientes desta edição de 2023 de um dos mais prestigiosos festivais de cinema do mundo onde ele é presença assídua.

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Lura lança novo álbum em Agosto com foco na valorização da mulher

5/17/2023
A cantora luso-cabo-verdiana Lura vai lançar neste verão um novo trabalho, tendo revelado à RFI que se vai chamar "Multi Color" e que reflecte a sua evolução como mulher, mãe e artista nos últimos oito anos. O primeiro single chama-se "Si Si" e mostra a sua nova sonoridade. Não abandonando os ritmos tradicionais de Cabo Verde, Lura aproxima-se de novos estilos numa fusão que revela a sua multiculturalidade. Numa passagem por Paris para um concerto no Olympia, Lura falou aos microfones da RFI sobre a valorização da mulher, da auto-estima e da redescoberta da sua identidade. "[Neste novo trabalho] Vamos ter a Lura na descoberta de ritmos que possam refrescar aquilo que já conhecem do meu trabalhar, com sonoridades mais actuais, mais frescas, mais electrónicas, mas não é uma mudança radical. Sempre focando a multiculturalidade e a visão de vários aspectos da vida, do quotidiano, da mulher da auto-estima", explicou a artista. Os temas do álbum "Multi Color" partem, segundo Lura, do seu amadurecimento pessoal e das suas experiências enquanto mulher, uma realidade que despertou especialmente depois de ter sido mãe de uma menina. "Toda esta valorização e empoderamento feminino acaba por me afectar porque realmente é uma causa importante, sem desprimor para a importância dos homens. Mas cada vez mais sei que tenho de m respeitar a mim própria e respeitar as outras mulheres e, se não formos nós a reconhecer essa importância na nossa vida e todas juntas em sociedade, quem o fará?", indicou Lura. Outros temas como a identidade e a dupla nacionalidade portuguesa e cabo-verdiana também têm espaço neste novo trabalho. "Falo muito desta minha dupla nacionalidade, portuguesa e cabo-verdiana, e isto faz de mim uma pessoa de várias cores, não só apenas negra, sou de todas as cores porque somos pessoas de várias cores", declarou a artista. Lura vai voltar a Paris em Outubro para um concerto no Café de la Danse, com o seu novo álbum, que conta com uma parceria com o músico Agir, onde a artista mostra vontade de continuar a participar no movimento da música lusófona que atravessa fronteiras. "Sempre fiz parte deste movimento de mistura de culturas. Desde o assumir do meu afro, às vesestes africanas, à cores, ao lembrar que nós, os cabo-verdianos, viemos de africanos e europeus e nos juntámos em ilhas desabitadas e criámos um novo povo, fico muito feliz que África esteja cada vez mais valorizada e estejamos todos a crescer", concluiu.

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"Árvore da Vida" de Joana Vasconcelos dá esperança de "um Mundo melhor"

5/2/2023
Joana Vasconcelos inaugurou esta semana a sua obra monumental "Árvore da Vida", na Capela do Castelo de Vincennes. Trata-se de uma árvore de 13 metros, composta por 140 mil folhas em tecido, que nasceu a partir das emoções do confinamento, como explicou a artista portuguesa em declarações è RFI. De um mito grego em que Daphne é atingida pela seta errada de Cúpido e pede ao pai para que a transforme numa árvore, à representação na Bíblia de uma árvore no Jardim do Eden que tinha como fruto a vida eterna, a Arvore da Vida é um dos símbolos míticos de diferentes civilizações que tem desde a semana passada uma nova declinação na obra monumental de Joana Vasconcelos instalada na Capela do Castelo de Vincennes. Esta "Árvore da Vida" tem 13 metros, numa estrutura metálica que quase toca o teto desta capela centenária e nasceu dos sentimentos vividos pela artista portuguesa e pelos cerca de 200 trabalhadores do seu atelier durante o confinamento em 2020 devido à pandemia de covid-19. "Foi algo produzido em plena pandemia, a partir de reciclagem de materiais e tecidos que tinha no ateliê. Foi a ocupação de muita gente durante muitos meses e foi o foco das emoções - até o desespero e ansiedade - e a pergunta 'o que será o futuro?'. Todas essas emoções fazem parte deste projecto. Disse à equipa e a mim própria, que tinha de fazer algo positivo e fantástico para comemorar a saída desse período", explicou a artista. Para João Gomes Cravinho, ministro dos Negócios Estrangeiros português, esta é uma árvore que comprova mais uma vez o domínio da artista portuguesa na criação de obras monumentais que impõem a sua visão da arte moderna, mas também na esperança no futuro. "É uma arvore que nos faz meditar, com uma certa dimensão de espiritualidade, que está aqui muito bem nesta magnífica capela", declarou o governante. Já a ministra francesa da Cultura, Rima Abdul Malak, afirmou que esta é uma peça que alia o artesanato - com 140 mil folhas feitas à mão, desde bordados, a lantejoulas, à tecnologia já que na copa da arvore e em centenas de folhas foram instaladas luzes LED. "É magnífico, é um trabalho excepcional, que mistura o artesanato e a tecnologia tem uma dimensão espiritual de renascimento. Após dois anos de pandemia e toda a crise sanitária, de isolamento, o confinamento, tanto do lado de Portugal como França, dá-nos uma mensagem de esperança e de vida", disse a ministra francesa. A Arvore da Vida é também para Joana Vasconcelos, mais uma árvore do Parque de Vincennes, um dos principais pontos de encontro dos parisienses no verão, servindo numa altura em que há muitas preocupações com a sustentabilidade, para acreditar num Mundo melhor para todos.

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Rui de Luna dá voz à obra monumental de Joana Vasconcelos na Capela do Castelo de Vincennes

4/26/2023
Rui de Luna, cantor lírico português, está em Paris para ser a voz da Arvore da Vida, uma instalação de Joana Vasconcelos que vai ser inaugurada na quinta-feira Capela do Castelo de Vincennes, uma nova obra monumental da artista portuguesa, cantando uma composição original que vai envolver os visitantes durante a exposição. A Árvore da Vida de Joana Vasconcelos, uma obra monumental instalada na Capela do Castelo de Vincennes com 13 metros de altura e onde foram adicionadas 110.000 folhas de tecido vai ser inaugurada na quinta-feira e aberta ao público no dia 28 de Abril, ficando patente até 03 de Setembro. Nesta abertura, caberá a Rui de Luna interpretar um tema criado por Margarida Gil, que vai acompanhar os visitantes que visitarem a instalação em Vincennes. Um tema que lembra, sobretudo, segundo o cantor lírico disse em entrevista à RFI a importância do amor. "Quinta-feira iremos apresentar ao vivo e as pessoas quando visitarem esta escultura e o espaço, terão sempre esta música a envolver. Este tempo pode ser apelidado de lírico-popular, é muito acessível e tem um texto muito bonito que fala, sobretudo, sobre a importância da árvore que simboliza a vida, que vai buscar os seus nutrientes à terra, esta terra que nos alimenta e nos dá os nutrientes fundamentais, que nos dá uma certa iluminação e amor, que é o grande tema desta criação", disse Rui de Luna. Com a sua formação clássica de pianista e cantor lírico, Rui de Luna não tem hesitado nos últimos anos a cantar outros géneros musicais, já que "não quer ficar preso". "Ficamos muito presos e vão-me convidando para este eventos, neste é uma composição original para a minha voz, gosto destas incursões. Estreei em Washington, no ano passado, um Concerto Luso que é em torno dos grandes poetas portuguesas ligados à música ligeira", detalhou o cantor. Para os próximos meses, Rui de Luna voltar a França de forma a conhecer melhor o público gaulês.

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"Uma das coisas bonitas do teatro é que se faz com o público"

4/19/2023
A peça de Jean Cocteau "Os Pais Terríveis" está em cena no teatro Hebertot, em Paris, até 30 de Abril. "É engraçado porque há certas coisas que suscitam mais o riso em certas gerações. É uma das coisas bonitas do teatro é que se faz com o público. Há uma energia que nos chega e que devolvemos, num ciclo de energias", conta a actriz Maria de Medeiros. "Os Pais Terríveis" retoma todos os códigos do vaudeville para produzir situações, ritmos e diálogos que pulsam uma energia cómica. "O que alimenta esta máquina infernal é a composição de todos os elementos que fundam a tragédia. Cocteau pinta um retrato terrível das devastações produzidas pelo sentimento universal do amor", escreve o encenador Christophe Perton. A peça traz à superfície tumultos amorosos de uma família. Para além das aparências, o encenador Christophe Perton lembra que o combustível desta máquina é constituído por todos os elementos que fundaram a tragédia. “Sem concessão, sem compromisso, Jean Cocteau disseca os corpos atrofiados pela doença que é o amor", descreve o encenador. Christophe Perton adapta e dirige o diabólico vaudeville de Jean Cocteau com Charles Berling, Muriel Mayette-Holtz e Maria de Medeiros. "É uma peça muito intensa que está sempre a oscilar entre momentos cómicos e momentos dramáticos com grande investimento emocional e corporal. Há uma vivacidade no texto que procuramos realçar. É uma peça divertida, intensa", descreve-nos a actriz franco-portuguesa Maria de Medeiros, que interpreta a personagem Léonie. A peça foi apresentada pela primeira vez em 1938 e foi proibida após nove apresentações. "A peça tem inúmeros aspectos e quando estreou, em 1938, foi considerada escandalosa, como sendo um incentivo ao incesto. Trata-se na verdade de uma crítica da família, em torno de uma personagem de uma mãe que ama, de forma desmesurada, o filho. Um amor tão extremo que leva à tragédia. São temas que são de actualidade", explica a actriz. Em cena, os cinco actores oferecem-nos uma confluência de arte dramática e comédia. Cocteau consegue expor o contraditório do bom e mau em simultâneo. A personagem da tia, Léonie, fascinou Maria de Medeiros, que durante duas horas veste a pele de uma personagem que "manipula a acção, que tenta racionalizar e exprimir o pensamento do próprio Cocteau. Ela é uma especia de corifeu, se nos referirmos à tragédia grega, que tenta organizar as informações e a vida da família. Estamos sempre entre uma dualidade de ordem e desordem, de racionalizar e inconsciente". Nesta peça, Jean Cocteau mostra que "a família é um espaço tremendamente teatral. É dentro do núcleo familiar que fazemos os maiores números, somos todos actores. É muito divertido porque está tudo na família, todas as contradições da sociedade já se encontram aí", explica Maria de Medeiros. "É engraçado porque há reacções do público mais jovem e mais velho. Nos momentos em que riem, por exemplo, há certas coisas que suscitam o riso em certas gerações mais do que outras. Já estamos em cena há dois meses. É uma das coisas bonitas do teatro é que se faz com o público. Há uma energia que nos chega e que devolvemos num ciclo de energias", conta.

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"Lobo e Cão": Juventude queer dos Açores nas salas francesas

4/12/2023
“Lobo e Cão", o mais recente filme da realizadora portuguesa Cláudia Varejão, chegou esta quarta-feira, 12 de Abril, às salas francesas. A primeira ficção da cineasta conta histórias de adolescentes queers, através de actores não profissionais, inspiradas na vida dos jovens da ilha de São Miguel, nos Açores. Cláudia Varejão filma uma juventude açoriana entre as tradições familiares e a comunidade queer. "Lobo e Cão" foi rodado na ilha de São Miguel e retrata as tradições, o conservadorismo, a forte presença da religião e uma natureza deslumbrante. "Fazer um filme são muitas emoções juntas", afirma a realizadora. A curiosidade e o desejo de protecção foram os sentimentos de ponto de partida do projecto "Lobo e Cão". "Foi uma explosão de sentimentos, de emoções. Nos primeiros dias, semanas em que estive na ilha de São Miguel, onde o filme se passa e é rodado, senti muita curiosidade pela vida, sobretudo, pelos mais jovens neste contexto insular", descreve-nos Cláudia Varejão. "É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós", escrevia José Saramago. Cláudia Varejão põe os sonhos à prova; "a ideia de que sendo pobre se cresce com passos atrás de alguém que nasce num contexto burguês, de como isso pode definir os sonhos ou a trajectória de vida", condicionando a possibilidade de "atravessar o mar, a linha do horizonte". "A natureza impõe limites, mas também aponta o olhar para uma liberdade sem fim. A linha do horizonte constrange e, ao mesmo tempo, convoca-nos a atravessá-la. Aquilo que este mar, sem fim, nos mostra é que não há fim para a vida, não há fim para desejarmos ser quem queremos ser, não há fim para a viagem", descreve. O filme durou cinco anos, foi escrito, pensado e sentido com a população da ilha de São Miguel. Durante a pandemia, a realizadora recebeu centenas de candidaturas para o casting do filme. O início do projecto foi vivido com os jovens, "à medida que me fui sentando com os jovens e os fui ouvindo, percebi que estava diante de uma população com muitos sofrimentos. Ser adolescente é isto, mas ser adolescente, queer, com identidade e expressão de género e de orientações sexuais que saem fora da norma, do centro social traz muito sofrimento, mais ainda num contexto insular porque todos se conhecem", conta Cláudia Varejão.

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Mostra de Arte e Cultura da Guiné-Bissau decorre durante o mês de Maio

4/4/2023
No próximo mês de Maio, a Guiné-Bissau abre as portas à "Moransa di Kultura" - Mostra de Arte e Cultura da Guiné-Bissau. O evento que arranca a 3 de Maio e tem a coordenação de Miguel de Barros e a curadoria de Nú Barreto, Zaida Pereira e António Spencer Embaló. Conferências, lançamento de livros, palestras, exposições de fotografias, filmes, actuações musicais, etc, uma panóplia de acontecimentos coordenados por Miguel de Barros e com a curadoria de Nú Barreto, Zaida Pereira e António Spencer Embaló. A mostra pretende valorizar e debater a diversidade da produção cultural guineense. A literatura do "MoAC Biss" tem a linguista Zaida Pereira como curadora, o sector das artes visuais, cénicas e performativas ficou a cargo do artista plástico Nu Barreto e as conferências têm a curadoria do sociólogo António Spencer Embaló. O que é a cultura, para que serve e para quem serve é o mote da primeira conferência que está marcada para o dia 05 de Maio, nas instalações da Tiniguena. Segue-se a Cultura como valor acrescentado prevista para o dia 12 do próximo mês na Casa dos Direitos Humanos e fecha-se o ciclo com a internacionalização das “Artes e da Kultura da Guiné-Bissau”, que deve acontecer a 19 de Maio, nas instalações da Tiniguena. O evento que arranca a 3 de Maio, pelas 9h00 locais, na Casa dos Direitos Humanos, com duas conferências sobre os regimes "possíveis" e os regimes “impossíveis” da patrimonialização da violência na Guiné-Bissau. A "Moransa di Kultura" - Mostra de Arte e Cultura da Guiné-Bissau tem a coordenação de Miguel de Barros e a curadoria de Nú Barreto, Zaida Pereira e António Spencer Embaló.

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Joana Gama apresentou 'O Livro dos Sons' de Hans Otte em Paris

3/30/2023
A pianista Joana Gama apresentou no domingo, 26 de Março, “O livro dos sons” na sala Pessoa da Casa de Portugal - na Cidade Universitária. Trata-se da obra contemplativa do compositor alemão Hans Otte."Quando ouvi pela primeira vez esta peça fiquei completamente maravilhada. Nem sei descrever por palavras o que é que senti... senti uma ligação enorme à peça", contou Joana Gama. "Das Buch der Klänge", "O Livro dos Sons", é uma peça para piano composta em 12 partes. Uma peça pautada pela repetição, pela polifonia, num convite à introspecção e ao minimalismo. "Quando ouvi pela primeira vez esta peça fiquei completamente maravilhada. Nem sei descrever por palavras o que é que senti... senti uma ligação enorme à peça. Fiquei fascinada e fui logo procurar quem era o compositor e que peça era aquela", explicou a pianista. A ideia de fazer um festival em Portugal sobre a música, as instalações sonoras, os textos e desenhos de Hans Otte surgiu em 2010. "Houve uma primeira tentativa em 2013, mas não conseguimos fundos suficientes. Houve uma segunda tentativa em 2020, mas houve a pandemia. O festival só aconteceu entre 2021 e 2022", lembrou Joana Gama. Hans Otte : Sound of Sounds foi um festival dedicado à obra do artista e compositor alemão Hans Otte (1926 - 2007) com curadoria de Ingo Ahmels e da pianista Joana Gama. O festival apresentou exposições, concertos, conferências e a estreia mundial da peça de teatro musical J-CHOES, J’ai faim, dedicada aos compositores John Cage, Hans Otte e Erik Satie, que contou com a participação da pianista Margaret Leng Tan. Joana Gama continua a levar a palco a obra do compositor Hans Otte. "Há um grande gosto em dar a conhecer a sua música. Há sempre um lado especial de fazermos com que muita gente ouça algo pela primeira vez", descreveu. Hans Otte foi também editor de programas de rádio. Era conhecido como sendo um "criativo discreto” por ter dedicado mais tempo à divulgação da música dos outros do que às suas próprias obras. "As pessoas não são apenas o que fazem, são pessoas acima de tudo. Quanto mais vou lendo ou falando com pessoas que conheceram Hans Otte mais vou percebendo que ele era boa pessoa, tinha um bom coração, era preocupado e com humor - fico com pena de não o ter conhecido e com mais vontade de veicular a sua obra", explicou. O "Livro dos Sons" de Hans Otte tem sido descrita como uma das criações mais notáveis ​​da música contemporânea para piano. Uma obra contemplativa que "deixa os sons serem sons", como disse John Cage. Joana Gama tem-se desdobrado em projectos a solo ou em colaborações, na música, teatro ou cinema. "Tenho um espectáculo em itinerância que já ultrapassou as 150 apresentações chamado 'As Árvores Não Têm Pernas Para Andar'. É um espectáculo que faço para crianças a partir dos três anos com um pequeno piano, um toy piano. Uso a música e a arte para falar da natureza às crianças. O público infantil é muito engraçado porque para muitos este é o primeiro espectáculo que vêem", concluiu.

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Israel Campos: “O céu de Angola está numa cor difícil”

3/21/2023
No passado mês de Fevereiro, Israel Campos estreou-se na escrita criativa e publicou o primeiro romance: "E o Céu Mudou de Cor". Um livro onde o autor explora as relações de afectividade entre primos, tios e amigos expostos aos conflitos geracionais, num país que continua à procura de respostas para os problemas e desigualdades sociais. Uma narrativa com uma força imagética, onde as mensagens chegam através de cartas de protesto, de amor, ou pelo voo dos pássaros. Uma aventura partilhada entre amigos que vivem encurralados num bairro sem esperança e que sonham chegar à “Cidade Baixa” que não está ao alcance de todos e onde reina a abundância.Uma homenagem aos jovens heróis de Angola que resistem aos desafios de um país que, vinte anos depois de ter alcançado a paz, continua a ter cidadãos a comerem no lixo. Israel Campos nasceu em Luanda no ano 2000. Aos doze anos, começou a carreira como locutor de programas infantis na Rádio Nacional de Angola. Formou-se em jornalismo na Universidades da Cidade de Londres, passou pelo jornal o País, pelo portal anticorrupção “Maka Angola” e hoje trabalha como freelancer no serviço em português da Voz da América e para o serviço mundial da BBC. Em 2021, foi eleito uma das 100 personalidades negras mais influentes da lusofonia. RFI: Porque é que decidiu começar o livro com uma questão de saúde pública, como é o caso do lixo? Israel Campos: O que tentei fazer foi chamar à atenção para estas questões, que por serem tão constantes, tão frequentes, já não nos causam qualquer tipo de surpresa. São-nos indiferentes. Era por aí que eu gostava de começar. A questão da educação, a oposição entre o bairro, que não tem nada, e a “Cidade Baixa” que vive na abundância são também denunciadas pelo narrador, um adolescente. Este romance pretende apontar o dedo à realidade angolana ou trata-se apenas de uma coincidência? Seria irónico eu sugerir que se trata apenas de uma ficção. É claro que este romance vive muito da realidade angolana, sobretudo, da realidade luandense que melhor conheço. Às vezes eu fico confuso entre a ficção e a realidade quando eu trato de Angola. Mas, claro, que há uma intenção evidente. No entanto, eu não gosto muito de pensar que seja um livro puramente ideológico, uma ferramenta contra o regime. É um livro que reflecte algumas das várias vivências da nossa realidade [angolana]. Nesta obra explora as relações familiares recompostas. Dois primos, a personagem principal e Mateus que vivem com a tia Antónia. Existe uma certa confrontação, nomeadamente entre Mateus e a tia Antónia. O que é que pretendeu destacar com estas personagens? Há uma intenção de explorar este tipo de relações que na nossa realidade são bastante comuns. Muitos são os sobrinhos que crescem em casa dos tios, por diversas questões: as deslocações na Guerra Civil; há sobrinhos que vão para casa dos tios mesmo tendo pais vivos porque os pais têm menos condições de vida. Eu quis captar estas relações que são muito importantes. A figura do tio, da tia, em Angola, é muito importante no crescimento da criança, ou dos jovens. Depois, há um evidente conflito de geração e vontades entre a tia António e o Mateus. Por terem tidos vivências diferentes, olham para o país também de forma diferente, apesar de existirem alguns pontos de convergência. E o Mateus é, como muitos outros jovens que eu conheço desta nova Angola, um jovem inconformado, tentando buscar caminhos para compreender e fazer alguma coisa pelo seu país. Encurralados num bairro sem escola, sem oportunidades o narrador e amigo Marley aventuram-se num universo de mensagens que chegam por cartas e através de pássaros. É uma ode à cultura Umbundu? Também! Claro que nesse capítulo aparece um interesse de se explorar as várias relações que temos com as línguas nacionais. Nesse caso é o umbundo. Há essa discussão das línguas nacionais serem interpretadas por muitas vozes da nova geração como a língua dos mais velhos. Eu e as pessoas da minha geração não falamos porque...

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"Nayola", o filme de animação que retrata Angola pela voz das mulheres

3/14/2023
O filme “Nayola”, a primeira longa-metragem de animação de José Miguel Ribeiro, retrata o impacto da guerra civil angolana na vida de três mulheres: Lelena (a avó), Nayola (a filha) e Yara (a neta). Inspirada na peça “A Caixa Preta”, de José Eduardo Agualusa e Mia Couto, com argumento de Virgílio Almeida, o filme mostra que "as guerras nunca terminam" e que as lutas por um mundo melhor se podem perder se as vozes se calarem. Em 1995, Nayola deixa a sua bebé Yara com a avó, Lelena, para procurar o marido desaparecido em combate, durante a guerra civil angolana. Em 2011, Yara é uma "rapper" e activista dos direitos humanos perseguida pela polícia. Dois percursos paralelos que crescem em duas linhas temporais que não se conseguem encontrar. Duas vidas que reflectem um país dilacerado pelas guerras do passado que contaminam o presente. "Ninguém volta da guerra", ouve-se no filme "Nayola", uma história que também é de esperança por um futuro melhor enquanto houver vozes comprometidas com um sonho comum. O filme estreou em França simbolicamente a 8 de Março, Dia Internacional dos Direitos da Mulher, vai estrear em Angola a 31 de Março e chega aos cinemas portugueses a 13 de Abril. Depois do circuito dos festivais e de ter conquistado vários prémios, o realizador José Miguel Ribeiro diz que o maior prémio é que os angolanos sintam o filme como deles e começa por descrever como é que a luta pela construção de uma família também reflecte a luta pela construção de um país. RFI: Como é que resume a história do filme “Nayola”? José Miguel Ribeiro, Realizador de “Nayola”: Nayola conta a história de três gerações de mulheres angolanas que resistem e sonham com um país melhor e lutam por um país melhor, bem melhor, e tentam no meio dessa luta conciliar aquilo que é a construção de uma família com a construção de um país. É uma história que se baseia no texto teatral "A Caixa Preta" do angolano José Eduardo Agualusa e do moçambicano Mia Couto. O que é que o levou a querer adaptar esta obra? Quando descobri a obra que me foi mostrada pelo Jorge António, um amigo realizador que vive em Angola há mais de trinta anos, foi ele que mostrou a peça de teatro antes de ela ser publicada. O que me pareceu interessante nessa peça de teatro era essa dimensão humana destas três mulheres e a forma como tocadas pela guerra, uma guerra imensa que foi a guerra da libertação - são 13 anos mais 27 anos de guerra civil - foi um percurso enorme de sofrimento do povo angolano. O que eu gostei na peça de teatro é essa dimensão humana e quando digo humana é porque todas estas três personagens têm as suas qualidades, mas também têm os seus segredos, os seus lados menos positivos e todas elas lutam e mostram-se de uma forma bastante humana. Essa dimensão humana das personagens foi uma das coisas que mais gostei, a forma como eles as escreveram, como nós tentámos depois também trazê-la de uma forma, se calhar, mais simbólica. Acrescentámos a viagem da Nayola ao passado, à procura de marido, que não existia na peça de teatro; introduzimos uma Medusa que é uma 'rapper' que também não existia como 'rapper' na história do Mia Couto e do Agualusa. Houve um trabalho de contaminação também da história de Angola e daquilo que nós fomos acompanhando: o caso do Luaty Beirão e dos 15 activistas que foram presos. Enfim, o filme demorou nove anos e durante esses nove anos o mundo não esteve parado, esteve sempre a mudar e casos como a morte de George Floyd foram casos que me influenciaram nas tomadas de decisões artísticas também. Falou da dimensão humana, mas há também uma dimensão militante muito forte de mulheres. A história anda à volta de três mulheres. Todas elas lutam à sua maneira: uma vai para a guerra; a outra faz rap e é procurada pela polícia porque, como diz um dos personagens "o rap é guerrilha" e o poder estava "com medo das músicas" dela. No quarto da Yara temos um cartaz a dizer "Feminists" e estreou o filme em França a 8 de Março, Dia Internacional dos Direitos da...

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Azagaia, "um dos melhores rappers da lusofonia"

3/10/2023
Morreu o rapper moçambicano Azagaia aos 38 anos. O anúncio foi feito ontem à noite pela Televisão de Moçambique Não foram avançadas as causas da morte do artista.Azagaia era um nome cimeiro da cena musical moçambicana, nomeadamente do espectro do hip-hop. De seu nome Edson da Luz é autor de letras de intervenção que lhe valeram o título de rapper do povo. As rimas de Azagaia são “dedos na ferida” na governação moçambicana. Em 2008 três dias após violentas manifestações que paralisaram Maputo, devido a aumentos de preços, Azagaia lançou "O povo no poder". Já não caímos na velha história / Saímos para combater a escória / Ladrões / Corruptos / Gritem comigo para essa gente ir embora / Gritem comigo pois o povo já não chora. Isto é Maputo, ninguém sabe bem como / O povo que ontem dormia hoje...perdeu o sono / Tudo por causa desse vosso salário mísero / O povo sai de casa e atira para o primeiro vidro / Sobe o preço do transporte, sobe o preço do pão / Deixam o meu povo sem Norte deixam o Povo sem chão. A música e a voz de Azagaia não têm espaço na rádio e televisão públicas. Foi várias vezes acusado de ser intérprete da oposição. Todavia Azagaia nunca poupou nada, nem ninguém nas palavras e nas críticas como se pode ouvir em “As mentiras da verdade”: E se eu te dissesse / Que a oposição neste país não tem esperança / Porque o povo foi ensinado a ter medo da mudança / Mas e se eu te dissesse / Que a oposição e o governo não se diferem / Comem todos no mesmo prato / E tudo está como eles querem. Filho de pai cabo-verdiano e mãe moçambicana, em 2014, Azagaia afastou-se dos palcos e pouco tempo depois anunciou que padecia de um tumor cerebral. Em Abril de 2016, voltou ao palco, mas desde essa altura permaneceu numa posição discreta no panorama artístico. O rapper moçambicano Duas Caras conheceu e trabalhou com Azagaia e ao microfone da RFI fala no desaparecimento de “um dos melhores rapper da lusofonia”. Azagaia é um dos melhores rappers da lusofonia e é uma figura incontornável da sociedade moçambicana. Deixa um grande vazio no hip-hop lusófono e em particular no hip-hop nacional. (...) Era um revolucionário, tinha uma abordagem sociopolítica bastante profunda, bastante abrangente. Em todos os países onde se fala português, praticamente todos conhecem o nome Azagaia. É uma grande perda para a cultura moçambicana, para o activismo político também. É uma voz que se cala, uma voz inconformada com as diferenças sociais no nosso país. Deixa um grande vazio.” Adriano Nuvunga, presidente do Centro Para Democracia e Desenvolvimento, sublinha que o legado de Azagaia irá permanecer para “a eternidade”. O povo moçambicano acordou com um sentimento de profunda tristeza pelo desaparecimento físico do seu mais querido filho que é o Azagaia, que soube pelo seu trabalho, pela sua voz, interpretar o sofrimento diário, a miséria e a fome causadas pela corrupção da liderança, da cúpula política deste país e, por isso, Azagaia é chorado por todos. Autor de músicas emblemáticas, apesar de estar retirado dos holofotes continuava a ser ouvido por toda a gente “e para a eternidade. Azagaia é um ícone da luta, é um ícone da resiliência do povo moçambicano perante as injustiças. As suas músicas são o instrumento que ele utilizava para galvanizar o povo moçambicano para continuar a lutar,” acrescentou. Edson da Luz, o nome do rapper Azagaia, morreu, aos 38 anos, na quinta-feira à noite, em casa, na cidade da Matola, em circunstâncias até agora não esclarecidas.

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Pamina Sebastião: "Uso a arte como ferramenta do meu activismo"

2/21/2023
"Mestres do meu universo" foi a primeira exposição a solo da artista e activista angolana Pamina Sebastião, na galeria Jahmek. Trata-se da continuação do projecto que iniciou em 2019, um processo de auto-reflexão que se chama Só belo mesmo. Um projecto que passa por escritos, colagens e desenhos. Pamina Sebastião vive em Luanda é jurista e mestre em Direito Internacional e Relações Internacionais, dedica-se ao activismo há vários anos. "Antes de tudo sou activista e uso a arte como ferramenta do meu activismo", apresenta-se Pamina Sebastião. "Mestres do meu universo?" é a primeira exposição a solo da artista. Trata-se da continuação do projecto que iniciou em 2019, um processo de auto-reflexão que se chama Só belo mesmo. Um projecto que passa por escritos, colagens, desenhos. "A ideia é trazer algumas das perguntas ou dos questionamentos que tenho ligados à colonialidade do poder, ligadas às construções de categorias de géneros, da questão da sexualidade e trazer estas questões ao público", explica. Pamina Sebastião acredita que houve "uma evolução entre o que pensamos ser o colonialismo, de um tempo histórico e a colonialidade, uma estrutura global que continua a alimentar categorias como a de género, de raça, de classe". Um exercício feito olhando para questões de raça, género, sexualidade como inscrições feitas ao longo do tempo sobre aquilo que chamamos corpo. Por outras palavras, Pamina Sebastião defende existir uma estrutura de poder alimentada por ideias "do que somos, do que é ser homem, do que é ser mulher... Uma estrutura racista, patriarcal, capitalista que alimenta estas categorias, para se manter no poder. É particularmente importante falar disto num contexto como o de Luanda, que não tem debates aprofundados de como é que o ideal da branquitude ainda continua a ser uma realidade e de como o racismo ainda acontece aqui". Pamina Sebastião fez parte de vários colectivos e organizações ligadas a questões de género e sexualidade: o Ondjango Feminista, o Arquivo de Identidade Angolano e o projecto LINKAGES Angola. Hoje faz parte também da direcção da The Other Foundation, uma organização LGBTIQ'+ regional fazendo também consultoria de estigma e discriminação a nivel nacional . No geral tem trabalhado num activismo focado em discussões de género e sexualidade.

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"Hápax" de Mattia Denisse no Le Grand Café em Saint-Nazaire

2/15/2023
Até ao dia 30 de Abril de 2023, o Le Grand Café em Saint-Nazaire, no oeste de França, acolhe a exposição "Hápax", do artista francês residente em Portugal, Mattia Denisse. A curadoria da exposição ficou a cargo de Anne Bonnin. Trata-se da primeira exposição pessoal numa instituição francesa deste artista que nasceu em Blois e se instalou em Lisboa há 24 anos. “Hápax” significa uma palavra de uso único, à qual o artista atribui uma multiplicidade de caminhos e significados que se multiplicam numa infinidade de consciências. Enigmas, trocadilhos, jogos de palavras e de desenhos. Para Mattia Denisse a exposição representa um “bom regresso” a França, num local que o “acolheu muito bem”. Trata-se de uma exposição essencialmente composta por desenhos, o meio preferido por Mattia Denisse “na medida em que é a expressão mais rápida do pensamento” Questionado sobre a ausência de legenda ou títulos junto das obras, o artista explica que será distribuído aos visitantes uma folha com a respectiva legendagem, todavia não se trata de uma explicação da obra, mas um complemento ao desenho. A curadoria da exposição ficou a cargo de Anne Bonnin, crítica de arte e profunda conhecedora da cena artística portuguesa. Em 2022, Anne Bonnin assinou a curadoria das exposições "Modernités Portugaises” na Maison Caillebotte, em Yerres, perto de Paris e “Les Péninsules démarrées” no Frac Nouvelle-Aquitaine MÉCA – Bordéus. Em 2019, foi Anne Bonnin que organizou a primeira retrospectiva em França da artista portuguesa Lourdes Castro no Museu Regional de Arte Contemporanea Sérignan. Ao receber o convite do Le Grand Café de Saint-Nazaire, a escolha de Mattia Denisse foi para Anne Bonnin uma evidência. “Conheci o Mattia em Portugal e esta exposição é, de alguma forma, o prolongamento, a continuidade dos trabalhos que fiz sobre Portugal. O seu universo gráfico seduziu-me e, também, a sua imaginação alimentada pela literatura que eu também gosto, como o Alfred Jarry, a patafísica… esta dimensão surreal, esta relação com a antropologia e esta forma de a desenvolver e explorar. É um imaginário labiríntico que nos leva para histórias em que nos perdemos e nos reencontramos, é um mundo que também vem do inconsciente, mesmo que o Mattia prefira a palavra imaginário. Fui seduzida por este jogo, esta relação entre a língua e a imagem, muito livre, e de facto o desenho é uma forma de nos levar a mundos diferentes. Eu gosto da forma como ele brinca com diferentes linguagens.” A exposição “Hápax” de Mattia Denisse com a curadoria de Anne Bonnin está patente, no Le Grand Café em Saint-Nazaire, no oeste de França, até ao dia 30 de Abril de 2023.

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Filme sobre cantora do Maio de 68 ecoa com a França de hoje

2/13/2023
O documentário “N’Effacez pas nos traces ! Dominique Grange, une chanteuse engagée” dá voz a uma das vozes mais conhecidas de Maio de 1968. O filme teve ante-estreia a 21 de Fevereiro, no Forum des Images, em Paris, e ecoa com os protestos de hoje contra a reforma do sistema de pensões em França. Depois de um filme dedicado a José Mário Branco, um dos ícones da canção de intervenção portuguesa [“Mudar de Vida, José Mário Branco, Vida e Obra” (2014) que co-realizou com Nelson Guerreiro], o realizador português Pedro Fidalgo vai estrear em França um outro documentário em que a cantiga volta a ser uma arma. Trata-se de “N’Effacez pas nos traces ! Dominique Grange, une chanteuse engagée” [“Não Apaguem os Nossos Rastos! Dominique Grange, uma cantora de protesto”, sobre uma das vozes mais conhecidas de Maio de 1968 e que continuou a militar nas ruas e nos palcos por diferentes causas. O filme ecoa com o movimento social que se tem sentido em França contra a reforma das pensões. Depois de se ter estreado em Portugal, no ano passado, o documentário chegou às salas francesas a 22 de Fevereiro, depois de uma ante-estreia na véspera em Paris. RFI: O filme começa com estas palavras da cantora Dominique Grange: “Quando olhamos à nossa volta, é difícil não ficarmos revoltados…”. Foi a revolta que o motivou a fazer este filme com a Dominique Grange? Pedro Fidalgo, Realizador: Sim, a revolta é algo que está intimamente ligado aos dois filmes. Quando se diz revolta, não é simplesmente um grupo de enraivecidos que vão para a rua e depois voltam para casa zangados. Quer dizer, há um lado também festivo. Nós podemos ir para a rua de forma alegre e tentar não nos desmotivar com aquilo que vemos no dia-a-dia, seja no trabalho, seja nas prisões, seja no quotidiano com a guerra, com tudo o que está à nossa volta, com a inflação, em que nós sentimos que há um sistema e uma sociedade em que as pessoas acabam por ficar envolvidas sem quererem estar. Então, essa forma de vivermos todos numa sociedade que nos ultrapassa acaba por levar-nos muitas vezes a termos um sentimento de revolta individual. Refilamos em casa, zangamo-nos, às vezes, com aqueles que estão ao nosso lado, quando, na verdade, quando nos juntamos na rua ou nos juntamos aos outros, acaba por ser quase uma festa colectiva que leva as pessoas a serem solidárias na rua. O documentário ecoa muito com o que vivemos hoje. Manifestações contra a reforma das pensões e novamente milhares de pessoas nas ruas. O título “N’effacez pas nos traces” é o nome de uma das canções de Dominique Grange e faz referência aos que lutaram contra as opressões e desigualdades no Maio de 68. Meio século depois - e mesmo se o antigo Presidente Nicolas Sarkozy chegou a dizer que estava na hora de virar a página de 68 - porque é que ouvir Dominique Grange tem qualquer coisa de intemporal? As canções da Dominique Grange têm de intemporal o que têm outras canções históricas que marcam um período específico, mas que podem ser mais tarde ouvidas e não só relembrarem o que aconteceu naquele momento – estou a pensar na Internacional na Comuna de Paris ou outras canções que marcaram a história, como na Revolução Russa ou na Guerra Civil de Espanha. São canções que marcam um período, mas que ouvidas muito mais tarde, noutro contexto e noutras situações, podem ser adaptadas. No caso da Dominique Grange, algumas canções já têm 50 anos - as do Maio de 68. Como o Maio de 68 foi uma ruptura completa com a sociedade que existia, mas também houve mudança no pós-68, existem rastos que ficaram até hoje por resolver, nomeadamente as questões das violências policiais, do racismo, houve bastantes recuos dos anos 80 para cá em tudo o que foram conquistas sociais. A cantiga “Abaixo o Estado Policial” é uma cantiga que é bastante interessante porque foi cantada por manifestantes durante a Lei do Trabalho El Khomri em 2016 e voltou. Muita gente talvez cante as canções dela sem saber que são dela. As canções de Dominique Grange são uma forma...

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Prémio distingue pesquisa sobre judeus de origem portuguesa em França salvos do Holocausto

2/7/2023
Em 1943 e 1944, cerca de 200 judeus residentes em França foram repatriados para Portugal e conseguiram fugir do Holocausto graças ao envolvimento de vários diplomatas portugueses. Ainda que sejam um pequeno número - quando tantos milhares não tiveram a mesma sorte – esta é uma história pouco conhecida e que foi contada pelo historiador Victor Pereira, um dos vencedores do Prémio Aristides de Sousa Mendes. RFI: Em que consiste este Prémio Aristides de Sousa Mendes? Victor Pereira, Historiador: É um prémio que data dos anos 90, que é atribuído pela Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses e que visa favorecer os estudos sobre a história e os estudos sobre a diplomacia portuguesa. Deram-lhe o nome de Aristides de Sousa Mendes - que é agora um diplomatas portugueses mais conhecidos da história - talvez com uma vontade de reparação porque, como sabem, o Aristides de Sousa Mendes tinha sido expulso da carreira diplomática e só foi nos anos 80 que em Portugal ele foi reconhecido e reabilitado. Então, é para os diplomatas portugueses um meio de apoiar os estudos sobre a diplomacia e de reparar uma falta que o ministério teve no passado durante o Estado Novo, durante a ditadura de Salazar. O que é que representa este prémio para si? Ficamos sempre muito honrados por o nosso trabalho ser reconhecido. Este é um trabalho que eu tive que apresentar, não é uma obra que já existia. Portanto, tive que o escrever de propósito para o enviar para o concurso. É sempre agradável ser reconhecido e, sobretudo, sobre um tema que trata da diplomacia, mas também de alguns diplomatas durante a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. O trabalho chama-se “Derrubar o muro da indiferença e do preconceito - Os diplomatas portugueses em França e o salvamento dos judeus portugueses”. Pode fazer-nos um pequeno resumo deste trabalho? Durante a Segunda Guerra Mundial, havia judeus que reivindicavam a nacionalidade portuguesa e que viviam em França, reivindicação que o Estado português não reconhecia desde os anos 1910 e alguns diplomatas, cônsules, tanto em Paris como em Marselha, vão mobilizar-se junto do ministério dos Negócios Estrangeiros que, nessa época é dirigido pelo Salazar, para que essa pessoas possam ser repatriadas para Portugal e não sofrerem a deportação e uma provável morte. Neste trabalho, fala de algo pouco conhecido na esfera pública que são os judeus que em 1913 se registaram no Consulado Português em Salónica (conhecida também como Tessalónica). Que história foi esta e porque é que não se fala disto? Já houve alguns artigos sobre este tema. Talvez esse tema não seja o mais original da minha investigação. Houve nos anos 90 - premiado pelo prémio Aristides de Sousa Mendes - um estudo de Manuela Franco para tentar compreender como é que em 1913 judeus que vivem em Salónica, que tinha pertencido ao Império Otomano e tinha passado à soberania grega, pedem a inscrição no Consulado de Portugal em Salónica. Muitos deles pensam que foram reintegrados na nacionalidade portuguesa porque eram descendentes de judeus que tinham sido expulsos e tinham deixado Portugal a partir do século XV e XVI com a Inquisição e que tinham vivido em Salónica, que era uma cidade cuja metade da população era de origem judaica e sefardita, tanto da Espanha quanto de Portugal. Em 1913, eles temem que com a soberania grega eles percam influência, percam direitos, sejam obrigados a, por exemplo, fazer serviço militar. Então, eles tentam procurar a protecção de outros países e alguns deles – uns 300, não se sabe muito bem ao certo - vão conseguir ser inscritos no Consulado de Portugal em Salónica com o apoio do Cônsul de Portugal em Istambul. Disse que esta questão dos judeus que pediram a nacionalidade portuguesa por serem descendentes de judeus fugidos de Portugal quatro séculos antes, não foi a parte mais original do seu trabalho. Há uma parte, digamos, mais original nesta pesquisa? Eu estudei no arquivo do OFPRA – Office Français pour la Protéction des Réfugiés et des...

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Porquê o silêncio em torno dos arquivos das guerras de libertação?

1/31/2023
O que explica o chumbo, pelo Parlamento português, da desclassificação dos arquivos das guerras de libertação ? A RFI falou com os investigadores Raquel Schefer e Franco Tomassoni que denunciaram “uma vontade de controlo da história” e de o Estado português se “preservar a si próprio”. O deputado Diogo Leão, do PS, alega que os únicos documentos que faltam desclassificar são apenas os da Marinha e o deputado Pedro Roque, do PSD, diz que o projecto atentaria contra "o bom nome" dos envolvidos. O projecto do Bloco de Esquerda de desclassificação dos documentos relativos ao período de 1961 a 1974, na posse dos arquivos históricos das Forças Armadas, foi chumbado no Parlamento português a 26 de Janeiro. O projecto mereceu os votos contra do PS, PSD e Chega. A favor votaram o PCP, PAN e Livre. A Iniciativa Liberal absteve-se. Raquel Schefer, professora associada na Universidade Sorbonne Nouvelle, considera que há “uma vontade de controlo da história e de reiteração de uma narrativa oficial” para perpetuar o que chama de “história completamente falsificada” relativamente ao colonialismo português e à repressão das guerras de libertação. Franco Tomassoni, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, diz que o Estado português está “a tentar preservar-se a si próprio”. Vedar o acesso aos arquivos não será, afinal, admitir que Portugal quer manter um certo “apagão histórico”? “Eu própria durante o meu processo de investigação me confrontei à inacessibilidade de alguns arquivos e fiquei bastante surpreendida com o chumbo. Penso que esse chumbo se deve, por um lado, a uma vontade de controlo da história e, por outro lado, de reiteração de uma narrativa oficial que perpetua certos pressupostos relativos ao colonialismo português e à repressão das guerras de libertação pelo Estado colonial e fascista português”, começa por descrever Raquel Schefer. Mas, afinal, o que está fechado a sete chaves? A investigadora responde, de imediato, que “há para esconder todos os massacres que ocorreram durante e antes das guerras de libertação” e não apenas o massacre de Wiryiamu, em Moçambique - cuja existência foi reconhecida, pela primeira vez, em 50 anos, em Dezembro passado, pelo governo de Lisboa - porque “houve muitos outros”. Em Wiryiamu, pelo menos 385 civis foram assassinados a 16 de Dezembro de 1972 mas, em Moçambique, por exemplo, a repressão mais visível começou com o massacre de manifestantes que exigiam melhores condições de trabalho, em Mueda, a 16 de Junho de 1960. “Eu penso que se pretende, por um lado, proteger as Forças Armadas portuguesas e, por outro lado, perpetuar esses mecanismos de controlo e perpetuação de uma história completamente falsificada na medida em que, num certo sentido, se tenta legitimar as guerras que decorreram em África nos anos 60 e 70”, considera Raquel Schefer. A investigadora acrescenta que “o facto de só se falar de Wiryiamu acaba por esconder a multiplicidade e a complexidade dessa história de opressão” e sublinha que “dar tanta centralidade a esse caso específico esconde toda a série de massacres precedentes e posteriores, mas também os massacres que ocorreram já no período de transição, entre 74 e 75, como o massacre de Inhaminga, por exemplo”. Além disso, esta narrativa pode escamotear “toda a história de resistência e o paradigma de emancipação dos movimentos de libertação que hoje em dia foi praticamente excluído do espaço hermenêutico”, sublinha. Franco Tomassoni também teve “uma certa dificuldade em aceder aos arquivos” porque “ainda há muitos documentos classificados que poderiam ter aberto pistas para investigações interessantes e temas inexplorados”. “Não é apenas a questão de se chumbar a desclassificação dos arquivos relativos exclusivamente aos massacres e à violência que as forças coloniais perpetuaram pela repressão dos movimentos de libertação. Claramente esse é um tema central e algo muito invisibilizado ainda hoje do debate público português, mas há um outro lamento. É o...

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