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Economia - Pandemia: que mudancas no mercado de trabalho vieram para ficar?

RFI

Entrevistas com economistas, analistas de mercado, investidores e políticos, para explicar e comentar questões econômicas internacionais. O papel do Brasil e dos países emergentes na economia mundial.

Location:

Brazil

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RFI

Description:

Entrevistas com economistas, analistas de mercado, investidores e políticos, para explicar e comentar questões econômicas internacionais. O papel do Brasil e dos países emergentes na economia mundial.

Language:

Portuguese


Episodes

Ameaça de ‘contágio’ da greve nas montadoras americanas preocupa fabricantes na França

9/20/2023
As montadoras europeias acompanham de perto o desenrolar da maior greve em décadas no setor automobilístico americano. Iniciado na sexta-feira (15) nos Estados Unidos, o movimento por reajustes salariais e melhoria dos benefícios promete ser duradouro e encontra eco em reivindicações de trabalhadores do setor na Europa, igualmente atingida por um contexto inflacionário que achatou o poder de compra. O pleno emprego nos Estados Unidos favorece os trabalhadores na queda de braço com as Big Three – as fabricantes Ford, General Motors e Stellantis. “O mercado de trabalho americano ainda está sob tensão e, histórica e economicamente, esses são os melhores momentos para negociar aumentos de salários. "Os sindicatos têm nas mãos a capacidade de pressionar o sistema agora”, aponta Jeremy Guez, professor associado de Economia e Negócios Internacionais da renomada escola de administração HEC Paris, em entrevista à RFI. As Big Three empregam 12,7 mil pessoas no país e são responsáveis por 3% do PIB americano, segundo a associação AAPC (American Automotive Policy Council). Assim, em 10 dias, a greve tem o potencial de causar um prejuízo de US$ 5 bilhões à economia dos Estados Unidos. Donna Kesselman, especialista em sindicalismo nos Estados Unidos e professora da Universidade Paris-Est Créteil, aposta que o movimento vai durar bem mais do que isso. “As montadoras têm um estoque de, em média, 37 dias. Ou seja, uma greve de menos de 37 dias não teria muito impacto. Então quando os trabalhadores americanos decidem entrar em greve, eles precisam estar determinados a aguentar firme”, diz. “A GM e a Ford têm estoques de 50 a 60 dias, e a antiga Chrysler tem estoque de 70 dias. Se eles começaram, foi para durar, e foi por isso que eles visaram certas fábricas estratégicas, em que eles conseguem bloquear a produção.” Enquanto os empregados de outros setores industriais, como da aviação ou maquinário agrícola, já obtiveram aumentos para compensar a alta da inflação anual de mais de 3% acumulados, os do automotivo não tiveram sucesso nas negociações salariais que duraram dois meses. O último reajuste foi há quatro anos, de 6%, alega Shaw Fain, presidente do poderoso UAW (sigla para United Auto Workers, o maior sindicato da categoria). Os lucros líquidos de US$ 20,25 bilhões das três maiores indústrias de automóveis do país, apenas no primeiro semestre do ano, foram a gota d’água para o início do movimento. “Concretamente, um prejuízo de US$ 5 bilhões pode causar muitos danos à economia americana”, ressalta Guez. “Essa greve simbolicamente representa a rixa entre os trabalhadores e os executivos, entre os mais privilegiados nos Estados Unidos e os que ficaram para trás, entre aqueles que se deram bem nas últimas décadas de crescimento econômico e aqueles que afirmam que, apesar do crescimento, não conseguiram se beneficiar.” Eco na Europa No exterior, a questão é saber se o que acontece nas fábricas dos Estados Unidos poderá se reverberar para outros países nos quais a conjuntura econômica é semelhante. A Stellantis, fruto da fusão entre a americana Chrysler e a francesa PSA, da Peugeot-Citröen, é a mais diretamente impactada pela possibilidade de ‘contágio’ da greve nas plantas instaladas na Europa. Os principais sindicatos de trabalhadores franceses já haviam marcado a retomada das mobilizações sociais, no dia 13 de outubro, com foco na perda do poder aquisitivo. Outro aspecto que aproxima os dois contextos é a insegurança dos trabalhadores diante da transição para os veículos elétricos. Nos Estados Unidos ou na Europa, os sindicatos temem que a saída dos combustíveis fósseis enxugue os salários e as vagas. O economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, no Brasil, nota que os processos de "destruição criativa" nos meios produtivos costumam ser acompanhados por tensões sociais. "Não necessariamente as pessoas que perdem o emprego nesse processo vão obter emprego em outro. Existem diferenças...

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Alta da pobreza na França leva associações de caridade ao limite de suas capacidades

9/13/2023
As filas cada vez maiores de pessoas à espera de um prato de comida diante de associações de caridade refletem um problema que se transformou em uma bola de neve na França: o aumento da pobreza. Um número crescente de franceses que viviam no limite do orçamento agora depende de instituições como os bancos alimentares para conseguir fazer três refeições ao dia, todos os dias. O resultado é que os organismos de assistência também se encontram em uma situação preocupante: a inflação fez disparar os custos dos alimentos e das operações, devido à alta dos preços dos combustíveis e da luz. “As crises sucessivas que tivemos – a Covid, a guerra na Ucrânia, a inflação – impactaram o orçamento das famílias e levaram pessoas que não estavam numa situação de precariedade alimentar, ou que estavam no limite do orçamento delas, a entrarem na precariedade”, explica Laurence Champier, diretora da Federação Francesa dos Bancos Alimentares. “A inflação não explica tudo, mas foi um acelerador. Para se ter uma ideia, no âmbito da nossa associação, quando o preço da energia subiu, chegamos a um aumento de € 16 milhões a mais nos nossos gastos.” Uma das associações mais emblemáticas da França, a Restos du Coeur anunciou que teria de deixar de atender a cerca de 150 mil pessoas até o início de 2024 – depois de, só no primeiro semestre, registrar 200 mil beneficiados a mais do que o previsto. O caso da Restos du Coeur está longe de ser uma exceção. “Os problemas que temos visto não são casos isolados: os bancos alimentares estão todos com dificuldades de abastecimento e, do outro lado, o aumento da precariedade alimentar na França se tornou regular, desde 2008. Eram 780 mil pessoas assistidas naquele ano e hoje temos 2,4 milhões que dependem de nós”, complementa Champier. Plano contra a pobreza Na semana que vem, o governo francês vai lançar um plano de combate à pobreza – que atinge 9,2 milhões de pessoas na França, ou 15% da população. Uma pesquisa da associação Secours Populaire com o instituto Ipsos verificou que 53% dos franceses não conseguem mais economizar e 18% – uma alta de 3% em relação a 2022 – se acostumaram a viver com a conta bancária no vermelho. As filas por um prato de comida são preenchidas cada vez mais por pessoas que têm um trabalho fixo, algo inédito, mas também mães solteiras, aposentados e estudantes universitários. No centro social Maison Blanche, no norte de Paris, a reportagem da RFI encontrou o brasileiro Rafael, que chegou na França há um ano e se surpreendeu com o que viu. “Você não imagina que encontraria uma fila de 300 estudantes em pleno mês de agosto [no auge das férias de verão], esperando uma refeição na França. É um país rico, mas estou vendo que a situação está complicada”, disse o jovem. “A gente vê que está difícil para todo mundo.” Compras limitadas e queda nas doações Uma prova é que o número de doações no país estagnou no ano passado – algo que não acontecia havia 10 anos. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee), o preço dos alimentos subiu 11% em agosto, na comparação com o mesmo período do ano passado. Assim, a alimentação, o segundo maior gasto das famílias, se transformou em uma variável de ajuste do orçamento, aponta Champier. “As pessoas compram menos, preferem produtos mais baratos, restringem as compras a partir de um certo momento do mês – por exemplo, não compram mais produtos de higiene porque o dinheiro acabou aquele mês”, salienta. “Muitas simplesmente não compram mais nada que não seja de alimentação.”

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Por que o yuan ainda está longe de desbancar o dólar no mercado internacional

9/6/2023
O ano de 2023 se transformou em um marco para a internacionalização do yuan, a moeda da China. O mundo caminha para um dia o dólar ser substituído nas transações globais pelo renminbi, o nome oficial da divisa chinesa? Desde que se tornou uma potência econômica, a China alimenta esse sonho, ainda mais depois de o yuan ser reconhecido como uma das moedas do FMI (Fundo Monetário Internacional). Esse anseio é agora reforçado pelo contexto da guerra na Ucrânia e a ampliação do Brics, o grupo de países emergentes do qual faz parte junto com Brasil, Rússia, Índia e África do Sul. Avesso às sanções ocidentais contra Moscou, de quem é aliado, Pequim passou a comprar petróleo e gás russos diretamente em renminbis e acelerou o desenvolvimento do próprio sistema de pagamentos transfronteiriços, o CIPS, um equivalente chinês ao tradicional Swift. A ofensiva responde à importância da China como principal parceira comercial de cerca de 140 países espalhados pelo mundo. Dos restantes, ela é a segunda principal parceira. Neste contexto, os acordos bilaterais com Bancos Centrais estrangeiros, incluindo o do Brasil, se multiplicam. “Isso foi colocado pelo governo brasileiro como uma espécie de conquista, mas em realidade se trata se uma política externa chinesa. Ela foi desenhada e está sendo promovida pela China, mas vai depender muito dos próprios atores das relações comerciais, se vão querer utilizar ou não o yuan, e dentro de uma certa cota”, sublinha o coordenador do Grupo de Estudos Brasil-China da FGV Direito Rio, Evandro Menezes. “No geral, os players do Brasil ainda preferem operar em dólar.” Economia fechada dificulta expansão Na última cúpula do Brics, em que a abertura para seis novos membros foi decidida, os integrantes avançaram as negociações sobre o uso de uma moeda comum entre eles. Para o novo eixo do Sul global, estimular alternativas ao dólar representa fortalecer a própria influência geopolítica. Mas dado o peso da China na relação com os demais, o yuan tem tudo para ser o maior beneficiado. Ironicamente, o freio para uma expansão generalizada do renminbi no mercado internacional vem da própria China. Por conta do forte controle estatal sobre o sistema financeiro do país e a moeda nacional, o yuan ainda é apenas parcialmente conversível em outras moedas correntes, ao contrário do dólar ou do euro. No século 19, foi justamente a liberalização financeira que permitiu à libra britânica e, no século seguinte, ao dólar americano, se transformarem em moedas mundiais. “Há diversos elementos a serem considerados antes de se falar em uma superação da predominância do dólar no âmbito internacional, inclusive a confiança da moeda, a estabilidade da economia, as políticas cambiais e monetárias adotadas pelo país, a sua pujança econômica”, destaca Menezes. Alternativa para países endividados É por isso que, enquanto não está disposto a pagar o preço da abertura, Pequim tem privilegiado à expansão do yuan via transações comerciais, empréstimos e operações como swap cambial, que beneficiou recentemente a Argentina. Com aceso limitado a dólares, Buenos Aires depositou pesos argentinos no Banco Central chinês e recebeu o equivalente em yuans. Com o dinheiro, quitou uma parcela da dívida bilionária que mantém com o FMI – mas sem usar as suas reservas na moeda americana, que se encontram em baixa. Já Pequim avançou um passo a mais nos seus planos de expansão. “Tem uma série de variáveis importantes, não só o comércio internacional, que poderá dar ao yuan uma importância pelo menos equiparável ao dólar. Os Estados Unidos estão tentando proteger o dólar de diversas maneiras, afinal esse é um ponto importante de manutenção do seu poder e da sua hegemonia econômica global”, observa o professor da FGV, atualmente pesquisador visitante da Universidade de Pequim. “Os obstáculos postos pelos americanos e pela Europa criam uma dificuldade evidente para o yuan se tornar uma moeda global. E há sempre um teste de força importante: em momentos...

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Incertezas sobre a China prorrogam fase ‘devagar’ da economia mundial

8/30/2023
Desde o começo do ano, os indicadores da economia mundial não param de decepcionar e, agora, o que pode ser uma ‘bomba-relógio’ – como definiu o presidente americano, Joe Biden, sobre a economia chinesa – aumenta o grau de preocupação sobre os meses que estão por vir. O coquetel de juros altos e crescimento baixo no mundo, somado à desaceleração da China, se torna ainda mais perigoso para os países mais vulneráveis, como os emergentes. A sequência de alta de juros nos Estados Unidos não dá sinais de arrefecer para conter a inflação, com efeito dominó no resto do planeta. Da mesma forma, os riscos ligados às tensões geopolíticas, com a guerra na Ucrânia, também não recuam. “Nas economias avançadas, vemos que claramente as taxas continuam a subir e vão ficar altas durante muito tempo, durante toda a primeira parte do ano 2024, e agora produzem impacto na atividade. Em geral, temos 12 meses de atraso entre o momento em que os bancos centrais sobem os índices e o momento em que realmente essas taxas afetam a atividade – e elas foram elevadas há pouco mais de um ano”, explica Bruno de Moura Fernandes, head de macroeconomia da seguradora francesa Coface, presente em mais de 100 países. “Então vamos sentir mais, nos próximos trimestres, o impacto para as empresas, para as famílias. Estamos a ver uma desaceleração do consumo das famílias, um investimento menor e claramente um aumento das insolvências em todas as regiões”, ressalta o analista. Falências na Alemanha Na Europa, a série de falências na Alemanha se iniciou no ano passado e se acentua: o número de fechamentos de empresas em julho foi quase 24% superior ao mesmo período de 2022, segundo dados oficiais. Berlim registrou crescimento zero no segundo trimestre do ano. O caso alemão, a maior economia do continente, simboliza o ritmo devagar em quase toda a zona do euro, como indicam os números da produção industrial, de somente 0,5% em junho. O setor de serviços, também em queda, é outro sintoma de uma recessão que parece se aprofundar. Na Ásia, a crise imobiliária chinesa, o crescimento baixo – de talvez 5%, como prevê Pequim este ano – e o alto desemprego dos jovens na segunda maior economia mundial acendem o alerta para uma piora da conjuntura. O temor de que o ‘momento Lehman Brother’ chinês possa estar se aproximando gera apreensão nos mercados financeiros, depois que um grande fundo de investimentos do país, Zhongrong Trust, não honrou seus pagamentos em meados de agosto. “Já vemos que claramente as exportações chinesas estão caindo pela pouca procura por parte dos Estados Unidos e da Europa, e que o consumo das famílias chinesas também é uma grande decepção, porque, afinal, não tem confiança. Os níveis de confiança das empresas e sobretudo das famílias estão muito baixos: a dívida das famílias subiu demais durante a pandemia e por isso, elas não estão a consumir o que deveriam”, contextualiza Fernandes. “Por enquanto, não vemos como a recuperação pode acelerar nos próximos meses. E isso, obviamente, significa menor procura por muitos produtos.” Risco para o Brasil Esse contexto internacional abala o mercado mundial de commodities e repercute imediatamente no Brasil. As flutuações nos preços do petróleo e do minério refletiram essas incertezas. “No Brasil, as taxas de juros continuam muito altas e isso impacta, obviamente, a demanda interna, o consumo das famílias, o investimento. E se o Brasil não tem esse motor que são as exportações, ou se as exportações não são dinâmicas pela fraca demanda chinesa, isso obviamente vai impactar a economia brasileira”, ressalta o especialista franco-português. Cerca de 30% das exportações brasileiras, essencialmente de matérias-primas, vão para a gigante asiática. Na última cúpula do Brics, na África do Sul, o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, comentou o assunto. “Nós estamos acompanhando o que acontece nos três blocos, China, Europa e Estados Unidos, que são grandes parceiros comerciais do Brasil. Mas o...

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Primeiro passo de projeto de moeda única do Brics deve ser com transações nas moedas nacionais

8/23/2023
Um dos focos da agenda econômica da 15ª Cúpula do Brics, na África do Sul, é o avanço das discussões sobre a adoção de uma eventual moeda única nas transações entre os países integrantes do bloco de emergentes. Um primeiro passo deve ser a ampliação dos fluxos nas moedas nacionais entre os países-membros, com um papel protagonista do chamado Banco do Brics nesta transição. Lúcia Muzell, enviada especial da RFI a Joanesburgo Assim, em um primeiro momento, em vez de usar o dólar para a China investir no Brasil, os dois países poderiam escolher o yuan chinês – que, entre as cinco moedas do bloco, é a mais internacionalizada. O exemplo foi evocado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista nesta terça-feira (22). Desde que assumiu o Planalto, ele tem reiterado o desejo de concretizar o projeto, um sonho antigo dos países em desenvolvimento que ganhou força desde que os juros americanos se estabilizaram em um patamar elevado. “Por que eu faço negócio com a China e preciso de dólar? O Brasil e a China têm tamanho suficiente para fazer negócios nas suas moedas ou em outra unidade de conta, sem desvalorizar a moeda da gente e sem negar. Ela continua existindo, mas a gente cria uma moeda de comércio exterior”, explicou. “O que é importante é que a gente não pode depender de um único país que tem o dólar, e nós somos obrigados a ficar vivendo da flutuação desta moeda. Não é correto.” O presidente ressaltou que o plano não representa “negar o dólar”, mas frisou que os países em desenvolvimento podem desviar da moeda americana para poderem, inclusive, se ajudarem entre si nos momentos de crise. “Há países, como a Argentina, que não podem comprar dólar agora, e estão em uma situação muito difícil, porque não têm dólar. Ora, para vender para o Brasil, não deveria precisar de dólar”, evocou. Passo a passo O presidente do Instituto do Brasil África, João Bosco Monte, acompanha em Joanesburgo o andamento das negociações de um projeto “complicado”, segundo ele, para sair do papel. “Os países têm, naturalmente, a capacidade de transações bilaterais entre si nas suas moedas, e isso talvez seja a gênesis de um novo captulo. A identificação de uma moeda comum é, por enquanto, um desejo que eles têm colocado sobre a mesa”, avalia. Diante de uma plateia de empresários, industriais e integrantes do sistema financeiro, no Fórum Empresarial do Brics, Lula e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, enfatizaram o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) para acelerar o projeto com as moedas nacionais. O brasileiro sonha que o NDB um dia será “mais forte que o FMI” nos empréstimos para as nações em desenvolvimento. Já o presidente russo, Vladimir Putin, comentou, por videoconferência, que o processo de fim da hegemonia do dólar nas transações comerciais globais era "irreversível". Brics empresta em rands sul-africanos Na semana passada, a instituição realizou a primeira venda de títulos da dívida em rands sul-africanos: um título de cinco anos de 1 bilhão de rands, o equivalente a US$ 53,1 milhões. A presidente do banco, Dilma Rousseff, declarou que o NDB espera emprestar até US$ 10 bilhões este ano para os países membros, dos quais cerca de 30% devem ser nas moedas locais – incluindo ainda o real brasileiro, o rublo russo e a rúpia indiana. “Brigar com os Estados Unidos e o sistema financeiro mundial não é fácil. O fato de o Banco do Brics trazer essa agenda e puxar essa discussão favorece para que, eventualmente, as transações comerciais entre os países possam usar outras moedas. É possível? Sim, depende obviamente da conversa, do entendimento político, mas isso não é uma ação que se esgota nos dois dias de conversas em Joanesburgo”, salienta Bosco Monte.

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O que é a 'economia verde' e como ela será cada vez mais presente na sua vida

8/2/2023
O termo está por todo o lado e, cada vez mais, nos discursos dos políticos. Mas o quê, afinal, significa uma economia verde? O termo designa as diversas formas pelas quais o mundo continuará a gerar riquezas e crescimento econômico, mas sem piorar ainda mais o aquecimento global. Para isso, é preciso cortar emissões de gases de efeito estufa, que causam o aumento da temperatura do planeta, das atividades que fazem uma economia girar: indústria, infraestruturas, construção civil, agricultura, comércio, transportes e tantos outros aspectos presentes no dia a dia das populações. “A economia tem três pilares: produção, distribuição e consumo. A economia verde traz critérios de sustentabilidade, de conservação, de responsabilidade social para esses três pilares”, explica Mercedes Bustamante, professora do Laboratório de Ecossistemas da UNB e cientista membro do IPCC. Ela ressalta que a economia verde enfatiza diversos conceitos que podem estar à mão do consumidor, como compartilhamento e circularidade – que geram menos consumo e reaproveitam melhor os recursos do planeta. “A partir do momento em que as pessoas começam a entender de onde vem o que elas consomem, como é produzido e quais as consequências, elas passam a ter um consumo mais consciente e a se envolver, cobrando isso das empresas e do poder público”, aponta Bustamante. Envolver o sistema financeiro A economia verde é transversal e engloba até áreas como a bancária e financeira. “O setor financeiro é conservador, olha o histórico de rentabilidade dos empreendimentos. Então, os tradicionais, como o petróleo e gás, que ao longo de décadas tiveram um histórico extremamente favorável, têm acesso facilitado ao capital”, ressalta Luciane Moessa, diretora-executiva da Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS), que analisa o desempenho das principais instituições do setor e aponta como podem melhorar. Ex-procuradora do Banco Central, Moessa tem atuado para facilitar a conexão entre o sistema financeiro e o desenvolvimento sustentável. “O setor financeiro tem operado a partir de premissas equivocadas, que olham somente para o passado, o que faz com que tecnologias novas, que têm grande potencial de crescimento, sejam olhadas como muito arriscadas e tenham menos acesso a crédito”, afirma. “Um crédito pode ser considerado sustentável de duas formas: por não causar danos ambientais, sociais ou climáticos – que é o mínimo que se deveria esperar, mas infelizmente está longe de ser a regra – ou porque ele causa um impacto positivo do ponto de vista ambiental, contribuir para que a nossa economia, que hoje não é sustentável, como um todo, se sustente no longo prazo.” Energia e o hidrogênio verde, o 'combustível do futuro' Cada país tem os seus próprios desafios rumo à sustentabilidade – mas o setor de energia é um ponto-chave para todos. As emissões energéticas são responsáveis por nada menos do que 40% do total de CO2 e outros gases despejados na atmosfera. Não à toa, nos quatro cantos do globo, países e empresas buscam tornar o setor menos prejudicial para o planeta. Esse é um exemplo do quanto a economia verde também significa um manancial de oportunidades. Nas energias renováveis, o Brasil tem potencial de se transformar em uma referência mundial em solar e eólica, mas também na produção e exportação de hidrogênio – apontado como o combustível do futuro. “A produção do chamado hidrogênio verde demanda energias renováveis, e representa uma janela de oportunidade para o Brasil e sobretudo algumas regiões com enorme potencial de desenvolvimento das renováveis, como o Nordeste, além de trazer novas oportunidades de emprego. Por isso é muito importante associar a formação e qualificação dos recursos humanos, para serem capazes de lidar com esses novos processos”, salienta Bustamante, que desde janeiro é também presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Agricultura de baixo carbono Por outro lado, o Brasil ainda tem um enorme dever de casa...

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Venda do Grupo Pão de Açúcar pelo Casino francês anima compradores no Brasil e no mundo

7/19/2023
Enquanto o futuro do poderoso Grupo Casino está em jogo na França, no Brasil a expectativa é para onde vai o Grupo Pão de Açúcar (GPA), tirado das mãos do empresário Abílio Diniz há 11 anos, quando foi adquirido pela gigante francesa do varejo. A negociação mobiliza potenciais compradores no Brasil e no exterior, incluindo concorrentes e o próprio Diniz. Lúcia Müzell, da RFI Afundado em dívidas, o Casino começou a se desfazer de ativos espalhados pelo mundo desde 2014, mas a crise gerada pela pandemia e em especial na América Latina só piorou o quadro, que o contexto inflacionário e de juros na Europa terminou de sepultar. No fim de junho, a companhia anunciou a intenção de vender as suas parcelas no GPA, do qual é acionista controlador, com 40,9% dos papéis. Em todo o Brasil, são quase mil lojas em jogo – é o segundo maior pilar do grupo francês no mundo. Em março, a companhia já se desfez de 12% do seu capital da rede Assaí, com a qual levantou € 600 milhões para conseguir respirar até o fim do ano, em conjunto com medidas de emergência negociadas com os credores e o governo francês. Na América Latina, o Casino ainda tem forte presença na rede colombiana Éxito – que também será cedido, como parte do plano de reestruturação da gigante do varejo. “Estamos todos empolgados com essa mudança. A gente tem visto todos os agentes envolvidos nessa cadeia de valor muito atentos e querendo no mínimo analisar a oportunidade – seja outras redes, fundos de investimentos ou de mercado de alimentação dentro do lar”, observa Eduardo Yamashita, COO da consultoria especializada em varejo Gouvêa Ecosystem. "Essa operação do Casino está menos conectada com a operação brasileira e mais com os negócios internacionais do grupo. É por isso que a gente tem visto essa quantidade de interessados no ativo GPA, que é realmente único.” Revanche de Diniz? Na época da venda do Grupo Pão de Açúcar, a família Diniz enfrentou uma longa batalha para evitar a aquisição pelo CEO e acionista majoritário do Casino, Jean-Charles Naouri – que acabou vencendo a disputa. Abílio levou anos para superar a perda do controle da rede varejista fundada pelo seu pai, Valentim, no fim dos anos 1940. Desde então, uniu-se à rival francesa Carrefour, da qual é vice-presidente do conselho de administração no Brasil e um dos principais acionistas no grupo global. O mercado especula se teria chegado a hora da revanche do empresário brasileiro face a Naouri – pessoalmente ou via Carrefour. "Essa história é icônica e o Abílio e a família falam abertamente sobre esse tema nos livros que já foram escritos. Foi um capítulo importantíssimo na história do varejo brasileiro”, destaca Yamashita. O analista salienta que "obviamente o Abílio e o seu family office são grandes candidatos” para retomar o GPA, assim como o Carrefour – mas estão longe de serem os únicos. "Fundos de investimentos nacionais e internacionais estão com um apetite muito grande. A negociação de um bloco tão relevante de um varejista com uma presença tão grande, principalmente no sudeste, que já consolidado e é o maior mercado do Brasil, com marcas próprias e os avanços tecnológicos que eles fizeram, são ativos que chamam muita atenção”, insiste. Jean-Charles Naouri, um 'tubarão' devorado pela própria ganância O empresário francês foi apelidado de “lobo”, “tubarão” ou “predador”, depois de consolidar o método de entrar aos poucos no capital de empresas familiares em apuros, mas sempre com opção de compra futura – que na maioria dos casos, se tornava fatal, como no Grupo Pão de Açúcar. Era o auge da expansão fulminante do Casino por mercados emergentes, sob o comando de Naouri. “Toda a vez que entra um player como o Casino, relevante globalmente, o mercado brasileiro amadurece muito. Isso aconteceu em todos os episódios, de uma maneira geral, e não só no segmento alimentar”, relembra Yamashita. "Foi assim com a entrada do WalMart no Brasil – que depois saiu, mas isso faz com que o mercado no Brasil elevasse a...

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UE acelera projeto de euro digital, de olho na soberania monetária e inserção internacional

7/12/2023
A passos lentos, mas determinados, a União Europeia avança rumo à adoção do euro digital, com o qual os mais de 340 milhões de usuários da moeda única poderão realizar transferências e pagamentos correntes. Já faz três anos que o bloco desenha os contornos da versão virtual da moeda, cujo projeto legal a Comissão Europeia revelou no fim de junho. Lúcia Müzell, da RFI Dezenas de países do mundo buscam o melhor caminho para criar as suas moedas digitais – o Brasil, por exemplo, é um dos mais avançados na questão e vai lançar os testes com o real digital neste segundo semestre. Mas na UE, o desafio é particularmente complexo: nada menos do que 20 países, com idiomas diferentes, adotam o euro, que também é a segunda divisa mais importante do mundo, atrás do dólar. “Os países em desenvolvimento avançaram rápido nas moedas virtuais utilizadas no varejo, e não no atacado. Isso faz toda a diferença. Nesses países, inclusive a China, ainda há um desafio importante de inclusão financeira. O euro digital não tem esse objetivo”, explica Victor Warhem, especialista em Finanças do Centro de Política Europeia. “Aqui, o grande propósito é a soberania monetária e unificar o setor de pagamentos na Europa, algo que até hoje não conseguimos fazer bem. A principal utilidade seria dispor de um instrumento que poderá ser usado nos mercados financeiros internacionais, e assim reduzir as fricções nos mercados de câmbio internacionais e dentro da própria UE”, salienta. Concorrência de moedas Nos últimos anos, a moeda única foi ficando para trás em termos de modernização de pagamentos correntes. As transações bancárias tradicionais, como compras e transferências, são realizadas por cartão bancário e um punhado de multinacionais privadas, como Lydia e PayPal. Num ambiente em que as moedas enfrentam não só uma concorrência entre elas cada vez mais acirrada, mas também se adaptam à expansão das criptomoedas, o euro digital, que deverá se chamar Cash+, chega na hora certa, na avaliação de Nathalie Janson, professora associada de Finanças da Neoma Business School. A expectativa é de que, se tudo der certo em termos de regulamentação, aprovação e implementação, o euro digital comece a operar em 2027, no cenário mais otimista. “A exceção da China, um grande país que começou bem mais cedo, mas que ainda não adotou totalmente a sua moeda digital, a maioria dos países industrializados não chegou ao nível que a UE chegou. Se olhamos os Estados Unidos, vemos que estão ainda bem longe de nós, que estamos em fase de prototipagem”, observa. “Estamos bem posicionados no mercado de divisas internacionais, nessa corrida em que o dólar está bem atrás”, afirma Janson. Ameaça aos bancos tradicionais As modalidades de funcionamento da futura moeda ainda não foram determinadas pelo Banco Central Europeu. O euro digital deve poder ser estocado em um cartão bancário, um telefone ou um aplicativo específico a ser desenvolvido, sem necessidade de conexão à internet. As transações serão gratuitas e em larga escala – desde a compra de pão na padaria até aquisições mais volumosas, num limite que deve ficar em € 3 mil. O comissário europeu encarregado dos serviços financeiros, Mairead McGuinness, tem esclarecido que, apesar da queda da utilização de dinheiro em espécie, acentuada pela pandemia, o objetivo não é acabar com o dinheiro vivo, essencial para a estabilidade financeira e monetária no bloco. Para Warhem, o principal desafio será convencer os bancos comerciais de que a moeda virtual é uma boa ideia ­– afinal ela lhes priva de depósitos. “Vão impor um limite, mas também vão aceitar que as pessoas e comerciantes tenham várias contas ao mesmo tempo. Eles poderiam, então, retirar todo o seu dinheiro do banco e colocar na carteira digital, o que poderia ser muito desestabilizador para o sistema bancário, principalmente em caso de crise na zona do euro”, ressalta o pesquisador do Centro de Política Europeia, de Paris. “Além disso, vamos criar uma solução de pagamentos...

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Juros altos nos EUA mantêm economias em desenvolvimento sob a sombra de crise

7/5/2023
Os juros elevados nos países ricos, sem qualquer sinal de queda, desenham um futuro nebuloso no horizonte das economias menos desenvolvidas, estranguladas pelo aperto monetário. Os países mais vulneráveis estão na África, mas grandes emergentes como o Brasil também ficam à mercê das decisões dos Bancos Centrais americano e europeu. As taxas altas no norte para conter a inflação persistente levam a uma cadeia de problemas nos países do sul, que também se veem obrigados a manter os seus índices elevados para evitar uma fuga ainda maior de capitais e a desvalorização das suas moedas nacionais, com efeito dominó sobre toda a economia. A questão que se coloca é: esse ciclo só vai se inverter quando os juros começarem a cair no norte? "O que os Bancos Centrais, todos, estão comunicando é que nenhum deles sabe avaliar muito bem o porquê da persistência inflacionária, principalmente no hemisfério Norte. E isso tudo traz à tona uma série de perguntas sobre o nosso entendimento geral sobre as causas inflacionárias, como funciona realmente a política monetária hoje, quais são os fatores que a gente desconhece e de tal forma que nem o curto prazo os Bancos Centrais estão conseguindo enxergar”, avalia a economista Monica de Bolle, pesquisadora senior do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington. "O próprio Jerome Powell, presidente do Fed, já disse que a política monetária não atinge mais a economia com a mesma força que atingia anteriormente, afinal houve a subida extraordinária de juros nos Estados Unidos, de praticamente zero para 5%, e quase não houve queda inflacionária depois", constata. Além da depreciação cambial, as consequências imediatas nas economias mais vulneráveis são a explosão da dívida, a dificuldade de acesso ao crédito e risco de crise monetária, podendo resultar em crise de dívida soberana, nos casos mais graves. Sem risco sistêmico Quatorze países já se encontram em situação de dívida excessiva ou quase excesso. Em 2022, um quinto das nações mais pobres queimaram mais de 15% das suas reservas oficiais para compensar o impacto da desvalorização das suas moedas. "Em comparação com o que aconteceu nos anos 1990, essa crise gerada pela alta das taxas nos Estados Unidos é completamente diferente. Na década de 90, tínhamos 40 países em crise, e hoje são menos de 10”, minimiza Thais Baptista, especialista em mercados emergentes no Schelcher Prince Gestion, em Paris. "Os que estão em estresse são muito pequenos, e não são sistêmicos. Alguns já estão quebrados, como Líbano, Sri Lanka, e a Argentina, dado o vencimento da dívida, é esperado que ela entre em default entre outubro e novembro”, aponta. “Mas tem grandes emergentes indo super bem, como Índia, Indonésia, México”, salienta a gerente de portfólio. De maneira geral, a situação atual leva a atraso no desenvolvimento, já que mais recursos estão sendo redirecionados para pagar juros da dívida. Sem investimentos, é o crescimento econômico que encolhe. O Banco Mundial espera resultados pífios nos países em desenvolvimento e emergentes neste ano e no próximo, à exceção do leste e sul da Ásia. Até o fim de 2024, a atividade econômica na maioria destes países deve ser 5 pontos percentuais a menos do que o esperado antes da pandemia de Covid-19, levando quase um terço deles a registrar uma renda média por habitante inferior ao patamar de 2019, principalmente na América do Sul e Central e na África Subsaariana, indicou um relatório da instituição, no início de junho. Baixar ou não a Selic? No Brasil, a taxa básica a índices recordes, de 13,75% deve continuar a estrangular o crescimento. O Banco Mundial espera que o país vá crescer apenas 1,2% em 2023, bem abaixo da média de 4% projetada para os países emergentes. O fraco desempenho deve continuar no ano que vem, com alta de 1,4% do PIB brasileiro, ante a 4,3% no conjunto de emergentes. "O Banco Central do Brasil reluta em reduzir as taxas porque os outros estão mantendo as suas muito altas – e faz...

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Paris Air Show: aviação tem desafio de se descarbonizar em meio a alta inédita da demanda

6/20/2023
Um novo paradigma está em curso na aviação mundial, movendo investimentos que se contam em bilhões de dólares: até 2050, o setor promete não emitir mais CO2 na atmosfera. Mas, ao mesmo tempo, nunca a demanda por voos foi tão aquecida, com perspectiva de dobrar nos próximos 20 anos, conforme antecipam as duas maiores construtoras do planeta, Airbus e Boeing. Como o objetivo ambiental poderá ser compatível com o aumento ainda maior dos aviões em circulação? A resposta, alegam as grandes fabricantes do setor, está na tecnologia. O assunto é um dos focos do Paris Air Show, ou Salão do Bourget, que acaba de abrir nos arredores da capital francesa. O evento coroa a retomada mais dinâmica do que o previsto, após o tombo durante a pandemia de coronavírus. Só na França, o setor contratou 18 mil pessoas em 2022 e mais 25 mil devem ser chamadas neste ano – para atender a um número de passageiros que, no que vem, já deve ser maior do que o registrado antes da crise da Covid-19. A companhia Air France, por exemplo, vai aproveitar a feira de aeronáutica para contratar pessoal. "Nós vamos precisar de cerca de 600 pilotos, 600 mecânicos e técnicos de aeronáutica e cerca de 300 funcionários em altos postos, em diversas funções. É muito bom”, afirma a diretora de recursos humanos da empresa, Valérie Molenat, ouvida pela France Inter. "Nós tivemos que nos adaptar a uma nova frota, com as obrigações de descarbonização. Decidimos renovar a nossa frota – o que atrai novos pilotos.” Maior encomenda da história As encomendas de novos aviões menos poluentes disparam. Já no primeiro dia do evento, que espera ter mais de 300 mil visitantes até domingo (25), a Airbus fechou o maior contrato da história da aviação civil: 500 aeronaves A320neo para a companhia indiana de baixo custo IndiGo, num valor estimado em US$ 55 bilhões. O modelo promete ser de 15 a 20% mais econômico em combustível e em emissões de CO2, uma obrigação que será cada vez mais rigorosa na aviação – responsável por entre 5 a 6% dos gases de efeito estufa que provocam o aquecimento do planeta. Em outubro passado, 193 países membros da Organização da Aviação Civil Internacional chegaram a um acordo para atingirem a neutralidade de carbono até 2050. A movimentação em busca de modelos mais econômicos – que são também menos poluentes – se iniciou há várias décadas. Desde 1960, as emissões de CO2 por passageiro caíram para cinco vezes menos, graças aos avanços tecnológicos. O problema é que, no período, o número de passageiros cresceu 45 vezes, conforme apontou um estudo da organização francesa Aéro décarbo, especialista no assunto. "Podemos atingir essa meta com certeza. Não temos quase dúvidas disso. Todas as pistas tecnológicas que já identificamos para podermos atingir estão sendo exploradas, portanto não temos preocupações desse ponto de vista”, garante Patrick Daher, comissário do Paris Air Show 2023 e presidente da fabricante Daher, também à France Inter. "Mas temos um problema de custos para chegar lá. Vai custar muito caro, entretanto será o preço que deveremos pagar para chegar à descarbonização da aviação”, reconhece. Corrida pela descarbonização custará bilhões Países como França, Alemanha e Estados Unidos apostam alto na nova geração de aviões – o presidente francês, Emmanuel Macron, acaba de anunciar um pacote de € 2,5 bilhões até 2030 para pesquisa e desenvolvimento de uma aviação com menor impacto ambiental. A indústria deve investir valores de duas a três vezes superiores. O Salão do Bourget apresenta nesta edição um pavilhão inteiro, de 1000 metros quadrados, dedicados ao tema. Os novos querosenes à base de biomassa já são uma realidade em expansão, mas com uso ainda restrito a curtas distâncias e, ainda assim, limitado: na Europa, apenas 1% do combustível embarcado é de baixa emissão, bastante distante da meta imposta pela União Europeia em 2050, de 70% de biocombustível. Além disso, o conceito de ecopilotagem também se expande, com mudanças técnicas e...

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Paris sedia salão Vivatech em contexto de queda de investimentos em startups; Brasil marca presença

6/14/2023
Uma das maiores feiras de tecnologia do mundo abriu nesta quarta-feira (14) em Paris. A Vivatech, com mais de 2,4 mil startups, acontece num momento em que o setor busca superar o desafio da queda dos investimentos em novas empresas de tecnologia. Alguns dos maiores nomes mundiais da área, como Elon Musk, participam da sétima edição do evento – que se tornou um rendez-vous obrigatório para as gigantes da área, como Meta, Google ou Microsoft. Prova de que cada vez menos as empresas convencionais podem ignorar a tecnologia e a inteligência artificial, as principais marcas francesas também apresentam suas inovações nos corredores da Vivatech – da líder do luxo LVMH à referência em equipamentos de Defesa Dassault, passando pela gigante de cosméticos L’Oréal, todas promovem lançamentos no salão. Quanto às jovens empresas, o evento é uma ocasião preciosa para fazer novos contatos e buscar potenciais investidores. Num pequeno estande bem posicionado no centro do pavilhão principal, o Brasil apresenta sete startups, nas áreas de educação, saúde, esportes, finanças e inteligência artificial. "Já dei uma passadinha nos nossos competidores e o Brasil não deixa a dever nada. Estamos mostrando como a gente pode se desenvolver mais nessa área e crescer mais no Brasil”, disse a secretária nacional de Ciência e Tecnologia, Marcia Barbosa. "E, acima de tudo, mostrar para as startups brasileiras que elas têm condições de virem para o exterior, competirem, trazerem os seus produtos aqui para a Europa, porque a Europa está esperando por elas." Startups brasileiras Alexandre Barral, cofundador da Portal Telemedicine, está de olho na internacionalização da plataforma, especializada em atendimento e diagnóstico médico à distância, em regiões remotas. A iniciativa surgiu há 10 anos atendendo comunidades na Amazônia, e hoje está presente em todo o Brasil. Mas os chamados desertos médicos, principalmente nas regiões rurais, também dificultam o acesso à saúde nos países desenvolvidos. "A gente começou conectando pacientes na Amazônia a cardiologistas em São Paulo, portanto temos uma experiência muito grande. Mas os desertos médicos acontecem também na Europa, na França, inclusive na periferia de Paris, onde há regiões com falta de cardiologistas e radiologistas”, relata. Expandir-se no exterior também é o objetivo de Ronaldo Cohin, CEO da Jade, plataforma de educação para crianças com necessidades especiais como autismo, TDH e Síndrome de Down. "A gente atualmente atende 160 mil crianças em 180 países. Estamos baseados no Brasil e na Inglaterra, mas buscamos um outro país aqui na zona do euro para termos uma terceira sede”, conta. Fim do dinheiro fácil A Vivatech deste ano acontece num contexto de queda mundial nos financiamentos de startups a partir de 2021, em que o dinheiro fácil e a proliferação de unicórnios ficaram cada vez mais raros. Na França, por exemplo, os números despencaram 55% no primeiro semestre de 2023 em relação ao mesmo período do ano passado, conforme um estudo do fundo britânico Atomico revelado na semana passada. No Brasil, o cenário não é diferente. O último relatório trimestral da Distrito, plataforma brasileira especializada neste mercado, indicou que os aportes caíram 86% na comparação com o primeiro trimestre de 2022. As fintechs e as supply chain seguem no topo das atenções dos investidores. Alexandre Barral observa que a área da saúde também continua relativamente preservada. "Para podermos passar de 30 milhões de pacientes – o que é muito grande no mercado de health tech – para o nosso grande objetivo de ajudar 1 bilhão de pessoas no mundo, a gente precisa de investimentos, claro, e de novos parceiros, seja aqui na França, na Índia ou onde for”, sublinha. "O mercado de investimentos está um pouco mais frio atualmente, mas se tem um setor que está resistindo é o da saúde, depois que tudo que a gente passou com o Covid e de vermos tudo que a tecnologia pode trazer para as populações”, analisa. Ronaldo Cohin...

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Apesar de greves, França mantém liderança de investimentos estrangeiros na Europa pelo quarto ano

5/31/2023
As imagens da França que correram o mundo nos últimos meses não foram das mais positivas, com repetidas greves em diversos setores, quebradeira nas ruas e tensão social. Mas aos olhos das empresas estrangeiras, as vantagens de investir no país ainda permanecem superiores aos contratempos: pelo quarto ano consecutivo, a França foi o país que mais atraiu investimentos estrangeiros na Europa. Conforme um relatório da consultoria EY divulgado em maio, 1259 projetos foram implementados em território francês em 2022, à frente do Reino Unido, com 929, e da Alemanha, com 832. O Brexit favoreceu a França como polo atrativo empresarial na Europa, mas está longe de ser a única explicação para o fenômeno, segundo o economista Eric Heyer, diretor do departamento de Análises e Previsões do Observatório Francês da Conjuntura Econômica (OFCE). Ele elenca ainda a posição geográfica central no mercado europeu, as infraestruturas impecáveis, o nível elevado de produtividade e as políticas para beneficiar a oferta – ou seja, as empresas. “Quando o investidor chega, ele pode pagar mais caro pela mão de obra, afinal a carga tributária do trabalho é alta, mas você também terá trabalhadores produtivos. E desde 2013, há também uma verdadeira virada do discurso político na França a favor dos negócios, com a adoção de políticas públicas para baixar o custo do trabalho, flexibilizar o mercado de trabalho e promover a formação ao longo da carreira”, explica. “Para empregados com salários baixos, em torno do mínimo, eles podem ser subsidiados pelo Estado. A empresa não paga os encargos sociais nestes casos. Fica muito vantajoso para a empresa”, complementa o professor-associado da Neoma School of Business Gabriel Gimenez-Roche. “Outro ponto é o crédit recherche (crédito de pesquisa): se a empresa investe em pesquisa e desenvolvimento, ela tem descontos por meio de créditos fiscais, o que faz com que a França tenha muito desenvolvimento de pesquisas. Entretanto, os produtos acabam não sendo finalizados na França, porque em geral há melhores condições para fazê-los em outro país”, pondera. Gimenez-Roche ressalta que o país abriga algumas das escolas superiores de engenharia e comércio mais respeitadas do mundo, que têm se transformado em polos de atração de negócios. Mas os investimentos não ocorrem nas áreas de decisão – se concentram na produção, e não na abertura de sedes ou filiais estratégicas, o que pode simbolizar o receio da instabilidade social no país. Pouco impacto no emprego O professor lembra que, desde que assumiu, em 2017, o governo do presidente Emmanuel Macron adotou vantagens fiscais para a abertura de start ups e promoção do retorno das empresas francesas ao país, após um intenso processo de transferência da produção para lugares mais baratos, a partir dos anos 2000. “Macron baixou o imposto de base para as empresas, que era de 33%, e visa chegar a no máximo 28%, sendo que 25% seria o ideal, para ficar na média da União Europeia e da OCDE. Ele começou a acabar com impostos que eram excepcionais daqui, como o imposto sobre a produção, não ligados à receita da empresa”, salienta. “Isso fazia com que pouco importasse se a empresa tinha prejuízos, ela tinha que pagar certos impostos.” Eric Heyer destaca ainda que, se por um lado, os números do relatório da EY confirmam o maior dinamismo da economia na França, eles não se refletem em aumento significativo de empregos para os franceses: cada projeto criou em média 33 vagas no país, contra 58 ou 59 no Reino Unido ou na Alemanha. “Se olharmos os ganhos para os franceses, podemos pensar que estar nessa posição vai criar muitos empregos, mas não é o caso. Percebemos que a maioria dos projetos são pequenos, mas são os grandes que abrem vagas de empregos”, aponta. “Agora, a transição ecológica poderá, talvez, atrair grandes projetos para a França, de perfil mais industrial”, sinaliza.

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Acordo UE-Mercosul: apesar de reabertura de negociações, chance de aprovação segue favorável

5/17/2023
Depois de a União Europeia apresentar uma série de demandas adicionais – sobretudo ambientais – para iniciar o processo de ratificação do acordo comercial com o Mercosul, o Brasil sinaliza que também vai querer incluir contrapartidas. A reabertura das negociações, no entanto, não significa necessariamente que o tratado não será ratificado este ano, como esperam o governo brasileiro e vários países europeus, liderados pela Alemanha. Lúcia Müzell, da RFI As negociações do acordo se arrastaram por 20 anos até serem concluídas em 2019, mas o texto ainda precisa ser ratificado pelos 27 países que compõem a União Europeia e os quatro integrantes do Mercosul. Desde então, os resultados catastróficos do governo de Jair Bolsonaro na área ambiental serviram de justificativa para os europeus paralisarem o processo. No fim de abril, apesar do clima político mais favorável no Mercosul, com a saída de Bolsonaro, a UE apresentou “um documento adicional” considerado “extremamente duro e difícil” pelo ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira. O texto “cria uma série de barreiras e possibilidades inclusive de retaliação, de sanções, com base em uma legislação ambiental europeia extremamente rígida e complexa de verificação”, segundo relatou Vieira, em audiência ao Senado na semana passada. Novas diretrizes para o comércio Christophe Ventura, especialista em América Latina do Instituto de Pesquisas Internacionais e Estratégicas (Iris), em Paris, avalia que as novas exigências refletem o aumento das obrigações socioambientais dentro do bloco, com adoção de novas normas como o Pacto Verde europeu, além do aumento da pressão dos consumidores europeus por produtos com menor impacto no planeta. “É uma lógica global que visa que a União Europeia redefina os termos da sua relação comercial com o conjunto dos seus parceiros internacionais. Isso ocorre no momento em que estamos na finalização do acordo com os países sul-americanos, mas essa reflexão é mais ampla”, explica. “A União Europeia quer que todos os seus parceiros comerciais respondam às mesmas exigências que ela impõe aos seus próprios integrantes.” Ventura reconhece que a imposição de maior qualidade ambiental dos produtos importados – com avaliação de rastreabilidade e dos impactos – soa como mais uma manifestação do protecionismo da agricultura europeia. O setor jamais concordou com a assinatura do acordo, já que a principal pauta das exportações do Mercosul seria agrícola. Em contrapartida, os países do Mercosul têm agora a oportunidade de exigir que o pacto preveja transferência de tecnologia para que eles possam responder a essas exigências. “Essa é uma demanda antiga do Mercosul e o momento é favorável para os países sul-americanos colocarem também esse ponto sobre a mesa e lembrar aos europeus que tudo isso é um conjunto: os europeus não podem simplesmente exigir o que querem sem viabilizar os meios para os sul-americanos poderem melhorar a qualidade dos seus produtos”, complementa. Outra meta de Brasília seria tentar limitar o acesso dos europeus às compras governamentais nos países do Mercosul, que movimentam a atividade industrial local. ‘Janela de oportunidade’ A expectativa de Brasília é acelerar a negociação na próxima cúpula União Europeia-Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe), prevista para julho em Bruxelas, e fechar o acordo ainda no segundo semestre deste ano –se possível antes de novembro, quando a Argentina vai às urnas para eleições presidenciais. Do lado europeu, a França, ao lado de Holanda e Áustria, lidera o chamado bloco agrícola dentro da União Europeia que mais resiste à ratificação do acordo. “A representação política francesa atual, com o presidente Macron, é favorável em termos de janela de oportunidade, mas a França continua sendo a França. Entretanto, a França não é a Europa toda e temos uma fratura com a Alemanha”, ressalta o economista Carlos Winograd, professor associado da Paris School of Economics (PSE). “Junto com...

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Descompasso entre avanço da inteligência artificial e sistemas de educação pode acentuar desemprego

5/10/2023
Os avanços da inteligência artificial têm o potencial de provocar mudanças radicais na economia global. É o que aponta um relatório do banco Goldman Sachs, publicado em abril, que calcula em 300 milhões o número de empregos ameaçados na Europa e nos Estados Unidos. Maria Paula Carvalho, da RFI Os dados podem ser analisados sob um viés pessimista, se considerarmos que as máquinas serão responsáveis por um desemprego em massa, com consequências nefastas nos países onde as redes de segurança social são fracas, ou por um ângulo mais otimista, se focado na geração de novas atividades e oportunidades, especialmente em áreas como desenvolvimento, análise e gerenciamento de dados. De acordo com a mesma fonte, à medida que essas novas ferramentas penetram nos negócios e na sociedade, elas também podem melhorar a eficiência e a produtividade em muitos setores, levando ao crescimento. Os economistas do Goldman Sachs calculam que a inteligência artificial possa gerar um acréscimo de 7% (ou quase US$ 7 trilhões) no PIB global, aumentando a produtividade em 1,5 ponto percentual, em um período de dez anos. Apesar da incerteza atual sobre a IA generativa, ou seja, a tecnologia com capacidade de aprender padrões complexos de comportamento a partir de uma base de dados como o ChatGPT, “sua capacidade de gerar conteúdo indistinguível da produção criada pelo homem e de quebrar as barreiras de comunicação entre humanos e máquinas reflete um grande avanço com efeitos macroeconômicos potencialmente grandes”, explica Joseph Briggs, economista do Goldman Sachs e um dos autores da pesquisa, ao lado de Devesh Kodnani. “Embora o impacto da IA no mercado de trabalho provavelmente seja significativo, a maioria dos empregos e indústrias está apenas parcialmente exposta à automação e, portanto, é mais provável que seja complementada em vez de substituída pela IA”, acrescenta Briggs . Consequências vão além dos trabalhos manuais A RFI investigou como os novos sistemas de inteligência artificial poderão ter impacto nos mercados de trabalho. Para Jérôme Beranger, presidente da GoodAlgo – que encoraja empresas francesas a usarem IA – as consequências dessa vez vão muito além dos trabalhos manuais. "As primeiras revoluções industriais afetaram os operários e as profissões manuais. Agora, pela primeira vez, a revolução digital afeta os chamados trabalhadores de 'colarinho branco', ou seja, profissionais mais graduados, como posições de análise e de inteligência", explica o especialista. "Assim, afetará tanto os programadores de computador, como assistentes jurídicos, analistas do mercado financeiro, comerciantes, jornalistas, até médicos, advogados, contadores etc", cita. "É verdade que muitas profissões sofrerão impacto de forma duradoura. Os nomes das profissões podem ser os mesmos, mas as funções vão mudar", ele acrescenta. Outra preocupação é com o equilíbrio entre postos de trabalho fechados e a abertura de novas vagas. "Se até então encontramos aparentemente um certo equilíbrio, ou seja, uma inovação tecnológica mudava um paradigma levando repentinamente à substituição de certas profissões, mas também à criação de outras, agora, não tenho certeza se, com essa inovação tecnológica, chegaremos a um equilíbrio", pondera o pesquisador de ética digital da Universidade Paul Sabatier, de Toulouse. "Quero ser bastante otimista e acreditar que talvez tenhamos um retorno do manual ou humano. Ou seja, as tarefas repetitivas serão substituídas ou até melhoradas, otimizadas pela inteligência artificial. Mas, por outro lado, o que é humano como empatia, escuta, análise, sentimentos - que são traços próprios da humanidade - terão ainda mais destaque para compensar ou para completar tarefas. E certas profissões vão ter que se reinventar nesse sentido", conclui Beranger. "Essas máquinas vão tomar o poder e nos superar?" Para Jean-Gabriel Ganascia, professor e especialista em inteligência artificial na Universidade Sorbonne, de Paris, o receio de que as máquinas...

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Passageiros ainda esperam reembolso de voos cancelados na pandemia

5/3/2023
A súbita crise da aviação gerada pela Covid-19 em 2020 levou muitas companhias aéreas à beira da falência, mas três anos depois, o setor começa a reencontrar na Europa os números positivos de antes do surgimento do coronavírus. Mesmo assim, milhares de passageiros continuam a esperar pelo reembolso de passagens ou indenizações pelos voos cancelados no período crítico da pandemia. Na França, muitos clientes só têm conseguido reaver o dinheiro perdido depois de recorrerem à Justiça. Viagens de férias programadas em destinos distantes, como na Ásia, geraram prejuízos de milhares de euros que até hoje não puderem ser recuperados – principalmente quando envolvem companhias menores que já estavam em dificuldades financeiras antes da Covid-19, como a italiana Alitalia – hoje ITA – ou a portuguesa TAP. Apenas nos primeiros seis meses de pandemia, estima-se que 35 bilhões de passagens tiveram de ser reembolsadas, afirma o consultor em aviação Gérald Feldzer, presidente da organização Aviation Sans Frontières. As companhias perderam tanto dinheiro que, para muitas, ainda é uma questão de sobrevivência. As empresas alegam que poderiam simplesmente desaparecer e, se fosse o caso, todos sairiam perdedores. Portanto, há um equilíbrio a ser encontrado para que os passageiros sejam reembolsados sem que as companhias corram maiores riscos. "A aviação hoje está muito melhor, voltando a registrar os números de 2019. Mas os caixas continuam vazios e, com os lucros registrados por algumas, como a Air France-KLM, elas precisam comprar novos aviões", explica Feldzer. A advogada Joyce Pitcher representou milhares de passageiros na Justiça francesa. "Nós tratamos mais de 7 mil casos porque durante um longo período, as companhias aéreas se recusavam a reembolsar ou levavam muito tempo para reembolsar", diz ela. "Hoje, esse problema começa a ser resolvido, e os pedidos de assistência jurídica diminuíram", nota a advogada. "Algumas companhias continuam resistindo a aplicar as decisões que foram tomadas contra elas, como a Thai Airways, mas os casos estão mais isolados", afirma Pitcher. Indenização por atraso ou cancelamento A advogada ressalta que antes mesmo da pandemia, os processos já eram lentos. A legislação europeia define que atrasos de mais de três horas ou cancelamentos de voos deveriam resultar em indenizações de até € 600, mas os atrasos na reparação dos danos estão ainda maiores do que antes. "Vemos que é um problema crescente e que as agências de viagens também estão constatando, ao receberem cada vez mais reclamações dos seus clientes", diz Pitcher. Ela explica, entretanto, que os recentes cancelamentos relacionados às greves frequentes na França, contra a reforma da Previdência, são protegidos ao serem considerados como “circunstâncias extraordinárias” – e não geram, portanto, direito a compensação financeira para o passageiro. Exigências ambientais requerem investimento Gérald Feldzer observa ainda que a reserva de caixa que as grandes companhias têm conseguido acumular, graças à forte retomada do fluxo aéreo desde meados de 2021, está sendo direcionada para responder às exigências ambientais europeias, a fim de cortar as emissões de gases de efeito estufa do setor, um dos mais poluentes. "Elas precisam ter orçamento para poder continuar investindo, mesmo se ainda não atingiram os lucros que tinham em 2019, o ano de referência. Para elas se tornarem exemplares do ponto de vista ambiental, precisam tornar toda a cadeia da aviação bem mais limpa, num contexto em que o tráfego aéreo mundial só aumenta", explica o especialista. Até agora, os progressos tecnológicos não compensam esse aumento do fluxo. Existem soluções, mas elas custam caro. O consultor cita as soluções de aviões híbridos querosene-elétricos, que podem ser utilizados para curtas e médias distâncias, e o uso de querosene sintetizado – mistura de CO2 estocado com hidrogênio verde –, mas que custa de duas a três vezes mais que o combustível tradicional.

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Visita de Lula a Portugal visa abrir portas para o Brasil no mercado europeu

4/19/2023
Depois de quatro anos de um afastamento inédito entre Brasil e Portugal, durante o governo de Jair Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca para Lisboa nesta sexta-feira (21) para quatro dias de visita ao país. A viagem visa reforçar a aproximação bilateral, com a expectativa de assinatura de 10 acordos em áreas como turismo, aeronáutica, cultura, ciências e de mineração. Mas também representa uma oportunidade de o Brasil abrir portas no mercado europeu. Lúcia Müzell, da RFI Lula será recebido com honras pelo presidente português, Marcelo Rebelo. Na sequência, encontra-se com o primeiro-ministro, António Costa, e ambos participam da Cúpula Brasil-Portugal. A reunião costumava ocorrer com regularidade desde 1991, mas foi dispensada por Bolsonaro durante o seu mandato – o ex-presidente também não realizou nenhuma viagem oficial a Lisboa. Na agenda do petista está prevista uma reunião com empresários luso-brasileiros, na segunda-feira (24), em Porto. O foco será promover o cargueiro KC 390 da Embraer, cujo modelo os portugueses encomendaram cinco. Lula também deve visitar a indústria da OGMA (Indústria Aeronáutica de Portugal), subsidiária da Embraer no país, que construiu o primeiro exemplar do cargueiro já entregue. Potencial de aumentar o fluxo comercial Nos últimos anos, os brasileiros entraram na lista dos dez países com mais investimentos diretos em Portugal, principalmente no setor imobiliário – no qual, desde 2020, são os estrangeiros que mais adquiriram bens no país. Mas apesar dos profundos laços que unem Brasília e Lisboa, o fluxo comercial entre eles é baixo. Conforme dados do Itamaraty, apenas 0,5% das exportações brasileiras em 2019 foram destinadas a Portugal e 0,4% das importações do Brasil saíram do país europeu. Os números subiram nos anos seguintes, mas ainda são considerados subestimados e pouco diversificados – permanecem focados em commodities, do lado brasileiro, e produtos tradicionais, como o azeite de oliva português. Não à toa, Lisboa é um dos maiores aliados de Brasília para a conclusão do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. "O Brasil já percebeu que Portugal é uma ponta de lança para ele na Europa. Não é uma cúpula só com Portugal: é a primeira vez que o presidente vem à Europa depois de assumir, então ao estar aqui, ele fala para a Europa”, ressalta o economista Paulo Dalla Nora Macedo, que circula nos meios empresariais dos países e está radicado em Lisboa. "Com certeza tem uma demanda reprimida forte. Do Brasil para cá, não tenho a menor dúvida, em especial de empresas que querem vir visando a Europa." Dalla Nora cita como exemplo a área de tecnologia, em que empresas brasileiras poderiam se instalar em solo português como ponto de partida para o resto do mercado europeu – bem maior do que os 10 milhões de habitantes do pequeno país. Deve ser inaugurado em Aveiro a primeira unidade no exterior do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), um dos maiores hubs de tecnologia do Brasil. Nos últimos anos, Portugal se consolidou como um polo importante do setor na Europa, com mão de obra ainda relativamente barata. “Precisamos ampliar e dinamizar as cadeias de valor e implementar o fluxo de investimentos entre os dois países, porque os brasileiros querem fazer negócios em Portugal, diversificando riscos, como porta de entrada para a Europa”, salienta Otacílio da Silva Filho, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira. Mobilidade pela língua Neste sentido, na pauta da visita de Estado também está a facilitação de aspectos legais e burocráticos entre os dois países, como a concessão de vistos e validação de diplomas. Em março, Lisboa formalizou uma nova etapa do Acordo de Mobilidade entre os Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que beneficia o Brasil e nações africanas para a obtenção de um visto de residência de um ano em Portugal, renovável por mais um ano. As exigências, como condição de...

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Lula na China: Nova Rota da Seda e semicondutores são ponto alto da negociação comercial

4/12/2023
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca nesta quarta-feira (12) na China para uma viagem com importante peso diplomático para o Brasil, mas também para os negócios. Pequim é o maior parceiro comercial de Brasília há 14 anos e a comitiva brasileira, formada por 40 autoridades, entre elas oito ministros e cinco governadores, espera fechar cerca de 20 acordos bilaterais em áreas como agricultura, investimentos, ciência, tecnologia e meio ambiente, entre outras. A viagem deveria ter ocorrido em meados de março, mas foi cancelada para Lula tratar uma pneumonia. Nas áreas comerciais mais sensíveis, a presença pessoalmente do chefe de Estado e seu gabinete se mostra determinante. É por isso que, na visão do pesquisador associado do FGV-Ibre Livio Ribeiro, especializado em economias emergentes e em particular a chinesa, a volta do Brasil às negociações multilaterais, após quatro anos de afastamento durante o governo de Jair Bolsonaro, é o aspecto mais relevante desta visita a Pequim. "Por uma escolha de Estado, nós saímos da mesa. Essa escolha teve custos, e agora estamos voltando à mesa e isso é extremamente importante, na minha opinião. Segundo ponto é que eles tenham uma discussão de vários acordos e medidas nas áreas de economia e finanças”, ressalta. "Quando a gente olha a pluralidade da comitiva, com vários temas ao mesmo tempo, faz sentido na medida em que passamos tanto tempo sem jogar esse jogo. Tudo está sendo colocado na mesa ao mesmo tempo. E tradicionalmente na China, os ritos importam muito – até mais para os chineses do que para a gente. Assim sendo, a presença do presidente muda o nível da discussão e faz toda a diferença”, salienta Ribeiro, que também é sócio da consultoria BRCG. Entrada do Brasil na Cinturão e Rota Antes de viajar, Lula declarou a jornalistas que vai convidar o líder chinês Xi Jinping para visitar o Brasil, acrescentando que deseja “fazer investimentos que signifiquem algo novo, como rodovias, hidrelétricas". Para a China, um aspecto crucial da pauta bilateral é a negociação sobre a inclusão do Brasil no megaprojeto chinês Cinturão e Rota, conhecido como Nova Rota da Seda, mas o tema é alvo de divergências dentro do próprio governo. Quase todos os países da América Latina, incluindo Argentina e Chile, já fazem parte do plano de investimentos em infraestruturas para facilitar o escoamento da produção e a conexão entre os continentes. “Tem muito preconceito e desconhecimento sobre o que significa de fato a iniciativa. Ela deve ser entendida como um mecanismo de promoção do poder econômico chinês. Vários países tiraram benefícios dela”, afirma. “Eu vejo com bons olhos que se possa cogitar a possibilidade de entrarmos na Cinturão e Rota e que se possa receber dinheiro dos bancos de fomento chineses. Isso é se subjugar ao imperialismo chinês? Não. Isso é reconhecer a importância desse ator no mundo e para a gente”, avalia. Planta de produção de semicondutores: um tema sensível Outro tema delicado na agenda é a possível instalação, no Brasil, de uma planta de produção de semicondutores chineses – uma pauta urgente para Pequim desde que os Estados Unidos decidiram restringir as exportações desse componente, indispensável para a produção de chips eletrônicos, para a China. O tema está no foco das divergências entre Washington e Pequim no governo de Joe Biden. "O objetivo da China é ser autônoma em relação aos semicondutores americanos, portanto ela quer produzi-los no território chinês, mas também se espalhar pelo mundo. As negociações com o Brasil estão ocorrendo para Pequim poder produzi-los em solo brasileiro”, nota a economista Mylène Gaulard, professora associada da Universidade de Grenoble e especialista nas economias brasileira e chinesa, em entrevista à RFI. O Brasil desempenha um papel importante para a industrialização da China – na pauta de importações, Pequim compra principalmente minério de ferro e petróleo do Brasil, mas também soja e outras matérias-primas para alimentar...

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Rejeição ao primeiro Atacadão na França evidencia limites do atacarejo em um país rico

4/5/2023
Depois de ser obrigado a abandonar o projeto de instalação do primeiro Atacadão na França, planejado para a cidade de Sevran, o Grupo Carrefour busca outro município disposto a abrigar o atacarejo no país. Apesar da promessa de preços de 10 a 15% mais baixos, a marca – que faz sucesso no Brasil – encontrou resistência da prefeitura e dos moradores de uma das cidades com maior índice de pobreza da França. Temendo impacto no comércio local e, sobretudo, rejeitando a estigmatização como “cidade pobre”, o prefeito de Sevran promoveu desde janeiro uma campanha contra a chegada do Atacadão. No início de março, o Carrefour decidiu abrir mão do projeto, que seria instalado em um hipermercado do grupo localizado em um bairro onde a concentração de população imigrante chega a 42%. No local, a reportagem RFI ouviu de moradores que “o Atacadão não era bem-vindo” e que “estamos cansados da etiqueta de pobres”. “Não é porque somos pobres que precisamos de uma loja como essa”, disse uma senhora, afirmando ter dado “total apoio” ao abaixo-assinado promovido pelo prefeito de esquerda Stéphane Blanchet. Segundo um levantamento do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee), em 2014, 31,4% dos habitantes da cidade viviam abaixo da linha da pobreza. “Estamos acostumados com o nosso Carrefour e não queremos nada pior”, comentou uma idosa cliente do hipermercado. “Sem falar na poluição, já que essa loja atrairia mais carros da região para cá”, argumentou uma aposentada que mora há quase 50 anos em Sevran. Em nota, o grupo informa que “continua em fase de estudos de diferentes locais” e “avança na direção de várias outras pistas, em contato com as prefeituras envolvidas”. A tendência é que estejam na mira cidades populares e com crescimento demográfico – ou seja, com bastante famílias –, além de possuírem uma clientela intermediária de profissionais que atuam em restaurantes, hotelaria e turismo, apontaram especialistas ouvidos pela RFI. Mas a primeira tentativa frustrada evidencia que a missão será mais difícil do que o previsto e o fracasso pode se repetir, na avaliação do professor de Economia Philippe Moati, cofundador do Observatório da Sociedade e Consumo (ObSoCo). “É possível, sim. Talvez desta vez eles tenham cometido alguns errinhos, e isso é frequente no varejo, quando querem testar um novo conceito: eles pegam uma loja que não anda muito bem e tentam mudar, com uma nova marca”, explica. “Essa fórmula do Atacadão, voltada para clientes particulares, nunca foi feita na França. Temos a americana Costco, que existe há 5 anos e é focada na clientela profissional – e mesmo assim, não conseguiu passar de uma única loja em todo o país.” Preocupação com a qualidade e apresentação dos produtos Uma série de especificidades francesas explicam essa resistência, a começar pelo apego cultural à gastronomia. O segredo dos atacarejos é oferecer preço baixo, à condição que o cliente compre em grandes quantidades. Mas como diz o ditado, come-se também com os olhos e ver os produtos apresentados em caixas empilhadas, como no Atacadão, pode provocar rejeição, afirma a economista Pascale Hebel, especialista em antecipação de tendências de consumo na consultoria C-Ways. “Nós somos tão ligados à qualidade, ao gosto das coisas e, cada vez mais, aos produtos mais naturais, inclusive em períodos difíceis como o atual, que assim que a crise vai embora, o modelo baratão fica de lado. Para que ele continue, vai precisar que ele ofereça preços baixos, mas também bons produtos”, salienta. “A categoria da população mais modesta também é como as outras: quer alimentos com qualidade – e essa é a dificuldade para este modelo no mercado francês.” Outro empecilho é que o francês se acostumou a consumir produtos variados no dia a dia e, no atacarejo, a paleta de opções é reduzida. Hebel observa que, tradicionalmente, hipermercados com essa proposta têm facilidade de se expandir durante períodos de crise, como o atual. Mas, para ela, o timing para...

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Restrição da publicidade, contrato formal: como a França vai enquadrar os influenciadores

3/29/2023
A profissão de influenciador digital será submetida a novas regulamentações na França, o primeiro país europeu a legislar o setor. O Parlamento francês analisa a partir desta semana um projeto de lei que prevê mais fiscalização da atuação dos profissionais das redes sociais, incluindo sanções para os casos de publicidade enganosa. O texto se baseia nos documentos já existentes sobre a atuação de modelos e inclui as restrições já aplicadas à publicidade. Promover bebidas alcoólicas e cigarro, mas também procedimentos estéticos e operações financeiras, em especial com criptomoedas, será proibido. O influenciador não poderá mais dar dicas e elogios subentendidos a produtos sem deixar claro, por escrito, que o post se trata de publicidade. Além disso, deverá informar se usou filtro ou outro tipo de retoque na imagem quando abordar temas relacionados a beleza. O projeto consolida a profissão de influenciador no país: “uma pessoa física ou moral que usa a sua notoriedade para comunicar ao público, via meios eletrônicos, conteúdos visando a fazer a promoção, direta ou indiretamente, de bens, serviços ou uma causa, em contrapartida, de lucros econômicos ou vantagens de outra natureza”. Assim, o texto visa impor a existência de um contrato formal entre o influenciador e o anunciante, no qual as obrigações e os direitos do “talento” e do contratante são especificados, assim como a remuneração pelo serviço. Os menores de 16 anos deverão solicitar uma autorização do Estado para atuar nas plataformas digitais, e 90% da renda obtida ficará retida até a maioridade de crianças e adolescentes. Excesso de regulação? Para a economista Nathalie Janson, professora associada de Finanças do Neoma Business School de Rouen, Paris se apressa demais em regulamentar uma atividade ainda em desenvolvimento. “Nós já temos um enquadramento legal sobre a publicidade enganosa e acho que estamos infantilizando os usuários. Não nego que há abusos e pessoas são enganadas, sobretudo num setor novo como esse e que, como em qualquer novidade, há os mal-intencionados. Mas acho que seria preferível facilitar o acesso das vítimas à Justiça, com a base legal já existente, e o acesso a eventuais indenizações do que fazer todo uma nova regulamentação”, avalia. O governo estima que a nova legislação vai atingir cerca de 150 mil pessoas catalogadas como influenciadoras ativas que visam o público francês – incluindo as que residem em outros países. “Me parece um pouco surrealista em relação ao oceano de possibilidades de atividades a que essa lei se refere. Nós sabemos que estamos indo para um mundo muito aberto, em que as fronteiras não existem”, observa Janson. “Com a web 3, estamos num mundo que ultrapassa completamente as concepções territoriais, e aplicamos velhas receitas.” A grande maioria dos influenciadores franceses, 80%, pratica essa atividade como um hobby, com o qual ganha até € 4 mil por ano. Mas os demais, que contabilizam ao menos 1 milhão de seguidores, conseguem embolsar até € 10 mil com um só vídeo de poucos segundos. Já faz alguns anos que as marcas não podem mais ignorar o poder dos influenciadores e estão dispostas a pagar somas cada vez maiores por um post. Conforme a consultoria especializada em dados Statista, o mercado mundial do setor deve mais que dobrar em dois anos, chegando a € 38 bilhões em 2025. Arcabouço europeu A nova lei francesa se soma à regulação europeia dos serviços digitais, que entrou em vigor em novembro de 2022 e estipula que os influenciadores são obrigados a notificar os seguidores quando os posts incluem publicidade paga. Desde 2018, os produtores de conteúdo audiovisual em canais como YouTube já estavam sujeitos à diretiva europeia que enquadra as práticas comerciais desleais e impõe restrições a publicidades que abordem temas relacionados à saúde, medicamentos, cigarro, bebidas alcoólicas, jogos de azar e segurança, entre outros. Na visão de Nathalie Janson, o que ela considera como um excesso de enquadramento...

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Turistas voltaram a Paris em 2022 e tendência de alta deve continuar apesar de greves na França

3/22/2023
Após a queda brutal durante a pandemia de Covid-19, a atividade turística em Paris e região voltou a subir em 2022. A capital francesa e seu entorno receberam mais de 44 milhões de visitantes no ano passado, um aumento de 95% em relação a 2021, segundo o Comitê Regional do Turismo de Paris e Île-de-France. Para profissionais do setor, a tendência deve continuar em 2023, apesar das greves que afetam Paris. O turismo gerou 19,6 bilhões de euros de receitas durante 2022, apesar disso, o setor de atividade ainda não voltou ao patamar anterior à pandemia. A diferença no número de visitantes se explicaria, em grande parte, pela falta dos turistas da China, que ainda estavam bloqueados em seu país devido à Covid-19. Os chineses ocupavam a sétima posição em número de visitantes em 2019 e a terceira em termos de consumo. Mas Christophe Décloux, diretor-geral do comitê regional de turismo de Paris e região, acredita que os chineses voltarão a viajar este ano. “Eles devem voltar em 2023 por diversas razões. A primeira é muito simples: a abertura das fronteiras da China e do Japão no fim do ano passado. Claro que temos o problema da capacidade aérea, mas quando os voos voltarem a um bom ritmo para trazer os chineses até o continente europeu, vamos provavelmente reencontrar nossos visitantes chineses”, diz otimista. “Os japoneses, por outro lado, são uma clientela que necessita ser tranquilizada. Então trabalhamos bastante sobre a promoção e a comunicação de Paris como um destino seguro, para que os japoneses que viajam, possam voltar a Paris e sua região de 2023. Seremos com certeza ajudados pela Copa do Mundo de Rugby, que acontece em Paris, em setembro, porque o Japão se classificou”, analisa Décloux. Cidade luz ou cidade da Emily? Além de eventos como a Copa do Mundo de Rugby, a região parisiense conta com outra aliada de peso para atrair turistas: a série Emily em Paris, da Netflix. Entre os estrangeiros que visitam a Cidade Luz, os americanos estão em primeiro lugar com 2,4 milhões de turistas e Décloux não nega que muitos são atraídos pelo sucesso da série. Depois dos americanos, aparecem os turistas europeus. Alguns, como os britânicos, italianos e holandeses são mais numerosos agora que antes da pandemia. Com o marketing, o setor de atividade cresceu 134% em relação à 2021, mas ainda está 10% abaixo dos números de 2019. A frequentação de hotéis da região parisiense teve um aumento de 112% em 2022, mas também não atingiu os índices de 2019, devido principalmente ao aumento dos preços, que chegam a 40% em alguns estabelecimentos de luxo. Já os alugueis por temporada diminuíram 22%, em relação ao período antes da pandemia, uma queda mais acentuada que a dos hotéis. Quase todos os museus, monumentos e pontos turísticos registraram uma forte progressão da frequentação no ano passado, em relação à 2021. Mas a afluência ainda é inferior à de 2019. O Louvre recebeu 19% de visitantes a menos. A mesma tendência é observada em outro ponto turístico célebre, o Palácio de Versalhes, que teve uma redução de 16% da frequentação. Impacto das greves e do lixo As greves devido à reforma das aposentadorias, que deixaram lixo espalhado pelas ruas das cidades na França, e as manifestações com cenas de violência policial que circularam o mundo, poderia espantar os turistas e atrapalhar o setor em plena retomada neste ano? Para Naldo Silva, da empresa Vai France de turismo, em Paris, ainda é cedo para sentir o impacto das manifestações. "As pessoas que vão viajar sempre perguntam se é seguro viajar, e se estivesse realmente perigoso, eu falaria”, afirma. "Eu acho que está muito recente ainda para as pessoas que vão viajar. Esses vídeos que estão circulando estes dias, principalmente com o acúmulo do lixo, e as manifestações dão uma imagem feia (de Paris), obviamente, mas eu ainda não tive nenhum cliente perguntando se é seguro viajar ou não", diz. Ele acredita que o impacto das greves e protestos no setor não deve ser grande. “Eu não...

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