O Mundo Agora - Trump vive solidao inedita na Casa Branca por erros estrategicos e ataques massivos de adversarios-logo

O Mundo Agora - Trump vive solidao inedita na Casa Branca por erros estrategicos e ataques massivos de adversarios

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Crônica semanal de geopolítica internacional. Os fatos que são notícia no mundo analisados por Thiago de Aragão, direto dos Estados Unidos, e Flávio Aguiar, da Europa.

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Paris, France

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Crônica semanal de geopolítica internacional. Os fatos que são notícia no mundo analisados por Thiago de Aragão, direto dos Estados Unidos, e Flávio Aguiar, da Europa.

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Episodes

EUA: diálogo com a China é essencial para reduzir chances de conflito

6/5/2023
Recentemente, as tensões entre os Estados Unidos e a China aumentaram substancialmente. Em resposta, o presidente chinês Xi Jinping deixou claro que a China irá aumentar a sua capacidade de defesa e implementar um sistema de alerta para detectar ameaças militares. O governo chinês vem, ao longo dos últimos meses, buscando modernizar vários armamentos, aumentar a capacidade de produção de navios militares, além de modernizar softwares utilizados em seus aviões de caça. Thiago de Aragão, analista político Estas preocupações ecoaram no fórum de segurança de Shangri-la, em Singapura, onde vários líderes mundiais se reuniram recentemente para discutir essa e outras questões. Em especial, os funcionários dos governos dos Estados Unidos e da China demonstraram esforços para iniciar um diálogo construtivo, a fim de fazer face à sensação de perigo demonstrada por ambas as partes. Ainda não é claro quais medidas específicas poderão ser tomadas para desanuviar a situação, mas dada a gravidade deste conflito, é promissor que tais discussões estejam sendo realizadas. As palavras do secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, durante o fórum, de que a recusa da China em iniciar as conversas prejudica os esforços para manter a paz, podem ter sido uma forma de expressar a sua preocupação pela falta de progressos nesta situação. Infelizmente, a recente passagem de navios americanos e canadenses pelo Estreito de Taiwan, quando um navio de patrulha chinês chegou a apenas 150 metros de um navio americano, com risco de potencial colisão, é um sinal de que estão surgindo novas áreas de contenção e sugere que a situação entre estes dois países pode ainda estar longe de ser resolvida. O governo chinês se mostrou muito desconfortável com os recentes exercícios militares realizados entre EUA e aliados regionais (Japão, Austrália, Filipinas e Indonésia). Além disso, os EUA estão aumentando a capacidade de interoperacionalidade de tecnologias militares americanas e japonesas. No fórum de segurança de Shangri-La, o ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, declarou que a China "reforçaria a sua posição de liderança na região", e deixou claro que não tolerará o trânsito militar americano e de seus aliados em águas no qual os chineses consideram seu território. Naturalmente, os americanos e aliados argumentam que a navegação não cometeu nenhuma ilegalidade, já que as águas eram consideradas internacionais. Consequentemente, muitos observadores continuam pessimistas quanto à perspectiva de se conseguir um diálogo significativo num futuro próximo. Existem inúmeras arestas entre os dois lados que impossibilitam um diálogo franco entre os dois países. Tudo leva a crer que as tensões militares entre estas duas potências mundiais não deverão diminuir tão cedo, continuando ambas as partes a preparar-se para um potencial conflito. Como tal, parece claro que é necessário fazer mais para garantir a paz.

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Percepção de equivalência de culpa da guerra na Ucrânia desqualifica o Brasil como mediador

5/22/2023
Durante a reunião do G7, Lula voltou a se colocar como um possível mediador para buscar a paz entre russos e ucranianos. No entanto, algumas críticas e comentários do presidente brasileiro demonstram que ele ainda não vê a origem da guerra a partir de uma invasão russa. Lula afirmou ainda que a busca pela paz que a Ucrânia quer é irreal, pois ela representa a rendição total da Rússia. Thiago de Aragão, analista político Quando a soberania de um país que estava quieto em seu canto é violada por meio de uma invasão, não dá para relativizar o ato do agressor e equalizá-lo ao comportamento do agredido. A Ucrânia, violentada pela invasão russa, certamente não quer dividir a culpa da guerra com seu agressor. A percepção brasileira de equivalência de culpa é exatamente o que desqualifica o Brasil para o papel de mediador. É absolutamente compreensível que o presidente Lula busque esse protagonismo como mediador. Afinal, sua reputação internacional que já era grande, se tornou maior ainda a partir da ausência internacional e das trapalhadas de seu antecessor. No entanto, prestígio não é sinônimo de conhecimento factual e conceitual do que está acontecendo. Durante o G7, Lula acertou em alguns pontos. De fato, o mundo não precisa de uma Guerra Fria. No entanto, ela existe. Criticar o criticável, sem apresentar uma solução estruturada, é chover no molhado. Óbvio que o mundo não precisa de uma nova Guerra Fria, mas, surpresa, ela está aí e nos resta compreender suas nuances para evitar que ela se torne quente. Lula criticou fortemente o presidente americano Joe Biden por se colocar tão fortemente contra a Rússia em sua condenação à invasão da Ucrânia. Qual seria o comportamento ideal então? Estimular uma equivalência de culpa entre o agredido e o agressor gera um sentimento de repulsa tão profunda no agredido, que compreendo o fato de Volodymir Zelensky ter desistido de ir à reunião marcada para as 15h15 (hora local) no hotel onde Lula estava hospedado. As consequências desta guerra no Donbass e em inúmeras localidades ucranianas são tão trágicas e tão dispendiosas que é absolutamente inaceitável ignorar ou relativizar o comportamento do governo russo. O mundo tem de compreender que há um claro agressor neste conflito e, se queremos trazer a paz, temos de ter uma solução prática e concreta para pôr fim a este conflito de uma forma que não premie a Rússia. Como obter uma solução onde a paz é gerada por uma navalhada na própria carne para entregar um naco para os russos? O mundo precisa de um mediador que enxergue essa realidade e atue na busca de uma solução viável que satisfaça os dois lados sem recompensar o país agressor. O Brasil tem potencial para se tornar esse mediador, mas não com a percepção que se tem hoje do conflito ucraniano-russo. Lula está correto em afirmar que a postura de Biden o impede de mediar a guerra, afinal, os EUA já se posicionaram amplamente a favor dos ucranianos (como boa parte do planeta). Por outro lado, Lula ainda não percebeu que o comportamento do Brasil até agora, legitimado pela fala de Serguei Lavrov (“os interesses russos estão bem alinhados com a proposta brasileira”), também impede o Brasil de mediar, pois seu lado já foi escolhido, mesmo que não queira deixar isso claro.

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Brasil, Ucrânia, Rússia, Europa: uma equação complicada

5/15/2023
Imaginemos uma equação matemática assim disposta: (Ucrânia + EUA, OTAN e aliados) contra Rússia / China e Brasil. O resultado seria ainda uma incógnita. O fato é que ninguém sabe como esta guerra vai terminar, nem quando. O secretário-geral da ONU António Guterres sentenciou: a paz está longe, porque ambos os lados do conflito ainda “estão convencidos de que vão vencer”. Flávio Aguiar, analista político Diante desta expectativa, a insistência com que o governo brasileiro insiste em falar em paz pode parecer uma retórica vazia, embora acompanhado pela China. Mas não é bem assim. Em matéria de geopolítica e diplomacia as coisas são mais complexas. A posição brasileira de não enviar armas para Kiev pode suscitar críticas por parte dos Estados Unidos e seus aliados europeus. Mas estas críticas, curiosamente, são mais veementes entre os governados do que entre os governantes. O fato é que por onde passem o presidente Lula e seu assessor especial Celso Amorim são recebidos de braços abertos, com ou sem críticas, de Washington a Moscou, de Buenos Aires a Pequim. Exemplos recentes, além da visita de Amorim a Moscou e Kiev: o presidente Lula foi oficialmente convidado pelo primeiro-ministro japonês para a próxima reunião do G7 em Hiroshima, de 19 a 21 de maio; o primeiro-ministro holandês disse que quer explicar ao presidente Lula a posição dos países europeus que apoiam Kiev, mas, ao mesmo tempo, declarou que quer conversar com ele sobre “muitos outros assuntos”. Pragmatismo político Depois da longa hibernação provocada pela política externa confusa e obtusa do governo anterior, agora todos querem conversar com o atual governo brasileiro. Para colocar a questão em termos muito pragmáticos, muito ao gosto das finanças internacionais: um mercado de quase 220 milhões de habitantes não pode ficar na berlinda. Alguns comentaristas na mídia costumam cair na armadilha de considerar a posição brasileira sobre a guerra isoladamente, sem levar em conta o conjunto da sua política externa. O termo que a melhor define apareceu em artigo recente da revista norte-americana Foreign Affairs: “restauração” (edição de 23/03/2023, assinatura de Husseis Kalut, da Universidade de Harvard, e de Feliciano Guimarães, da Universidade de São Paulo). O governo brasileiro busca restaurar a posição de liderança que já teve em relação aos países do chamado “Sul” do mundo, e por isso mantém uma política de equidistância em relação às atuais potências geopolíticas e seus aliados mais próximos. Busca restaurar a credibilidade e o prestígio de que sua diplomacia quase sempre desfrutou desde a segunda metade do século XIX, onde os alinhamentos automáticos foram a exceção, nunca a regra. O Brasil não é um país mundialmente relevante do ponto de vista militar. A política externa brasileira sempre se pautou pelo chamado “soft power” e pelo multilateralismo, e no século XXI pela liderança na questão ambiental, que foi rompida pelo governo anterior. O governo brasileiro quer demonstrar que pode dialogar com todo mundo o tempo todo. Na Europa, o governo brasileiro dialoga com Emmanuel Macron em Paris e com Charles III e Rishi Sunak em Londres; com Olaf Scholz em Berlim, com Pedro Sánchez em Madri, António Costa em Lisboa, e com Joe Biden, Vladimir Putin, Volodymyr Zelensky, Xi Jinping e outros mais. Quanto à insistência na palavra “paz”, bem, pode-se esperar de tudo no atual estado da arte da geopolítica, menos resultados imediatos. Decididamente o mundo - inclusive a Europa - passa por um momento de rearmamento geral, intensificado pela guerra na Ucrânia. Em tal circunstância, é melhor acreditar no ditado tão brasileiro: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.

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Para neutralizar influência crescente da China na América Latina, EUA devem buscar flexibilidade

5/8/2023
Em 2017, o Panamá tomou a decisão de mudar sua lealdade de Taiwan para a China, o que causou reações perplexas em Washington. Isso aconteceu devido ao crescente investimento chinês que o país havia recebido e sua determinação em garantir alianças estratégicas. A China considera Taiwan uma província rebelde e parte de seu território. Pequim pretende recuperar a ilha mesmo que seja pela força. O Canal do Panamá é um exemplo perfeito de por que a China valoriza essa parceria, visto que ele é de extrema importância comercial e econômica. O país da América Central não é o único a se aproximar da China recentemente – Nicarágua e Honduras também estão estreitando os laços com a nação asiática. Belize permanece fiel a Taiwan, mas pode mudar de lado em um futuro próximo, apesar do governo local ter reafirmado sua lealdade a Taiwan. A influência da China na América Latina difere da influência dos Estados Unidos. As propostas chinesas são personalizadas e dinâmicas, colocando soluções acima dos problemas. Este aspecto contrasta com a abordagem americana, que dá prioridade a políticas mais rígidas e consistentes. Apesar de as políticas chinesas estarem longe de serem perfeitas, a abordagem mais flexível e adaptável de Pequim pode ajudar o país a se estabelecer na cena internacional. Além disso, é importante destacar a diminuição da influência dos Estados Unidos na América Latina. Países como o Brasil e o México estão cada vez mais interessados em expandir sua presença global, o que pode significar olhar para além das parcerias tradicionais com os EUA. Além disso, há crescente ceticismo em relação ao compromisso contínuo dos Estados Unidos com a região. No entanto, é vital observar que a China ainda não é um parceiro perfeito e que deve ser tomado com cuidado. A história ensinou a importância da diversificação de parceiros para evitar que um único país gere uma dependência desproporcional. Dito isto, a China está fazendo sua presença ser sentida na América Latina e pode representar um desafio significativo para a hegemonia dos Estados Unidos na região. China tem abordagem diferenciada É importante ressaltar também que a China está se expandindo em todo o mundo a um ritmo incrível, e sua abordagem diferenciada é atraente para muitos países que desejam tomar decisões mais adaptáveis aos desafios políticos, econômicos e ambientais enfrentados. Isso não significa que devemos ficar despreocupados com as políticas chinesas, mas sim fazer análises cuidadosas e adotar medidas preventivas quando necessárias. Enquanto os Estados Unidos focam em lidar com problemas urgentes, como a imigração ilegal, a corrupção e o narcotráfico, a China faz uma abordagem diferente, focando em investimentos para expandir sua influência regional. Embora muitas vezes as promessas de investimentos sejam exageradas, para os políticos latino-americanos com mentalidade de curto prazo, a oferta da China pode parecer mais atraente do que se envolver em narrativas conflituosas com os Estados Unidos. No entanto, pode ser benéfico para Washington adotar uma abordagem positiva e propositiva, trabalhando em estreita colaboração com os países da região, a fim de neutralizar o impacto das ações chinesas. Os EUA devem estar atentos e buscar melhores maneiras de manter sua influência na região de forma mais adaptável. Isso garantirá uma maior diversificação de opções para os países latino-americanos e, consequentemente, um ambiente mais equilibrado para o desenvolvimento e crescimento.

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Inflação provocada por guerra na Ucrânia turbina atos de 1° de Maio na Europa

5/1/2023
Melhores salários, melhores condições de trabalho, melhorar as pensões e as aposentadorias, mais oportunidades para trabalhadores jovens, e também fim das discriminações de gênero, combate aos preconceitos sexuais, combater o aquecimento global: esta pauta ampliada vai dominar as comemorações do Dia do Trabalhador ou do Trabalho nesta segunda-feira (1°), em um grande número de cidades europeias Flávio Aguiar, analista político Depois de anos de relativa letargia ou congelamento os movimentos de trabalhadores estão renascendo das próprias cinzas. Diante de uma inflação galopante turbinada pelas consequências da guerra na Ucrânia, os movimentos sindicais tradicionais e alternativos vem crescendo em toda a Europa. A sindicalização, antes em recesso, está aumentando em muitas cidades. Ao lado das centrais sindicais de longa tradição surgem cada vez mais movimentos alternativos buscando congregar os novos imigrantes que chegam ao continente de todos os lados, fugindo de guerras ou da piora nas condições de trabalho e sobrevivência em muitos países. Além dos ucranianos, continuam a chegar levas e mais levas de fugitivos da África e do Oriente Médio. Os naufrágios trágicos no Mediterrâneo continuam, sem trégua. “Solidários para sempre” Em Berlim a DGB, a central sindical alemã, lançou a palavra de ordem “Ungebrochen Solidarisch”, “Solidários para Sempre”, ou “sem Limites”, numa tradução livre. A passeata da DGB termina por volta do meio-dia, como tradicionalmente, junto ao Portão de Brandemburgo, numa grande festa, com muita música e cerveja. À tarde há manifestações alternativas em bairros populares como Kreuzberg e Neuköln. E no final do dia, grupos radicais, em geral de inspiração anarquista, realizam nova passeata a partir destes bairros, que costuma terminar em violência, com quebra-quebra e repressão por parte da polícia. O quebra-quebra, aliás, já começou nesse domingo (30) quando se comemora a chamada “Noite de Walpurgis”, ou “Noite das Bruxas”, com vitrines quebradas e os carros incendiados. Atos em outros países europeus Na França as manifestações têm por tema dominante os protestos contra a reforma da Previdência, aumentando a idade mínima das aposentadorias para 64 anos, e pelo aumento do custo de vida, sobretudo de alimentos, energia e combustíveis. Na Itália as três grandes centrais sindicais, CGIL, CISL e UIL, lançam no primeiro de maio uma campanha unificada pela valorização do trabalho, que deve se estender ao longo do ano. Na Espanha e em Portugal, os trabalhadores vão às ruas por melhores salários, mas também pedindo mais solidariedade com os refugiados, jovens. Em Londres ocorre uma grande manifestação que converge para a Praça de Trafalgar, no centro da cidade, reivindicando, além de reajustes ou aumentos de salário, melhores condições de trabalho, melhores serviços para a população e a preservação de empregos. A guerra entre Moscou e Kiev não parece poder acabar em breve, comprometendo nos países europeus as importações de grãos, em geral provenientes da Ucrânia, e de fertilizantes e gás, que costumavam vir sobretudo da Rússia. Isto significa que a inflação, puxada pelos preços de produtos agrícolas e da energia, vai continuar em alta, alimentando a carestia e os protestos.

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Brasil e China precisam superar desafios para implementarem acordos

4/24/2023
Recentemente, o Brasil e a China assinaram acordos comerciais que somam US$ 10 bilhões, fruto da visita de alto nível liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A relação entre os países vem se desenvolvendo e fortalecendo há anos. Nesse terceiro mandato de Lula à frente do governo brasileiro, parece que esta relação com a China atingirá níveis nunca antes vistos de aproximação. Os anúncios são positivos, falta ver como as dificuldades em implementá-los serão resolvidas. Thiago de Aragão, para a RFI Embora o comércio entre o Brasil e a China possa gerar benefícios para ambas as partes, existem preocupações de que o mesmo possa causar uma desindustrialização no Brasil. Para evitar isso, a administração Lula busca incentivos chineses para promover áreas industriais e tecnológicas focada em tecnologias verdes. Além disso, o governo brasileiro também está considerando políticas industriais que possam turbinar a indústria nacional. Essas políticas industriais, no entanto, não são novidade para Lula. Em seus governos anteriores, a implementação de uma nova política industrial ficou apenas na ideia e no gasto, sem a execução. No entanto, com escassos recursos financeiros disponíveis para projetos como este, o governo brasileiro terá que ser criativo para conseguir alcançar seus objetivos. Para isso, ele pode usar os recursos internos do país - incluindo matérias primas e um grande mercado interno - a fim de tornar as indústrias brasileiras mais competitivas e capazes de produzir produtos que possam ser comercializados internacionalmente. Apesar de flertar com a ideia de incentivos e eventuais subsídios para a indústria brasileira, no fim Lula sabe que a complexa matriz tributária (além da alta carga) são os empecilhos mais comuns para o desenvolvimento da indústria nacional. Desafios O anúncio de projetos e acordos pode ter sido saudado como um passo positivo, mas é evidente que ainda há muitos desafios a serem ultrapassados quando se trata de implementar as iniciativas. As transferências de tecnologia exigirão negociações delicadas entre dois países com sistemas industriais e regulamentos muito diferentes. A fábrica de hidrogênio verde envolverá investimentos dispendiosos em infraestruturas num setor energético que enfrenta numerosos obstáculos. Os projetos eólicos offshore serão dificultados por uma falta de experiência quando se trata de gerar energia renovável na região. E a empresa binacional de logística agrícola poderá enfrentar dificuldades devido à complexa regulamentação aduaneira do Brasil. Tudo isto significa que, embora o memorando da semana passada tenha sido certamente um passo à frente, é demasiado cedo para dizer se estes projetos serão bem sucedidos. No entanto, é bom sempre lembrar que inúmeros acordos e memorandos assinados em 2015, entre a então presidente Dilma Rousseff e Xi Jinping, ficaram apenas no papel. Um dos mais chamativos, foi o acordo da rodovia Trans-Pacífico, que não conseguiu avançar por problemas, inexperiências ou perda de interesse de um lado, ou de outro. Muitos dos projetos formados por Lula nessa última viagem correm o mesmo risco.

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Governo alemão apresenta projeto para regularizar uso recreativo da maconha

4/17/2023
O governo alemão apresentou na semana passada um projeto de lei que regulamenta o uso recreativo da maconha. “Recreativo” significa o uso individual por prazer, sem finalidade médica. Algo semelhante a tomar um aperitivo no final da tarde. Flávio Aguiar, analista político O projeto foi apresentado pelo ministro da Saúde, Karl Lauterbach, do Partido Social Democrata, e pelo ministro da Agricultura, Cem Özdemir, do Partido Verde. O texto provocou uma reação negativa imediata por parte da União Social Cristã, partido da Baviera predominantemente católica. Mas a expectativa é de que o projeto seja aprovado no Bundestag, o parlamento federal alemão. O projeto já vinha sendo elaborado pelo governo alemão há algum tempo. A versão inicial era mais "aberta" do que a apresentada agora, que recuou em alguns pontos. Na versão atual, indivíduos maiores de idade (a partir de 18 anos) seriam autorizados a terem posse de 25 gramas de maconha, o que equivale mais ou menos ao suficiente para preparar até cem cigarros (cinco maços) ou “baseados”, na gíria brasileira, dependendo da sua pureza ou mistura com tabaco. Além disto, os usuários estariam autorizados a terem três pés de maconha em suas residências, desde que, no caso de uma fiscalização, comprovem que há medidas de segurança para impedir o acesso às plantas por parte de menores de idade. O uso e a posse da maconha estarão proibidos nos arredores de escolas e creches. O projeto original previa a criação de lojas de venda da maconha. Houve um recuo nesta matéria, para uma adequação às normas da União Europeia. Ainda assim, o projeto prevê a criação de “clubes” onde os consumidores de maconha poderão trocar experiências, sementes e espécimes, com um número limitado a 500 sócios para cada clube. Países avançam na legislação Se o projeto for aprovado, a Alemanha passará a pertencer a um grupo crescente de países onde o uso recreativo da maconha é liberado, dentro de certas regras, havendo cinco países onde esta liberação é mais ampla (Canadá, México, Espanha, Portugal e Uruguai) e outros 25, nos cinco continentes, onde a liberação ao uso existe, mas de forma mais restrita. Além disto, há o caso da Austrália e dos Estados Unidos, onde a liberação da maconha é de competência estadual. E há ainda o caso de países onde o porte e o uso da erva é ilegal, mas existe uma política de tolerância informal. Este, inclusive, é o caso atualmente na Alemanha. Especialistas consideram que a liberação parcial ou completa do uso da maconha é fundamental para coibir seu tráfico e de outras drogas, uma vez que a “cannabis”, nome científico da planta, com frequência é a ponta de lança para o tráfico de outras drogas mais pesadas, como a cocaína, a heroína, o crack, o ecstasy, etc. Os defensores do projeto alemão estão divididos em relação ao seu atual formato. Eles estão satisfeitos, por um lado, porque o consideram um avanço. E insatisfeitos, por outro, porque argumentam que, enquanto não houver a possibilidade de comercializar a maconha em lojas autorizadas, o tráfico ilegal continuará a ter terreno favorável para se expandir.

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Lula precisa tomar cuidado com as tensões geopolíticas no encontro com Xi Jinping em Pequim

4/10/2023
A viagem de Lula à China cumpre a meta inicial de seu governo no campo da diplomacia: demonstrar uma equidistância dos EUA e da China, a fim de buscar se beneficiar das relações com os dois países. Essa foi a postura dos dois primeiros governos de Lula e, obviamente, faz muito sentido, dado o posicionamento histórico brasileiro de neutralidade no que é possível. Thiago de Aragão, analista político Por mais que a lógica na cabeça de Celso Amorim, assessor-chefe da Assessoria Especial do presidente Lula, seja baseada na noção de equidistância, o que muda desde quando Lula encerrou seu segundo governo é a situação geopolítica global. Lula conversou com Joe Biden em sua ida aos EUA e deixou claro ao presidente americano que não tomará parte em ações de contenção da influência chinesa na América Latina. Não era o que Biden queria ouvir, mas tampouco foi uma surpresa para o governo americano. Xi Jinping certamente não pedirá para o Brasil tomar uma posição pública de aliança com a China e antagonismo em relação aos EUA, pois a diplomacia chinesa não funciona assim. No entanto, muita coisa mudou nesses últimos anos. O mundo está mais polarizado do que nunca e Lula, mesmo com o seu alto interesse em política externa, precisa estar atento a detalhes que normalmente não são levados em conta por assessores próximos. Em primeiro lugar, as tensões entre China e EUA são crescentes e dinâmicas. Os nervos estão à flor da pele, e o governo brasileiro deve tomar muito cuidado com o que o presidente Lula dirá em Pequim. Um posicionamento a favor da China contra Taiwan cairia muito mal na comunidade internacional. Assim como Lula minou a possibilidade de mediar um cessar-fogo entre Ucrânia e Rússia a partir do momento que dividiu, irmãmente, a culpa pela guerra entre os dois países. Em relação a Taiwan, o ideal é ficar quieto e não mencionar nada nessa linha. Um segundo ponto importante é que certamente Lula e seus assessores mais próximos sabem que a “tecnologia” é o ponto central das tensões entre EUA e China. A Huawei é vista como um grande risco por americanos e europeus, enquanto o governo Lula não vê a empresa chinesa dessa forma. Um eventual anúncio de cooperação e/ou de comercialização de produtos tecnológicos ligados às listas de sanções impostas pelos americanos contra a China poderá prejudicar e muito a ampliação de empresas americanas e europeias operando no Brasil. No campo das telecomunicações, por exemplo, poderia surgir uma crise de confiança no fluxo de dados entre empresas no Brasil que trabalham com operadoras que utilizam os kits de 5G da Huawei. Terceiro ponto: o posicionamento chinês a favor da Rússia na guerra da Ucrânia é público e notório. Um comunicado conjunto entre Lula e Xi nessa linha, independentemente da mensagem que saia dos dois, não seria bem recebido e seria visto como um erro diplomático. Dada a posição de Xi em relação à guerra, qualquer coisa que saia da boca de Xi sobre esse tema, com Lula em pé ao seu lado, seria prejudicial. Apesar desses riscos “operacionais”, a viagem não deixa de ser extremamente importante para o país. A China, como principal parceira econômica do Brasil, inevitavelmente estimula a ida de uma enorme comitiva brasileira. Enquanto os acordos que serão discutidos e assinados no campo do agronegócio e comércio serão indubitavelmente positivos, os que poderão surgir nas áreas de cooperação em ciências e tecnologia merecem uma atenção maior aos riscos. A diplomacia brasileira está acostumada a missões presidenciais repletas de alegrias, oba-oba e boas notícias. A ida de Lula à China conterá tudo isso, dado o perfil do presidente brasileiro. No entanto, desde a ida de Lula ao Irã em 2010 para tentar, ao lado de Mahmoud Ahmadinejad, fechar um acordo nuclear, o Brasil não tem um presidente visitando um país onde riscos silenciosos podem se tornar custosos, seja por uma frase mal colocada ou um sorriso fora de hora. O ponto de interrogação permanece em relação à esdrúxula ideia da...

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A questão social ferve na Europa

4/3/2023
Há mais de dez anos fui a Frankfurt-am-Main cobrir uma reunião da DGB, a Deutscher Gewerkschaftsbund, a Federação Alemã de Sindicatos. Também participei de uma reunião da Federação e de sindicatos em Berlim. Eu acompanhava uma delegação da CUT brasileira, convidada a participar dos encontros. Flávio Aguiar, analista político Numa das exposições, um dos principais dirigentes da DGB expôs que a ação da Central e de um dos principais sindicatos alemães, o IG Metall, o dos metalúrgicos, baseava-se sobretudo numa estratégia que ele chamou de “Win-Win”, valendo-se do verbo inglês “to win”, “ganhar”. Aquela expressão se poderia traduzir por “Ganha-Ganha”. Referia-se a uma política de cooperação, ao invés de confronto, entre trabalho e capital, sindicatos e patrões. A moldura desta estratégia era a de uma inflação próxima de zero, aliada a se privilegiar a manutenção de postos de trabalho sobre a perspectiva de novos reajustes ou ganhos salariais. Esta situação parecia sólida e duradoura como uma rocha. É verdade que a crise financeira de 2008 e o avanço da precarização dos contratos de trabalho expunham algumas rachaduras naquela rocha, mas não suficiente para abalá-la. O esforço maior dos sindicatos mais fortes, como o dos metalúrgicos, era o de estender aos trabalhadores precarizados as condições dos contratos regulares, os de “carteira assinada”, como a gente diria em termos de Brasil. Mais recentemente, os efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia catapultaram a inflação, que passou a crescer regularmente, chegando a mais de 10% anuais na média, e dando pinotes e corcovos de 20 a 40% no caso dos alimentos e da energia. Em resumo, aquela rocha, que parecia tão firme, derreteu e a questão social se avolumou, assumindo agora ares de correnteza à solta, e não só na Alemanha. O resultado é que na semana passada ocorreu algo que não acontecia no país há muito tempo. Durante 24 horas, a Alemanha praticamente parou, graças a uma greve múltipla nos transportes aéreos, ferroviários, urbanos, interurbanos e regionais. Motivo: insatisfação com os salários diante do aumento generalizado do custo de vida. Com a inflação na casa dos dois dígitos anuais, a maioria dos trabalhadores vem obtendo reajustes de 4 a 5%, quando obtêm. Mesmo o poderoso IG Metall conseguiu um reajuste de apenas 8,5% para a categoria. Protestos na França e no Reino Unido A insatisfação e os movimentos vêm crescendo de modo exponencial também na França e no Reino Unido. Na França houve seguidas manifestações de rua contra a reforma da Previdência decretada unilateralmente pelo governo de Macron, elevando a idade mínima de 62 para 64 anos. O movimento é tão forte e tão amplo que muitos analistas apontam que a reforma decretada não é suficiente, por si só, para explicá-lo. O custo de vida também joga combustível na fogueira, além de outros fatores, como meio ambiente e piora nas condições de trabalho. Outro componente não desprezível são os protestos contra a repressão policial, considerada excessiva em muitos casos. No Reino Unido as greves têm se multiplicado, sendo mais dramática a situação da área de saúde. O caso é emblemático. O Reino Unido tinha um sistema público de saúde considerado exemplar desde a década de 1940, mas ele foi praticamente destruído a partir do governo neoliberal de Margaret Thatcher, e os atuais planos conservadores de austeridade fiscal não o ajudaram a se recuperar. As greves se sucedem sem parar. Crise veio para ficar O que acontecerá no plano político? É difícil dizer. Grande parte dos partidos social-democratas e socialistas aderiram a princípios neoliberais nas duas últimas décadas. Conseguirão recuperar parte do eleitorado perdido, que migrou à esquerda e à direita? Os conservadores manterão o poder que hoje têm na França e no Reino Unido? Recuperarão terreno na Alemanha? As esquerdas conseguirão capitalizar o descontentamento? Ou será a extrema direita, como ocorreu nas décadas de 20, 30 e 40 do século passado, com trágicas...

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A turbulência bancária não acabou

3/20/2023
Tentei entender o que estava acontecendo no sistema bancário internacional, que entrou em crise na semana passada, com a insolvência real ou projetada de quatro bancos, três nos Estados Unidos e um - o maior deles - na Europa. Depois de algumas tentativas sem sucesso, tal é a opacidade do “economês”, consegui entender alguma coisa. Daí que o resumo deste comentário é o seguinte: aperte o cinto, porque a turbulência não acabou. Flávio Aguiar, analista político Para começar, imaginemos estar a bordo de uma esquadrilha de aviões sobrevoando o oceano. De repente, a esquadrilha entra numa zona de turbulência. Alguns dos aviões apenas sacodem muito. Mas outros caem num vácuo, e mergulham vertiginosamente em direção ao naufrágio. Ocorre que os aviões da esquadrilha estão interligados por fios invisíveis a olho nu, mas reais. Ou seja, se alguns aviões caem, os outros, no mínimo, também começam a cair, ou pelo menos sacodem muito mais. Foi o que aconteceu. O primeiro avião a cair no vácuo foi o norte-americano Silicon Valley Bank - SVB. A sua queda foi provocada por uma cadeia de fatores. O primeiro deles foi a junção de duas tempestades no horizonte: a pandemia e suas consequências, e a guerra na Ucrânia, que elevou a inflação no mundo inteiro. Para combater a inflação o Federal Reserve Bank, FED, o Banco Central dos Estados Unidos, fez uma dramática elevação da taxa básica de juros, de 0,08% em março de 2022 para 4,57% em março de 2023. Isto desvalorizou os títulos de` longo prazo do Tesouro dos EUA, porque estes têm uma remuneração fixa, que fora estipulada com o taxa de juros baixa. Com a alta, eles perderam o interesse. O SVB apostara muito de seu capital nestes títulos. Também apostara muito em financiar o setor digital de vendas e serviços, inflado durante a pandemia no mundo inteiro. Com o fim da fase aguda desta, o setor se retraiu, pelo menos nos EUA. E as suas empresas pequenas, médias e grandes foram obrigadas a buscar seus capitais depositados para equilibrar suas perdas. Começou uma retirada maciça das contas do SVB. Para atender a demanda, este teve de vender seus títulos de longo prazo - desvalorizados. Uma coisa não cobriu a outra, e o banco quebrou. A desconfiança instalada no sempre nervoso e temperamental “mercado” contaminou dois outros bancos nos Estados Unidos, o Silvergate e o First Republican. O primeiro também quebrou, o o segundo teve de ser socorrido antes que também quebrasse. A bomba agora está nas mãos do governo de Joe Biden, para socorrer os correntistas, sobretudo o das contas não seguradas. Ressalte-se que o SVB costuma ser um grande financiador das campanhas do Partido Democrata. O caso Credit Suisse Enquanto isto, do outro lado do Atlântico, o poderoso Credit Suisse já vinha de um período de turbulência, provocada por suspeitas de gestão inadequada, que levaram a uma retirada de 124 bilhões de euros de suas reservas em 2022, quase 700 bilhões de reais. Os rumores - verdadeiros ou falsos - de gestão problemática se avolumaram no começo deste ano, e começou uma nova corrida de retiradas. Para complicar, um outro bombardeiro peso pesado da esquadrilha, o Banco Nacional da Arábia Saudita, principal acionista do Credit Suisse, anunciou que não colocaria novos fundos neste. A corrida se avolumou, e o Credit começou a despencar no vácuo. Só não caiu de vez porque o Banco Central Suíço deu-lhe um balão de oxigênio de 62 bilhões de euros, 343 bilhões de reais, para garantir-lhe a liquidez. Mas a hemorragia não parou por aí. A desconfiança em relação ao Credit Suisse continua, e muitos investidores estão saindo de seu cercado em busca de investimentos mais seguros ou rentáveis. Os sinais de um pânico no futuro a frente da esquadrilha se levantaram no horizonte, junto com o fantasma da crise financeira de 2008. Resultado: segundo o jornal El País, da Espanha, numa semana as bolsas financeiras da Europa tiveram uma perda de 50 bilhões de euros em retiradas, ou seja, 13% de seu valor, o equivalente...

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Entenda por que colapso de banco do Vale do Silício causa apreensão em vários países

3/13/2023
Em um movimento dramático no domingo (12), o Tesouro dos Estados Unidos assumiu o comando e forneceu uma salvação para os clientes do Silicon Valley Bank (SVB) protegendo todos os seus depósitos além dos limites federalmente segurados. Thiago de Aragão, de Washington Esta medida foi tomada após o banco PNC Financial recusar qualquer oferta de aquisição do SVB, que atende a uma série de empresas de tecnologia do Vale do Silício. Sem esta ação decisiva do governo americano, estes clientes poderiam ter grandes prejuízos. O SVB era uma potência no mundo financeiro, oferecendo recursos inestimáveis a empresas de tecnologia em setores-chave. Do software empresarial e fintech à tecnologia de fronteira e às ciências da vida, o empreendedorismo floresceu graças, em parte, à instituição, que proporcionava linhas de crédito para as start-ups. A falência de uma instituição financeira como o SVB, que não acontecia desde a crise de 2008, enviou ondas de choque ao mundo financeiro, mostrando que todos os sistemas bancários precisam permanecer vigilantes contra colapsos. Felizmente - embora não sem consequência - o Tesouro dos EUA interveio com uma ação decisiva que deu alguma garantia a outros bancos. Nos próximos dias, a administração Biden deve informar o Congresso sobre as decisões tomadas sobre o SVB, antes de seu colapso. Depois disso, será possível fazer um exame mais profundo do impacto que o banco teve na indústria tecnológica e o que deu errado com a instituição, tão influente no mundo das finanças. Em resposta à recente incerteza financeira, o Tesouro dos EUA pretende implementar medidas de proteção para investidores e clientes, para que episódios de instabilidade como o atual não se repitam no futuro. Parceiro de empresas chinesas e de tecnologia A queda do SVB deixou muitos fundos de cobertura e empresas de tecnologia chinesas numa situação financeira arriscada. Sem acesso ao mercado americano, estas empresas estão agora desesperadas por financiamento para se manter solventes. O banco tinha se tornado um parceiro importante destas empresas, com os recursos necessários para expandir as suas operações nos EUA e na Europa. As empresas, que antes eram prósperas no Vale do Silício, e seus investidores entraram em pânico devido a um potencial efeito dominó do setor bancário, desencadeado pelo inesperado colapso da SVB. Os bancos devem se armar contra futuros choques financeiros, considerando os riscos de liquidez e flutuações das taxas de juros, bem como de instabilidade sistêmica. Medidas pró-ativas ajudarão a garantir que, independente de crises, as instituições estejam preparadas para resistir. Infelizmente, o colapso do SVB mostrou a rapidez com que uma tempestade pode se materializar, mas ainda há tempo para que outros bancos tomem medidas antes de enfrentar dificuldades semelhantes.

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Estudo faz paralelo entre desmatamento e diminuição das chuvas

3/6/2023
Uma equipe da Universidade de Leeds, na Inglaterra, quantificou pela primeira vez a perda de chuvas nas florestas tropicais em relação ao desmatamento. Já havia relatos dispersos sobre a diminuição das chuvas em áreas desmatadas. Mas o estudo da universidade britânica mediu com critérios científicos esse paralelo. O estudo mostrou que quando a área desmatada passa de 50 km² a perda de chuvas no microclima regional passa a ser mais significativa. Se a área desmatada chega a 200 km², para cada 1% de perda na floresta há uma perda correlata de 0,25% na quantidade local de chuva. Isto se deve ao fato de que nas florestas tropicais a quantidade de chuva depende também da quantidade de evaporação de água propiciada pela própria floresta. Segundo o professor Dominick Spraklen, um dos membros da equipe, dependendo da região amazônica de 25% a 50% da quantidade de chuva se deve a esta reciclagem da água feita pela própria floresta. O estudo levanta a hipótese de que a floresta amazônica pode estar perto de perder a quantidade de chuva necessária para sua sobrevivência. O alerta se estende às outras duas grandes florestas tropicais no mundo: a da bacia do Congo, na África, e a da Indonésia, na Ásia. E o estudo demonstra que a diminuição das chuvas nas florestas tropicais também afeta negativamente a agricultura e a qualidade vida nas cidades que as bordejam. Pior seca em 500 anos Entretanto, o problema da água não se restringe às áreas tropicais. Ele também se manifesta em regiões temperadas, como a Europa. Os cientistas estimam que a seca de 2022 no continente foi a pior em 500 anos, afetando gravemente rios de Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, e também de outros países. Mas o problema é mais grave do que se pensava porque não se refere apenas à água de rios e lagos na superfície. Um estudo da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, com base em dados obtidos através do sistema norte-americano e alemão de satélites conhecido como GRACE, mostrou que há uma perda significativa de água nos aquíferos subterrâneos europeus. Em parte, esta perda se deve à falta de água ou de sua má distribuição na superfície, forçando agricultores e regiões urbanas a explorarem mais intensamente os reservatórios subterrâneos. Segundo dados do GRACE cerca de 30% do território europeu padece de problemas com a água durante todo o ano, e os outros 70% pelo menos durante os meses mais quentes. O problema é mais grave nas ilhas do Mediterrâneo e nos países continentais do sul da Europa. O estudo mostra que desde o começo do século XXI a perda anual de água no continente europeu é de 84 gigatons por ano. Um gigaton equivale a um bilhão de toneladas de água. A perda anual equivale a um lago Ontário, entre o Canadá e os Estados Unidos, que tem quase 19 mil km². Os cientistas envolvidos na pesquisa atribuem a perda à combinação do aquecimento global que, segundo eles, provoca uma distribuição muito desigual de chuvas, e à maior intensidade na exploração dos aquíferos subterrâneos. A distribuição desigual das chuvas pode ser catastrófica, provocando inundações em alguns locais e secas extremas em outros, além de dificultar a reposição das reservas em aquíferos. Poluição provocada pelo homem intensifica o problema O problema se complica mais ainda devido a práticas humanas, tanto nas áreas rurais como nas urbanas e industriais, que poluem sistematicamente as águas disponíveis. O seu enfrentamento depende tanto de soluções técnicas quanto de políticas adequadas de controle sobre os poluentes - os químicos e seus distribuidores humanos. No segundo semestre deste ano, a Organização das Nações Unidas realizará uma segunda conferência mundial sobre o tema em Nova Iorque. As dificuldades de se obter um grande acordo mundial sobre o tema são enormes, sobretudo no que se refere aos aquíferos subterrâneos, porque eles são invisíveis a olho nu. Bem diz o ditado: “o que os olhos não veem o coração não sente”. Mas se não vermos o que está acontecendo, a...

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Protestos contra reforma eleitoral podem redefinir corrida eleitoral no México

2/27/2023
Milhares de mexicanos consternados foram à Praça Zócalo da Cidade do México no domingo em uma manifestação coletiva de dissidência contra a reforma eleitoral proposta pelo presidente Andrés Manuel López Obrador, conhecido pelo acrônimo AMLO. Políticos da oposição e organizações da sociedade civil uniram forças sob uma mensagem comum, de que as mudanças no Instituto Nacional Eleitoral (INE) não podem ser aceitas sem consentimento popular. Esta é apenas mais uma manifestação de uma população indignada, cujos protestos sobre este assunto se tornaram ainda mais fortes desde que começaram, há cinco meses. Thiago de Aragão, analista político Milhares de manifestantes tomaram as ruas e ocuparam a simbólica Plaza de la Constitución em frente à sede do Supremo Tribunal, exigindo que o Congresso escute suas exigências de reformas constitucionais. O ministro aposentado José Ramon Cossio falou apaixonadamente do pódio sobre a defesa da democracia e do respeito inabalável pela Carta Magna do país. As modificações das leis eleitorais recentemente aprovadas pelo Poder Legislativo do México são fortemente contestadas e enfrentam um exame rigoroso no Supremo Tribunal do país. O ex-ministro Cossío endossa as críticas, afirmando que a Constituição salvaguarda a democracia ao possibilitar o equilibrio entre poderes e o controle de políticos que atualmente ocupam posições governamentais. Isso garante uma importante proteção dos direitos dos cidadãos, apesar das tentativas do presidente López Obrador de silenciar os juízes da Suprema Corte que avaliam essas mudanças. Foi a manifestação mais significativa desde que López Obrador foi eleito em 2018 e uma indicação de que seu partido está passando pelo período mais tumultuado até agora. As ruas estavam cheias de manifestantes desde o início da manhã e a mídia social viu um afluxo de imagens mostrando uma forte oposição em meio a uma solidariedade esperançosa para a mudança na política mexicana. Eleição presidencial de 2024 AMLO está esperando uma grande manifestação de apoio no dia 18 de março, quando ele levará à mesma praça Zócalo o comício de aniversário de uma de suas maiores realizações: a expropriação de petróleo. Com as promessas dos apoiadores de que eles encherão a praça, parece que esse evento cheio de ímpeto acrescentará mais um capítulo triunfante nos livros de história de sua presidência. Na semana passada, o Senado do México finalmente ratificou o "plano B" da reforma eleitoral proposta por Obrador. O texto limita o poder do INE, uma instituição que supervisiona as eleições em escala nacional, levando à dissolução de 300 conselhos distritais para realizar uma economia de 3,5 bilhões de pesos mexicanos. Enquanto os representantes do governo argumentam que isso melhora a situação financeira do INE, os oponentes estão preocupados com o que parece ser uma quantia ínfima, mas de alto valor para a democracia. Com uma supervisão mais limitada, aumenta o risco de o México enfrentar eleições menos seguras e transparentes nos 32 estados do país. Lopez Obrador terá um grande desafio pela frente. Mesmo sem concorrer à reeleição no pleito programado para 2024, seu sucessor no partido Morena iniciará a campanha na condição de favorito. Para a oposição, essa ação contra o INE caiu como uma luva, pois essa é a grande chance que tem em mãos para enfraquecer o poder e a popularidade de AMLO.

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Os prisioneiros da guerra entre Rússia e Ucrânia

2/20/2023
“Nós precisamos vencer o Golias russo”, com estas palavras o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, definiu o papel de seu país e de seu governo na guerra que nesta semana vai completar o primeiro ano de vida e mortes, em seu discurso durante a abertura da Berlinale, o Festival Internacional de Cinema da capital alemã, na noite de 16 de fevereiro. Flávio Aguiar, analista político E no encerramento de sua fala de dez minutos, reiterou a imagem, repescando uma expressão do tempo da Guerra Fria entre capitalismo e comunismo: “Nós todos somos o Davi do Mundo Livre”. Dessa forma, explicitou o meta-discurso que acompanha o desempenho de suas Forças Armadas no campo de batalha. Meta-discurso: a referência retórica que projeta no campo de valores éticos e até estéticos aquilo que acontece no mundo real, no caso, o conflito que vem sendo descrito como o mais cruento na Europa desde a Segunda Guerra, apesar das atrocidades cometidas por todos os lados na chamada Guerra Civil Iugoslava, entre 1991 e 2001. O esforço retórico para enquadrar a atuação do governo de Kiev na moldura bíblica evoca comparações curiosas. Na narrativa sagrada para os cristãos, o pastor de ovelhas Davi vence o gigante Golias porque tem por trás de si a força de Jeová, o Senhor dos Exércitos de Israel, por ele invocada. Volodymyr Zelensky, que se projeta como Davi, tem por trás de si todo o peso do Ocidente ressuscitado: os Estados Unidos, o Reino Unido, a OTAN e a União Europeia, que lhe fornecem bilhões de dólares e euros em armamentos. Seu esforço retórico é o de convencer o mundo de que ao lado da força das armas por que implora continuamente, ele conta com a força superior da razão e da ética, o que lhe concede uma dimensão histórica e messiânica. O lado russo Do lado russo, o esforço não é menor. Vladimir Putin tem diante de si o desafio de transformar a invasão de outro país num gesto defensivo, o que também exige uma certa cabriola discursiva. A referência buscada é a da Grande Guerra Patriótica, como é descrita, desde os tempos da finada União Soviética, a resistência custosa em termos de vidas, mas bem sucedida ao então invasor nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. A referência à “desnazificação” da Ucrânia é constante, projetando uma proteção histórica e grandiosa da ameaçada “Mãe Pátria”, batizando com tintas de heroísmo nacional a ocupação da zona fronteiriça da Ucrânia, para a salvaguarda de sua população, e também a reanexação da península da Crimeia, que já fora russa no passado, até os anos 50 do século XX. Até hoje ninguém entendeu o porquê do então primeiro-ministro soviético Nikita Kruschev ter doado o território à Ucrânia. Acontece que as palavras não são neutras, elas cobram seu preço. Davi não pode perder para Golias; nem mesmo a possibilidade do empate lhe é concedida. Se ele não matasse o gigante, ficaria desmoralizado perante o rei Saul, perante Israel, perante seus irmãos e seu pai Jessé, e também perante Jeová. Se Kiev não “vencer a guerra”, como hoje se apregoa no Ocidente, ela não passará de uma aventura que torrou recursos bilionários e contribuiu para devastar um país. Do outro lado, a Pátria Grande também não admite concessões, nem empates tampouco. Somente a vitória garante a sua integridade. Se a Rússia não “vencer”, de algum modo “a guerra”, ela também não passará de uma invasão desnecessária que devastou um país vizinho e sacrificou a vida de milhares de seus soldados e civis do outro lado. Temos assim uma guerra em que, tanto quanto senhores, os envolvidos nela são prisioneiros de suas palavras. E de momento não têm como escapar desta cumbuca em que meteram suas mãos. Significado de "vitória" O que significa a palavra “vitória” para Zelensky e seus aliados? Expulsar os russos dos territórios ocupados a partir do começo da guerra, em 24 de fevereiro de 2022? Reconquistar a Crimeia? Afundar a economia russa e derrubar Vladimir Putin? Qualquer destes objetivos parece hoje muito difícil de atingir. E para...

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Espionagem: rivalidade entre EUA e China atinge novo patamar

2/13/2023
A disputa entre EUA e China tem se intensificado nos últimos anos. A rivalidade entre as duas maiores economias do mundo tem sido cada vez mais evidente, desde a guerra comercial até as disputas militares. O caso dos balões revelado nos últimos dias demonstra que a espionagem China-EUA atingiu o nível mais elevado de todos os tempos. Thiago de Aragão, analista político Os Estados Unidos têm uma força militar significativamente maior que a China, mas os especialistas acreditam que o país asiático está rapidamente alcançando ou ultrapassando os Estados Unidos em termos de tecnologia militar. Os próximos passos na disputa entre EUA e China dependem das intenções de ambas as partes. Os Estados Unidos parecem estar focados em manter sua supremacia militar no Pacífico, enquanto a China busca expandir sua influência regional e global. O governo dos EUA tem feito pressão sobre seus aliados para que não façam negócios com a China, enquanto Pequim continua a investir em infraestrutura e tecnologia militar para fortalecer sua presença na região. Além disso, os Estados Unidos também estão trabalhando para conter o avanço da China no setor de telecomunicações, impondo restrições às empresas chinesas como Huawei e ZTE. Por outro lado, a China tem procurado reforçar sua presença militar na região do Indo-Pacífico, construindo bases militares em ilhas artificiais e realizando exercícios militares frequentes nas proximidades de Taiwan. No futuro próximo, é provável que vejamos um confronto direto entre os dois países sobre questões regionais importantes como Taiwan e o Mar da China Meridional. É possível que os Estados Unidos tentem bloquear ou limitar o avanço da China nessas áreas por meio de sanções comerciais ou diplomáticas. No entanto, qualquer escalada militar direta poderia ter consequências catastróficas para todos os envolvidos. Espionagem Os últimos desenvolvimentos na espionagem China-EUA destacam a intensificação da rivalidade entre os dois países. Com ambos os lados acusados de utilizar tecnologias avançadas para realizar espionagem cibernética e física, esta batalha contínua por hegemonia assumiu uma nova dimensão. Os Estados Unidos e a China estão agora envolvidos em uma corrida armamentista cada vez maior, enquanto cada lado tenta ganhar uma borda sobre o outro. Isto levou ambos os países a intensificarem seus esforços em áreas tais como tecnologia, vigilância e coleta de inteligência humana. Além disso, tem havido relatos de tentativas da China de roubar propriedade intelectual de empresas e universidades americanas. A crescente hostilidade entre as duas nações é ainda evidenciada pelo aumento das tensões em relação a acordos comerciais e atividades militares no Mar do Sul da China. Resta saber se as conversas e negociações diplomáticas podem levar a uma resolução deste conflito rapidamente, ou se as tensões continuarão a aumentar no futuro. Independentemente do resultado, é evidente que a espionagem entre os dois países atingiu o nível mais alto de todos os tempos. Como ambos os lados procuram obter uma vantagem sobre o outro, a espionagem entre os dois países é provável que continue a ser uma característica proeminente dessa rivalidade contínua. Legalidade de operações aéreas questionada O incidente de os EUA abaterem um balão espião chinês levantou muitas questões sobre relações internacionais e questões de segurança. Muitos argumentaram que isto mostra a vontade dos EUA de tomar medidas militares para proteger seus próprios interesses, enquanto outros questionaram se uma medida tão extrema se justificava ou não, dadas as circunstâncias. Há também questões sobre a legalidade de tais ações, pois o direito internacional é muitas vezes obscuro quando se trata de atividade militar em solo ou espaço aéreo estrangeiro. Como as tensões entre os EUA e a China continuam a aumentar, será importante monitorar de perto a situação e considerar todos os resultados possíveis antes de tomar qualquer outra medida. O pior...

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O acordo entre União Europeia e Mercosul vai sair do papel?

2/8/2023
Depois de mais de 20 anos de complicadas negociações o acordo entre a União Europeia e o Mercosul chegou ao papel, isto é, chegou a uma redação acordada entre os encarregados de viabilizá-lo. Entretanto a questão que se coloca agora é a de se ele sairá do papel, isto é, se será implementado depois de sua aprovação pelos poderes legislativos de todos os países envolvidos. Flávio Aguiar, analista político Há novas expectativas positivas a respeito, mas também há grandes resistências e problemas a resolver. Ao mesmo tempo em que a redação do acordo chegava a termo, ele próprio empacava em ponto morto, sobretudo devido à política do governo anterior do Brasil, totalmente avessa à proteção do meio-ambiente. A situação melhorou com o compromisso do novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de proteger os biomas e o meio ambiente do país de um modo geral, retomando uma liderança internacional que o Brasil já teve no passado. Isto ficou claro durante a visita, na semana passada, do chanceler alemão Olaf Scholz ao Brasil. A mídia alemã deu grande destaque à diferença de posição entre os dois governos no que se refere ao fornecimento de armamentos ao governo da Ucrânia, em guerra com a Rússia. Esta mídia, cujo apoio ao governo de Kiev é amplo, geral e irrestrito, viu com grande desagrado a negativa do presidente Lula quanto a entregar a munição que fabrica para os tanques Leopard 2 que a Alemanha se comprometeu a enviar para o governo ucraniano. Mas o fato é que o encontro entre os dois governantes abordou e se pôs de acordo quanto a uma enorme série de iniciativas de cooperação, entre elas a de retomar o caminho para a efetivação do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, tema que o chanceler alemão já abordara com o presidente Alberto Fernandez na sua passagem prévia por Buenos Aires. Esta retomada tem o apoio também de Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia para Questões do Meio-Ambiente e de Josep Borrel, vice-presidente para Relações Internacionais e de Segurança. Mas é do lado europeu que partem as principais resistências quanto à implementação do acordo, sobretudo da parte do setor agrícola francês. Logo depois da visita de Scholz à América do Sul, o ministro francês da Agricultura, Marc Ferneau, declarou que se a França admite a possibilidade do acordo, ela não o ratificaria “no seu estado atual”, numa referência a questões ambientais e também ao que considera a busca de “um acordo comercial justo”. A questão é controversa, ou como dizia um colega meu de universidade, é “uma faca de muitos gumes”, cortando para vários lados. Temas controversos A União Europeia está endurecendo seus critérios quanto ao uso de agrotóxicos para produtos importados. Alguns desses produtos proibidos ou de uso bastante restrito, como os chamados “neonicotinoides”, são utilizados no Brasil, em que o governo anterior desenvolveu uma política de franca liberação no uso de agrotóxicos. Porém não se pode esquecer que muitos desses produtos proibidos na Europa são fabricados… na própria Europa e exportados para dezenas de países pelo mundo afora, inclusive para o Brasil! O acordo não se refere apenas ao comércio, embora este aspecto seja o mais destacado em suas repercussões. Várias tarifas sobre importação e exportação seriam gradualmente eliminadas, beneficiando no Mercosul a exportação de produtos agrícolas, carne bovina e de frango, açúcar, arroz, milho, óleos vegetais e outros, e na União Europeia a exportação de veículos, maquinário, produtos químicos e farmacêuticos. Do lado brasileiro há preocupações também por parte de associações ambientalistas e dos povos originários, alegando que a sociedade civil não foi devidamente ouvida quanto aos termos do acordo, cujo conteúdo é largamente desconhecido. Como se vê, o caminho para a implementação desse acordo será longo e labiríntico. Entretanto há um aspecto paradoxal que deve ser ressaltado. Não vamos cometer a loucura de dizer que há guerras que vem para o bem,...

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Opinião: Decisão alemã de enviar tanques Leopard 2 para a Ucrânia foi difícil mas acertada

1/30/2023
Olaf Scholz, chanceler alemão, fez a coisa certa quando cedeu às pressões domésticas e internacionais, e finalmente resolveu enviar tanques “Leopard” para a Ucrânia. Certamente não foi uma decisão fácil, já que esses blindados são as joias do exército alemão. Observar a reação e eficiência desses tanques em operação na Ucrânia pode gerar enorme confiança ou decepção em cima da capacidade operacional do veículo. Essa preocupação é essencialmente compartilhada entre militares alemães de alto nível, mas não tanto entre os membros do gabinete de Olaf Scholz. Tendo durante tantos anos sido dependente do gás russo, Scholz constata o que o resto da Europa percebeu há um ano: o afastamento da Rússia é pra valer. Não há uma nostalgia alemã dos dias em que o gás russo fluía nas tubulações da Renânia Vestfália, da Bavária e da Baixa Saxônia. O que há é uma cautela relacionada ao medo da guerra começar a fugir do controle, de uma forma irreversível. Scholz teme que a entrega dos “Leopards” leve a um espiral que consuma cada vez mais materiais militares alemães. Se por um lado, ninguém precisa ser Nobel da Paz para compreender que a ajuda aos ucranianos representa uma ajuda à democracia, por outro, Scholz sabe que a cada tanque enviado à Ucrânia, ele precisa mais que nunca que a Rússia não vença a guerra. A decisão de enviar os tanques foi uma decisão difícil, mas não foi tomada só. O presidente norte-americano Joe Biden também colocou a cara a tapa quando aprovou o envio de tanques M1 Abrams à Ucrânia. Essa decisão faz a de Scholz parecer mais fácil, dilui um pouco a pressão, mas dobra a raiva e o desespero de Putin. A Ucrânia, obviamente, necessita mais e mais. Está claro que nem Rússia ou Ucrânia são fortes o suficiente para vencer o oponente. O fato de Kiev precisar recuperar territórios, faz com que sua necessidade de armamentos para contra-ataques seja mais imediato e impactante. Mal a tinta da caneta da assinatura de Scholz para enviar tanques “Leopard 2” secou, a Ucrânia já colocou na mesa uma demanda mais ousada, robusta e que, sim, poderia virar totalmente a balança da guerra a seu favor. Mas também aumentaria consideravelmente a possibilidade da guerra extrapolar as fronteiras ucranianas. Numa expectativa ousada, porém compreensível, os ucranianos agora querem uma coalizão de caças de diversos países da OTAN, para a formação de uma força aérea de combate sem precedentes desde o pós-guerra. Os EUA contribuiriam com F-16s, o Reino Unido com Tornados, Suécia com seus Gripens, França com os Rafales e espanhóis e italianos enviando seus Eurofighters. Guerra europeia Se hipoteticamente isso acontecesse, a Ucrânia teria uma vantagem aérea que possivelmente viraria a balança para seu lado. Justamente por isso, a Rússia poderia “apelar” para jogar por tudo ou nada. A apelação poderia envolver ataques, deliberados ou “sem querer” contra alvos da OTAN na Polônia, Romênia, Letônia, Lituânia e Estônia. Isso, sabemos, poderia desencadear uma guerra europeia. Dificilmente Putin não entenderia isso como uma expressão clara de que a OTAN entrou na guerra. A linha vermelha que não deve ser cruzada, para Putin é essa: a entrega de caças. Para a Ucrânia, os caças são exatamente o que eles desesperadamente precisam. No entanto, é preciso viver um dia de cada vez e observar a reação russa ao desempenho dos M1 Abrams e Leopards em combate. Mais importante, ver como esses tanques podem afetar o rumo da guerra. Nos aproximamos de um afunilamento perigoso: Ucrânia precisa de mais, OTAN não consegue dar mais, Putin está sentindo a pressão da guerra e das sanções. A exposição do limite no qual todos se encontram não representa, necessariamente, uma aproximação a um cessar-fogo. Infelizmente, aparentam representar a aproximação de um estágio pior na guerra.

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O mundo se solidariza com Lula e a democracia brasileira

1/9/2023
As notícias e as cenas do ataque contra os prédios dos três poderes constitucionais por partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro estão correndo o mundo. Flavio Aguiar, analista político De todos os quadrantes e de governantes de diferentes tendências ideológicas estão chegando mensagens de solidariedade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a democracia brasileira. Editoriais e comentários na mídia mundial repudiam os atos de vandalismo. Ao mesmo tempo questionam se não houve no mínimo negligência ou até cumplicidade por parte de autoridades responsáveis pela segurança do Distrito Federal, apontando a lentidão e ineficiência das primeiras atitudes das forças policiais. Mensagens de solidariedade ao presidente brasileiro e de apoio à democracia partiram dos governos dos Estados Unidos, Chile, Colômbia, Argentina, França, Reino Unido, Venezuela, Portugal, Peru, Equador, Bolívia, Espanha, Cuba, México, Uruguai, Paraguai, Canadá, Itália, Austrália dentre outros, além de representantes de organismos internacionais como a ONU, a OEA e a União Europeia. Até os atos de vandalismo deste fim de semana o noticiário sobre o Brasil era amplamente positivo ou de solidariedade e luto pela morte de Pelé. A mídia europeia saudava a reconciliação entre o presidente Lula e a ex- e nova ministra do Meio-Ambiente Marina da Silva, como um sinal esperançoso para proteção da Amazônia e de outros biomas brasileiros. A Alemanha e a Noruega anunciaram a retomada do financiamento do Fundo de Proteção à Floresta. O Reino Unido declarou estar disposto a examinar a possibilidade de adesão ao Fundo, exemplo que poderia ser seguido por outros países. A expectativa era e é de que o Brasil retome a liderança que já teve na diplomacia mundial quanto à defesa do meio-ambiente e dos direitos humanos, depois dos anos de descaso por parte do governo que se encerrou em 31 de dezembro. Pode-se dizer que um terremoto político abalou este clima de lua-de-mel. Mas não o destruiu. Prova disto são as mensagens de solidariedade e confiança recebidas pelo governo brasileiro e de condenação dos atos de vandalismo que muitos caracterizam como terroristas. O presidente Lula foi qualificado pelo jornal Le Monde como “o presidente Fênix”, em alusão à ave que na mitologia grega renascia das próprias cinzas. Do mesmo modo, o Brasil e a democracia brasileira estão renascendo das cinzas da devastação ambiental e política. O caminho será árduo e cheio de obstáculos. Mas a esperança também está renascendo, por sobre os vândalos que querem destruí-la.

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Geopolítica impulsiona devoluções de bens culturais a países colonizados

12/26/2022
A atual dinâmica da geopolítica, com novas polaridades emergentes entre Estados Unidos, Europa, Rússia e China, coloca na pauta do dia a disputa por espaços no Terceiro Mundo. Um efeito colateral positivo desta nova dinâmica, tão marcada por guerras, agressões e disputas acirradas por mercados, é o de impulsionar a diplomacia de devolução de bens culturais saqueados pelas potências ao longo dos séculos nos países por elas colonizados. Neste ano de 2022 registraram-nas várias devoluções, notadamente de países europeus em relação à África. Há poucos dias o governo alemão devolveu 21 peças de bronze à Nigéria, pertencentes ao antigo Reino do Benim (não confundir com o atual e vizinho país do Benim). Estas peças, junto com outras, foram roubadas por militares britânicos no século 19 e em seguida vendidas a diversos museus europeus. No ato da entrega, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, comparou a situação a uma hipotética impossibilidade, por parte dos alemães, de contemplarem a Bíblia de Gutenberg. O ministro da Cultura português, Pedro Adão e Silva, anunciou a decisão por parte de seu governo de inventariar cuidadosa e discretamente, “sem politização” (sic), obras de arte, bens culturais, objetos de culto e até restos mortais tomados a comunidades das ex-colônias, para devolução. O Papa Francisco I decidiu, também neste dezembro, enviar ao Arcebispado da Igreja Ortodoxa em Atenas, na Grécia, três peças pertencentes ao Partenon, que estavam há séculos no Museu do Vaticano. Em outubro passado o Vaticano já devolvera 3 múmias pré-hispânicas ao Peru e uma cabeça reduzida e mumificada ao Equador. Em agosto o Museu Horniman, do Reino Unido, anunciou a devolução de 72 peças à Nigéria, também pertencentes ao antigo Reino do Benim. O presidente francês Emmanuel Macron já ordenara, em 2021, o retorno de 26 peças do Museu do Quai Branly, em Paris, ao atual Benim, vizinho da Nigéria. Lotes arqueológicos A tendência também é observada em outras partes do mundo. Em setembro, a Justiça dos Estados Unidos ordenou a devolução de 16 assim chamados “tesouros arqueológicos” ao Egito, que estavam no Metropolitan Museum of Art, em Nova York. O governo uruguaio anunciou a devolução de 39 lotes arqueológicos e culturais ao Equador, Peru e Egito, que haviam chegado ao país através de contrabando. Mas nem sempre a tendência desperta entusiasmo ou sequer aprovação. Há notícias de que partidários do movimento Chega, de extrema direita, em Portugal, se opõem ao anúncio de possível devolução feito pelo ministro da Cultura daquele país. Alegam que esta política compromete o culto à grandeza do antigo Império Português, e culpam as recentes levas de imigrantes como responsáveis por este comprometimento do nacionalismo em Portugal. Por seu turno, o Museu Britânico, que há anos discute uma possível devolução das frisas do Partenon à Grécia, até o momento mantém um silêncio obsequioso sobre a reivindicação, por parte do Egito, do retorno da famosa Pedra de Roseta, graças à qual o arqueólogo francês Jean-François Champollion, no século 19, conseguiu decifrar os antigos hieróglifos egípcios. A Pedra de Roseta foi tomada por Napoleão I, e depois pelos ingleses, como despojo de guerra e levada para o Museu Britânico, em Londres. Este museu também guarda, até o momento, um silêncio sepulcral sobre as peças que obteve daqueles militares que saquearam o antigo Reino do Benim, na Nigéria. Atitudes negativas como estas justificam o dito irônico de que o Egito ainda tem pirâmides porque elas eram pesadas demais para serem levadas a algum país europeu.

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China vive situação caótica com fim da política de Covid Zero

12/19/2022
A imposição da política de Covid Zero na China, gerou um caos social e sanitário, culminando com a morte de dez pessoas numa fábrica em Xinjiang e protestos contra Xi Jinping. Essa situação levou o líder chinês a determinar o fim de uma longa política em um dos últimos países a ainda sofrer de forma substancial com a pandemia que assolou o mundo em 2020 e 2021. Por Thiago de Aragão, analista político Com o fim da política de Covid Zero, a China vivia um sentimento generalizado de alívio. No entanto, a falta de um elemento essencial está colocando o país em uma situação complicada que, como da última vez, acarreta em inúmeros problemas interligados: pressão nos hospitais, mortes, fechamento de fábricas, danos a cadeia de produção e impacto negativo na economia (que é a principal base de sustentação do Partido Comunista Chinês perante a sociedade). Esse elemento primordial para superar a crise é a vacina. A China foi um dos primeiros países do mundo a desenvolver imunizantes anticovid-19. Tanto a Coronavac como a Sinovac são de fabricação chinesa, apesar de o governo chinês também estar envolvido no financiamento da vacina da AstraZeneca e, via a BioNTech, indiretamente ligado à vacina da Pfizer. Como podemos ver ao longo dos últimos anos, a vacina da Pfizer (e Moderna), com a tecnologia RNA mensageiro, se mostrou mais eficaz na neutralização do vírus, fazendo com que esse imunizante se tornasse o predominante em vários países. A China, por outro lado, por conta da propaganda “necessária” ao partido, resolveu não comprar as vacinas mRNA (e tentar desenvolver a própria). Situação caótica A falta de vacinação eficiente na população fez com que uma situação caótica se estabelecesse no país. No momento, quase um terço da população de Pequim (22 milhões) está com suspeitas de estar com o coronavírus. O caos começa a se disseminar na mesma proporção de contaminação do vírus. Caminhoneiros não conseguem levar cargas e suprimentos de um lugar para outro, alimentos não estão chegando nos supermercados e a população, começando a se desesperar, acumula o máximo de produtos não perecíveis. Além do temor de que o vírus se espalhe ainda mais, o Partido Comunista Chinês também lida com a hipótese de que o alto volume de contaminações e possíveis usos indiscriminados de remédios não relacionados gerem um novo ciclo de mutações no vírus, que poderia resultar em uma variante mais agressiva que a ômicron. Claro que isso é um problema futuro, e é difícil o governo chinês lidar com eventualidades quando problemas atuais estão prejudicando num ritmo acelerado a percepção da população em relação ao partido. Assim, as próximas semanas serão críticas em relação a estratégia adotada para conter esse avanço avassalador da Covid-19. Não podemos excluir a hipótese do retorno da política de Covid Zero com o intuito de ganhar tempo para acelerar o processo de vacinação dos mais idosos e, quem sabe, produzir a própria vacina mRNA.

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