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Condições de vida na Maiote "chocam qualquer um"
5/24/2023
O arquipélago da Maiote, ao norte do canal de Moçambique, no oceano Índico, é o departamento mais pobre de França e recentemente as autoridades francesas enviaram uma força de cerca de 2.000 polícias para demantelar os bairros de lata e expulsar imigrantes ilegais. No entanto, parece haver "falta de vontade políticas" dos franceses para naturalizar muitas crianças filhas de estrangeiros nascidas na Maiote. Desde 2011, o arquipélago da Maiote, que inclui uma grande ilha conhecida como Maiote ou Mahoré ou Grande Terre, e duas ilhas mais pequenas e se situa ao norte do canal de Moçambique, no oceano Índico, é o centésimo primeiro departamento de França, após um referendo onde a população disse querer integrar o território francês, após quase duzentos anos de alinhamento ao lado dos gauleses. No entanto, mesmo com esta escolha bem cimentada no seio da sociedade da Maiote, o arquipélago enfrenta graves problemas de pobreza e imigração ilegal, com uma grande parte dos migrantes a virem das vizinhas ilhas Comores, sem, até agora, respostas à altura por parte da Paris. A Maiote é mesmo o departamento mais pobre de França. Aurélio Magalhães, moçambicano instalado na Maiote há cinco anos, é formador de português na Câmara de Comércio da Maiote e já viveu em França continental, na cidade de Nantes. Para este professor de português, as condições de vida nos bairros de lata da Maiote são “chocantes”. "É um dos departamentos mais pobres de França, a vida é bastante cara em relação a outros departamentos e há uma forte população que vem das Comores, uma grande imigração. O primeiro choque é esse, uma população que está ilegal. Os bairros de lata não têm saneamento, não apresentam nenhuma condição para se viver dignamente. São condições de vida que chocam qualquer um", afirmou o formador de português. Desmantelamento em curso Após uma grande pressão por parte das autoridades locais, o Governo francês enviou um reforço de 2.000 polícias temporariamente para a ilha que já começou a levar a cabo o desmantelamento de vários bairros de lata onde vivem mais de 1.000 famílias em condições muito precárias. Esta é uma iniciativa bem-vinda pela população da Maiote, segundo Aurélio Magalhães onde a pobreza gerou um "clima de insegurança" e o aumento da criminalidade. "É uma criminalidade praticada por crianças e jovens, a maioria até nasceu aqui, e até foram escolarizados, mas quando chegam aos 18 anos não têm alternativa. Se a lei do direito ao solo estivesse a ser aplicada, eles como nasceram em França deviam ser franceses. Não há infraestruturas e não há abertura da França para aplicar esta lei, falta vontade política para regularizar estas pessoas e as pessoas ficam aqui como se fosse uma prisão a céu aberto", explicou Aurélio Magalhães. Em França, as crianças nascidas de pais estrangeiros em solo nacional têm direito à nacionalidade aos 18 anos caso tenham vivido em território francês de forma contínua durante cinco anos desde a idade de 11 anos. Faltam agora alternativas de alojamento para todas as pessoas que estão a sair do primeiro bairro destruído, o Talus 2, com apenas uma parte a receber uma proposta de realojamento, nalguns casos, noutras regiões da ilha. Acabar com a imigração ilegal Outro dos objectivos da presença reforçada dos polícias franceses na Maiote é o repatriamento de muitos dos imigrantes que permanecem de forma ilegal nestas ilhas francesas. Com muitos a virem das ilhas Comores, os dois países têm tido sérios problemas diplomáticos, com as Comores a não aceitarem de volta os migrantes ilegais em território francês. Esta disputa, já ultrapassada entretanto, deixou a população da Maiote preocupada. "É extremamente preocupante. Muitos destes imigrantes partilham a mesma religião e a mesma cultura e até laços familiares. A maioria dos locais tem um primo, um irmão ou uma cunhada que vêm das ilhas Comores", detalhou o professor de português. Para estes imigrantes, a Maiote apresenta-se como um oásis, já que as condições de vida...
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Obras de Jean-Michel Basquiat e Andy Warhol a quatro mãos na Fundação Louis Vuitton
5/23/2023
Até Agosto, a Fundação Louis Vuitton em Paris expõem dezenas de obras feitas em conjunto por Jean-Michel Basquiat e Andy Warhol, contando não só a parceria artísitca entre estes dois vultos da arte contemporânea, mas também a sua amizade e como este encontro influencia a arte e os artistas em todo o Mundo até hoje. Há 35 anos desaparecia o artista norte-americano Jean-Michel Basquiat. Durante os seus 27 anos de vida teve uma produção fulgurante deixando mais de 2.000 quadros e desenhos, assim como escritos e também uma grande influência nos estilos urbanos como o grafiti, mas também a música dos anos 80, especialmente no rap, tendo chegado mesmo a integrar diversos grupos e a produzir discos de artistas nos quais acreditava. Na sua curta vida, Jean-Michel Basquiat, que tinha origens haitianas e porto-riquenhas, procurou um regresso à sua ancestralidade, apresentando na sua representação da arte moderna, uma reinterpretação da arte africana, como máscaras cerimoniais e silhuetas inspiradas na arte tradicional, dando, pela primeira vez na história da arte ocidental, um lugar de destaque às figuras negras. Ainda em vida, Jean-Michel Basquiat atingiu o estrelato e a admiração do mundo da arte, e, nesta trajectória, um dos momentos mais importantes para o artista foi a parceria com um dos seus ídolos, Andy Warhol. Com 30 anos de diferença, Warhol e Basquiat travaram uma amizade que os marcaria profundamente a nível pessoal e uma colaboração artística intensa que durou entre 1982 e 1985 tendo produzido 160 quadros a quatro mãos. Para lembrar este período áureo da arte contemporânea e assinalar os 35 anos da morte de Jean-Michel Basquiat, que morreu de uma overdose de drogas em 1987, a Fundação Louis Vuitton, em Paris, organiza até final de Agosto, uma retrospetiva com as principais obras elaboradas por Basquiat e Andy Warhol. Os dois artistas vão trocar entre si hábitos e formatos, com Andy Warhol a voltar a pintar e Basquiat a descobrir-se através dos grandes formatos comos explicou Olivier Michelon, comissário da exposição BASQUIAT versus WARHOL, À QUATRE MAINS, em entrevista à RFI. "Não sei se a influência no estilo se possa ver na forma como criavam, mas sobretudo na maneira como pensavam e esta influência vê-se nos quadros. Temos elementos que podiam ser pintados por Warhol ou por Basquiat e vice-versa. É verdade que Andy Warhol volta a pintar e isso é um pedido de Basquiat. Já Basquiat vai utilizar serigrafias, algo que é muito característico de Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat vai utilizar muito esta técnica. Depois temos também o formato das telas e como Andy Warhol é já um artista conceituado, tem muitos assistentes e trabalha sobre grandes telas, algo que Basquiat vai passar também a fazer", disse Olivier Michelon. A energia contagiante vai levar os dois artistas numa primeira fase a ocuparem um antigo atelier de Andy Warhol onde conseguem levar a cabo pinturas de grande formato. Algumas eram começadas por Andy Warhol com logos de produtos de higiene Arm & Hamer, ou da General Electrics, e com Basquiat a desenhar por cima figuras africanas, palavras com impacto social, desconstruindo os ícones da arte pop que inspiravam Warhol. "Há cerca de 30 anos de diferença entre os dois artistas. Andy Warhol manteve-se sempre muito aberto a tudo o que se passava à sua volta e vê na cena jovem de Nova Iorque nos anos 80 um regresso à efervescência dos anos 60, com uma liberdade na pintura, algo que ele talvez tivesse perdido de vista. Há realmente uma energia renovada com Basquiat", indicou o comissário. Esta colaboração vai reflectir também o momento que se vivia nos Estados Unidos. De um lado um ambiente cultural em ebulição, com o aparecimento de novos artistas como Keith Haring e de fenómenos com Madonna, que teve uma relação com Basquiat… Do outro lado, o racismo, que nem os movimentos dos direitos civis dos anos 60 e 70 conseguiram apagar e que tornavam difícil para Jean-Michel Basquiat conseguir apanhar um mítico táxi amarelo...
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Paris e Florença querem aliança de teatros europeus e africanos
5/23/2023
O Théâtre de la Ville, em Paris, e o Teatro della Pergola, em Florença, querem dinamizar as trocas entre os teatros europeus e africanos. O projecto tem juntado profissionais de vários países, incluindo de Angola, que vai refazer “consultas poéticas” em Setembro e deverá ter um festival com participantes europeus e africanos em 2024. Cerca de um ano depois de o Théâtre de la Ville, em Paris, e o Teatro della Pergola, em Florença, terem lançado o projecto “Nova Aliança de Teatros Europeus”, a iniciativa começou a integrar companhias africanas. Em Janeiro de 2023, a experiência foi reforçada com um programa de formação de actores. O mês de Maio foi palco de encontros, em Florença e em Paris, entre profissionais dos dois continentes para criar projectos comuns e quebrar fronteiras e estereótipos. Em Paris, as mesas-redondas e encontros aconteceram no âmbito do festival Chantiers d’Europe, promovido pelo Théâtre de la Ville. Emmanuel Demarcy-Mota, director deste espaço, explica que se tenta “reinventar uma cooperação” com o teatro africano e com uma “nova geração” de artistas, nomeadamente em torno da questão de “o que é ser um actor neste século XXI”. Ainda assim, o encenador lembra que o projecto se inspira “nas relações que foram criadas a partir dos anos 70”, nomeadamente com o trabalho do britânico Peter Brook no continente africano, em que participou, também, o português João Mota. Paralelamente, em 2020, o Théâtre de la Ville lançou a chamada "Trupe do Imaginário" para se fazerem “consultas poéticas, musicais e dançadas”. O projecto começou durante a pandemia como uma forma de ajudar e remunerar profissionais de um sector altamente afectado pela crise sanitária e conta, hoje, com uma centena de artistas a fazerem essas “consultas poéticas” em 25 línguas e em vários países. Além de várias estruturas na Europa, a trupe tem companhias de uma dezena de países africanos, nomeadamente Angola. Ngau Tchiama Diakusekele, directora da companhia angolana de artes “Ngau Moyo Arte e Cultura”, conta que em Setembro, Luanda vai ter novamente “consultas poéticas”, depois de uma primeira edição em Dezembro. Por outro lado, está a ser preparado, para 2024, um festival de teatro com participantes europeus e africanos. Ver o mundo de um ponto de vista africano e descentralizar os discursos e as práticas da criação artística é um dos desafios de uma eventual aliança entre teatros europeus e africanos. A trabalhar nesse sentido está a bissau-guineense Elizabeth Gomis que, no final de 2024, sob a alçada do governo francês, espera ter pronta a "Maison des Mondes Africains" [« Casa dos Mundos Africanos »] em Paris. A ideia surgiu da constatação que “a França é o país europeu que tem a maior diáspora africana”, mas “não há nenhum local para unir, para celebrar e para lembrar”. “Vai haver uma programação pluridisciplinar, com destaque para as artes, porque sabemos que há uma arte contemporânea africana muito forte e que não está nos programas escolares. O angolano Binelde Hyrcan contou-me que estudou aqui [França] e quando quis tratar de temas africanos, os professores não quiseram e ele disse que tem um ponto de vista africano e angolano, não vai estudar um artista contemporâneo clássico europeu. Ou seja, temos de tratar do ensino, da memória e ter uma programação pluridisciplinar, que contemple também o cinema. Temos a Cinemateca África que são mais de 1700 filmes africanos guardados no Instituto Francês, mas estes filmes devem ser mostrados porque são o património de todo o continente e queremos colaborar com esses países”, explicou Elizabeth Gomis. (Reportagem áudio com excertos da música “Bloodflow” de Grandbrothers)
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Angola: "É preciso recolocar as pessoas no centro, através da participação"
5/19/2023
"Em Angola, como noutros lugares onde a guerra civil ou situações de crise social persistem por longos períodos de adversidade e privação, as pessoas não se lamentam nem protestam com a situação de pobreza", escreve a académica angolana, Cesaltina Abreu, no artigo científico "Desigualdade social e pobreza: ontem, hoje e (que) amanhã". Cesaltina Abreu é cientista social em Angola, membro do conselho de política científica da Associação Internacional de Ciências Sociais e Humanas em Língua Portuguesa. "Hoje, nas universidades, as áreas prioritárias são as aplicadas, as tecnologias e as digitais... porque o resto incomoda", aponta a socióloga e engenheira agrónoma. A académica inúmera algumas dificuldades sentidas no campo das Ciências Sociais e Humanas, que continua a não ser uma prioridade em Angola. "Tirar as pessoas do centro é tirar a criatividade e inovação que cada um de nós tem. Essa criatividade não é possível encontrar através de modelos. É preciso recolocar as pessoas no centro, através da participação, mas essa participação exige tempo e hoje não há tempo", descreve. Uma participação que "incomoda as elites políticas, as elites religiosas, apoiadas pelos silêncios e omissões da sociedade", acrescenta. Cesaltina Abreu sublinha, ainda, a falta de preservação das línguas dos vários grupos étnicos angolanos. "Tudo o que é válido está noutra língua. Este país tem não sei quantas línguas de vários grupos e, ao fim de cinco décadas, Angola ainda não conseguiu adoptar um plurilinguismo, que poderia ter numa primeira fase o bilinguismo o português e a língua local, como língua obrigatória. Mais cedo ou mais tarde isto vai acontecer, mas entretanto já perdemos muito tempo e excluímos muita gente", aponta. Questionada sobre os traumas colectivos em Angola, Cesaltina Abreu acredita existir "uma cultura de medo. Vamos buscar, o tempo todo, fantasmas do passado. No fim da guerra, a 4 de Abril 2002, usa-se o termo paz efectiva, mas a paz não é o fim da guerra, paz é muito mais do que isso. Seria um processo de construção de uma memória social a partir de memórias colectivas. Isso não seria um processo fácil porque iria criar momentos muito difíceis do ponto de vista dos sentimentos, dos traumas, mas a melhor maneira de lidar com os traumas é enfrentá-los e não fazer de conta que eles não existem", prossegue. Cesaltina Abreu lamenta que as promessas do Movimento de Libertação Colonial tenham ficado por cumprir; "nas promessas estava a participação das pessoas, através de referendos, na forma de pensar e de organização política e administrativa. Não me venham dizer que é ocidental, mas os Camarões, Nigéria e África do Sul conseguiram encontrar, ao seu jeito, uma forma de fazer a distribuição e a organização da política e da economia de forma a respeitar as culturas existentes, tão maltratadas no período colonial e entre si".
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Fondation Villa Datris homenageia arte cinética no sul de França
5/18/2023
A Fondation Villa Datris, em Isle-sur-la-Sorgue, no sul de França, tem patente, de 19 de Maio a 1 de Novembro, a exposição “Mouvement et Lumière” [“Movimento e Luz”] com obras de 60 artistas. A exposição é uma homenagem aos precursores, protagonistas e herdeiros da arte cinética e junta obras, por exemplo, de Jesús-Rafael Soto, Victor Vasarely, Julio Le Parc e Olafur Eliasson. O brasileiro Jaildo Marinho também apresenta duas peças e esteve à conversa com a RFI. A mostra “Movimento e Luz”, na Fondation Villa Datris, em Isle-sur-la-Sorgue, propõe uma imersão na arte cinética, dos seus primórdios aos ecos mais actuais. A exposição começa com a imersão num dos “penetráveis” do artista venezuelano Jesús-Rafael Soto, um convite para o visitante se perder nos meandros do movimento de imensas linhas verticais azuis dentro de um cubo sem paredes ao ar livre. Ao lado, está uma escultura de Jaildo Marinho, em mármore e com ligeiros toques de cor, a sugerir movimento e a questionar a aparente permanência das formas geométricas. Estas duas obras dão, logo na entrada, o tom lúdico a uma exposição imersiva e contemplativa que ocupa três andares de uma casa oitocentista e, depois, o seu próprio jardim. “Mouvement et Lumière” junta obras de protagonistas da arte cinética dos anos 50, como Jesús-Rafael Soto, Victor Vasarely e Yaacov Adam, assim como da Op Art e da arte minimalista dos anos 60, como Julio Le Parc, Bridget Riley, François Morellet e Dan Flavin. A mostra não esquece um dos pioneiros das experimentações do movimento e da luz, Alexander Calder, para chegar aos herdeiros de hoje, com peças de Philippe Parreno, Xavier Veilhan, Olafur Eliasson, Marina Apollonio, Andrea Bowers, Elias Crespin, Jaildo Marinho, entre tantos outros. Dez anos depois de uma primeira mostra homónima dedicada a este movimento, a fundação repete a aposta, orientando as escolhas das obras com temas que ecoam com 2023, como a urgência ecológica e a omnipresença da tecnologia. Algumas salas são dedicadas integralmente a uma obra para uma imersão completa e um contacto no escuro com formas móveis, florescentes e poéticas, como “Sphère Bleue” [2013] de Julio Le Parc ou “TriAlineados Fluo Vert” [2016] de Elias Crespin. O brasileiro Jaildo Marinho, a residir em Paris há 30 anos, já tinha participado na primeira exposição em 2013, voltou a ser convidado e apresenta duas obras. A primeira acolhe o visitante à entrada, no exterior, em frente à peça monumental de Jesus Rafael Soto. “Tres Stelas, Bonnieux” é uma escultura em grande formato, em mármore de Carrara, em que três quadros parecem ter sido apanhados em flagrante movimento diagonal em cima de uma base maciça rectangular. A versão inicial era feita de resina e, na altura, os fundadores da Villa Datris, Danièle Marcovici e Tristan Fourtine, encomendaram-lhe uma peça semelhante em mármore. “Foi aí que eu tomei a decisão de fazer o diálogo entre os quadrados, onde tem um jogo de diagonais que vem enquadrar o vazio. O mármore representa a eternidade e a cor vinha dar um toque mais contemporâneo, mas que representava a vida e que um dia iria desaparecer”, explica o artista. O mármore já faz parte do seu ADN, assim como a transformação deste material pesado em algo aparentemente leve. “O meu trabalho é uma leveza de toneladas”, resume o artista, acrescentando que também altera o carácter austero e frio do mármore com os apontamentos de cor capazes de lhe darem uma “outra temperatura”. Por isso, Jaildo Marinho nega que o mármore seja clássico, ainda que tenha um carácter de eternidade. Tanto é que, para ele, Auguste Rodin “foi o pai da arte moderna”, assim como Brancusi. Mais uma vez, o mármore resiste ao tempo, persiste nos ateliers e “nunca vai envelhecer” porque “o que muda é o conceito e as técnicas e sempre será uma matéria actual e inspiradora”. A outra peça que apresenta na Fundação Villa Datris é uma pintura que questiona a própria noção de pintura. Ainda que ele diga que alguns colecionadores olham para a sua...
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Artista português Add Fuel tem nova exposição em Paris
5/12/2023
O artista português Diogo Machado, conhecido como "Add Fuel", volta a expor na Galerie Itinerrance, em Paris, de 12 de Maio a 17 de Junho. A mostra individual chama-se "Iter" e é uma viagem a um universo gráfico que reinventa a azulejaria tradicional portuguesa com referências contemporâneas e urbanas. Neste programa, Diogo Machado faz-nos uma visita guiada à exposição "Iter" que inaugura esta sexta-feira na Galerie Itinerrance, em Paris. A conversa acontece num espaço dominado pelos seus azulejos, obras que bebem da tradição mas que se reinventam com novos padrões, formas e formatos, cores e dimensões. A mostra conta com cerca de 70 peças, nomeadamente quatro paredes "rasgadas", painéis de cerâmica, esculturas e pinturas habitadas por um universo gráfico e cromático inesperado e, muitas vezes, em "trompe-l'oeil". Desconstruir, experimentar e questionar são algumas das linhas de força do artista português que agora apresenta a segunda exposição individual na Galerie Itinerrance. Em 2019, a galeria já tinha apresentado a mostra “Deuxième Désintégration” e apoiado a criação de dois murais monumentais no bairro conhecido como "museu ao ar livre" e cujos prédios têm fachadas pintadas por nomes internacionais da arte urbana como Shepard Fairey, Invader, D*Face e os portugueses Vhils e Pantónio. [De notar que a exposição conta mesmo com uma obra assinada por Add Fuel e Shepard Fairey.] Foi também neste bairro, o 13° de Paris, que, em 2013, Add Fuel participou no projecto Tour Paris 13, um prédio transformado num museu de arte urbana efémera por uma centena de artistas. Oiça aqui a conversa.
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Start-up moçambicana quer biovaletas sustentáveis em Maputo
5/9/2023
A arquitecta moçambicana Khiusha Uaila é a mentora da Xi Bassile, uma start-up que quer implementar biovaletas com materiais reciclados para uma gestão mais sustentável das águas pluviais. A iniciativa chegou à final da ClimateLaunchPad, uma competição internacional que apoia ideias de negócios verdes. O objectivo, agora, é implementar o projecto-piloto num bairro de ocupação informal em Maputo. O projecto Xi Bassile nasceu durante o mestrado,na Irlanda, da jovem moçambicana Khiusha Uaila, no âmbito do curso de Arquitectura, Urbanismo e Acção Climática. Antes disso, ela formou-se como arquitecta e urbanista na Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil. Depois dos estudos no estrangeiro, Khiusha Uaila voltou para Maputo, onde tem trabalhado como arquitecta e agora quer implementar um projecto que ajude a gerir a água da chuva e as inundações. “RFI: O que é a Xi Bassile?” Khiusha Uaila, Arquitecta: “A Xi Bassile é uma empresa social, é uma ‘start-up’ que está agora na sua fase de pesquisa e desenvolvimento de produto. Temos a missão de focar em soluções sustentáveis e baseadas na natureza para resolver problemas urbanos. Focamos agora, principalmente, na gestão de águas fluviais com a solução da biovaleta e, também, com uma solução de um kit simplificado de recolha de água da chuva. A intenção, à medida que a gente for crescendo, é trabalhar com diversas outras soluções, incluindo consultoria em projectos urbanos.” “Em que consiste essa biovaleta sustentável?” “Essa biovaleta foi um produto do meu mestrado. Biovaletas são soluções que já existem há algumas décadas, apesar de não serem ainda a solução mais recorrente. É um sistema de gestão de águas pluviais que utiliza os solos e a vegetação para absorver e também para filtrar a poluição das águas da chuva. É uma solução mais sustentável que está baseada na natureza e também ajuda na regeneração ambiental, além de reproduzir o ciclo natural da água, mantendo um ecossistema um bocadinho mais equilibrado em comparação com as soluções mais convencionais de engenharia que a gente tem nas cidades e que simplesmente têm o objectivo de retirar a água da chuva das áreas urbanas o mais rápido possível.” “A biovaleta também usa material reciclado?” “Isso é a inovação da nossa valeta na Xi Bassile porque reutilizamos resíduos sólidos - podem ser garrafas Pet, podem ser betão reciclado de lixo de construções e demolições - como elementos constitutivos dentro do sistema da biovaleta para aumentar a porosidade do sistema e, assim, aumentar a capacidade de absorção e aumentar a capacidade de armazenamento temporário dessa água da chuva, reduzindo a inundação e água estagnada nas superfícies das ruas. Então, é uma solução de baixo custo, sustentável e baseada na natureza. É uma abordagem completamente diferente do que tem sido feito ultimamente nas cidades moçambicanas e que se baseava em estruturas feitas em betão, que também é um material poluente, que no seu processo de fabricação emite bastantes gases que contribuem para as mudanças climáticas. A gente tenta buscar uma abordagem mais sustentável para resolver esses problemas urbanos que são tão recorrentes nas cidades moçambicanas, infelizmente.” “Relativamente ao kit de recolha de águas das chuvas, as pessoas poderão ter acesso a este kit?” “Na verdade, é uma versão simplificada de armazenamento de água da chuva, mas que tem uma componente de filtragem. Utiliza areia e membranas geo-têxteis para armazenar e filtrar a água da chuva. Muitas vezes, é um grande problema quando se trata de recolher água da chuva porque essa água recolhida vem cheia de sujidades e isso restringe um bocadinho a utilização daquela água. Esta é uma solução que foi inspirada num estudo desenvolvido pela Universidade de Brasília que estudou diferentes materiais alternativos e de baixo custo para soluções de drenagem e de gestão de água. Com base nisso, a nossa ideia é fazer um projecto-piloto onde se faz a implementação dessas duas soluções em paralelo: a...
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Carlos III coroado de forma "sóbria" numa altura em que monarquia "é contestada"
5/6/2023
O rei Carlos III vai ser hoje coroado na Abadia de Westminster, em Londres, sob os olhares atentos de milhões de pessoas em todo o Mundo, mas num clima de sobriedade face à coroação da sua mãe, a rainha Isabel II, há 70 anos, e numa altura em que a monarquia "é contestada" no Reino Unido. Mesmo se a coroação de Carlos III que desenrola hoje na capital britânica vai contar com todos os momentos-chave que se espera de uma celebração nacional deste nível como a procissão do rei até à igreja pelas ruas de Londres na carruagem real, o momento em que o rei se senta no Cadeira da Coroação, mandada fazer no ano 1300 - onde será colocada a Pedra do Destino - ou o seu juramento, este não vai ser um reinado fácil para o novo monarca. "Carlos III é um homem deste tempo, preocupado com as questões ecológicas, mas há cada vez mais quem conteste a própria ideia de monarquia e ele vai te ruma tarefa muito difícil que é tornar a monarquia mais viável, não intervir politicamente, modernizar e simplicar", afirmou Helder Macedo, professor Emérito da King's College, no Reino Unido, em entrevista à RFI. Ao contrário da coroação de Isabel II em 1953, que se desenrolou "pouco depois do fim da guerra" e contribuiu para a "reafirmação da identidade britânica" contando com 8.000 convidados vindos de todos os cantos da Commonwealth e do Mundo, não só a lista de convidados de Carlos III é mais restrita, como a própria cerimónia envolta em pompa e circuntância foi encurtada de três horas para uma hora a pedido de Carlos III. Este é um rei que teve "uma longa aprendizagem", dado o longo reinado da sua mãe, que vai enfrentar vários problemas. Desde logo, questões familiares com a o filho Harry e a nora a terem-se distanciado da coroa britânica há alguns anos acusando a família real de pressões e comentários racistas. Também o irmão do novo rei, o príncipe Andrew, está numa posição frágil após suspeitas de envolvimento em alegados abusos sexuais de menores com o seu amigo magnata Jeffrey Epstein. Também o ambiente no país não está propício para grandes festas, devido à instabilidade política gerada no pós-Brexit, uma situação "diabólica" para Carlos III, que apesar de não ter qualquer intervenção política activa, deve assegurar a estabilida da Nação. "É uma crise política diabólica. Ninguém fala, é como um elefante na sala, mas o Brexit criou condições totalmente absurdas e o Reino Unido está em grande decadência económica, na sua importância mundial e, de certa maneira, esta coroação é um ritual afirmativo e já com um certo elemento de saudosismo", declarou Helder Macedo. Esta é uma coroação que acontece também num momento em que alguns países como a Jamaica e Belize manifestaram interesse em sair da Commonwealth, destabilizando esta organização tem como líder o monarca britânico.
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Pioneiro do reggae na Guiné-Bissau quer despertar consciências
5/3/2023
Masta Collie, nome artístico de Serifo Sagna, foi pioneiro da música reggae na Guiné-Bissau, descreve-se como “um dos artistas mais revolucionários” da sua geração e considera que a música tem de servir para despertar consciências. Conta que foi obrigado a fugir do seu país devido à sua música e foi na Bélgica que formou um novo grupo, os "Masta Lions", que estiveram na RFI. O grupo Masta Lions nasceu em 2021 na Bélgica, graças ao encontro do "pioneiro do reggae na Guiné-Bissau" com músicos belgas. As músicas são escritas, compostas e cantadas por "Masta Collie" e falam de temas africanos em mandinga, crioulo, inglês e francês. “Venho de um país onde a miséria ninguém pode explicar. A África também é um continente onde eu vivi quase toda a minha infância. Cantamos tudo, cantamos o que vivemos”, começa por contar Masta Collie, nome artístico de Serifo Sagna. O cantor e compositor bissau-guineense encara a música como uma forma de despertar consciências, “sobretudo dos jovens”, e interessa-se pelas pontes entre a música tradicional africana, nomeadamente guineense, e o reggae. Desde logo porque o reggae é considerado como uma música militante e a Guiné-Bissau teve grandes artistas com mensagens políticas “e que arriscaram a vida para defender as cores da bandeira nacional”, como José Carlos Schwarz e os Super Mama Djombo. “Mas chegou um momento em que isto desapareceu. O gumbé falava mais do amor, da dança… Chegou um momento em que a juventude ficou saturada e queria uma coisa nova. Eu, com o meu estilo rasta e com as minhas palavras de esperança, tentei consciencializar o povo mais jovem”, acrescenta, sublinhando que foi “o pioneiro da música reggae na Guiné-Bissau”. Serifo Sagna nasceu em Farim, no norte da Guiné-Bissau, lançou-se no mundo da música aos 15 anos e gravou três discos: “Sorry Mama”, “Políticos Falhados” e “Guiné-Comores”. Em 1998, a guerra civil obrigou-o a deixar o país, ao qual regressaria mais tarde e do qual teve de voltar a sair, em 2005, desta vez devido à sua música. “Sou um dos artistas mais revolucionários da minha geração”, resume o músico, contando que chegou a ser alvo de “uma tentativa de assassinato” depois de uma das suas músicas ter sido usada durante a campanha para as presidenciais. O grupo Masta Lions vai participar, a 5 de Maio, no Festival l’Afrique en Couleurs, em Bruxelas. Veja aqui a entrevista ao vivo na RFI.
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Neto e avó fabricam sapatilhas de canábis em Portugal
4/26/2023
Bernardo Carreira e a sua avó estão a escrever um novo capítulo no mundo dos negócios “made in Portugal”. A dupla criou as primeiras sapatilhas do mundo feitas com flores de canábis, as “Weedo”, e vai lançar uma edição limitada a 100 pares. Cada par é feito com meio quilo de canábis, demora até 30 horas a ser criado totalmente à mão e vai custar 1.000 euros. Bernardo Carreira contou a história à RFI. Chamam-se sapatilhas “Weedo” e, como o nome indica, são “as primeiras sapatilhas do mundo feitas de CBD Weed”, ou seja, “canábis medicinal”, conta Bernardo Carreira, co-fundador da “startup” 8000Kicks. Por outras palavras, segundo o seu criador, são “sapatos feitos 100% de erva para fumar”. A empresa portuguesa era especializada no fabrico de sapatos feitos em cânhamo, mas agora, em vez de ter a fibra de canábis como matéria-prima, a flor da planta é que é mesmo a base. Esta é uma história que inclui uma avó a celebrar 80 anos, um “grinder industrial”, “o maior banco de sementes de canábis da Europa” e um transporte de canábis para uma localidade portuguesa. “É canábis 100% legal. É mesmo para fumar, só que nós em vez de o usarmos para fumar, usamos para fazer sapatos”, explica o empreendedor, de 29 anos, à espera da próxima pergunta que já lhe fizeram inúmeras vezes mas que sabe incontornável: “Nesta sociedade de consumo, esses ténis fumam-se?” A resposta é imediata e plena de boa disposição, como o resto da entrevista: “Tecnicamente, os sapatos não são para fumar, mas as pessoas podem agarrar no sapato, raspar o CBD do sapato e fumar o sapato. Cada um faz o que quiser com o sapato!” Porém, esta é uma colecção “muito exclusiva” e seria um desperdício fumar as sapatilhas, avisa Bernardo. As "Weedo" fazem parte de uma edição limitada de 100 pares. Cada par é feito com cerca de 500 gramas de canábis, sendo que “os sapatos mais pequenos consomem menos que os maiores”, e são precisas 30 horas de trabalho para a realização totalmente manual do sapato. Por isso, os ténis vão custar 1.000 euros, mas já há perto de 5.000 inscrições online… A confecção das primeiras sapatilhas do mundo com flores de canábis são apenas o mais recente episódio de uma história familiar que começou em 2019. Foi o ano em que Bernardo regressou a Portugal, “o país dos sapatos”, e convenceu a avó, Maria Otília, a ajudá-lo graças à sua experiência de 50 anos no têxtil. Da colaboração acabaria por nascer a “startup” 8000Kicks, focada no fabrico de sapatos de cânhamo, “a fibra natural mais resistente e sustentável do planeta”, também proveniente de canábis. O tecido feito de cânhamo tem inúmeras vantagens do ponto de vista ecológico. Para o produzir, é utilizada cinco vezes menos água do que a necessária no cultivo do algodão e não necessita de pesticidas ou herbicidas para crescer. As sapatilhas de cânhamo de etiqueta portuguesa são o núcleo da criação, mas o catálogo inclui botas e mochilas de cânhamo impermeável. Em Novembro do ano passado, foi aberta a primeira loja da marca, em Lisboa. Quanto aos próximos passos, Bernardo avisa que há “umas ideias mais malucas para o final do ano”…
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Manifesto “Todas Sabemos” quer criar “rede de solidariedade” contra abusos
4/20/2023
Cerca de 850 pessoas assinaram, em uma semana, o manifesto “Todas Sabemos” que pretende criar uma “rede de solidariedade” e levar o governo português a criar mecanismos de prevenção, denúncia e protecção contra assédio moral e sexual. O manifesto vai ser publicado em francês porque se trata de uma causa transversal, explicam algumas das co-autoras que vivem em Paris. Uma semana depois da sua publicação, 850 académicos, artistas e outros profissionais do sector cultural e científico assinaram o manifesto “Todas Sabemos”, publicado a 14 de Abril no portal Buala. Trata-se de um texto que manifesta “total solidariedade” com as autoras do artigo “The walls spoke when no one else would: Autoethnographic notes on sexual-power gatekeeping within avant-garde academia”, publicado no livro “Sexual Misconduct in Academia: Informing an Ethics of Care in the University”, da editora britânica Routledge. O artigo, de três ex-investigadoras do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, denunciava casos de assédio moral e sexual no seio da instituição e levou o centro a criar uma comissão independente para investigar as alegações. O director emérito do CES, Boaventura de Sousa Santos, disse, em comunicado, que vai processar as autoras do artigo por difamação e nega as acusações. O manifesto “Todas Sabemos” expressa “total solidariedade” com outras vozes que, entretanto, vieram a público e “com todas as pessoas sujeitas a abusos de poder e outras formas de violência em contexto académico e fora dele”. O texto foi redigido a muitas mãos e também por três professoras que vivem em Paris: Luísa Semedo, professora de Filosofia, Maria Benedita Basto, professora de Estudos Lusófonos na Universidade Paris Sorbonne, e Raquel Schefer, professora de Estudos Cinematográficos na Universidade Sorbonne Nouvelle que falaram com a RFI. O manifesto já tem uma versão em inglês e vai ser publicado em castelhano e em francês “porque o problema de abuso moral e sexual na Academia, violência e violência de género é transversal a todas as instituições, mas também acontece em todos os países”, explica Raquel Schefer. O documento quer, também, contribuir para “uma reflexão sobre as questões mais profundas que continuam a existir na sociedade portuguesa, e não só, e que levam a que esses casos e situações aconteçam”, diz Maria Benedita Basto. “O texto tenta reflectir sobre a maneira como as divisões e a existência dessas hierarquias tão marcadas no seio da academia – como no seio de outras instituições, não é um problema exclusivo da academia – depois se reflectem em práticas de abuso de poder que podem ter múltiplas declinações”, acrescenta Raquel Schefer. Será que se está perante o início do movimento #MeToo em Portugal? Luísa Semedo diz que “teria de ser um movimento muito mais forte”, mas que “já dá para ver que são as mesmas estruturas e as mesmas estratégias de evitar a verdadeira questão” que se verificaram em diversos países. O manifesto começa por invocar “total solidariedade” com as autoras do artigo “As paredes falam quando mais ninguém o fez” e sublinha que “as repetidas e persistentes situações abusivas que o texto retrata, longe de serem episódicas ou um ataque concertado de difamação pessoal, institucional ou política, devem ser interpretadas como uma crítica a dinâmicas institucionais sistémicas, comuns dentro e fora da academia”. É o que sublinha a investigadora Maria Benedita Basto ao dizer que “a questão é muito mais extensa e transversal”: “Convém alertar as pessoas que não estamos a falar, nem a acusar, um centro em particular e uma situação em particular, mas que é o momento de aproveitar o que está a acontecer para uma reflexão mais global, mais geral e mais transversal e, dessa forma, realmente criar uma acção porque a ideia também é de agir e tentar mudar alguma coisa”. A investigadora salienta que o manifesto foi criado para “criar uma rede de solidariedade e apoio” e “preparar, eventualmente, uma intervenção junto de...
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Ver "Debaixo do Tapete" para combater o racismo
4/6/2023
A história da família de Catarina Demony não é única em Portugal, mas enfrentar essa história, que muitos gostariam que ficasse debaixo do tapete, e com ela fazer um documentário que a partir do passado esclavagista questiona a actualidade, já é algo único.Quando tinha aproximadamente 18 anos, Catarina descobriu que era descendente dos Matoso de Andrade e Câmara, que foram dos maiores comerciantes de pessoas escravizadas em Angola entre o século XVIII e XIX. A partir da história dos...
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“Last Things”: um filme em que “as rochas são as contadoras de histórias”
3/29/2023
O filme “Last Things”, da artista e cineasta Deborah Stratman, com co-produção portuguesa, é uma das obras em competição no Festival Internacional do Documentário Cinéma du Réel, em Paris. “Last Things” fala sobre a evolução e a extinção do ponto de vista das rochas e da geobiosfera, onde a vida perdura mesmo após o desaparecimento dos humanos. “As rochas são as contadoras de histórias”, resume Deborah Stratman à RFI. A conversa, no Centro Pompidou, onde decorre o Cinéma du Réel, começa com...
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Anna Setton promete um “futuro mais bonito"
3/28/2023
Em tempos conturbados, a cantautora brasileira Anna Setton acredita que “O futuro é mais bonito” e fez questão de assim baptizar o novo disco. O álbum tem como ADN a Música Popular Brasileira, cruzada com as lembranças de clubes de jazz onde actuou e com outros registos mais contemporâneos, mas as letras têm Portugal como inspiração. “O futuro é mais bonito” vai ser apresentado no Studio de L'Hermitage, em Paris, a 18 de Abril, e em Lisboa, Bruxelas e Madrid também em Abril. RFI: “’O futuro...
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Vítimas de violência policial em Moçambique vão apelar à União Africana e à ONU
3/22/2023
Quitéria Guirengane, uma das organizadoras das marchas de homenagem ao rapper Azagaia, afirma que os manifestantes em Maputo sofreram terrorismo por parte do Estado e que vai apelar à União Africana e às Nações Unidas para sancionar Moçambique pela violência policial usada contra os seus cidadãos. As manifestações de domingo de homenagem ao rapper Azagaia em Moçambique fizeram vários feridos graves, entre eles duas pessoas perderam um olho, vários tiveram a cabeça partida e pelo menos um manifestante foi atropelado sem qualquer socorro por parte das autoridades. Quitéria Guirengane, que não só ajudou a organizar as manifestações, mas participou também na marcha em Maputo, garantiu que estas foram marchas aprovadas na maior parte das províncias. No entanto, ao chegar ao local, o clima era tenso desde o ínicio. "A polícia disse-me 'nós sabemos que vocês estão legais, mas nós temos ordens superiores e temos que defender o nosso pão". Eu disse que nós tínhamos de defender a nossa dignidade e começámos a sentir a preparação para os confrontos. Começaram a lançar gás lacrimogéneo e a disparar contra os cidadãos, mesmo contra quem usava os transportes públicos e dentro de casas", descreveu a activista. Os organizadores consideram que houve uma emboscada contra quem pensa de maneira diferente no país. "O que nós vivemos no dia 18 de março foi um verdadeiro terrorismo de Estado e o acender de uma revolta popular sem precedentes nem paralelo na história de Moçambique, uma situação de emboscada que nos foi criada por pessoas que não admitem que haja moçambicanos com consciência própria", declarou Quitéria Guirengane Quitéria Guirengane espera agora uma acção forte por parte da comunidade internacional face à utilização de violência policial para reprimir as homenagens ao rapper Azagaia em Moçambique, com as vítimas a recorrerem a todas as instâncias nacionais e internacionais para verem reconhecidos os maus tratos pela polícia. "Não pode haver impunidade, a culpa não pode morrer solteira. Não se pode governar de forma criminosa, isto foi um golpe contra o Estado de direito democrático. nós vamos avançar com acções criminais e civis pedindo indemnizações para as vítimas, contra a ministra do Interior, contra o Comandante Geral da Polícia, para que eles venham dar o rosto pelas orden superiores. Ações contra o Presidente da República por acção e inacção. Vamos intentar acções dentro do país, mas também vamos usar os mecanismo especiais da União Africana e das Nações Unidas", assegurou a activista.
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“Soldado Nobre”: Filmar o "limbo" entre memória viva e História oficial
3/13/2023
"Soldado Nobre" é um documentário sobre um homem que combateu na Primeira Guerra Mundial, em França, e que, como muitos "soldados desconhecidos", não é "sequer uma nota de rodapé na história". O filme tem estreia a 13 de Abril em Portugal e é uma viagem iniciática do realizador Jorge Vaz Gomes em busca das suas raízes e da história do bisavô, Francisco Nobre, um anónimo entre tantos que foram combater longe da terra sem saberem porquê. Apaixonado pelo passado - e ainda mais quando o próprio...
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Francês Yves Léonard com novas obras sobre a História de Portugal
3/10/2023
Yves Léonard é um historiador francês, especialista de Portugal, com, na forja, novo livro sobre a "Revolução dos cravos" que deve ser lançado a 7 de Abril. Já nas livrarias desde 2022 consta uma obra sobre a construção do sentimento de nação em Portugal, publicado pela editora Tallandier, "Histoire de la nation portugaise". O autor resumiu à RFI os principais ensinamentos da mesma. Yves Léonard, o autor de "Histoire de la nation portugaise", livro que será brevemente traduzido para...
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Guiné-Bissau: Aristides Gomes recorre ao Tribunal Africano dos Direitos Humanos
3/3/2023
O antigo primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, depois de ter apresentado queixa junto da justiça do seu país vai interpor um processo junto do Tribunal Africano dos Direitos Humanos. O político, actualmente radicado em França, denuncia uma tentativa de rapto aquando da sua participação em Novembro de 2022, na capital guineense, no congresso do PAIGC. RFI: Qual é o seu estatuto ? Está radicado em França? O senhor tem, mesmo, a nacionalidade francesa ? Aristides Gomes: Sim estou radicado em França. Não tenho a nacionalidade francesa, mas sempre vivi cá. Formou-se cá [em França], viveu cá várias vezes ao longo da sua vida ! Formei-me cá e tenho os meus filhos que nasceram cá e que são franceses. Eu nunca pedi a nacionalidade. Mas enfm... Isto apesar de, segundo a lei, ter o direito: por casamento e pela situação dos meus filhos, etc. No entanto, apesar de estar em França, o senhor primeiro-ministro deu a entender que, obviamente, se interessava pelo que estava a acontecer no seu país natal, que está na perspectiva de eleições que deveriam ter lugar, agora, a 4 de Junho de 2023. Já houve várias datas, a Assembleia também já foi dissolvida há largos meses. O senhor interessa-se, vai votar, pelo menos ? Vou votar. Fui fazer o registo nas listas eleitorais há dias, aqui, em Paris, portanto vou votar. Eu gostaria de estar presente na Guiné-Bissau, por ocasião das eleições e participar na campanha eleitoral. Mas, infelizmente, pelos vistos, o regime não quer que eu esteja presente, portanto eu vou apoiar o meu partido e vou votar no exterior. Diz que tem dúvidas sobre o facto de que poderá ser recebido no seu país natal. O certo é que, ainda assim, o senhor lá esteve. Em Novembro participou no Congresso do PAIGC, uma força à qual aderiu em 1973, apesar do parêntesis do PRID, mas voltou ao PAIGC há largos anos. O que é que aconteceu, exactamente ? E quais são as consequências do que terá ocorrido ? Apresentou queixa, aonde ? Na justiça guineense por tentativa de rapto? Apresentei. É a segunda vez que apresento queixa na justiça guineense. E é a segunda vez que terei de recorrer à justiça internacional. Pela primeira vez apresentei na Guiné e no Tribunal da CEDEAO [Comunidade económica dos Estados da África ocidental]. Desta vez apresentei na Guiné-Bissau, estava à espera da reacção da instituição judicial, que não reagiu já lá vão três meses. Por conseguinte, já estou a preparar uma queixa para o Tribunal Africano dos direitos humanos. O que aconteceu é que fui ao Congresso. Foi no mesmo dia que eu cheguei. Estive no aeroporto, saí do aeroporto, fui almoçar, fui à sala do Congresso, e por volta das 21 e 30 da noite, aparece um grupo, do Ministério do Interior, um grupo de paramilitares ou de militares, encapuçados, gente encapuçada, armada até aos dentes, com coletes à prova de balas, que veio para me raptar. Quando viu surgir essas silhuetas o que é que lhe ocorreu ? Eu estava à espera que alguma coisa acontecesse, porque quando eu cheguei a Lisboa, na quarta-feira, devia seguir para Bissau na quinta-feira, havia um voo da TAP. Na quinta-feira não fui porque tive alguma informação em como a minha presença era indesejável. Na quinta-feira tive a informação em como teria havido polícias que se apresentaram no guichet da TAP no aeroporto, pedindo a lista dos passageiros para ver se o meu nome constava na lista. Portanto eu já sabia que a minha presença era uma presença incómoda. Ainda assim eu insisti e fui na sexta-feira. Porque eu não estava a querer aceitar que, tendo ficado nas Nações Unidas durante onze meses e que a justiça guineense não conseguiu provar nada contra mim, aliás, não foi a razão pela qual eu teria ido às Nações Unidas: fui às Nações Unidas por iniciativa das Nações Unidas e das forças da CEDEAO que estavam presentes e que me protegiam. Mas como depois do Sissoco [Umaro Sissoco Embaló, presidente da república] assumir o poder, pela maneira como assumiu, mandou embora as forças da CEDEAO. Então em...
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Filho da emigração homenageia “a odisseia” dos portugueses
2/28/2023
O livro “Une Odyssée Portugaise (Presque Ordinaire)” conta a história de um homem e, através dele, de milhares de portugueses que deixaram o país durante a ditadura. O seu autor é Mário Queda Gomes que transforma o pai num herói de carne e osso: um homem do povo que passou a infância numa aldeia portuguesa perdida, pequena e mesquinha, na década de 50, que começa a trabalhar em criança e cujas aventuras em busca de uma vida melhor o levam para Lisboa, Angola e França. Oiça aqui a entrevista. RFI: "O Mário veste a personagem do seu pai, Carlos, e conta a história da vida dele como quem dá um murro na mesa e no estômago. Porque é que decidiu escrever este livro?" Mário Queda Gomes, Autor de “Une Odyssée Portugaise (Presque Ordinaire)”: "São histórias que eu ouço desde pequeno à mesa, ao domingo. O meu pai conta histórias de quando era criança na Beira Alta, de quando começou a trabalhar em Lisboa e, mais tarde, quando chegou a Angola e quando chegou à França em 1975. São aventuras. Quando leio, gosto de livros com aventura, com humor, com uma parte cómica. Eu achei que a história do meu pai era perfeita para ter um livro com muita aventura e humor." "Porque é que o livro se chama 'Uma Odisseia Portuguesa (Quase Normal)'?" "Foi complicado encontrar o título certo. Primeiro chamava-se “Le Roman de Carlos”, mas a editora não gostou e tivemos que pensar num outro título. Este título, “Uma Odisseia Portuguesa”, abre o campo de possibilidades. Em vez de focar na história no meu pai, a ideia era focar na história de milhares de portugueses que viveram também a mesma aventura. E, porque não também - porque, hoje em dia, a imigração continua a ser um tema de actualidade - através do meu pai falar dos portugueses, mas também de todos as pessoas que um dia deixaram o país para vir, por exemplo, para França." "E porque é que assumiu a pele do seu pai enquanto narrador?" "Isso também foi uma escolha bastante natural porque eu adoro a maneira como o meu pai conta histórias. Eu tentei reproduzir um pouco do talento oral do meu pai. Quando ele conta essas misérias, ele põe o pessoal a rir, portanto, eu tentei, quando escrevi, reproduzir essa maneira de falar muito portuguesa e de retratar o passado do meu pai mas com humor." "Há muito sarcasmo a acompanhar relatos de violência de pais contra filhos, de homens contra mulheres, de crianças contra crianças, de vizinhos contra vizinhos, de portugueses racistas e machistas contra angolanos e angolanas, de portugueses contra os retornados, de franceses contra os portugueses, etc, etc. E, às vezes, fica-se com um amargo na boca e pensa-se: será que ele está a denunciar ou a justificar?..." "Essa foi a parte complicada para ter ali um equilíbrio, para tentar retratar aquilo que é a realidade ou que foi a realidade. Essa foi a parte complicada, de facto, porque os portugueses em Angola não foi uma missão filantrópica. Ao mesmo tempo, eu sinto que quando o meu pai fala de Angola fala com nostalgia, que ele gostava mesmo de Angola. São os mais belos anos da vida dele quando estava em Angola, mesmo na tropa, gostou também dessa fase da vida dele. Foi essa a dificuldade, de arranjar ali um equilíbrio para denunciar, mas com ironia. Ou seja, dizer por vezes o contrário daquilo que se pensa, mas acabar por dizer aquilo que eu pensava através do meu pai e outras personagens." "Faz questão de misturar referências bíblicas, ditados populares portugueses, figuras dos mitos do Império, referências musicais e literárias portuguesas. Há, também, palavrões e uma linguagem assumidamente coloquial. Escreve em francês, mas as referências e os insultos são em português. Porquê este cruzamento de registos?" "Primeiro, porque gosto muito da cultura portuguesa. Eu sou professor de português aqui em França e tenho essa missão de, de certa forma, promover a cultura portuguesa junto dos meus alunos. Quando escrevi o livro, acho que guardei essa mentalidade de tentar promover aquilo que é nosso, português, e escrevi em francês...
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Filme sobre cantora do Maio de 68 ecoa com a França de hoje
2/13/2023
O documentário “N’Effacez pas nos traces ! Dominique Grange, une chanteuse engagée” dá voz a uma das vozes mais conhecidas de Maio de 1968 e vai estrear-se nas salas francesas a 22 de Fevereiro. O filme tem ante-estreia a 21 de Fevereiro, no Forum des Images, em Paris, e ecoa com os protestos de hoje contra a reforma do sistema de pensões em França. Depois de um filme dedicado a José Mário Branco, um dos ícones da canção de intervenção portuguesa [“Mudar de Vida, José Mário Branco, Vida e...
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