
Report about Brazil and Africa
RFI
Reportagens de nossos correspondentes no continente africano sobre fatos políticos, sociais, econômicos, científicos ou culturais, ligados à realidade local ou às relações dos países com o Brasil.
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Estilista brasileira exalta moda da África para reconquistar juventude local
8/13/2023
Nas grandes cidades africanas é possível ver, cada vez mais, pessoas nas ruas usando réplicas de roupas e acessórios de famosas grifes ocidentais, jeans, moletons, bolsas, entre outros. Produtos originais também são encontrados, mas os falsos são mais baratos e, com isso, mais populares. Peças coloridas consideradas tradicionais do continente africano são menos procuradas pelos mais jovens, fato que a estilista brasileira Rita Cazergues lamenta: “Os africanos são coloridos, são alegres e a moda africana tem uma história”, frisou.
Vinícius Assis, correspondente da RFI em Joanesburgo
Por mais características em comum que se possa ter, “tecido africano” não é tudo igual. Há estampas que representam etnias, passam certas mensagens. Durante a entrevista, ela reforçou que as pessoas precisam dar mais valor ao trabalho dos africanos. “Valorizar a moda africana, os tecidos africanos. A moda africana não é só aquele tecido enrolado na cabeça ou no corpo das africanas. Eu falo moda africana: colares, joias, vestido de gala”, completou.
Segundo a estilista, essa valorização precisa também ser disseminada entre os locais. “Os africanos têm um pouco de preconceito”, diz a brasileira, que prega a ideia de uma “moda consciente” ao criticar a indústria da pirataria. “Você vê na rua essas camisetas com todas essas marcas (estampadas), mas que você vê que não são feitas no país, que vêm não se sabe de onde, como foram feitas, o (tipo de) material”, ressaltou. A estilista é enfática ao bater na mesma tecla pelo apreço de produtos feitos localmente e da estima da mão de obra. “Uma moda feita com carinho, uma moda feita com boas energias. Isso é muito importante. Moda não é só brilhar, (moda) marca”, disse.
Desde o ano passado ela vive em Maputo, capital de Moçambique. Nos últimos 17 anos - desde que se mudou para o continente africano - a brasileira também já morou na República Democrática do Congo e em Angola, que foi primeiro país da África para onde se mudou depois que se casou com um executivo francês de uma grande montadora de veículos. Nascida em Guaxupé, interior de Minas Gerais, Rita aprendeu a costurar com uma tia. Cresceu desenhando as próprias fantasias para os tradicionais bailes de carnaval e sendo chamada pela mãe de “diferente”. Ela fez seus estudos universitários em Ciências Contábeis, e chegou a trabalhar na área de recursos humanos. Mas abandonou a carreira para acompanhar o marido, que a preveniu sobre mudar de país constantemente, por conta do trabalho. No entanto, Rita sabia que não ficaria de braços cruzados.
Em 2006, recém-chegados em Luanda, capital angolana, ela precisou fazer o próprio vestido para ir a um casamento. E foi, então, apresentada aos tecidos vendidos localmente. A roupa criada por ela para o casamento fez tanto sucesso que Rita acabou posteriormente criando a própria marca, na qual oferece peças exclusivas e coloridas. Figuras importantes como a princesa Stéphanie de Mônaco já usaram as criações da brasileira, que não considera o que faz uma apropriação cultural.
“Eu estou hoje em Maputo, eu gosto das cores, sou brasileira. Têm as minhas raízes, as influências, aquela coisa que a gente nunca vai poder dizer que não existe dentro da gente. As coisas que eu faço são diferenciadas e eu posso juntar esse meu lado brasileiro, europeu com África e por isso eu nunca enfrentei esse tipo de problema”, disse.
Rita tem atualmente um time de dez pessoas fabricando as roupas e acessórios que ela desenha, sendo na maioria homens. “Eu acho que o homem tem aquele amor, aquela paixão por aquilo que ele faz. Tem homem que os olhos deles brilham quando ele vê aquela peça naquela manequim, porque ele faz com tanto amor, com tanta paixão. Para mim é uma coisa muito importante. Eu gosto de trabalhar com homens”, destacou.
Contudo, no dia a dia às vezes ela enfrenta desafios por conta do machismo de uma região ainda bastante patriarcal. “Eu tive um único problema na minha vida com um (funcionário) homem. Na verdade, os...
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Empresário brasileiro cobra mais apoio governamental para estimular investimentos na África
4/2/2023
Um convite para trabalhar em uma companhia aérea, tendo um cargo de liderança no setor de transporte de cargas, fez o gaúcho Marcos Brandalise trocar a Alemanha, onde vivia recém-casado com uma alemã, por Angola, em 1988, em plena guerra civil que marcou a história do país lusófono.
Vinícius Assis, correspondente da RFI em Adis Abeba
Cinco anos depois, ele foi transferido para o leste africano. E foi no Quênia, uma das maiores economias africanas, que ele decidiu viver com a família e criar, em 1996, a própria empresa para apresentar, nesta região, as soluções com bons resultados para o Brasil em anos anteriores, especialmente na agricultura. Marcos começou a representar empresas brasileiras por aqui. “A gente viu o que aconteceu no Brasil nos anos 1970, 1980, 1990 e o que ainda está acontecendo. A gente imagina e tem esperança de que a África vai seguir o mesmo caminho do Brasil. O potencial aqui é fenomenal”, disse. Ele representa atualmente cerca de 15 companhias brasileiras e vende de chuveiros elétricos à maquinário agrícola.
O Quênia enfrenta uma onda de protestos contra o novo governo por conta do custo de vida no país, que vem aumentando. Mas as recentes manifestações não são as primeiras que ele testemunha e isso não intimida um dos empresários brasileiros mais antigos - se não o mais antigo - investindo e vivendo no complexo e promissor continente africano. Teimoso autodeclarado, é um entusiasta da ideia de que o Brasil deve olhar mais para as oportunidades e desenvolver parcerias com o segundo continente mais populoso do planeta, apesar dos desafios dessa região que, até seis décadas atrás, era dominada por colonizadores europeus. “O processo de se desvencilhar dos colonialistas começou nos anos 1960. Então, são democracias ou governanças recentes. O processo deles é muito mais jovem. Tem muita coisa ainda para eles passarem para chegar em um nível de estabilidade governamental”, disse.
Muitas realidades
Este assunto foi abordado na entrevista não só por conta dos protestos recentes no Quênia, mas porque o receio de golpes militares e o clima de instabilidade política acaba sendo um dos motivos para que empresários brasileiros sejam reticentes em se tratando do continente que, até 2050, deverá concentrar 25% da população mundial. O brasileiro reforçou ao longo da entrevista a diversidade da África, que muitos parecem ignorar ao olhar para esta parte do planeta de forma homogeneizada. “São 54 países e cada país é uma cultura”, destaca, embora reconheça que há similaridades. “Cada país é um país, não dá pra generalizar ‘África’. Tem que olhar para cada país de uma forma diferente. Tem uns com muito mais risco, outros com muito menos risco e outros sem risco”, reforça.
O brasileiro se mostra otimista em se tratando das novas gerações de africanos. “O continente está experimentando um momento super interessante. As gerações novas, bem educadas, localmente ou internacionalmente, estão voltando com boas ideias e querem inovar. E a agricultura, nos últimos anos, tem sido uma área em que eles têm muito interesse”, disse.
Com uma visão pragmática e realista, o brasileiro que vive há mais de 30 anos no continente africano não romantiza o seu discurso para estimular investimentos nesta região. “Tem muitos ‘buracos’: o buraco cultural, o buraco político. Por exemplo, em agricultura, a vida animal selvagem é enorme aqui na África, em vários países. Então, isso conta para ter cuidado, para não prejudicar essa vida, que é uma riqueza africana, mas também um desafio para a agricultura”, frisou. O pastoralismo que ainda existe em grande escala é outro “buraco” destacado por Marcos para se ter cuidado, assim como títulos de terras. “Uma das nossas vantagens é que a gente entende a cultura e a gente entende como lidar com comunidades, com a vida animal selvagem e outras coisas. Não dá para ignorar isso porque senão o pessoal falha, como falharam vários projetos de diferentes investidores de diferentes nações”,...
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“Incomum” no Brasil, Samba é nome popular entre pessoas de países africanos
2/19/2023
O ritmo que embala o carnaval brasileiro também é nome próprio na Gâmbia, país da África Ocidental onde o jornalista Samba Jawo nasceu. Encontrar “xarás” não é dificuldade alguma para ele. “É um nome muito comum na etnia Fulani. Na nossa cultura significa o segundo filho”, explica o gambiano que tem um irmão mais velho e três mais novos. Fã declarado de futebol, ele diz que foi por meio deste esporte que conheceu o ritmo brasileiro mais famoso, que tem o mesmo nome que ele.
Vinícius Assis, correspondente da RFI em Adis Abeba, Etiópia
Há séculos, muitas pessoas em países do continente africano, principalmente na região do Sahel, recebem o mesmo nome que o cantor brasileiro Seu Jorge e sua companheira, Karina Barbieri, resolveram dar ao seu filho. Mas, no Brasil, a escolha causou polêmica no mês passado, quando o bebê nasceu.
Uma funcionária do 28º Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, na maternidade onde a criança nasceu, no bairro Itaim Bibi, Zona Sul da capital paulista, se recusou a emitir a certidão de nascimento do menino por considerar o nome “incomum". O caso foi parar na Justiça e terminou com vitória para os pais. Seu Jorge agora é, mesmo, o pai do Samba.
O jornalista da Gâmbia se mostrou surpreso ao saber da situação enfrentada pelo cantor brasileiro e sua companheira. “É direito deles dar ao filho o nome que quiserem, e negar isso é violar o direito do casal”, comentou.
No Brasil, a norma nos cartórios é seguir a lei 6.015, criada em 1973, que regulamenta os registros públicos no país. E foi baseada no artigo 55 desta lei que a oficial do cartório se negou a registrar a criança como Samba em São Paulo. O primeiro parágrafo deste artigo da lei afirma que: O oficial de registro civil não registrará prenomes suscetíveis de expor ao ridículo seus portadores, observado que, quando os genitores não se conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso à decisão do juiz competente, independentemente da cobrança de quaisquer emolumentos.
Mas para o pesquisador de culturas negras e história da África Salloma Salomão, o episódio foi uma prática autoritária do cartório. “Os ativistas negros no Brasil, a partir da década de 1940, começaram a colocar nomes africanos ou indígenas nos filhos. Nós estamos vivendo, talvez, o terceiro ciclo dessa prática, que ė uma tentativa de reconexão com as civilizações africanas. Mas a estrutura institucional brasileira continua sendo o que sempre foi: racista”, ele critica.
"Samba, Sambo, Sambe, Sambará"
O pesquisador lembra que, quando escravizados, os africanos eram seres humanos que tinham nomes, identidades, comunidades, cultura, civilização. Eles passaram a ser capturados e exportados como se fossem objetos. E essas pessoas de origem centro-africana, em sua maioria, ocasionalmente poderiam ter na origem o nome Samba ou outras variações, como Sambeh e Sambará.
“Nomes nativos, mas também de influência islâmica, hebraica, aramaica”, ele explica. Salomão conta que analisou recentemente arquivos de viagens marítimas entre 1807 e 1850. De acordo com o pesquisador, navios foram capturados pela marinha britânica e desviados para a Libéria e Serra Leoa.
As pessoas nessas embarcações foram recapturadas pelos ingleses e catalogadas mediante nome, idade aproximada, origem étnica. “Nos documentos daqueles que foram recapturados pela marinha britânica há aproximadamente 200 pessoas com nome Samba, Sambo, Sambe, Sambará”, afirma.
Dentro de uma pesquisa mais ampla que ele tem feito sobre o gênero musical conhecido no Brasil desde o inicio do século 20 como samba, o pesquisador destaca que o gênero urbano nunca foi associado a uma pessoa. Mas na África Central, e mesmo no Senegal, samba é nome próprio. “Na costa atlântica, na costa índica e na região dos lagos, tinha e tem pessoas de nome samba e também suas derivações”, ele explica.
Não deixar um negro usar o nome que quiser não é novidade. Ele ainda destaca que no passado não era permitido às pessoas...
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Na Etiópia, o Natal é em janeiro e o Réveillon em setembro
12/19/2022
Não se escuta, em dezembro, música natalina no comércio de Adis Abeba nem se vê luzes coloridas e enfeites com este tema pelas principais ruas da agitada cidade, ao contrário de várias outras capitais pelo mundo. A Etiópia é um dos países onde a população, de maioria cristã ortodoxa, celebra o nascimento de Jesus Cristo no dia 7 de janeiro. O calendário local é diferente do gregoriano, o mais usado no mundo. Vinícius Assis, correspondente da RFI na África No segundo país mais populoso do...
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Brasileira documenta sofrimento de deslocados por terrorismo islâmico em Moçambique
10/23/2022
Desde abril, a carioca Mariana Abdalla mora em Moçambique, país africano de língua portuguesa famoso pelo litoral paradisíaco, mas que há cinco anos passou a ser motivo de preocupação internacional. A província de Cabo Delgado, no norte moçambicano, começou a ser alvo de ataques de terroristas ligados ao grupo Estado Islâmico em outubro de 2017.
Vinicius Assis, correspondente da RFI na Etiópia
As ações extremistas já causaram cerca de 4 mil mortes e fizeram quase um milhão de pessoas se deslocarem em Moçambique. Dados da Agência da ONU para Refugiados (Acnur) mostram que 946.508 vítimas fugiram das áreas onde viviam para tentar sobreviver.
Mariana Abdalla mora atualmente na cidade de Pemba, capital desta província onde os ataques vêm acontecendo, a cerca de 2.500 km da capital moçambicana, Maputo. Ela tem tido contato direto com quem está sendo afetado por essa situação.
“É um conflito que poucas pessoas conhecem”, nota a brasileira. Depois de seis meses e meio na região, ela conta que também acaba pegando um pouco as dores daqueles com os quais tem contato. “Você vê pessoas que estão há cinco anos se deslocando sem parar, sempre procurando um lugar mais estável”, detalhou.
Segundo a brasileira, a maioria das pessoas afetadas por esses ataques viveu experiências muito traumáticas. “Presenciar um assassinato de ente queridos, filhos que não sabem onde estão os pais, órfãos, mães que deixaram os filhos, tudo isso também vai te afetando, e a empatia aflorando. Eu sinto que já estou muito impactada com tudo isso”, disse.
Mariana começou cedo a entender, na prática, a ideia do que é ter uma vida de nômade. Ela passou parte da infância e da adolescência na Colômbia e na China com a família. A “paixão por outras culturas” a fez se formar em Relações Internacionais. A vontade de contar histórias, em vídeos e fotos, a levou a um mestrado mais voltado para a comunicação.
Moçambique não foi o primeiro país africano que ela conheceu. Durante o mestrado, por exemplo, teve uma estadia em Uganda. Há quatro anos, ela trabalha para a ONG Médicos Sem Fronteiras. Hoje, é gestora de comunicação da organização em Moçambique.
“É um lugar de difícil acesso. Por isso, é um privilégio, uma responsabilidade muito grande poder contar essas histórias, poder passar para outras pessoas o que está acontecendo”, disse.
O cenário na região de Cabo Delgado ainda é volátil. As vítimas que sobreviveram aos conflitos estão constantemente com medo e traumatizadas. Algumas testemunharam massacres. Outras não sabem onde está parte da família. Como essa parcela da população carente já tinha preocupações suficientes para ter a saúde mental profundamente prejudicada, a pandemia do coronavírus não foi prioridade para quem vive nessa região do país.
Os que já conseguem voltar para casa muitas vezes encontram seus imóveis destruídos. Tudo isso faz com que os afetados diretamente por esses ataques extremistas não consigam demonstrar expectativas de um futuro estável.
Miséria e desalento
“Aqui, quando eu pergunto ‘qual é o seu sonho?’, as pessoas têm muita dificuldade em, até mesmo, entender a pergunta. A falta de perspectiva é tão grande, eles estão em um estado de alerta, de sobrevivência tão grande que é muito difícil, até mesmo, pensar no futuro, no que gostariam para si mesmas, a não ser a sobrevivência de agora”, afirmou.
Mariana diz que, mesmo vivendo nessa região, nunca encarou uma situação de risco. Ela se lembrou apenas de um período mais tenso.
“Na época de junho e julho teve realmente uma onda de violência bastante forte aqui em Cabo Delgado e tiveram ataques mais perto do sul, perto da capital, Pemba, que é onde fica minha base na maior parte do tempo, quando não estou visitando nenhum projeto”, explicou Mariana. Como na época a organização para a qual ela trabalha tentou reduzir bastante a equipe na região, a ida da carioca ao Brasil, para renovação de visto, precisou ser adiantada.
“Eu tinha que renovar meu visto no Brasil em duas semanas e...
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Historiadora ensina "etiqueta" a empresários brasileiros que querem fazer negócios com africanos
10/16/2022
Em uma recente reunião com cinco empresários negros na Nigéria, brasileiros não reconheceram Aliko Dangote, o homem mais rico de todo o continente africano, com um patrimônio líquido estimado em US$ 12,6 bilhões. “Para o olhar do empresário brasileiro, todas aquelas pessoas eram as mesmas, estavam vestidas da mesma forma”, relatou a historiadora Carolina Maíra Morais, que presenciou a cena. “Essa leitura rasa sobre o continente é que a gente, primeiro, precisa transpor quando chega do Brasil na África”, frisa.
Vinícius de Assis, correspondente da RFI na África
Nascida na Baixada Fluminense, há seis anos ela cruza o oceano Atlântico anualmente com destino ao continente africano, principalmente viajando para a Nigéria, país de origem do marido e sócio da brasileira, Ajoyemi Osunleye. Ela conta que percebeu, ao longo desse tempo, que existe uma dificuldade na linguagem cultural entre o empresariado brasileiro e o empresariado de países do continente africano, de uma maneira geral, com as suas particularidades. “São dificuldades, por exemplo, em relação a coisas muito simples, como o tempo, a maneira de falar, a maneira de você se referenciar a pessoa”, disse.
Foi aí que a historiadora decidiu, no ano passado, buscar mais um mestrado. Além do que fez em História da África, agora se dedica ao Comércio Exterior, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela pesquisa essa linguagem, pensando sempre no que pode fazer para facilitar essas relações. “A gente tem um potencial gigante que o Brasil não explora no continente africano, porque eles são muito receptivos para o empresariado brasileiro, mas o empresariado brasileiro ou não está interessado ou ainda não conseguiu enxergar um campo de negócios forte no continente africano. E tem essas dificuldades de acomodação cultural”, disse.
Adaptação transcultural
Há cinco anos ela criou uma empresa que tem promovido eventos, recebido comitivas africanas no Brasil e trazido comitivas brasileiras para África, “não só para negócios, mas também para eventos culturais” e ligados à educação. Diz que no mestrado na UFRJ tenta levantar a discussão sobre adaptação transcultural e destaca que percebe uma resistência, às vezes, ou uma falta de cuidado em relação a questões raciais entre empresários brasileiros e empresários africanos. “Não se vê empresários africanos de uma maneira como se olha para os mesmos empresários quando você está lidando com eles no Brasil”, disse.
O rígido protocolo da rainha Elizabeth II é mundialmente famoso e tinha que ser respeitado por todos os que conseguiam se aproximar para conseguir algo da monarca, falecida este mês. Da mesma forma, a maneira de se portar diante de empresários africanos é importante. Não por uma exigência banal, um capricho, mas por uma questão de respeito a uma cultura sobre a qual muita gente pouco se informa. E estar atento a detalhes pode abrir portas mais facilmente.
Carolina lembra que o povo brasileiro é muito conhecido no mundo todo pela linguagem corporal (o toque, a fala que nem sempre é muito formal). Muitas vezes, são gestos que nem sempre são bem vistos, dependendo do país africano. “Evitar esses toques, muitos apertos de mão. Dependendo da população que você tá lidando, a sua linguagem precisa ser um pouco mais oficial”, diz, destacando que é preciso estar atento ao que “eles consideram respeito”.
Na semana de celebração dos 200 anos da independência do Brasil, Carolina ajudou o embaixador Francisco Luz, que está à frente do consulado-geral do Brasil na cidade nigeriana de Lagos, a organizar a programação da série de eventos com foco em cultura, gastronomia e negócios, buscando reaproximar os dois países. O embaixador Ricardo Guerra de Araújo também participou do evento, que recebeu ainda uma delegação da FIRJAN. “Eu falei com um deles, na verdade, antes dele chegar, sobre essa importância da gente fazer uma adaptação da nossa cultura, que é uma cultura muito expressiva no continente africano. Nós somos muito bem recebidos. O...
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Nigéria ultrapassa Rússia no fornecimento de ureia ao Brasil
10/9/2022
Entre tantas consequências, a guerra na Ucrânia comprometeu as exportações russas, o que acabou favorecendo países como a Nigéria, que agora é o segundo maior exportador de ureia para o Brasil. Até o ano passado essa posição era ocupada pela Rússia.
“A gente está falando de quase 19% do volume (total) de ureia que o Brasil importou (este ano)”, detalhou Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). “Entre janeiro e abril, a Nigéria foi o principal fornecedor. Omã tomou essa posição a partir de maio”, acrescentou Francisco Luz, cônsul-geral do Brasil em Lagos, a maior cidade nigeriana.
A diretora da Abiquim contou também que, comparando o volume importado pelo Brasil entre janeiro e agosto deste ano com o do mesmo período do ano passado, houve um aumento de 50%. “É um dado bastante expressivo”, disse.
Em 2021, a maior economia africana era o quinto maior fornecedor deste fertilizante para o Brasil, respondendo por 10% de toda a ureia importada pela indústria brasileira. Ou seja: 2022 nem acabou e este volume já praticamente dobrou. O Catar atualmente está em terceiro lugar neste ranking e a Rússia em quarto.
Dependência brasileira
Neste campo, o Brasil ainda é bastante dependente do cenário internacional, importando quase 80% de toda a ureia usada em seu mercado de fertilizantes. No ano passado, a maior parte do produto vinha da Rússia e do Catar. “Por conta de toda essa crise no início do ano, nós ficamos muito preocupados com essa dependência excessiva da importação de fertilizantes vinda da Rússia. Então, a Nigéria acaba suprindo e dando ao Brasil uma oportunidade de diversificar a pauta de países com os quais a gente tem essa correlação na importação de ureia”, afirmou a diretora da Abiquim.
O Brasil já importava ureia da Nigéria há anos, mas em volumes razoavelmente baixos. O interesse pelo insumo nigeriano aumentou depois da invasão à Ucrânia. “Porque era o único país onde projetos estavam sendo implementados para produção desse importante insumo para agricultura. Em outubro, a fábrica de fertilizantes da Dangote aqui em Lekki, no estado de Lagos, começou a produzir e a primeira produção já foi para o Brasil”, disse o cônsul. Pouco depois do início da guerra, o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, teve uma conversa Aliko Dangote, dono desta fábrica e o homem mais rico do continente africano, sobre a possibilidade de garantir um fornecimento sustentável de ureia para o Brasil. Empresários brasileiros compram hoje 60% da produção nigeriana de ureia, desta e outras três empresas que fornecem este produto no país.
Ciente de que a produção brasileira não é suficiente, William Marchió, consultor em projetos de agropecuária sustentável, defende que é preciso investimentos que diminuam a dependência de outros países. “Como os insumos mais importantes para produção, por exemplo, de milho, de grãos de uma maneira em geral, e boa parte da produção pecuária também, dependem do uso de fertilizantes nitrogenados, a produção interna é fundamental”, justificou. Ele ainda lembra que o coronavírus deu um motivo a mais para se pensar nisso. “Ainda mais quando você tem um exemplo de dois anos de pandemia, que dificultaram o uso de contêineres, de navios, de fluxo de importação. Muitas operações ficaram extremamente vulneráveis a isso. Então, a produção interna de ureados é fundamental. Porém, ela não é suficiente hoje. A gente ainda vai depender de importação”, disse.
Ureia: realmente necessária?
Este é o principal produto para fertilizar a agricultura brasileira. “Fertiliza a terra para que ela tenha uma maior produtividade”, contou Fátima. A ureia vem da cadeia produtiva do petróleo, a partir do gás natural. “Por isso que essa questão da Rússia ficou prejudicada. A Rússia é um país que tem muito gás natural, ela é competitiva na produção de fertilizantes derivados de gás”, explicou.
A ureia é o nitrogenado mais utilizado na agricultura...
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Número de eleitores brasileiros na África aumenta, mas Brasil se afastou do continente promissor
9/24/2022
Neste ano, 3.332 brasileiros poderão participar da eleição presidencial estando em 17 países africanos. O número de cadastrados no continente é quase 22% maior que o de 2018. Na eleição passada, 2.734 eleitores se registraram, só que no segundo turno mais da metade (54,2%) nem sequer apareceu nos locais de votação africanos. O percentual de abstenção ficou acima de 50% em 11 desses países.
Vinícius Assis, correspondente da RFI na África do Sul
Em 2018, Jair Bolsonaro recebeu no segundo turno 57,5% dos votos de brasileiros residentes na África. Os dados são do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF), responsável por zonas eleitorais no exterior, e de embaixadas e consulados do Brasil em países africanos. A maior parte do eleitorado brasileiro no continente está na África do Sul, uma das maiores economias da região.
Adalton e Fernanda Barbosa são originários de Salvador (BA) e se mudaram para a Cidade do Cabo em 2019. Além de trabalharem como modelos, os dois abriram um negócio próprio e vendem comida brasileira. Neste ano votarão pela primeira vez no exterior.
“É muito importante”, frisou Fernanda. Ela acredita que este seja o meio de alguém dar o melhor para a própria nação estando longe dela. O casal acabou justificando o voto em 2018 por estar viajando, mas não quis perder a chance de votar desta vez. “Não estou feliz com este atual governo e estou com uma expectativa grande de mudança", disse Adalton. "Meu voto é muito importante para contribuir para isso”, destacou.
O casal está entre os 1.016 brasileiros que neste ano podem votar na África do Sul, número aproximadamente 19% superior ao pleito de quatro anos atrás. Na última eleição presidencial, 855 brasileiros se cadastraram para votar no país (605 em Pretória e 250 na Cidade do Cabo). No próximo dia 2 de outubro, haverá urnas eletrônicas em cada uma dessas duas cidades.
A maioria dos brasileiros residentes na África do Sul vive em Pretória, Joanesburgo e Cidade do Cabo. Os perfis são diversos. Há estudantes, empresários, servidores públicos, pesquisadores, militares, missionários e acompanhantes de expatriados. No país africano que tem Cuba e China como dois dos principais aliados, alguns brasileiros se mostram mais próximos do socialismo, enquanto outros demonizam o comunismo.
A empresária Ana Karato nasceu em Salesópolis, interior de São Paulo, e mora na África do Sul desde 2008. Ela votou no exterior pela primeira vez na eleição passada. Casada, mãe de três filhas, Karato conta que apenas a mais nova da casa, de 3 anos, não irá votar neste ano. A eleitora paulista estima que o presidente Jair Bolsonaro correspondeu em seu governo ao favoritismo que teve no continente na última eleição. Quando a reportagem pediu um exemplo de ação, inicialmente ela se referiu “a aviões fretados para que brasileiros fossem repatriados” durante a pandemia.
Na verdade, em 2020, a embaixada brasileira no país contratou apenas um avião da South Africa Airways – e não vários – por cerca de R$ 2 milhões, para repatriar em torno de 250 brasileiros. Os passageiros foram dispensados de pagar diretamente os bilhetes.
A empresária brasileira disse ainda que não tem motivos para reclamar sobre a atual relação bilateral entre Brasil e África do Sul. “Quem estiver no governo, independente de quem for, precisa colocar os interesses do país em primeiro lugar. Eu teria que fazer uma análise para ver o que que seria interessante para o Brasil“, afirmou. Ela diz achar “interessante que o Brasil não está mandando dinheiro para outro país”. “O importante é o Brasil se desenvolver. Então, para você se desenvolver, é como no meio dos negócios: você vende alguma coisa, a pessoa precisa comprar. Tem que haver uma troca, não pode ser somente de um lado”, disse.
Governos brasileiro e sul-africano mais distantes
Os 12 voos semanais que ligavam São Paulo e Joanesburgo até antes da pandemia já não existem mais, o que para Kika Ermel, operadora de turismo que vive na África do Sul há 15...
Modelos baianos falam da representatividade negra no mercado da África do Sul
9/11/2022
Não foi da noite para o dia que esses dois conseguiram estrelar campanhas de marcas de luxo. Unidos pelo trabalho, os modelos Fernanda e Adalton Barbosa se conheceram gravando um comercial e estão juntos há 12 anos. Os dois são de Salvador, Bahia, e começaram a carreira cerca de 15 anos atrás. Ela ainda era adolescente, tinha 16, como muitas nessa profissão.
Vinícius Assis, correspondente da RFI na África do Sul
Já ele começou a carreira com pouco mais de 20 anos de idade. O foco deles não são as passarelas, mas, sim, o mercado publicitário. Em 2013 ambos se mudaram para São Paulo, a mais cobiçada cidade brasileira para quem é desta área. Três anos depois, veio a ideia de dar um passo a mais na carreira: o mercado internacional. Foi, então, que fizeram contato com agências da África do Sul. Fernanda, que, por conta de uma campanha de shampoo na Argentina, já tinha feito a primeira viagem dela para fora do Brasil, acabou sendo convidada para uma temporada de três meses no país de Nelson Mandela, especificamente na Cidade do Cabo (ou Cape Town, em inglês).
“Foi um desafio muito grande mesmo, eu lembro que eu não queria vir de jeito nenhum, viu. Eu fiquei com muito medo. O inglês foi o que mais me deixou apavorada. Vai ser muito difícil, eu estava com isso na mente, mas ainda bem que eu aceitei o desafio de vir. Passei os meus perrengues, que todo mundo que não fala inglês vai passar, mas valeu muito a pena mesmo”, lembra.
Não saber se comunicar em inglês - um dos 12 idiomas oficiais da África do Sul - potencializou o nervosismo, mas não a impediu de encarar este desafio. Ela veio, mesmo sem dominar o inglês, para um país onde praticamente todo mundo fala mais de um idioma.
“Absolutamente todo mundo que eu conheci aqui não só falava inglês, mas falava, tipo assim, quatro idiomas facilmente. Até o mendigo da rua”, destaca. Ela conta que isso a fez se sentir mal, por ser de uma potência gigantesca como o Brasil, onde se fala apenas português e não há muito incentivo para que se fale fluentemente outro idioma.
Quando o contrato terminou, ela voltou para São Paulo. Aquele medo do início deu lugar ao sentimento de saudade.
“Me bateu uma tristeza. Fiquei mal, doente e Adalto sem entender nada”, contou.
Ainda em 2018, houve mais um convite, desta vez para passar seis meses na África do Sul. No fim daquele ano, Adalton acabou vindo também, mas a passeio. Era a primeira viagem internacional dele. Até que em 2019 os dois assinaram contrato de três anos com uma agência de modelos e se mudaram para a paradisíaca cidade que precisavam desbravar.
“Foi paixão a primeira vista aqui nesse lugar maravilhoso”, disse Adalton, que entende do que Fernanda estava falando quando voltou para o Brasil. Mas a falta da fluência em inglês também foi um desafio para ele no início. Mas os dois voltaram para o Brasil, em abril de 2019, até que conseguiram, quatro meses depois, o visto de três anos para voltar para a África do Sul.
Negros no mercado publicitário sul-africano
No país estigmatizado pelo apartheid, regime de segregação racial que vigorou de 1948 até o início dos anos 90, e deixou marcas ainda perceptíveis, os negros representam cerca de 80% da população. Os brancos correspondem a quase 8%. Tem ainda os descendentes de indianos e os pardos, que somam os 12% restantes. É como oficialmente a população é dividida no censo sul-africano. O tom de pele de que vem de um país diverso, étnico-racialmente falando, como o Brasil é uma questão importante.
“Isso é muito bem dividido e a moda é falada diretamente para cada tipo de grupo, coisa aqui no Brasil não é tão assim. Por exemplo: no Brasil é muito fácil uma menina mestiça, de pele bem clara, ocupar o espaço de uma menina negra. Não estou entrando em mérito aqui de quem é negro de quem não é”, frisa Fernanda, lembrando que apenas está comparando com a realidade do mercado na Cidade do Cabo, onde “quando eles querem uma modelo negra, eles querem uma modelo negra”.
Ela lembra que brasileiras de...
Economista Carlos Lopes lança novo livro e diz que Brasil pode participar da mudança estrutural da África
9/3/2022
O economista da Guiné-Bissau Carlos Lopes lança um livro escrito com o economista do Zimbábue George Kararach onde fala sobre percepções que considera deturpadas sobre a África, além de novas narrativas sobre o continente e desenvolvimento no século XXI, passando pela necessidade de se investir na industrialização da região e oportunidades.
Lopes diz não ter dúvida de que, no campo econômico, um dos maiores desafios da África é a industrialização. Mas entre os esteriótipos que o ocidente construiu sobre o continente africano, o que mais o incomoda é o de que a África nada mais é do que um fornecedor de matérias-primas, sem transformação. “É exatamente o modelo colonial”, disse.
“Nós no livro tentamos demonstrar que há possibilidades reais de transformação estrutural, que há países que já estão fazendo a coisa certa, mas, evidentemente, não são a maioria. E, portanto, é preciso muito mais empenho para que esta transformação tenha lugar”, explicou Lopes.
Os dois autores vêm trabalhando sobre o tema desenvolvimento econômico e dividiram as tarefas para escrever um livro a quatro mãos. Lopes contou à RFI que Kararach focou mais nos estudos de casos, enquanto ele cuidou da complexidade da narrativa de interpretação de todo o processo de transformação estrutural.
Colonização
O economista guineense, que foi secretário executivo da Comissão Econômica das Nações Unidas para África, disse que há características estruturais, históricas e culturais comuns entre os países africanos, principalmente em se tratando de heranças do período colonial. “Apenas um país africano não foi colonizado completamente, a Etiópia, mas tem muitas características comuns com os outros”.
Para ele, as diferenças que existem não impedem o debate sobre a África, em se tratando de representação global, em matéria de comércio. “Por isso os africanos têm que lutar, em termos internacionais, por um espaço de manobra, já que é mais fácil aparecerem no seu conjunto”, afirmou.
A maior parte dos países desta região enfrenta problemas sistêmicos. “Quando olhamos para as diferenças, o que importa neste caso concreto abordado no livro é ver aqueles países que estão fazendo transformações estruturais e os que não estão fazendo”, disse.
Quando se fala para quem não conhece a África, o economista reforça que é preciso enfatizar o tamanho geográfico do continente, o que normalmente as pessoas não consideram. “Muita gente não sabe que a China e a Índia são ‘pedacinhos’ em relação à massa territorial da África”, lembrou. A Rússia “corresponde, em massa territorial, a mais ou menos um terço da África”, lembra.
“Temos essa visão cartográfica completamente errada, e também essa visão errada em termos históricos, culturais, políticos. No livro tentamos corrigir essas percepções negativas”, disse.
Ausência no programa eleitoral
O economista afirma que não o surpreende o fato de apenas três candidatos à presidência do Brasil terem citado o continente em seus programas de governo. Mas lembra que “a África vai ter um papel muito importante no futuro e muitos países já o reconhecem”, citando o exemplo da Turquia, que vem aumentando consideravelmente sua presença no continente africano. Lopes afirma que “o Brasil tem muito o que aprender”.
Lopes finaliza a entrevista deixando um recado a quem vai governar o Brasil a partir de primeiro de janeiro de 2023. Para ele, o país “caiu outra vez na armadilha de exportação de commodities”, depois de um processo de industrialização classifica de "bastante bem sucedido". “Temos problemas comuns e podemos desenvolver capacidades também de respostas comuns a nível de negociações internacionais”, disse o especialista africano.
Carioca que assessora bancos e governos diz que Brasil está perdendo oportunidades na África
8/28/2022
Formado em Direito, Bernardo Weaver foi seduzido pelo mercado financeiro logo no início da vida profissional. O sotaque não nega: ele é “da gema”. O primeiro emprego do carioca foi em um banco e ele acabou se tornando um financista. Fez MBA em Finanças nos Estados Unidos, onde mora há 20 anos.
Vinícius Assis, correspondente da RFI na África do Sul
Weaver já trabalhou para o Banco Mundial, desenvolveu projetos em países europeus e latino-americanos, o que ele considera marcante na própria carreira. Também deixou seus conselhos pelo Oriente Médio. Há três anos fundou a própria empresa para prestar consultoria a bancos e governos, inclusive na África.
O primeiro país do segundo continente mais populoso do planeta onde atuou foi Moçambique, em 2014. “Foi um lugar que me marcou muito. Mostra a grandeza do nosso povo, o quanto a gente fez e o quanto a gente ainda pode fazer enquanto brasileiro”, disse. Em geral, os moçambicanos se identificam muito com o Brasil. Costumam ser muito bem informados sobre os artistas e também a economia brasileira.
No interior do Senegal, em uma cidade chamada Ziguinchor, ele diz que conheceu também pessoas vindas de Guiné-Bissau, outro dos seis países africanos de língua portuguesa. “É uma região linda”, destacou, apesar de se lembrar dos desafios enfrentados pelos locais, como conflitos internos. “Acho que está mais calmo. Vale a pena visitar, sim”, ressaltou.
O trabalho em Moçambique foi até 2019. “Eu estava ajudando governos municipais a aumentarem suas arrecadações, a diminuir a pressão fiscal que eles sofrem”, explicou. Dois grandes desafios de cidades africanas são moradias irregulares e a inadimplência de impostos, sem falar na grande dependência que municípios têm de repasses de verbas nacionais. “É melhor que as cidades tenham suas próprias fontes de receita e, com isso, os governos nacionais terão mais capacidade de pagar suas dívidas, investir em infraestrutura e melhorar o desenvolvimento econômico e a produtividade do país”, disse.
A Mauritânia foi outra nação onde ele trabalhou, também no noroeste africano, como o Senegal, país, aliás, que o brasileiro diz ser o mais avançado dos dois. “A Mauritânia é um país muito menos desenvolvido, país muçulmano muito radical. Mulheres usam burca, você não pode tocar nelas”, contou, comparando este país que fica na região do deserto do Saara e também é banhado pelo oceano Atlântico com a Turquia, onde “mulheres usam calça jeans e andam sem véu no cabelo”.
Infraestrutura sanitária deficiente requer investimentos
No Senegal e na Mauritânia, ele analisou os sistemas de gestão de coleta de lixo para encontrar meios de fazer este tipo de trabalho com menos impacto danoso no meio ambiente. O objetivo também era aumentar a extensão da coleta e diminuir a insalubridade urbana, com um sistema de coleta de lixo eficiente. “O deles não era. Havia muita sujeira e lixão a céu aberto, o que gera doenças e cria um aspecto visual e econômico depreciado para a cidade”, disse.
Ao detalhar o trabalho, o brasileiro contou que “fazia o modelo financeiro, via quanto ia custar os caminhões, fez um plano dentro das cidades para ter pontos de transferência para o lixo poder chegar ao aterro sanitário e ao centro de reciclagem para que pudesse ser disposto de forma ecologicamente correta”.
Mercado de ações na Etiópia
O último desafio está sendo criar um mercado de ações na Etiópia, um país de 120 milhões de habitantes sem praça financeira. O carioca vê a Etiópia como "um país que está meio perdido no mundo, em termos de relações políticas internacionais”. Neste aspecto, Weaver destaca uma possibilidade que o Brasil está perdendo, já que nos últimos anos veio se distanciando do continente africano.
“O Brasil, que é um país que está isolado atualmente, podia chegar ali, botar um pouquinho de dinheiro e ia conseguir tudo. É o que os chineses estão conseguindo. E a gente tem uma afinidade cultural com eles um milhão de vezes maior. O pessoal da Etiópia parece 80% da...
Dos candidatos à presidência do Brasil, apenas três citam a África nos planos de governo
8/21/2022
A política externa não está no centro das atenções dos presidenciáveis, muito menos o continente africano, na análise do presidente e fundador do Instituto Brasil-África (IBRAF), João Bosco Monte. Para ele, poucas linhas dos planos de governo são destinadas a explicar como o Brasil vai se comportar no cenário internacional e isso fica mais claro ainda em se tratando de África. “Há pouca definição de como o Brasil vai conversar com um continente tão grande, com 54 países”, destacou.
Vinícius Assis, correspondente da RFI na Etiópia
Dos candidatos que se lembraram do território africano em seus programas de governo, um é negro: Léo Péricles, do UP. Os outros são brancos: Lula, do PT e Sofia Manzano, do PCB. Antes do PROS anunciar a retirada da candidatura de Pablo Marçal e o apoio a Lula, Marçal também era um dos que citaram a África no programa de governo.
“Acho que é pouco”, lamentou o professor de Política Internacional e Comparada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes, diante da quantidade de candidatos que se lembraram de governos africanos em seus programas.
Ele ressaltou o grande potencial do segundo continente mais populoso do planeta ao falar que, além de ter um passado em comum, Brasil e África deveriam ter um futuro em comum como prioridade.
“Uma região com 1,2 bilhão de seres humanos, com um crescimento econômico acima da média global, com potencialidades evidentes em qualquer esfera das relações internacionais, com um plano arrojado de desenvolvimento, que é encabeçado pela União Africana, a Agenda 2063, um continente que tem despertado um interesse e a atenção das grandes potências do mundo deveria receber do Brasil também um tratamento prioritário”, avaliou. “A África não é só dívida histórica, não é só um passado em comum. África é presente e África é, sobretudo, o futuro.”
África nos planos de governo
Ao tratar do assunto, Lula (PT) fala em defesa da soberania brasileira e da recuperação de uma “política externa ativa e altiva” que alçou o Brasil à condição de protagonista global no passado. “Reconstruiremos a cooperação internacional Sul-Sul com América Latina e África. Defendemos a ampliação da participação do Brasil nos assentos dos organismos multilaterais”, diz o documento, que ainda fala na “implementação de um amplo conjunto de políticas públicas de promoção da igualdade racial e de combate ao racismo estrutural”.
O candidato Léo Péricles (UP) se mostra anti-imperialista e deixa claro no plano de governo dele que pretende “aprofundar as relações multilaterais entre os países vizinhos na América Latina e retornar aos esforços diplomáticos contra hegemônicos, com os parceiros estratégicos africanos e asiáticos. Voltar a exportar influência e excelência técnica nas áreas em que o Brasil é referência e intensificar o intercâmbio com as experiências internacionais de transformação social, sobretudo para a superação do subdesenvolvimento”.
Já Pablo Marçal (PROS) resume seus planos para a pasta de Relações Internacionais em dois tópicos: blocos econômicos com países prósperos e influentes nas decisões globais e um bloco Brasil-África. “Assumimos o compromisso de aproximar as relações políticas e econômicas com o continente africano, por meio de cooperação comercial e empresarial, visando o desenvolvimento mútuo através do bloco econômico Brasil-África, que buscará o trabalho direto com as 54 nações africanas”, traz o documento.
A candidata Sofia Manzano (PCB), por sua vez, se compromete a “estabelecer relações diplomáticas e econômicas com os países em África levando em conta as vantagens mútuas, trabalhando para quebrar a relação subimperialista da burguesia brasileira com esses países. Pautar a criação de uma organização de Países Exportadores de Energia, Petróleo e Riquezas Minerais em âmbito latino-americano e africano, para proteger os interesses dessas regiões frente às investidas imperialistas”.
Os programas de Jair Bolsonaro (PL) e Simone Tebet (MDB) até citam o...
Brasileiro ensina capoeira a crianças salvas de grupos armados no Congo
8/7/2022
Há seis anos o brasileiro Flávio Saudade vive na cidade congolesa de Goma, onde ensina capoeira a crianças salvas de milícias armadas. Recentemente, ele acompanhou os protestos ruas contra a Monusco, a maior missão de paz que a ONU realiza atualmente.
Vinícius Assis, correspondente da RFI no continente africano
As manifestações na República Democrática do Congo, aterrorizado por dezenas de grupos armados, já deixaram mais de 30 mortos e 170 feridos. A mobilização deixa claro o descontentamento de moradores com a missão da ONU que, para parte da população, não tem garantido a tão desejada paz. O general brasileiro Marcos de Sá Affonso da Costa é quem comanda a tropa da Monusco, de cerca de 15 mil militares de diferentes partes do mundo.
Nascido em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, Flávio Saudade já morou no Haiti, que também recebeu uma missão de paz da ONU com o objetivo de colocar ordem no país, depois de um conturbado período e a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide. O capoeirista ouve hoje o clamor de congoleses pedindo a saída da Monusco e lembra do que aconteceu no Haiti.
“Quando existia toda aquela manifestação no Haiti, a gente ouvia muitos haitianos amigos nossos falando que quando a missão deixasse o país, tudo iria ficar pior do que em 2004 [ano do golpe de Estado]. E eu vejo hoje que o Haiti se afundou realmente numa situação ainda pior, que acabou levando várias pessoas queridas”, diz.
Flávio Saudade lamenta ao falar dos jovens haitianos a quem ensinava capoeira e que morreram no conflito. Ele teme que a mesma situação se repita na República Democrática do Congo.
O capoeirista fala também de recentes ataques à casas de integrantes e bases da Monusco. “A gente soube que foi uma ação articulada. Eles tinham equipamentos. Então não foi uma coisa somente do povo”, disse.
O brasileiro acredita que, assim como na nação caribenha, manifestantes congoleses podem também estar sendo influenciados politicamente: “Eu, particularmente, acredito que houve, sim, uma uma influência de forças políticas, mas eu não falo políticas partidárias. E forças exteriores que influenciaram grupos de pessoas para realizar esses ataques”, suspeita.
A capoeira o levou a viver nesses dois países, que ele considera "ricos em calor humano", porém com populações ameaçadas pelas realidades enfrentadas, como em várias regiões do Brasil. Flávio faz paralelos entre os três países e vê semelhanças com a própria infância.
A capoeira na infância precária
Flávio é o segundo mais velho de quatro filhos. Perdeu o pai aos 8 anos, fato que o marcou psicologicamente e desestruturou a família, inclusive financeiramente. A casa da avó passou a ser o novo endereço. Faltava dinheiro, mas não o apoio afetuoso de parentes e vizinhos e fé.
“Eu me lembro da minha avó fazendo o sinal da cruz na boca e dizendo: não tem o que comer, então, a gente tem que agradecer e aguardar que amanhã Deus dará”, lembrou.
Foi na infância que conheceu a capoeira, através de um tio, de quem Flávio fala com muita admiração. As mesmas lições que aprendeu com ele o brasileiro usa para se enturmar nas áreas periféricas onde atua hoje.
Os primeiros movimentos da capoeira lhes foram ensinados para que pudesse se defender, assim como faziam africanos escravizados. As lições de combate foram aperfeiçoadas com estudo e dedicação ao longo do tempo, o que o permitiu levantar hoje a bandeira da capoeira social como um instrumento transformador.
Mestiço, o brasileiro revelou ter descendência italiana e espanhola, mas a melanina na pele não esconde as raízes africanas. Flávio contou como teve as primeiras percepções sobre cidadania e negritude.
“A capoeira me deu essa noção, do reencontro com minha raiz, com a África, com meus ancestrais. Ela me trouxe essa questão identitária que me permitiu me posicionar e, sobretudo, conhecer a minha história, a história dos meus ancestrais e, a partir dai, a cidadania, que deve nascer do conhecimento das nossas origens”,...
“Forró é a mistura de três culturas: africana, indígena e europeia”, diz brasileiro que ensina o ritmo em Ruanda
7/24/2022
A dança já levou Fábio Reis a 20 países. O gingado certamente está no DNA deste filho de baianos que nasceu em São Paulo. Apesar de ter crescido ouvindo forró, principalmente nas férias que passava com a família na Bahia, começou a dançar mesmo aos 19 anos.
Vinícius Assis, correspondente da RFI
“Eu não sabia nada. Tinha até um pouco de preconceito com o forró por causa da minha família que escutava forró o dia inteiro. Eu gostava mais de ‘putz putz’”, contou ele, ao lembrar que era com música eletrônica que se divertia. Só que foi “arrastado” pela namorada da época para o popular ritmo brasileiro.
“Fui dançar com ela, não consegui, pisei no pé dela. Ela ficou meio brava e eu falei: Vou aprender a dançar esse negócio”, lembrou. Depois disso, começou a fazer aulas e se encantou, inclusive pelos laços com a família. “Desde quando eu estava na barriga da minha mãe, nas festinhas, tudo era forró”, disse, destacando que a família do pai gosta mais de dançar do que a da mãe.
Discípulo do famoso coreógrafo e professor Jaime Arôxa, Fábio diz que foi formado “pela vida” para fazer o que faz. “Estudei a dança com foco no comportamento humano. Um estudo autodidata que eu faço até hoje”, esclareceu. Ele também trabalhou como DJ, o que o permitiu conhecer muitas pessoas na área de eventos.
Em 2015, fechou a escola que tinha aberto no Brasil para começar a primeira turnê na Europa. Chegou a viver na França, na cidade de Lyon, e também trabalhou com o que mais gosta morando na Alemanha, onde conheceu a esposa, Melanie Axiotis. O dançarino contou que o forró é muito popular em alguns países europeus e que hoje em dia há dezenas de festivais naquele continente. “Quase todo fim de semana tem um festival de forró em algum lugar”, disse. Foi em um desses festivais, em Berlim, que ele e Melanie se conheceram, em 2018.
Fábio nunca havia visitado um país do continente africano, que tanto influenciou a música e a dança no Brasil.
Origens do forró
O brasileiro conta que um terço do forró vem da África. “O forró é a mistura de três culturas muito importantes: africana, indígena e europeia”, explicou. De acordo com o professor, o movimento dos pés quando se dança forró é uma influência indígena. Já o balanço do quadril é o “toque” da África. E o abraço vem de danças europeias.
Inspiração no molejo e, acredita-se, no nome também. Ele conta que uma das hipóteses sobre a origem da palavra forró é a expressão “forrobodó, que vem de uma palavra africana que significa bagunça, festa. E aí tiraram o bodó e deixaram só o forró”.
A esposa do brasileiro - uma alemã que também é forrozeira - acabou recebendo uma proposta para trabalhar em Ruanda. E a oportunidade veio em um momento em que o Fábio vivia uma ótima fase profissional na Alemanha. “Eu estava no auge, com mais de cem alunos, dando aulas em três lugares diferentes, tudo cheio, festas umas duas vezes por mês”, lembrou.
Mas, como bom companheiro, Fábio refez seus planos e se mudou com ela para o país do leste africano. “Para mim Ruanda era Luanda, capital de Angola”, conta e lembra que até hoje quando diz onde vive alguns amigos confundem o país com a capital angolana.
O que também incentivou o brasileiro a vir foi a possibilidade de ter contato direto com quem entende mesmo de dança no continente africano. “Isso foi o que a África deu para a gente: dança, agito, festa”, destacou.
Infelizmente, nem toda a história do continente é alegre. Ruanda é um país ainda marcado pelo genocídio contra os Tutsi, em 1994, que matou quase um milhão de pessoas. “Tem me chamado atenção a maneira de eles serem respeitosos depois de tudo o que eles passaram. Eles me passam uma tranquilidade”, declarou sobre o convívio diário entre os ruandeses, independentemente da etnia.
O casal vive há dois anos na capital, Kigali. O brasileiro fez uma comparação entre o comportamento de parte da população de Ruanda e a postura de quem vive na Alemanha, nação europeia estigmatizada pelo nazismo. É como se algumas pessoas se...
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Brasileira vivendo em Ruanda conta que nem tudo é “cor de rosa” no mundo das organizações na África
7/17/2022
Desmotivada a continuar trabalhando no meio corporativo, e “cansada de contar diariamente milhares de mortos por causa da Covid-19 no Brasil”, em novembro do ano passado Caroline Haddad resolveu se mudar para Ruanda, pequeno país do leste africano com uma população equivalente a da cidade de São Paulo.
Vinicius Assis, correspondente da RFI na África do Sul
Ela não veio fazer voluntariado, mas o objetivo era trabalhar com algo mais focado em questões sociais, em vez de continuar apenas “vendendo pasta de dente”, como ela disse durante a entrevista na casa compartilhada onde mora atualmente na capital, Kigali.
“Eu nunca tinha pisado em um país do continente (africano)”, destacou. Ela reconheceu que a imagem que tinha em mente era a do estereótipo associado ao genocídio contra os Tutsis, em 1994. “Ruanda, acho que é um ponto fora da curva no continente. Pegando especificamente Kigali, é uma cidade super organizada, limpa, arborizada. Não é aquele ‘mar de gente’ andando pela rua, que é o que você imagina em uma capital, principalmente em um país em desenvolvimento”, conta ao falar sobre o que mais a surpreendeu aqui.
Caroline nasceu em São Paulo. Cresceu em Araraquara, no interior, e voltou para a capital mais tarde, onde se formou em Comunicação com ênfase em Marketing. Também fez mestrado em Comunicação de Marcas, na França. O cansaço com o ambiente em que trabalhava a fez tomar uma decisão no fim de 2017: era hora de dar uma pausa. No ano seguinte começou a viajar, trabalhando remotamente com consultorias.
“Essa é a vantagem de não ter emprego fixo: eu poderia ficar quatro ou cinco meses viajando (e trabalhando)'', lembrou.
Descoberta do trabalho de Oranizações Internacionais
Assim foi entre 2018 e 2019. A ideia para os meses seguintes já era conhecer países do leste africano, mas veio a pandemia. Foi neste período que ela conversou, em São Paulo, com um brasileiro que morava em Kigali sobre o trabalho dele em uma organização internacional sem fins lucrativos que assiste pequenos agricultores ruandeses. Caroline trabalha nesta empresa atualmente. A experiência a tem feito refletir sobre este setor, que ela não conhecia.
“Trabalhar para uma organização que tem um propósito mais social eu acho que é diferenciador”, disse. Mas ela contou o que a surpreendeu e pode decepcionar algumas pessoas que também querem vir trabalhar com o foco no lado social no continente africano.
“Algumas questões acabam passando normalmente pela mesma estrutura que você passa trabalhando para uma grande empresa. Tem toda a coisa do corporativo, das relações interpessoais, da burocracia do escritório, principalmente se você trabalha em grandes organizações. Talvez a gente idealize muito, por entender que (o trabalho) é um propósito maior. A gente idealiza aquela estrutura e ela também acaba passando por questões que são sistemáticas no mundo que a gente vive”, esclareceu.
A brasileira destaca que essas grandes organizações vivem de financiamentos, principalmente, de grandes fundações bilionárias e na maioria das vezes beneficiam organizações internacionais em países africanos, em vez das locais. Boa parte dos recursos é usada para manter essas grandes estruturas funcionando. Ou seja: nem sempre a maior parte do orçamento é usada em benefício direto da população.
“Existe um fluxo grande de financiamento que vem, na teoria, para redistribuir riquezas, mas ele acaba voltando para organizações que são também internacionais, que têm a maior parte da liderança de pessoas estrangeiras morando em África”, lembra.
Choque de culturas
Caroline ainda fala do choque de pensamentos, ao enfatizar que, em vez de respeitar culturas locais, muitas vezes essas lideranças estrangeiras trazem um jeito de pensar e agir que é de fora e, mesmo assim, tentam adaptar isso à realidade local, o que nem sempre funciona.
“Eu não contava com isso. Acho que isso é uma questão a ser levada em conta (por quem quer vir para cá fazer o mesmo). Não sei se trabalhando em uma...
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Brasileiro se impõe como um dos principais produtores de cinema da África
5/29/2022
Elias Ribeiro nasceu no Brasil, mas é na África do Sul que ele constrói sua carreira de produtor de cinema. Com sua produtora Urucu, ele já fez oito longas-metragens e foi nomeado duas vezes ao Oscar. A RFI encontrou Elias Ribeiro no Festival de Cannes, onde ele é um participante assíduo há 12 anos.
A agenda de Elias Ribeiro em Cannes é impressionante. Ele acumula laboratórios com produtores emergentes, mesas redondas com jovens cineastas e encontros com produtores e instituições internacionais. O objetivo é um só: abrir espaço para o talento africano e colocá-lo no mapa do cinema internacional. Entre um encontro e outro no festival, o brasileiro encontrou um momento para falar com a RFI.
Elias Ribeiro saiu do Brasil em 1999 já com a cabeça voltada para o cinema. Depois de passar por diversos países europeus, foi em 2010, aos 30 anos, para a África do Sul fazer um mestrado e nunca mais deixou o país.
“Eu me apaixonei pela quantidade de histórias [do país]. Minha experiência internacional me fez virar um peixe grande em uma lagoa pequena. Abri a Urucu, me engajei no mercado internacional, a empresa cresceu e ficou impossível de ir embora”, lembra.
Indicado ao Oscar
A Urucu, sua produtora, fundada em 2011, se dedica a desenvolver conteúdos audiovisuais autênticos em diversos países africanos. A empresa já produziu oito longas-metragens e uma coprodução com o Brasil – “Luna” de Cristiano Azzi. A Urucu conseguiu emplacar duas produções na competição pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro: o moçambicano “Comboio de Sal e Açúcar”, do diretor brasileiro Licínio Azevedo, radicado em Maputo, e o longa do Lesotho “This is Not a Burial, It’s a Resurrection”, de Lemohang Jeremiah Mosese.
“Esse projeto ganhou 34 prêmios internacionais. É um trabalho de que a gente tem muito orgulho”, conta o produtor.
“This is Not a Burial, It’s a Resurrection” foi desenvolvido pela Realness, um instituto cofundado por Elias Ribeiro em 2015 para incrementar a formação de roteiristas africanos. Com esse programa, ele quer compartilhar as histórias da África que o mundo desconhece, mas também da diáspora africana em muitos países, incluindo o Brasil.
África tem muita história para contar
“Na África, havia o clima de produzir coisas que emulassem Hollywood. Eu nunca acreditei nisso. Acho que história que funciona é história que viaja, que são autênticas. E na África tem muita história que a gente ainda não ouviu”, revela.
Elias Ribeiro também quer desenvolver, mais do que coproduções norte-sul, parcerias sul-sul entre países que trabalham questões temáticas parecidas.
“Acho que, por falta de recurso financeiro, a gente sempre olha para a Europa. Mas eu acho que a gente tem um nível conceitual. As questões que nossos cineastas estão desenvolvendo são bem parecidas com as do Brasil, Caribe ou América Central, onde existe um contingente grande da diáspora africana. Questões como pós-colonialismo, racialismo, identidade”, assegura.
Ele não tem dúvida de que se impõe como um dos principais produtores africanos: “Se você falar de cinema africano, acho que as pessoas vão saber quem é Elias Ribeiro”, acredita.
Por enquanto, o produtor pausou as parcerias com o Brasil, mas espera retomar a coprodução com o cinema brasileiro depois das eleições de outubro.
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Ator paulista se dedica a unir Brasil e Moçambique através da cultura
5/15/2022
Foi aos 10 anos de idade que Expedito Araújo decidiu que queria ser ator, inspirado pela escola em que estudava, no Rio de Janeiro, onde os alunos eram incentivados a ir ao teatro. Nascido em São Paulo, ele começou a carreira artística na adolescência. Deu vida a personagens nos palcos e na TV, mas com o passar do tempo acabou se tornando gestor cultural, trabalhando nos setores público e privado.
Vinícius Assis, correspondente da RFI na África
Seja atuando ou gerenciando projetos culturais, Expedito Araújo encara a arte como uma ferramenta transformadora, postura que o levou até o Timor Leste. “Fui convidado para fazer uma consultoria sobre a importância da cultura no desenvolvimento de um país”, conta à RFI.
Em 2017, o brasileiro estava de férias na Tailândia quando uma amiga que vivia em Maputo, trabalhando para uma organização internacional, sugeriu que ele fosse para Moçambique ser voluntário em um orfanato. Naquela época, Araújo já havia visitado cerca de 40 países, mas nenhum africano.
“Eu não tinha nenhuma curiosidade de conhecer, como a gente diz no Brasil, ‘a África’”, lembrou, destacando o hábito que muitos brasileiros têm de se referir ao segundo continente mais populoso do mundo como se fosse apenas um país. No total, a África é formada por 54 naçōes.
Esta parte do planeta - que tanto tem em comum com o Brasil - não estava na lista dos destinos preferidos do ator que, no máximo, havia parado em Adis Abeba, capital da Etiópia, na escala de uma viagem para Cingapura. Mas ele acabou dando o braço a torcer e se programou para passar três semanas em contato com órfãos moçambicanos.
“Primeiro foi uma descoberta. Eu não imaginava que existia no mundo uma realidade [como em Maputo]”, diz.
Araújo também descreve a surpresa ao se deparar com uma cidade onde nem tudo é periferia, embora tenha ido para uma área mais carente. Nada que o desanimasse. Logo que chegou, montou uma peça com um grupo de adolescentes do local.
Expedito explica que os adolescentes teriam que deixar o orfanato quando completassem 18 anos. Portanto, para ele, essa iniciação teatral poderia ser um possível caminho profissional.
A primeira experiência em Moçambique - que ele mesmo classifica como "um processo muito intenso" - foi curta, mas suficiente para fazer com que ele se apaixonasse pelo país de litoral exuberante e desejasse voltar. Começou, naquele mesmo ano, o processo para conseguir um visto mais longo.
O ator abriu mão do trabalho no Brasil e, na primeira oportunidade que teve, voltou. A decisão o ajudou a entender "o valor da simplicidade". Ele conta que nunca esqueceu o pedido que uma moçambicana o fez.
“Uma menina, de 7 ou 8 anos, falou ‘tio posso pedir um presente? É meu aniversário.’ E eu lembro que eu já falei ‘caramba, ela vai pedir um presente e eu não vim com grana para comprar o que no Brasil me pediam de presente’. E ela me pediu uma caneta vermelha. Aquilo me sensibilizou de um jeito que eu fui para o quarto em que eu estava e comecei a chorar”, disse.
A menina que tinha HIV e havia perdido os pais de forma trágica teve o simples desejo realizado pelo brasileiro. “Na verdade eu comprei um estojo de canetas e canetinhas, como a gente chama no Brasil, para pintar”, lembrou.
Diversidade moçambicana
Enquanto muitos ainda enxergam apenas pobreza em um dos países africanos com mais brasileiros, ele exalta a diversidade que encontrou em Moçambique. “Não é só miséria. É um país com um dos litorais mais lindos de todos os países que pude conhecer no mundo”, enfatiza e lembra, também, das enormes diferenças de realidades na capital, Maputo.
Além disso, chama atenção para o que qualquer brasileiro pode constatar ao desembarcar em Moçambique: muitos moçambicanos são apaixonados pelo Brasil. “Existe uma influência muito grande do Brasil aqui em Moçambique por conta das telenovelas brasileiras. Então, eles têm um carinho muito grande pelo brasileiro”, contou.
Outros dois países da África que Expedito conheceu nos últimos anos...
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Freira brasileira cria programa de microcrédito para mulheres na Etiópia
3/12/2022
Ela optou por não ter filhos biológicos, mas perdeu a conta de quantas pessoas tiveram dela o amor digno de uma mãe. Como já são mais de 40 anos vivendo fora do Brasil, às vezes irmã Maria Bandieira até se esquece como algumas palavras são ditas em Português.
Vinícius de Assis, correspondente da RFI na África
Mas além do sotaque gaúcho, ela não deixa de lado a fé que a faz seguir em frente, ainda mais morando em um lugar com tantos desafios.
Uma religiosa que já cavou covas para enterrar muita gente, mas que se orgulha em dizer que crianças também vieram ao mundo através das mãos dela.
Irmã Maria revela que uma vez pensou em desistir da missão no continente africano, diante das dificuldades iniciais, mas persistiu e chegou até aqui, ensinando e aprendendo com o povo etíope, principalmente com as mulheres.
Ela destaca a diversidade da Etiópia, onde lida, na capital Adis Abeba, com médicas e outras profissionais bem esclarecidas, mas no interior o contato mais próximo foi com mulheres mais simples, pobres, muitas delas viúvas.
Depois de tantas mortes devido à seca que castigou o país em 1984 ela conta que muitos homens desapareceram das vilas próximas de onde ela vivia. “Quando a gente perguntava 'onde está o pai da criança?', elas diziam 'foi procurar trabalho, foi procurar comida'”, disse. Para ela, o homem normalmente não suportaria ver os filhos morrerem de fome e todo o sofrimento causado por essa situação. “Ele sai. As mães ficam até o fim. São as últimas a morrer. Vinham ali com aquela última criança no colo... era um desespero aquele tempo”, lembra.
Nascida em Erechim, Rio Grande do Sul, a freira brasileira que hoje tem 77 anos já passou mais da metade da vida na Etiópia, uma das cinco maiores economias da África, mas que ainda enfrenta grandes problemas internos, como desigualdade e conflitos. São cerca de 80 etinias no segundo país mais populoso da África.
O idioma foi um dos desafios da religiosa que se mudou para a Etiópia no início dos anos 1980 e começou a dar aulas para crianças em uma área rural.
“Para conseguir me comunicar com o povo, eu usava gestos, algumas palavras que sabia. Era uma dificuldade até um certo ponto, porque eles aceitavam e eu aceitava a situação. Era uma troca e nos divertíamos também”, disse a brasileira que hoje em dia conversa em pelo menos dois idiomas etíopes, oromo e amárico.
Ela contou à reportagem que decidiu que queria ser freira e trabalhar em um país africano aos cinco anos, antes mesmo de ser alfabetizada. Irmã Maria tem ao todo quatro irmãos. Ela estava sempre por perto quando as três mais velhas estudavam. Um dia, viu em uma revista que as irmãs liam uma foto de freiras em missão no continente africano. A imagem nunca saiu da cabeça de Maria que cresceu e seguiu sua vocação.
A mudança para a Etiópia foi em fevereiro de 1981. Os primeiros anos foram os mais difíceis, quando mudanças climáticas já mandavam seus sinais. “Cada ano a época da chuva encurtava, começava depois e terminava antes”, lembrou.
Muita gente que ela conhecia morreu de fome, tuberculose e outras doenças. “O povo não tinha mais comida por toda a Etiópia. A TB (tuberculose) começou a aumentar muito no país”, conta. Naquela época a brasileira vivia a 20 km da cidade de Nekemte, em uma área sem luz, água e com transporte precário.
Hoje os tempos são outros, para ela e para o país. A religiosa vive em um espaço onde funciona uma escola coordenada por freiras, em Adis Abeba. Embora dificuldades ainda existam para boa parte da população, a Etiópia conseguiu, nos últimos anos, até antes da pandemia, estar entre os países que mais cresciam.
A brasileira destaca que nem todas as etnias do país ainda convivem em perfeita harmonia. Atualmente a Etiópia enfrenta uma guerra civil que começou em novembro de 2020, antes do conflito entre Rússia e Ucrânia atrair a atenção de todo o planeta. A guerra em andamento no norte etíope já deixou milhares de mortos, fez mais de 2 milhões de pessoas fugirem das áreas onde...
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Lições e desafios de uma feminista brasileira em Uganda
1/15/2022
Foi a convite do atual companheiro que Marília Cardoso visitou Uganda pela primeira vez, em junho de 2018, quando desembarcou na capital, Campala. Feminista interseccional e radical, como ela mesma se define, desde pequena a paulistana é apaixonada por causas sociais e viu no país do leste africano um ambiente perfeito para colocar em prática o que aprendeu nos últimos anos sobre desenvolvimento social com o recorte de gênero, bandeira que ela orgulhosamente levanta há muito tempo.
Vinícius Assis, correspondente da RFI na África do Sul
Hoje, aos 35 anos, Marília tem total ciência dos privilégios que a pele alva a traz nessas terras e a mantém afastada de riscos aos quais as mulheres negras locais estão expostas, mas também diz não querer se colocar como a salvadora branca tentando remediar as mazelas deste povo. Ela foi disposta a ouvir e aprender bastante sobre seu papel de estrangeira branca nessa região.
Durante a pandemia, ela e outras duas brasileiras – Helen Rose e Elisa Pires – fundaram o Instituto Agali Awamu, que na língua luganda significa “juntos conseguimos”. A entidade pretende impulsionar projetos sociais no Brasil e em Uganda nas áreas de educação, gênero, raça e meio ambiente, mas tudo através de uma metodologia comunitária.
A paulistana frisou que “tem que haver o respeito” para conseguir realmente envolver a comunidade no processo decisório de criação de projetos. Com essa postura, conseguiu fazer trabalhos “diferenciados” e muito mais “específicos de cada região”. Assim, era possível ver a sustentabilidade do projeto não apenas financeiramente.
“Quando a comunidade participa do desenvolvimento, de todas as decisões e do design do projeto, ela acaba conseguindo dar sequência para com as próprias pernas. Muitas vezes, após um período de tempo, com muito mais eficiência e mais capacidade de competência, justamente porque foi envolvida desde o começo, foi trabalhado por eles, foi criado com sabedoria, conhecimento, vivência deles”, esclareceu.
Ao tocar neste assunto, Marília deixa claro querer evitar o que classifica de intervenções, como chama o estilo de trabalho de alguns órgãos internacionais, que chegam querendo dizer para determinada comunidade como ela deve viver e solucionar seus problemas, sem escutar e envolver os locais.
As três fundadoras do instituto ainda não se conhecem pessoalmente: foram apresentadas virtualmente por amigos em comum. Mas todas tinham o mesmo sonho, que sai agora da tela do computador.
Marília é formada em Relações Internacionais. Por quase 10 anos trabalhou no setor privado, em posições de desenvolvimento de negócios em empresas de tecnologia da informação – um mercado predominantemente masculino.
A história dela com o continente africano começou quando, em 2017, foi para o Quênia. A ideia era fazer um trabalho voluntário, mas Marília não queria simplesmente apoiar o já lucrativo setor do “volunturismo” (como é chamado na região o mercado que lucra com viajantes que buscam fazer voluntariado em países africanos, mas nem sempre preocupados com o impacto das suas ações nos locais).
Foi quando conheceu um projeto que trabalha com empoderamento econômico feminino através do futebol, quebrando normas sociais de gênero bastante enraizadas no interior queniano, uma região de extrema vulnerabilidade social e econômica.
O objetivo era implementar uma incubadora de negócios para promover a independência financeira de jovens e mulheres na região. Precisavam de alguém com experiência em desenvolvimento de negócios para treinamentos na área de marketing, vendas e empreendedorismo. A brasileira apareceu com essas habilidades naquele exato momento.
“Entendemos que ali tinha uma sinergia. Eu queria trabalhar com organizações locais comunitárias, com desenvolvimento social com base comunitária. Não tanto com organizações internacionais, que já têm o seu playbook internacional de como as coisas devem funcionar. Eu queria ter um trabalho mais de base de campo", explica.
Era para ter...
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Violência, pandemia e estereótipos fazem parte de rotina de psicóloga brasileira na África do Sul
7/18/2021
A psicóloga brasileira Mara Perrotti acompanha de casa, em Joanesburgo, as últimas notícias sobre a onda de violência na África do Sul, como se já não bastassem as consequências da pandemia na vida de quem mora no país que registrou quase 40% dos casos de Covid-19 no continente africano. A paulistana se disse triste e surpresa ao ver isso acontecendo, mas nada que a abale psicológicamente ou a impessa de continuar pensando em ajudar os outros.
Por Vinícius Assis, correspondente da RFI na África do Sul
Por ter morado em São Paulo ela diz que, “infelizmente”, já está um pouco familiarizada com manifestações violentas. “Lá acontece também. É um desastre isso, triste de se ver. Em São Paulo, a gente já convive com violência. Então, a gente fica meio 'casca grossa' com isso”, afirmou. Mas ela sabe que outros brasileiros vivendo no país ou que pensam em ir para a África do Sul acabaram ficando preocupados. “É ruim, pois a pessoa já começa a pensar em ir embora”, lamentou.
Um dia antes de o governo sul-africano impor um dos confinamentos nacionais mais rígidos do mundo, no fim de março do ano passado, por conta da pandemia, ela desembarcou em Joanesburgo, onde vive com o noivo (também brasileiro). Há mais de dois anos a psicóloga trabalha remotamente, antes de boa parte da população mundial ter sido forçada a aderir a esta rotina. Ao contrário de outros psicólogos, a brasileira não vê problema em chamar quem ela atende de paciente, pois acredita que isso não significa tratá-los como doentes.
“A gente parte da premissa de que paciência é a ciência da paz. Então, eles estão vindo buscar a paz. Tem gente que os chamam de clientes. Me agrada muito esse cunho de vir buscar a paz”, explicou.
Logo no início da entrevista, virtual, a brasileira se revelou apaixonada pelo único filho, que tem 23 anos e está no Brasil, pela profissão e se mostra íntima da ideia de se olhar para outro ser humano como se estivesse vendo a própria imagem refletida no espelho. Não por acaso escreveu no perfil dela em uma rede social uma frase de apresentação atribuída a Gandhi que resume esse conceito:"Eu e tu somos um só, não posso te magoar sem me ferir".
Atendimento gratuito
Tendo percedido o quanto a pandemia estava deixando muita gente ansiosa e preocupada, Mara fez um anúncio oferecendo atendimento psicológico gratuito a brasileiros na África do Sul. O post se espalhou em redes sociais e dez mulheres procuraram a psicóloga. Quatro ainda moravam no país. Outras tinham acabado de voltar para o Brasil. Mas o anúncio dela chegou também a brasileiras no Canadá e na Austrália. Todas se sentindo sem rumo.
“Eu queria muito contribuir com alguma coisa neste momento que estamos vivendo. Achei que utilizar meu trabaho, minha escuta, ia confortar um pouco coração das pessoas”, contou.
Mara preza pela privacidade das pacientes, mas revelou que quase todas estavam bem mais carentes afetivamente. E como o distanciamento físico passou a ser regra de comportamento, a saída para algumas brasileiras foi se aventurar nos aplicativos de relacionamentos. Isso escancarou uma realidade enfrentada por muitas no exterior: ter que lidar com o esteriótipo de mulher fácil.
“Brasileiro tem um esteriótipo internacional meio complicado, principalmente as mulheres. A mulher brasileira é vista como muito sensual, muito sexualizada. Elas acabam recebendo propostas que passam do limite do que seria gentil”, analisou. A psicóloga tem pacientes homens, mas disse que durante a pandemia só foi procurada por mulheres querendo atendimento e que a inquietação nos pacientes homens tem sido mais em relação à questão financeira.
Solidão
O lockdown aumentou a solidão das pessoas, ainda mais na África do Sul que, em março do ano passado, implementou um dos mais rígidos planos de confinamentos nacionais do mundo por conta da pandemia. A “falta de troca” pesou, de acordo com a psicóloga. “O ser humano é um ser social. A gente precisa do outro para saber quem a gente é, para ter essa troca. Isso...
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