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Ciencia - A ciencia a dar cartas em lingua portuguesa

RFI

Uma vez por semana, os temas que marcam a actualidade científica são aqui descodificados.

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Paris, France

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RFI

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Uma vez por semana, os temas que marcam a actualidade científica são aqui descodificados.

Language:

Portuguese


Episodes

Covid longo associado a persistência do vírus na mucosa intestinal

6/6/2023
A Universidade do Minho em parceria com a Universidade Paris-Cité publicou em Março um estudo que dá conta que mesmo largos meses após os pacientes estarem curados do vírus, aqueles que apresentam ainda sintomas da doença, ou seja covid longo, têm uma deficiência imunológica, estando o vírus instalado na intestino. Até três meses após ter sofrido de covid-19, a Organização Mundial de Saúde estima que um em cada dez pacientes apresentem ainda sintomas da doença, classificando esta situação como um quadro de covid longo. Este covid pode ser caracterizado com diferentes sintomas como tosse persistente, fadiga, confusão mental ou problemas de memória entre outros. De forma a tentar procurar as causas desta doença, a Universidade do Minho, em parceria com Universidade Paris-Cité, estudou 127 doentes que já tinha acompanhado na primeira contaminação com covid-19 de forma a compreender se quem ainda apresentava sintomas tinha alguma coisa em comum, tendo encontrado o vírus na mucosa intestinal de diferentes pacientes. Ricardo Silvestre, investigador principal do Instituto de Investigação em​ Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho, explicou em entrevista à RFI como levou a cabo este estudo com a sua equipa. "Já em 2022 começou a perceber-se que havia um conjunto de doentes que mantinham uma série de sintomas ao longo do tempo, depois de terem a doença aguda, e isso permitiu-nos voltar a contacta-los seis meses depois, voltar a colher sangue, caracteriza-los e aí colocámos a hipótese que a existência destes sintomas de covid longo podia estar associada com uma disfunção imunológica e basicamente o nosso estudo permitiu avaliar que os doentes associados aos sintomas do covid longo têm uma disfunção imunológica que nós neste artigo associamos a uma persistência do vírus na muscosa intestinal", explicou Ricardo Silvestre. Até agora, esta é uma doença difícil de diagnosticar já que possui sintomas muito diversos que podem assemelhar-se a uma gripe, mas ir até sintomas neurológicos, sendo que até agora, os médicos têm conseguido apenas tratar os sintomas, mas não a origem deste covid prolongado. As conclusões deste estudo podem, finalmente, mostrar caminhos para curar o covid longo. "O covid longo está associado a uma persistência viral nas mucosas, nomeadamente na parte intestinal e pode-se sugerir, para estudos futuros, tratar estes doentes com antivirais. A outra perspectiva é que como o diagnóstico é sempre feito por exclusão, com pacientes que tiveram covid há menos de três meses e cujos sintomas se mantêm já há dois meses ou mais e na exlusão de outros problemas, eles são caracterizados como tendo covid longo. O facto de termos encontrado biomarcados, da presença de um conjunto de anti-corpos específicos pode servir para fazer um diagnóstico não por exclusão, mas por positividade", detalhou o investigador. Ricardo Silvestre concluiu ainda que a vacina continua a ser muito importante, mesmo nos casos de covid longo, havendo menos casos quando as pessoas são vacinadas.

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Bruxelas alerta para situação "extremamente grave" de seca no sul da Europa

5/19/2023
Bruxelas alertou para uma situação "extremamente grave" de seca no sul da Europa. A situação de seca meteorológica agravou-se na Península Ibérica no mês passado. Nos últimos dois meses, não houve chuva, registaram-se "três ondas de calor durante o mês de Abril” e têm estado “temperaturas médias e máximas bem acima do normal”, indicou a Comissão Europeia. "Este é um reflexo das alterações climáticas e até sabemos, aproximadamente, qual vai ser a tendência no que respeita as secas mais frequentes e intensas. Em Portugal tivemos um recorde de três ondas de calor em Abril, um sintonma do que se está a passar na escala global", afirma o presidente da associação Zero, professor na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Francisco Ferreira. Portugal enfrenta uma seca em 40% do território nacional com impactos não apenas para os agricultores, mas também porque pode contribuir para a subida dos preços no consumidor. "Temos todo um conjunto de consequências em diferenciados sectores. No que diz respeito à agricultura isso tem um reflexo no preço dos bens alimentares, mas também no próprio turismo. As temperaturas mais elevadas, o maior número de ondas de calor e nas paisagens, que na primavera já parece quase uma paisagem de verão, são factores que interferem na oferta turística", descreve. Segundo o relatório “Estado do Clima Europeu 2022”, as temperaturas na Europa estão a subir duas vezes mais que a média global e este aumento é mais rápido do que em qualquer outro continente. "Ainda vamos a tempo de, pelo menos, minimizar as alterações climáticas. Há um trabalho que pode e deve ser feito no sentido de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa para não agravar aquilo que está a ir mais rapidamente do que o que os cientistas tinham previsto", aponta o presidente da associação zero.

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Paralisia cerebral infantil: "uma pequena evolução é um grande ganho"

5/19/2023
Estima–se que em Cabo Verde existem cerca de 2 mil pessoas com paralisia cerebral e menos da metade é conhecida. A presidente da Associação das Famílias e Amigos das Crianças com Paralisia Cerebral (Acarinhar), Teresa Mascarenhas, considera que "muitas coisas já foram feitas, mas ainda temos um longo caminho a percorrer". A associação Acarinhar é uma ONG de solidariedade social criada em 2007 por um grupo de pessoas preocupadas pela situação em que vivem as crianças e jovens com paralisia cerebral. A presidente da Associação das Famílias e Amigos das Crianças com Paralisia Cerebral (Acarinhar), Teresa Mascarenhas, considera que "muitas coisas já foram feitas, mas ainda existe um longo caminho a percorrer". A maioria das crianças com limitações motoras vivem em zonas de difícil acesso. "Os desafios são muitos, principalmente no que diz respeito à sustentabilidade da própria organização porque trabalhar nesta área exige recursos económicos e humanos. A situação geográfica de Cabo Verde impõe barreiras. O que é feito numa ilha deveria ser feito nas outras ilhas", defende Teresa Mascarenhas. Em Cabo Verde, as crianças e adultos com paralisia cerebral ainda não têm o acompanhamento que deveriam ter, afirma a responsável da associação Acarinhar. "O hospital Agostinho Neto já conta com uma equipa que dá respostas a um grupo de crianças, um grupo muito reduzido. A nível nacional não existe esta equipa, quanto muito há um ou dois casos, mais agudos, que se deslocam à Cidade da Praia para fazer tratamentos, mas que depois regressam para a ilha de origem", descreve. As crianças com paralisia cerebral dificilmente têm acesso a profissionais, falta pessoal técnico especializado; "não temos terapeutas ocupacionais, os terapeutas da fala, também existem em número reduzido e nem todas as pessoas têm acesso à fisioterapia", sublinha Teresa Mascarenhas. "Vamos continuar a acompanhar as famílias, mas é necessário fazer-se um registo das crianças com paralisia cerebral. Temos algumas referências, dadas pelo Instituto Nacional de Estatísticas, mas são dados não publicados. É preciso ter registos do número de crianças, onde se encontram e como estão para podermos intervir", afirma a presidente da Associação das Famílias e Amigos das Crianças com Paralisia Cerebral. Teresa Mascarenhas lembra, ainda, que há casos de sucesso como uma criança conheceu com 8 anos de idade. "Esta criança não andava nem falava. Houve uma intervenção pluridisciplinar intensiva e esta criança começou a andar, a falar. Neste momento esta crianças é um jovem que está no ensino secundário. Se houver intervenções com continuidade é possível haver muitas evoluções", concluiu.

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Start-up moçambicana quer biovaletas sustentáveis em Maputo

5/9/2023
A arquitecta moçambicana Khiusha Uaila é a mentora da Xi Bassile, uma start-up que quer implementar biovaletas com materiais reciclados para uma gestão mais sustentável das águas pluviais. A iniciativa chegou à final da ClimateLaunchPad, uma competição internacional que apoia ideias de negócios verdes. O objectivo, agora, é implementar o projecto-piloto num bairro de ocupação informal em Maputo. O projecto Xi Bassile nasceu durante o mestrado,na Irlanda, da jovem moçambicana Khiusha Uaila, no âmbito do curso de Arquitectura, Urbanismo e Acção Climática. Antes disso, ela formou-se como arquitecta e urbanista na Universidade Federal de Santa Catarina, no Brasil. Depois dos estudos no estrangeiro, Khiusha Uaila voltou para Maputo, onde tem trabalhado como arquitecta e agora quer implementar um projecto que ajude a gerir a água da chuva e as inundações. “RFI: O que é a Xi Bassile?” Khiusha Uaila, Arquitecta: “A Xi Bassile é uma empresa social, é uma ‘start-up’ que está agora na sua fase de pesquisa e desenvolvimento de produto. Temos a missão de focar em soluções sustentáveis e baseadas na natureza para resolver problemas urbanos. Focamos agora, principalmente, na gestão de águas fluviais com a solução da biovaleta e, também, com uma solução de um kit simplificado de recolha de água da chuva. A intenção, à medida que a gente for crescendo, é trabalhar com diversas outras soluções, incluindo consultoria em projectos urbanos.” “Em que consiste essa biovaleta sustentável?” “Essa biovaleta foi um produto do meu mestrado. Biovaletas são soluções que já existem há algumas décadas, apesar de não serem ainda a solução mais recorrente. É um sistema de gestão de águas pluviais que utiliza os solos e a vegetação para absorver e também para filtrar a poluição das águas da chuva. É uma solução mais sustentável que está baseada na natureza e também ajuda na regeneração ambiental, além de reproduzir o ciclo natural da água, mantendo um ecossistema um bocadinho mais equilibrado em comparação com as soluções mais convencionais de engenharia que a gente tem nas cidades e que simplesmente têm o objectivo de retirar a água da chuva das áreas urbanas o mais rápido possível.” “A biovaleta também usa material reciclado?” “Isso é a inovação da nossa valeta na Xi Bassile porque reutilizamos resíduos sólidos - podem ser garrafas Pet, podem ser betão reciclado de lixo de construções e demolições - como elementos constitutivos dentro do sistema da biovaleta para aumentar a porosidade do sistema e, assim, aumentar a capacidade de absorção e aumentar a capacidade de armazenamento temporário dessa água da chuva, reduzindo a inundação e água estagnada nas superfícies das ruas. Então, é uma solução de baixo custo, sustentável e baseada na natureza. É uma abordagem completamente diferente do que tem sido feito ultimamente nas cidades moçambicanas e que se baseava em estruturas feitas em betão, que também é um material poluente, que no seu processo de fabricação emite bastantes gases que contribuem para as mudanças climáticas. A gente tenta buscar uma abordagem mais sustentável para resolver esses problemas urbanos que são tão recorrentes nas cidades moçambicanas, infelizmente.” “Relativamente ao kit de recolha de águas das chuvas, as pessoas poderão ter acesso a este kit?” “Na verdade, é uma versão simplificada de armazenamento de água da chuva, mas que tem uma componente de filtragem. Utiliza areia e membranas geo-têxteis para armazenar e filtrar a água da chuva. Muitas vezes, é um grande problema quando se trata de recolher água da chuva porque essa água recolhida vem cheia de sujidades e isso restringe um bocadinho a utilização daquela água. Esta é uma solução que foi inspirada num estudo desenvolvido pela Universidade de Brasília que estudou diferentes materiais alternativos e de baixo custo para soluções de drenagem e de gestão de água. Com base nisso, a nossa ideia é fazer um projecto-piloto onde se faz a implementação dessas duas...

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Livro recentemente lançado na Praia conta história da informática em Cabo Verde

5/8/2023
Neste magazine "Ciência", debruçamo-nos sobre a história dos computadores e das tecnologias da informação em Cabo Verde e a forma como mudaram o quotidiano da população do arquipélago em quase 50 anos, tema de um livro recentemente lançado na cidade da Praia, intitulado "Versão 1.0 da História da informática em Cabo Verde". Esta obra que é o fruto de cinco anos de uma investigação conjunta de dois especialistas da área, José Manuel Duarte dos Santos e Juvenal Pereira, conta-nos a chegada do primeiro computador ao país em finais dos anos 70, as suas aplicações no sector bancário e, em seguida, na comunicação social, educação e saúde, até aos dias de hoje, com Cabo Verde a olhar para o futuro com a ambição de se tornar um "hub digital". A RFI falou com um dos co-autores deste livro, o engenheiro informático e professor Juvenal Pereira que nos falou dos tempos nem tão distantes em que os computadores eram uma novidade. "A informática entrou em Cabo Verde entre os anos 1976 e 1977, logo após a criação do Banco de Cabo Verde. O banco precisava de automatizar algumas das suas operações, sobretudo o processo de fixação de cambio, e o então ministro das finanças e o governador do banco convidou o professor (português) Mário Valadas para conduzir essa operação de informatização", começa por contar o investigador referindo que a chegada dos primeiros computadores ao país permitiu igualmente a realização do primeiro censo informatizado da população no começo dos anos 80. Durante essa década, conta o engenheiro, o Banco de Cabo Verde "também desenvolveu uma estratégia de capacitação dos seus quadros" e "promoveu várias palestras para que também quadros de outros sectores tivessem a oportunidade de entrar em contacto com a informática e desenvolver competências nesta área". Hoje, quase 50 anos depois, "vários cabo-verdianos dominam a informática. A partir dos anos 1990, começamos a verificar a procura do curso de engenharia informática ou cursos afins e de outro modo, as universidades disponibilizam hoje cursos ligados à informática que têm tido muita procura e a própria sociedade já utiliza os equipamentos digitais de uma forma normal", refere Juvenal Pereira reconhecendo contudo que "há ainda uma certa percentagem de iliteracia digital em Cabo Verde. Os dados do Instituto Nacional de Estatística de 2019 indicam que mais de 60% de cabo-verdianos têm conhecimentos do nível básico em termos do digital. Entre 10 a 12% possui conhecimentos de nível avançado, ou seja 10 a 12% consegue programar um computador, consegue instalar um sistema operativo, substituir um programa, o resto enquadra-se num nível de conhecimento básico". Questionado sobre a chegada em 2021 do EllaLink, cabo submarino em fibra óptica que liga Cabo Verde à Europa e à América do Sul, o investigador considera que isto representa um avanço para o país, mas que serão necessários investimentos adicionais. "É claro que é uma aposta estratégica para o futuro do país no domínio do digital e terá certamente um grande impacto a nível da economia digital na redução de custos de acesso à internet, na implementação de programas de desenvolvimento que requerem uma banda maior. Nós temos que melhorar a rede que existe a nível local para que possamos usufruir o máximo possível da maior banda que é o EllaLink", diz Juvenal Pereira. Quanto à possibilidade de o seu país se tornar um "hub digital", conforme ambicionado pelo governo cabo-verdiano, o engenheiro informático considera que este objectivo é realista. "Há uma visão ao nível da governação para isto e o facto de haver essa visão já é muito bom. O EllaLink é um exemplo da concretização dessa visão. Mas existem outros investimentos, outras iniciativas importantes que são desenvolvidas para que essa visão se concretize de facto", comenta o especialista para quem "se estes investimentos forem continuados e acelerados, Cabo Verde poderá ser dentro de pouco tempo um 'hub tecnológico'".

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Grupo de investigadores lusófonos descobre primeiro berçário de tubarões no Atlântico Este

5/2/2023
Em Cabo Verde, um grupo de investigadores portugueses, cabo-verdianos e são-tomenses descobriu um berçário de tubarões ao largo da baía de Sal Rei, na ilha da Boa Vista. Uma descoberta importante para ajudar na conservação dos tubarões nesta região, mas também porque este berçário acolhe entre cinco a sete espécies diferentes de tubarões juvenis, incluindo o popular tubarão-martelo. Em entrevista à RFI, Rui Rosa, investigador do Centro de Ciências e Mar e do Ambiente, que dirige este estudo explicou como aconteceu esta descoberta, incluindo a cooperação com os pescadores locais, e as medidas a tomar agora para proteger estes tubarões juvenis. "Do ponto de vista de conservação é fulcral conhecermos os locais onde os tubarões colocam a sua descendência. Estas áreas de berçário são zonas costeiras onde os tubarões juvenis passam grande parte do seu tempo e, portanto, descrever estas areas tem grandes consequências na sua conservação", defendeu Rui Rosa. Esta identificação foi, segundo o investigador, um trabalho pioneiro que terá importantes consequências na conservação da população de tubarões ao largo desta ilha. "Este trabalho foi pioneiro porque conseguimos reunir uma quantidade de informação preciosa ao longo de seis anos na ilha da Boavista, em Cabo Verde, e conseguimos mostrar de forma categórica que a ilha da Boavista, nomeadamente a Baía de Sal rei é uma zona bastante única, porque é a primeira vez que se descreve uma zona destas naquela região de África", indicou. Numa altura em que as populações de algumas espécies de tubarões foram reduzidas em 70%, neste berçário foram identificadas entre cinco a sete espécies de tubarões, incluindo o tubarão martelo, mas também o tubarão doninha, o tubarão bicudo, o tubarão limão e o tubarão gata. Esta descoberta deve agora servir para criar áreas de conservação em cooperação com o Governo de Cabo Verde, mostrando à população local o interesse em salvaguardar os tubarões e evitar a pesca excessiva nas costas de Cabo Verde. O estudo foi desenvolvido no âmbito do projecto de investigação NGANDU, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento.

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Plantar é arma contra a fome e as alterações climáticas em Cabo Verde

4/24/2023
O projecto "Cidade Verde" começou na Praia, na ilha de Santiago, mas já chegou a outros concelhos e às ilhas de São Vicente e Santo Antão. Trata-se de um projecto de plantação de árvores de fruto para combater as alterações climáticas, a desertificação, a fome e a pobreza. A iniciativa é de Emileno Ortet que também começou a criar hortas nas escolas. “Vim de uma família de agricultores e também sou agricultor. As alterações climáticas estão a afectar muito o planeta, principalmente os agricultores (…) Daí surgiu-me a ideia de contribuir também”, começa por contar Emileno Ortet, agricultor e também agente da Polícia Nacional de Cabo Verde, que decidiu abraçar “a causa da luta contra as alterações climáticas”. O projecto Cidade Verde consiste em plantar árvores de fruto porque, para além de ajudar no combate às alterações climáticas, também ajuda na “luta contra a desertificação, a fome e a pobreza porque cada família irá cuidar da sua árvore e o fruto pode ser um meio de troca ou de subsistência para essa família”, explica. Emileno Ortet começou o projecto na Praia, na ilha de Santiago, em finais de 2018, e já o levou para outros concelhos e também para as ilhas de São Vicente e de Santo Antão. Entretanto, foram plantados 5.000 pés de árvores, nomeadamente papaeiras, goiabeiras, coqueiros, pitangueiras, abacateiros, mangueiras e maracujazeiros. Tudo começa com a recolha de sementes nas escolas ou junto de famílias, por exemplo. Depois, Emileno manda as sementes para o seu viveiro, onde produz as mudas frutíferas. Quando elas atingem entre nove meses a um ano, e graças ao patrocínio de empresas, as árvores são doadas às comunidades em reuniões onde se explica “a importância das árvores e como cuidar”. “O nosso objectivo de fazer palestras é para que as pessoas sintam a responsabilidade de ter árvores porque o projecto só doa as árvores. O projecto não vai regar as plantas, nem dar a água. Cada família é responsável pela sua árvore. Podemos apanhar a água da louça e outros tipos de água, colocar num filtro que desenvolvemos e depois colocar nas árvores”, conta. O projecto começou, também, a envolver os turistas que visitam Cabo Verde, graças a uma parceria com uma empresa que se ocupa do turismo rural e sustentável, turismo de montanha e turismo comunitário. “Todos os meses eles têm clientes, principalmente alemães, que vêm para Cabo Verde e fazemos a plantação, nomeadamente 50 árvores por mês. A ideia é fazer a plantação de 600 árvores só com esta campanha”, acrescenta. Emileno Ortet já tinha contado com o apoio do ‘Accelerator Lab’ do PNUD Cabo Verde para um outro projecto, “Agroecologia AgroFloresta Rui Vaz”, que foi o segundo classificado na maior competição nacional de empreendedorismo, o StartUp Challenge, no quadro do Programa Jovemprego. A iniciativa consiste em fazer “produção orgânica” para o consumo interno de Cabo Verde. Outro projecto em curso chama-se “horta na escola” e pretende “instalar hortas em todas as escolas primárias de Cabo Verde” para ensinar aos alunos a cuidar das árvores e dos legumes e “encontrar mais soldados para essa luta contra as alterações climáticas”. Oiça a entrevista nesta edição do programa Ciência.

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ChatGPT: "Nós somos testemunhas de uma revolução que está a acontecer"

4/18/2023
A ferramenta ChatGPT está disponível desde final de 2022 e pode vir a revolucionar a maneira como interagimos com a inteligência artificial, tendo capacidade, por enquanto, de responder às questões mais ou menos complexas, mas com uma grande capacidade de evolução. Para João Gama, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, estamos a viver uma revolução que vai mudar a maneira como estudamos, aprendemos e trabalhamos. "O que está por trás do ChatGPT é machine learning, ou seja, aprendizagem automática. No caso do ChatGPT é uma aprendizagem em linguagem natural de biliões de documentos. Nesta aprendizagem automática, nós construímos modelos de apoio à tomada de decisão aprendendo a partir de dados", explicou o professor universitário. Na versão gratuita disponibilizada pela OpenAI, que desenvolveu o ChatGPT, podemos colocar qualquer questão a esta ferramenta - que pode responder em 95 línguas diferentes, incluindo o português - e ela vai 'vasculhar' entre milhares de milhões de documentos na internet, apenas em milisegundos, e gerar a resposta mais apropriada. Segundo João Gama, desde 2015 que esta tecncologia está a ser desenvolvida e já houve "várias experiências falhadas", mas com esta versão bem sucedida, estamos a assistir a uma "revolução" tecnológica. "Este é um processo em evolução e nós somos testemunhas de uma revolução que está a acontecer. O que isto trouxe de novo foi a quantidade de informação que foi utilizada para treinar estes modelos, isto requer um esforço computacional muito grande, máquinas muito potentes e hardware sofisticado para fazer isto", relatou João Gama, que integra o o Laboratório de Inteligência Artificial e de Tomada de Decisão da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Para testar esta ferramenta, perguntámos ao ChatGPT se ele aprende e a resposta foi afirmativa. "Sim, eu sou capaz de aprender e me adaptar com base nas entradas que recebo dos usuários. Durante o meu treino, fui exposto a enormes quantidades de dados em linguagem natural, que me permitiram aprender a reconhecer padrões e relações entre palavras e frases. No entanto, é importante notar que a minha aprendizagem é baseada em reconhecimento de padrões, ou seja, eu aprendo a partir de exemplos e contextos que vi anteriormente durante o meu treino. Isso significa que, se um usuário me apresentar uma entrada que está muito fora do contexto do que vi durante o meu treino, eu posso ter dificuldades em fornecer uma resposta precisa ou relevante. No entanto, a cada dia, a minha capacidade de aprendizagem e adaptação é aprimorada à medida que continuo a interagir com os usuários e recebo mais dados para aprender", escreveu o ChatGPT. Se o ChatGPT tem a possibilidade de mudar o nosso quotidiano, fazendo progredir a evolução da digitalização das nossas vidas, há limites éticos a ter em conta, até porque esta ferramenta já mostrou ser ineficaz nalguns casos. "É preciso ter muito cuidado com a utilização do ChatGPT. Eu digo aos meus alunos para consultarem o ChatGPT, mas eles têm de ser muito críticos e analisar criteriosamente os resultados que o ChatGPT professa. Num programa doctoral, pedi aos alunos que consultassem o ChatGPT sobre o tema que queriam investigar e todas as referências não existiam. Estavam sintáticamente bem construídas, tinham autores que são pessoas conehcia sno meio, tinham título, revistas, mas íamos à revista e o artigo não existia", deu como exemplo João Gama. Quanto à utilização indevida do ChatGPT, como a difusão de fake news, o professor universitário diz que há cada vez mais preocupação na monotorização de como a informação é utilizada, nomeadamente legislação da Comissão Europeia, e que mesmo em Silicon Valley este é um tema que está a causar debate.

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Número de casos de cólera em Quelimane começa a diminuir após campanha de vacinação

4/11/2023
Após várias semanas de um surto de cólera que gerou mais de 11 mil casos confirmados na cidade de Quelimane, o número de casos diários começou a diminuir nesta cidade fortemente afectada pelo ciclone Freddy, segundo relatou Cristina Graziani, coordenadora de emergência da organizaçaõ Médicos Sem Fronteiras, que está a actuar na região. Após mais de 11 mil casos confirmados de cólera em Quelimane, o número diário de novos casos está a diminuir graças a uma forte campanha de informação e de vacinação nesta cidade da Zambézia, devastada recentemente pelo ciclone Freddy. "Felizmente, podemos dizer que a situação está a melhorar após a campanha de vacinação e muito trabalho nas comunidades, quer seja na promoção de cuidados de saúde, quer seja com o controlo dos casos de cólera nos centro de atendimento da cidade. O número de pacientes está a diminuir e no nosso centro de atendimento, o afluxo de pacientes está a diminuir", afirmou Cristina Graziani, coordenadora de emergência dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), em entrevista à RFI. O surto de cólera em Quelimane foi declarado há cerca de um mês, após a passagem devastadora do ciclone Freddy que causou inundações e destruição de infra-estruturas essenciais desta cidade, nomeadamente o saneamento das águas. Para a redução do números de casos tem contribuído a campanha de vacinação, que abrange cerca de 410 mil pessoas, mas também as campanhas de informação nas rádios locais e a distribuição de folhetos que incita a população a procurar os centros de saúde a partir dos primeiros sintomas, como vómitos e diarreia. "A vacinação é um passo muito importante e outro passo importante é a questão da promoção da higiene feita em conjunto pelo MSF e outros parceiros humanitários, juntamente com as autoridades da Saúde, para informar a população do que tem de ser feito em casa para reduzir o risco de contaminação como ferver água, desinfectar, limpar bem, fechar as latrinas, todas as medidas de protecção para limitar o contágio", descreveu Cristina Graziani. Esta responsável da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras disse ainda que a redução de casos se deve ao empenho dos profissionais de saúde moçambicanos e dos funcionários das autoridades locais que mesmo eles próprios tendo sido afectados pelos estragos provocados pelo ciclone Freddy, não deixaram de combater o surto de cólera. "Gostaria de agradecer a todos os profissionais de saúde, todos, desde quem trabalha nos centros até à desinfecção, pelo grande compromisso que eu encontrei. São pessoas que trabalham muitas horas, pessoas que perderam as suas casas, que não têm água e que eles estão cansados, mas que trabalham muitas horas com muita seriedade. É um experiência muito forte, tanto na província de Niassa, como agora na Zambézia", indicou. Antes de vir para Quelimane, Cristina Graziani esteve em Niassa onde o surto de cólera também já abrandou. Graziani lembra que desde que os pacientes acorram desde os primeiros sintomas aos centro de saúde e centro de tratamento de cólera, há uma grande possibilidade de cura. Actualmente a cólera está presente em 11 países africanos - Malawí, Moçambique, Somália, Quénia, Etiópia, Zâmbia, Sudão do Sul, Burundi, Tanzânia, Zimbabwe e África do Sul -, atingindo 28 milhões de pessoas, uma situação que preocupa os Médicos Sem Fronteiras. "No que diz respeito ao Malawi, há muitos meses que a situação está por resolver e isto é um problema porque as fronteiras são muito permeáveis e há um grande movimento de pessoas e de mercadorias. É um trabalho que envolve mais do que um país e é um trabalho necessário para uma vigilância activa e passiva que resolva o problemas das fronteiras. Esperamos que os governos concordem numa estratégia de monitorização das fronteiras e passagem de pessoas nestas alturas de época chuvosas que trazem sempre doenças diarreicas", concluiu Cristina Graziani.

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Moçambique: Mortes por VIH-SIDA caem 37 % em 12 anos

4/3/2023
Em 1983, os investigadores franceses Luc Montagnier e Françoise Barré –Sinoussi descobriam o vírus da SIDA, um feito que viria a ser recompensado em 2008 com o prémio Nobel da Medicina. Quarenta anos depois são alguns os avanços conquistados na luta contra o VIH SIDA, doença que em 2021 provocou a morte a 650 mil pessoas. Em Moçambique, as autoridades reconhecem os ganhos obtidos nos útimos anos, com o país a registar uma quebra de 37% nas mortes provocadas pelo vírus da SIDA. A coordenadora da Unidade de Planificação e Coordenação do Conselho Nacional de Combate à SIDA , Ema Chuva, explicou que Moçambique, o segundo país, depois da África do Sul, com mais casos de pessoas infectadas no mundo, registou ainda uma redução de 41% nas vovas infecções. RFI: Quais foram os avanços conquistados ao longo destes últimos quarenta anos? Ema Chuva, coordenadora da Unidade de Planificação e Coordenação no Conselho Nacional de Combate à Sida em Moçambique: Em relação ao nosso país, nós fizemos alguns avanços nesta componente. Claramente, quando falamos disso, olhamos para a questão não só da prevenção, mas também para a questão do tratamento. De forma geral, temos estado a verificar uma redução do número de novas infecções, de cerca 41%, entre 2010 e 2022. Isto representa um grande avanço, uma vez que o objectivo das autoridades é reduzir as infecções por VIH-SIDA. Em 2022, quantas pessoas morreram devido ao vírus da sida em Moçambique? Nós usamos estimativas e a informação que temos, neste momento, permite-nos avançar que 48 mil moçambicanos perderam a vida por causa do vírus da SIDA. Mas convém referir que, ao longo destes anos, temos estado a assistir a uma redução das mortes em cerca de 37% e a uma diminuição da taxa de transmissão vertical que chega aos de 70%. A taxa de transmissão vertical situa-se, neste momento, nos 10%. Quero recordar que Moçambique registou no passado uma taxa que rondava os 30%. Ou seja, a taxa de 10% representa um grande ganho em relação à resposta ao VIH-SIDA. O que é que contribuiu para esta redução? Um dos aspectos está ligado à cobertura do nosso tratamento anti-retroviral. Moçambique tem, neste momento, 1.9 milhão de pessoas em tratamento anti-retroviral e, como sabe, o tratamento é uma das ferramentas para a prevenção. Quando olhamos para os níveis de supressão viral, temos níveis consideráveis e isso ajuda, de alguma forma, a melhorar a prevenção. Por outro lado, embora a resposta ao VIH-SIDA seja dependente do financiamento internacional, temos verificado uma grande contribuição dos nossos parceiros internacionais na componente da prevenção. Eles [os parceiros] têm estado a aumentar o financiamento e isto permite que os grupos mais vulneráveis, com destaque para as mulheres e os jovens, tenham acesso às intervenções que vão reduzir o risco de infecção por VIH-SIDA. Considera que ao longo destes quarenta anos houve uma evolução no acesso aos tratamentos anti-retrovirais? Em Moçambique o tratamento antiretro-viral é gratuito. O nosso sistema de saúde é um sistema em que o tratamento do VIH SIDA e de outras doenças é gratuito. Portanto, todas as pessoas que vivem com VIH-SIDA podem ter acesso ao tratamento antiretro-viral. Aliado a esta questão da gratuitidade, temos uma cobertura de 96%, nas nossas unidades centrais de saúde do país para disponibilizar este tratamento. Onde quer que a pessoa esteja, ela tem possibilidade de ter acesso ao tratamento antiretro-viral, uma vez que quase todas as unidades já estão a disponibilizar este tratamento. Os atrasos na despistagem continuam a ser uma constante em Moçambique? Estamos a fazer uma série de intervenções para garantir que as pessoas chegam o mais rapidamente possível às unidades sanitárias, permitindo-lhes o diagnóstico e o tratamento. O país está também, desde o ano passado, a introduzir o auto-teste. Uma das causas que faz com que as pessoas não se aproximem é o medo de serem estigmatizadas. Com o auto-teste queremos que essas pessoas sejam...

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Contracepção masculina é "um desafio" mais cultural do que científico

3/28/2023
Em Fevereiro, uma equipa de cientistas financiados pelo Instituto Nacional de Saúde norte-americano publicou um artigo em que dá conta de avanços positivos na busca por uma pílula masculina eficaz. Para a professora da Universidade do Minho, Cristina Martins, até agora a contracepção masculina não teve o mesmo investimento que a feminina não por razões científicas, mas sobretudo pela forma diferente como a sociedade vê homens e mulheres. O avanço que pode levar à primeira pílula contraceptiva viável para os homens foi descrito na revista científica Nature Communications em Fevereiro deste ano. Os testes em ratinhos mostraram-se eficazes com esta pílula a recorrer a uma técnica que imobiliza os espermatozoides, fazendo com que a ejaculação não leve à fertilização dos óvulos femininos. Mais do que um desafio científico, a dificuldade em encontrar uma pílula masculina é um desafio da sociedade moderna, já que cria uma desigualdade entre homens e mulheres na prevenção da contracepção, deixando muitas vezes esta responsabilidade exclusivamente no campo feminino. Este novo medicamento pode ser uma boa notícia, segundo Cristina Martins, professora universitária e directora do Curso de Enfermagem na Universidade do Minho, mas é preciso um maior investimento na educação sexual e uma desconstrução dos estereótipos de género desde a mais tenra idade para que os homens se tornem actores activos não só da contracepção, mas também da sua sexualidade e da parentalidade. "Há muita dificuldade em termos de aceitação cultural e social, é um desafio, o próprio financiamento e a pesquisa está mais limitada ou foi mais limitada ao longo das décadas do que a feminina. A verdade é que a contracepção surgiu quer para a mulher, quer para o homem, na mesma altura, mas não evoluiu da mesma maneira. A indústria farmacêutica teve mais desinteresse em relação à contracepção masculina do que feminina, justificada por razões de ordem política, cultural e biológica. Acho que há também uma questãomuito séria do estigma social associado às questões de género, funções e responsabilidade de homens e mulheres nesta matéria", declarou a professora universitária. Esta falta de partilha na contracepção acaba por fazer com que a responsabilidade caia sobre só sobre a mulher, um paradigma que deve mudar com a introdução de uma pílula viável para o homem. "É importante reconhecer que a contracepção é responsabilidade partilhada de ambos, quer homens quer mulheres, e estes deviam ter uma papel activo na prevenção. Esta falta de disponibilidade no mercado de contraceptivos masculinos, corrobora isto, mas se eles aparecerem pode ajudar a equilibrar esta carga de responsabilidade entre homens e mulheres", indicou Cristina Martins. A contracepção masculina está também muito ligada à virilidade, duas questões muitas vezes confundidas devido aos estereotipos sobre a sexualidade masculina. "As questões da virilidade são muito sérias e colocam barreiras psicológicas aos homens. Há culturas em que isto está muito vincado, com os homens a terem muitas questões sobre se a contracepção afecta a sua fertilidade a longo prazo, deixa de ser um macho e perturbar a sua visibilidade na sociedade. é um tabu que implementa uma certa falta de adesão dos homens ao métodos contraceptivos", Para resolver esta questão, a docente universitária considera que a promoção da educação sexual é a única solução. "Há a questão da promoção da educação social e do planeamento familiar que pode ajudar à conscencialização da importância da contracepção e do papel dos homens neste processo. Este incentivo para que os homens assumam este cuidado é necessário que exista desde muito cedo nas escolas e com uma real inclusão no planeamento reprodutivo", concluiu.

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O mundo tem "soluções" para os problemas climáticos, “falta vontade política”

3/20/2023
Foi publicado esta segunda-feira, 20 de Março de 2023, o sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC). Um resumo de milhares de páginas sobre o aquecimento global do planeta e as suas consequências, as formas de atenuar os seus efeitos e de adaptação. Na apresentação do documento, Hoesung Lee, sublinhou tratar-se de "uma mensagem de esperança”. Lembrou o mundo tem "soluções" para os problemas climáticos, todavia “falta vontade política forte”. Fruto de anos de trabalho, realizado por centenas de cientistas do mundo inteiro, o documento agora publicado reitera, mais uma vez, que é a acção humana a grande culpada pelo aquecimento global do planeta. Um planeta que está cada vez mais à beira do abismo. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apresentou o relatório como “um guia de sobrevivência para a humanidade”. Por seu lado, o presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, Hoesung Lee, sublinhou tratar-se de "uma mensagem de esperança”. Lembrou o economista coreano que “a mensagem mais importante é que temos soluções. (...) sabemos como nos adaptar, como fomentar a redução de emissões. Temos o conhecimento, a tecnologia, os meios, os recursos financeiros e tudo o que é necessário para ultrapassar os problemas climáticos identificados”, todavia “o que falta é uma vontade política forte de forma a resolver o problema de uma vez por todas”. Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista portuguesa Zero, sublinha que “o painel intergovernamental para as alterações climáticas não apenas nos dá o alerta, mas continua a reiterar um caminho possível para que não tenhamos um aquecimento global devastador como o que tem vindo a acontecer”. Este relatório-síntese é fruto de um enorme trabalho científico, mas também validado por todos os governos. (...) As mensagens principais são realmente extremamente importantes. A primeira que gostaria de realçar é que ainda é possível - e isso é reiterado pelo relatório - não irmos além do aquecimento de 1.5° em relação à era pré-industrial.O que é facto é que, neste momento, temos um consenso científico inegável sobre a urgência da crise climática: quais são as suas causas, quais são os seus impactos devastadores - principalmente nas regiões mais vulneráveis ao clima -, quais são os danos irreversíveis. Sabemos que não são as barreiras tecnológicas ou financeiras que põem em causa este caminho dramático das alterações climáticas, mas sim a vontade política. Já estamos com um nível de aquecimento praticamente de 1.1° em relação à era pré-industrial. Sabemos que este caos climático está a causar estragos em vidas, em meia subsistência, na saúde, no bem-estar humano, nas infra-estruturas, na produção de alimentos e sabemos que cada grau conta. Os efeitos serão muito diferentes se olharmos para um mundo que aqueça 1.5° ou que aqueça 2°. Nós estamos numa trajectória próxima dos 3°. Confirmamos com este relatório-síntese que as emissões globais de gases com efeito de estufa podem ser reduzidas, pelo menos, 43% até 2030 em relação a 2019 e, pelo menos, 60% entre 2019 e 2035. O painel intergovernamental para as alterações climáticas não apenas nos dá o alerta, mas continua a reiterar um caminho possível para que não tenhamos um aquecimento global devastador como o que tem vindo a acontecer. Após uma semana de debates em Interlaken, na Suíça, as principais conclusões do grupo de peritos são: A temperatura média do planeta vai aumentar 1,5ºC, em comparação com a era pré-industrial, até 2030-2035, devido à actividade humana. A projecção é válida em quase todos os cenários de emissões de gases com efeito estufa, porém "reduções profundas, rápidas e prolongadas das emissões (...) levariam a uma desaceleração do aquecimento do planeta em aproximadamente duas décadas".Os riscos climáticos são mais graves que o previsto: "Com o aumento inevitável do nível de água dos oceanos, os riscos para os ecossistemas costeiros,...

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Moçambique: Fenómenos climáticos serão cada vez mais violentos

3/13/2023
Em Moçambique, os fenómenos climáticos extremos são cada vez mais violentos. O ciclone Idai que arrasou a zona centro do país, em 2019, foi o primeiro de uma lista que aumenta a cada ano que passa. Cada vez mais as populações “vivem de coração nas mãos" de Novembro a Abril. Fraydson Sebastião, mestre em tecnologias do Ambiente, sublinha que a localização geográfica de Moçambique e "as actividade antropogénicas" contribuem, em larga escala, para a repetição destes fenómenos. Este ano não é excepção, este fim-de-semana, o ciclone Freddy deixou a cidade de Quelimane, no centro de Moçambique, sem electricidade e sem telecomunicações. Foi a segunda vez que o ciclone Freddy atingiu o continente. A 24 de Fevereiro, tinha provocado 10 mortes devido a condições adversas durante vários dias. Em Quelimane, o cenário é de casa, a maioria de habitação precária, completamente destruídas, árvores no chão, ruas alagadas e a chuva torrencial que teima em continuar a cair nesta cidade portuária. Um cenário que nos últimos anos teima em se repetir. Ao microfone da RFI, Fraydson Sebastião, mestre em tecnologias do Ambiente e docente na Escola Superior de Desenvolvimento Rural em Vilanculos, sublinha que a localização geográfica de Moçambique e "as actividade antropogénicas" contribuem, em larga escala, para a repetição destes fenómenos. Estamos a falar do uso excessivo dos combustíveis fósseis, estamos a falar da má gestão dos resíduos sólidos, estamos a falar da maneira como não estamos a tratar os recursos naturais, da maneira que estão a ser explorados os recursos naturais…. Estamos a fazer muita pressão no meio ambiente e as respostas são as que temos estado a observar: estes eventos extremos que têm acontecido ao longo do todo o mundo. Vários relatórios internacionais colocam Moçambique no topo da tabela dos países mais vulneráveis às alterações climáticas. O país tem 2.500 quilómetros de costa e está na rota natural dos ciclones do sudoeste do Índico. Nos últimos seis meses, os desastres naturais fizeram mais de 120 mortos, além de prejuízos ainda por calcular em campos agrícolas e infra-estruturas.

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"Tudo pode mudar" na regulação do alto mar com novo acordo encontrado na ONU

3/7/2023
Ao fim de 15 anos de dicussões, encontrou-se um acordo nas Nações Unidas para regular a exploração do mar internacional, que não pertence a nenhum país, e Tiago Pitta e Cunha, Presidente da Fundação Oceano Azul, em Portugal, espera que este seja um primeiro passo para se encontrar "soluções políticas" para os oceanos cuja situação se está a agravar. Na noite de sábado, encontrou-se na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, um consenso para o acordo sobre o alto mar, que visa regulamentar os recursos vivos dos oceanos que não entram nas zonas económicas exclusivas de nenhum país. A zona do alto mar equivale a mais de 60% dos oceanos e quase 50% da superfície total da terra e corresponde à zona marítima fora das zonas económicas exclusivas dos países costeiros. Há 15 anos esta discussão estava a ser levada a cabo e há quatro anos que as negociações estavam a decorrer na ONU. Para Tiago Pitta e Cunha, presidente da Fundação Oceano Azul, em Portugal, este acordo veio preencher uma lacuna no direito internacional que permitia uma exploração desigual e abusiva destes recursos. "Esqueceram-se que a entidade de fundos marinha tem apenas competência para regular a extracção de minerais e esqueceram-me que no mar internacional, como se chama o alto mar, todos os seres vivos que o habitam, não há regulação, portanto eles são de quem os apanhar. Hoje em dia existe uma lacuna sobre a exploração das zonas do alto mar que são mais ricas em stocks pesqueiros e é isto que este tratado tenta regular", afirmou Tiago Pitta e Cunha. Este acordo surge numa altura em que o dirigente da Fundação Oceano Azul denuncia que a crise no oceano está a agravar-se, assim, um tratado a este nível vai permitir proteger a variedade biológica, nomeadamente travar as pescas ilegais nestas regiões e também criar zonas marinhas protegidas, com a última Cimeira de Biodiversidade, que aconteceu em Dezembro de 2022 em Montreal, a definir que até 2030, 30% da terra e 30% do mar deverão ser designados como zonas protegidas. Também a distribuição dos recursos, nomeadamente as pesquisas levada sa cabo em alto mar que resultam em descobertas científica utilizadas por diferentes sectores, desde a cosmética até à saúde, devem beneficiar a conservação dos oceanos, assim como todos os países de forma igual. "Esperamos que com este tratado venham a ser previstos os fundos financeiros necessários para criar capacidades nos países do Sul e um equilíbrio na distribuição dos benefícios que venham a decorrer dos recursos genéticos. Sendo que para nós, Fundação Oceano Azul, aquilo que verdadeiramente nos preocupa no alto mar, é a sua protecção. O alto mar foi absolutamente explorado por 4 ou 5 nações pesqueiras [...] À partida tudo pode melhorar no dia seguinte à ratificação deste acordo", declarou. Espera-se agora uma ratificação acelerada deste tratado por parte de todos os Estados do Mundo, um processo que pode ser bastante complexo como relata Tiago Pitta e Cunha. "Para a convenção dos direitos do Mar, os problema começaram na altura da ratificação, por isso não podemos considerar que o alto mar está salvaguardado. Deu-se um passo importante e neste momento era fundamental haver uma via rápida, que um grupo de países se pudesse coligar para assumir o compromissos de fazer a ratificação deste tratado no mais curto espaço de tempo possível", declarou o dirigente da Fundação Oceano Azul. Para Tiago Pitta e Cunha a ratificação deste tratado deve acontecer até à próxima Conferência dos Oceanos que decorre em 2025, em Nice, França.

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Gabão acolhe cimeira One Forest: "Esperamos que se cumpram os acordos climático"

2/27/2023
Emmanuel Macron vai estar nos dias 1 e 2 de Março em Libreville, no Gabão. O Presidente francês vai co-organizar o One Forest Summit, uma cimeira sobre a preservação das florestas tropicais, evento para o qual foram convidados vários chefes de Estado. "Esperamos que desta cimeira se cumpram os acordos internacionais de financiamento climático. Os países de África são pobres e as económicas africanas estão dilaceradas. Esperamos que esta vinda do Presidente francês a África traga investimento, conhecimento, tecnologia, formação e educação. E que se cumpra o que se prometeu na conferência de Paris em 2015, o tal financiamento climático", defende o engenheiro e consultor ambiental, Jédio Fernandes. Para combater as alterações climáticas "temos de aumentar o nosso pulmão verde, plantando mais, conservando as zonas verdes existentes, aumentar a nossa zona de conservação florestal. A tecnologia é importante e temos uma necessidade tão grande de crescer economicamente e achamos que devemos explorar o máximo os elementos naturais, mas essa exploração tem de ser sustentada, consciente, se eu tirar uma árvore tenho de plantar, pelo menos, cinco", afirma o também coordenador para alterações climáticas da coligação juventude dos PALOP. Na última COP em Sharm El Sheikh, no Egipto, contou com uma forte presença africana. No encontro, ficou claro que só é possível vencer a luta contra as alterações climáticas e preservar a biodiversidade sem concursos ou lutas com o continente africano. "Esta COP contou com uma forte presença de jovens africanos, mas ficámos triste porque esperávamos que fossem definidas acções práticas para os desafios do continente africano. A parte boa foi o facto de, pela primeira vez, entrar na agenda a questão das perdas e danos. Existem danos ambientais irreversíveis, por exemplo os países das ilhas do Pacífico perderam terras. O avanço dos níveis do mar fez com que pessoas perdessem casas, perdessem famílias", explica. "É preciso falar de justiça climática. Quem polui mais deve pagar mais. Não polui, não desenvolvi, não posso pagar de igual maneira que quem poluiu e quem desenvolveu à custa de países que, hoje, passam mal por isso", concluiu.

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Investigação descobre novo caminho para o desenvolvimento de medicamentos anti-inflamatórios

2/21/2023
A Sépsis e a artrite reumatoide têm terapia inovadora em perspectiva ! A sépsis, resposta exacerbada do organismo a uma infecção grave, que pode conduzir à falência de órgãos, e até à morte, mata 11 milhões de pessoas por ano, o que equivale a 20% das mortes a nível mundial. Agora, após 10 anos de investigação, o grupo de investigação Imunidade Inata e Inflamação do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Portugal, descobriu como fármacos anticancerígenos restringem a inflamação. As descobertas abrem novos campos de acção, nomeadamente para a terapia cancerígena e para o desenvolvimento de novos medicamentos anti-inflamatórios com efeitos secundários limitados. O estudo publicado na revista cientifica eLife mostra que foi encontrada uma solução que poderá tratar, de forma mais eficaz, doenças causadas por uma resposta inflamatória exagerada, tal como a sépsis ou a artrite reumatóide. A RFI entrevistou o líder do estudo, Luís Moita, investigador principal do Instituto Gulbenkian de Ciência.

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Susana Custódio: «Zona do sismo na Turquia e na Síria era de risco e as construções deviam ter resistido»

2/14/2023
Na madrugada da segunda-feira 6 de Fevereiro, as regiões do Mediterrâneo e do Sudeste da Anatólia na Turquia, e as regiões próximas na Síria foram abaladas por um sismo que deixou um vasto rasto de destruição. Uma semana após esse abalo, Martin Griffiths, subsecretário-geral para assuntos humanitários da ONU, afirmou que a fase dos resgates está a “chegar ao fim”, priorizando agora o abrigo, a alimentação e o apoio psicológico dos sobreviventes. Ainda em relação às consequências do sismo, vários empreiteiros já foram detidos na Turquia devido à má qualidade de certas construções que se desmoronaram como um baralho de cartas. Recorde-se que leis estritas sobre construção anti-sísmica vigoram em território turco desde o grande terramoto de 1999, em Izmit, que provocou cerca de 18 mil mortos. Os últimos dados apontam para que o abalo da semana passada tenha causado a morte de pelo menos 31 mil pessoas. A RFI tentou ir mais longe e perceber como aconteceu este desastre. Sem apontar o dedo a ninguém, tentamos perceber como ocorre um sismo, o que o envolve e o que as pessoas devem fazer, não só na altura do abalo, mas sobretudo antes do fenómeno natural. Susana Custódio, sismóloga da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Instituto Dom Luiz, admitiu que a região onde ocorreu o sismo é uma zona de risco, ressalvando também que o risco zero não existe. As operações de socorro prosseguem em várias zonas de sinistro e de notar que apesar das primeiras notícias positivas, o futebolista ganês Christian Atsu ainda estaria debaixo dos escombros. Chegamos assim ao fim deste Magazine Ciência.

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Os balões de observação e as suas possíveis utilizações científicas ou militares

2/6/2023
No passado fim-de-semana, os Estados Unidos abateram um balão chinês junto da sua costa leste, depois de dias de especulação sobre o que estaria por detrás da presença desse engenho no seu espaço aéreo. Este balão que segundo Pequim não era suposto ter-se deslocado para essa área, estaria a fazer recolha de informação meteorológica. Contudo Washington acredita que este era um balão "espião", tanto mais que o engenho sobrevoou zonas sensíveis, como instalações nucleares. À luz deste acontecimento, a RFI foi explorar as possíveis utilizações dos balões, nomeadamente em termos científicos. Estes engenhos são quotidianamente utilizados para recolher dados sobre meteorologia. Com dimensões muito variáveis, quanto mais volumosos forem, mais alto e mais longe conseguem chegar, como refere Jorge Neto, meteorologista do IPMA, Instituto Português do Mar e da Atmosfera. "O balão meteorológico é um balão que pesa cerca de 600 gramas, que é enchido com hélio ou com hidrogénio e que leva uma sonda meteorológica amarrada", começa por explicar o cientista referindo que "para medições da qualidade do ar, são usados balões com dois quilos. Quanto mais pesado é o balão, mais ar leva e mais para cima pode ir ainda". Ao indicar que estes engenhos podem atingir altitudes "entre os 30 e os 40 quilómetros", o meteorologista detalha que "para além de ter quatro sensores, eles têm uma antena rádio e uma antena GPS. A antena GPS é para dar a sua localização e a antena rádio é para transmitir os dados em tempo real". Para além de um uso científico, os balões também podem ter um uso militar. Aliás, a sua utilização para finalidades de espionagem não é de agora. A sua primeira utilização neste âmbito deu-se durante as guerras revolucionárias francesas contra o império germânico em 1794. Balões de espionagem foram igualmente utilizados durante a guerra civil americana entre 1861 e 1865. Mais recentemente, tanto durante a primeira como na segunda guerra mundial, foram utilizados balões de espionagem mais sofisticados de ambos os lados das trincheiras. Hoje em dia, apesar da existência dos satélites, a recolha de informações pelos balões de observação não se tornou uma actividade obsoleta. Segundo peritos militares citados pela comunicação social americana, estes engenhos não estão tão expostos quanto os satélites, são mais baratos e não são facilmente detectáveis pelos radares. Contudo, poucos elementos são fornecidos sobre os balões "espiões". Por exemplo, não se sabe ao certo se um balão de recolha de informação meteorológica pode ser utilizado para outras finalidades, como refere o Major General Carlos Branco, ligado ao Instituto Português de Relações Internacionais. "Nós temos versões diferentes, não sabemos qual é que é a verdadeira, se de facto este é apenas um balão de observação meteorológica ou se é um balão espião. Na verdade, pode ser ambas coisas. De qualquer forma, não é a primeira vez que surgem estes incidentes. Registaram-se quatro ou cinco incidentes desde a era Obama", começa por observar o militar que não deixa de expressar alguma surpresa com o facto de o balão chinês ter conseguido chegar até aos Estados Unidos. "Como é que um balão consegue penetrar no espaço de alta altitude, primeiro, do Canadá e, depois, dos Estados Unidos, sem ser objecto de identificação e de intercepção? Foi identificada a sua presença através de um piloto de um voo comercial, o que não deixa de ser algo extremamente singular", nota o perito. Outra pista de reflexão identificada pelo Major General Carlos Branco é o vazio legal existente no que toca à zona de alta altitude situado entre a zona por onde passam os aviões e o espaço exterior para onde se lançam satélites, uma zona que é regulamentada desde 1967. "Esse espaço de alta altitude é um espaço intermédio entre o espaço aéreo e o espaço exterior. Isto será uma zona que não está regulamentada e, portanto, não é inteiramente claro o exercício da soberania por parte do Estado nestas altitudes", menciona...

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OMS preocupada com aumento de surtos de cólera

1/30/2023
A cólera é agora mais preocupante que a Covid-19 em África, alertou a Organização Mundial da Saúde face aos vários surtos de cólera no continente. O mais inquietante é no Maláwi, onde morreram mais de 1.000 pessoas desde Março de 2022, ou seja, o pior surto de sempre no país. Os surtos são cada vez "mais intensos, mais numerosos e mais duradouros" devido a eventos climáticos extremos e é urgente investir na rede de água e sanitarismo básico, avisa o investigador Jorge Seixas. RFI: "Antes de mais o que é a cólera?" Jorge Seixas, director da Unidade de Clínica Tropical do Instituto de Higiene e Medicina Tropical: "A cólera é uma doença diarreica aguda que é ocasionada por uma bactéria que está na água e que poderá estar também nos alimentos, uma vez que estes podem ser irrigados com água contaminada. Nalgumas circunstâncias, em África em particular, o contacto com um indivíduo que falece de cólera pode também transmitir directamente - através da mão - quem manipula durante os rituais fúnebres aos que participam do ritual fúnebre." "Quais são os sintomas da cólera?" "Os sintomas são basicamente a diarreia, mas pode haver infecções por essa bactéria que decorrem sem sintomas. Habitualmente, há uma diarreia aguda, é relativamente banal. Mas, numa certa percentagem de casos, a cólera assume um carácter de uma diarreia com uma perda de líquido através das fezes tão intensa, na ordem de cinco a dez litros por dia, o que torna a cólera - quando se manifesta dessa maneira - das doenças que matam mais rapidamente um indivíduo saudável." "Ou seja, ainda que seja tratável, pode provocar a morte por desidratação se não for prontamente combatida…" "Exactamente." "A Organização Mundial da Saúde alertou que a principal preocupação em África já não é a Covid-19 mas sim o surto de cólera que afecta dez países africanos. Quais são estes principais países afectados de uma forma geral e porquê? Temos noção porque é que são estes países?" "Em geral, para que haja o surto de cólera, é preciso que haja um evento natural, por exemplo, ciclones, como é o caso de Moçambique ou da Nigéria, ou seca, no caso da Etiópia e do Corno de África, que limita o acesso à água de qualidade mínima. No caso dos ciclones, há uma grande mistura, por causa das inundações, de água contaminada nas fontes de água anteriormente adequadas para consumo humano. Estes eventos climáticos, ciclone ou seca, são um factor determinante para a existência de surtos de cólera." "O aumento das temperaturas devido ao aquecimento global também pode facilitar o aparecimento de surtos de cólera?" "O aumento das temperaturas vai, por exemplo, ocasionar ciclones na costa leste de África, mas também no Golfo da Guiné, e seca nalguns outros lugares. Não é a temperatura ambiental em si, mas as consequências destas alterações climáticas que não são só o aquecimento. É instabilidade com eventos climáticos extremos que estão a aumentar claramente. Então, isto deverá ser um factor importante neste ressurgimento com surtos mais intensos e mais numerosos e mais duradouros, associado a uma disrupção dos sistemas de resposta em termos de saúde que sofreram com os efeitos da pandemia do Covid-19 mesmo em África." "Esta expansão foi evidente no Malawi, onde se regista o pior surto de cólera de sempre, com mais de 1.000 mortos desde Março do ano passado. O que é que se passa?" "O que se passa nesse país é basicamente uma desestruturação sociopolítica muito intensa. Todo o acesso a água de qualidade, o sanitarismo que não existe, os esgotos, as condições de vida da população implicam que têm, primeiro, dificuldade de acesso a esta água de qualidade potável e, depois, as contaminações entre a rede de esgoto e a rede de suprimento de água, associada a uma muito baixa capacidade de resposta, a um surto de cólera. Se um sistema de saúde pública já é deficiente, então quando você tem milhares de casos, isso requer uma acção muito incisiva em hospitais de campanha com a colaboração da ONGs. Os sistemas...

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Geração de energia através da fusão nuclear em laboratório é "feito histórico"

1/23/2023
Em dezembro de 2022, a secretária da Energia dos Estados Unidos da América, Jennifer Granholm anunciou ao Mundo que pela primeira vez na História, o laboratório National Ignition Facility, na Califórnia, tinha conseguido criar através da fusão nuclear mais energia do que aquela que tinha sido gasta na experiência. Um "feito histórico", segundo Bruno Soares Gonçalves, presidente do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do Instituto Técnico de Lisboa, relatou aos microfones da RFI. A responsável norte-americana chamou mesmo a esta experiência “um dos mais impressionantes feitos científicos do século XXI”, podendo dar origem a uma revolução energética, já que ao contrário da energia nuclear usada actualmente, não há dejectos radio-activos e os combustíveis necessários para a produção também não são poluentes e são usados em muito pequenas quantidades. Este é efectivamente “um resultado histórico”, segundo Bruno Soares Gonçalves, presidente do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear, do Instituto Técnico de Lisboa, disse em entrevista à RFI, mas não significa que num futuro próximo esta fonte de energia venha a substituir o que existe actualmente já que envolve ainda muita investigação. "Conseguiram obter um resultado histórico, porque obtiveram mais energia do que aquela que incidiu no combustível, ou seja, foi conseguida fusão nuclear com um ganho superior à energia gasta. É a primeira vez que tal é conseguido e é um resultado bastante importante na área da fusão nuclear. Não significa, no entanto, que tenhamos máquinas de fusão nuclear a produzir electricidade depois de amanhã, mas significa que estamos no bom caminho", declarou o investigador. A fusão nuclear é a energia das estrelas, por exemplo do nosso Sol, e consiste em juntar nucleos de átomos leves, especificamente entre dois isótopos do hidrogénio, o deutério e trítio, que libertam muita energia, sendo que o objectivo é transformar esta reacção em electricidade - para saber mais sobre este processo, leia aqui a obra de Bruno Soares Gonçalves. Se ainda não tínhamos tido uma reacção deste género, é porque, segundo o investigador português, este é um processo "complexo" em termos de engenharia e do ponto de vista dos materiais. Estamos agora "no bom caminho", sendo que a energia nuclear de que dispomos actualmente, proveniente da fissão nuclear teve um enorme avanço na II Guerra Mundial devido à bomba atómica. Devem agora continuar os esforços para uma energia mais limpa com os meios que dispomos actualmente, já que o horizonte para começar a testar a fusão nuclear se alarga até 2040 ou mesmo mais tarde, sendo que as alterações climáticas não podem esperar até lá, mesmo se esta é a energia mais limpa que poderemos vir a dispor. "Tem havido muitas notícias a apontar que a fusão nuclear é a solução para a transição energética e não vai ser. Não será nos próximos 10 anos, a menos que haja uma avanço muito significativo, que teremos um reactor na rede. A fusão nuclear não vai ajudar à transição energética entre agora e 2050, mas espera-se que em meados de 2040 ou de 2050, comecem a aparecer reactores de energia de fusão nuclear na rede", explicou Bruno Soares Gonçalves.

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