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Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.

Location:

Paris, France

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RFI

Description:

Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.

Language:

Portuguese


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"O Brasil não é celeiro nem de si mesmo", diz Larissa Bombardi, autora de livro sobre agrotóxicos

6/6/2024
Pensar o alimento é pensar um projeto de humanidade. Com esta consciência, a geógrafa e professora da USP Larissa Mies Bombardi tem dedicado anos de pesquisa ao estudo dos pesticidas. Autora do livro “Agrotóxicos, um colonialismo químico”, lançado na França pela editora Anacaona, ela descreve uma realidade alarmante, ao mostrar que Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos, em sua maioria produzidos por multinacionais europeias, um quadro trágico e que tem piorado nos últimos anos. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris RFI: Em que medida estamos sendo contaminados, para não dizer envenenados? Larissa Bombardi: Estamos sendo contaminados em uma grande medida. O Brasil é um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos e o maior importador mundial de agrotóxicos. Dos dez agrotóxicos mais vendidos no Brasil, três são proibidos na União Europeia (UE) porque são cancerígenos, ou porque são teratogênicos, quer dizer, provocam malformação fetal, ou porque provocam infertilidade, ou desregulação hormonal, ou mal de Parkinson. Então, a gente já vive esse quadro de contaminação porque está exposto a substâncias que na União Europeia a população não está. Um outro aspecto é a questão da quantidade. Então, no Brasil a gente permite resíduos de agrotóxicos tanto nos alimentos quanto na água, que são muito superiores aos resíduos permitidos na União Europeia. RFI: Você poderia fazer uma comparação? Larissa Bombardi: Dezenas de vezes, às vezes centenas e às vezes milhares de vezes. Vou dar dois exemplos: a malationa, que é um larvicida muito conhecido no Brasil e inclusive utilizado no fumacê contra a dengue. No Brasil, a gente autoriza resíduo 400 vezes superior ao resíduo autorizado no feijão na União Europeia. Esse é um exemplo. Vou dar um outro exemplo, do glifosato. O glifosato é um herbicida, é o mais vendido no mundo e o mais vendido no Brasil. Se a gente somar a quantidade dos dez agrotóxicos mais vendidos no Brasil, desse volume, metade é de glifosato, que é uma substância considerada potencialmente cancerígena para seres humanos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2015. E a gente autoriza um resíduo dessa substância na água potável 5000 vezes superior do que o resíduo permitido na UE. Então, eu diria que a população como um todo está cronicamente exposta a essas substâncias. E um terceiro aspecto que eu acho que vale a pena ressaltar é que, no Brasil, é autorizada a pulverização aérea de agrotóxicos, uma prática proibida na União Europeia desde 2009. Esta é a principal forma de contaminação ambiental e humana, porque há algo que se chama deriva, ou seja, a quantidade de agrotóxico que não atingiu a plantação e que foi à deriva, saiu da área cultivada para atingir curso d'água, escolas, pessoas, etc. Eu mesma já entrevistei diversos camponeses que disseram que tomaram uma chuva de agrotóxico. Então, é um quadro grave, catastrófico de exposição aos agrotóxicos no país. RFI: Explique por que você escreve que “o colonialismo químico repete o colonialismo clássico”? Larissa Bombardi: Se a gente for pensar na nossa história, o capitalismo que se iniciava se apropriava das riquezas naturais de uma forma violenta, com a expulsão dos povos indígenas, muitas vezes com o aniquilamento, com o genocídio. Esse foi um mecanismo de enriquecimento da sociedade moderna, como a gente conhece hoje. Atualmente, a União Europeia, por meio das suas empresas, controla mais de um terço da venda mundial de agrotóxicos e vende substâncias não autorizadas no seu próprio território para países como o Brasil, em que a regulação não é tão restritiva. Então é como se a gente estivesse no século 17, ou no século 18, em que havia a escravidão. Obviamente, a escravidão não era uma relação de trabalho admitida na Europa, mas ela se beneficiava do comércio de pessoas escravizadas. Guardando as devidas diferenças históricas e geográficas, continuamos numa relação absolutamente assimétrica. E esses países, por outro lado, se inserem...

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'O melhor investimento é a ciência', diz pesquisadora brasileira premiada em Paris

5/30/2024
Vencedora do prêmio "Para Mulheres na Ciência" da Fundação L'Oréal/Unesco, a cientista brasileira Alicia Kowaltowski é pesquisadora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e desenvolve um trabalho de ponta sobre a biologia das mitocôndrias e seu metabolismo, que ela considera "a definição mesma do que é um ser vivo", como relatou à RFI, direto da sede da Unesco, em Paris. "No Brasil é difícil ser cientista. Ponto. Eu nunca senti uma dificuldade de ser cientista mulher especificamente, até porque na minha área, no Brasil, as mulheres são maioria. As mulheres são a maioria entre os bioquímicos e biólogos moleculares", contrapõe Alicia Kowaltowski, perguntada sobre a dificuldade de cientistas mulheres terem suas pesquisas subvencionadas globalmente. "Existe uma falta de compreensão de toda a classe política da importância da ciência, da importância da consistência de políticas públicas para apoio na ciência, um processo que demora muito mais do que só um termo de um presidente ou governador. Que existe uma importância [da ciência] para o crescimento econômico, que é o melhor investimento que você pode fazer é em ciência, porque isso traz desenvolvimento", defende. Dos radicais livres para o metabolismo das mitocôndrias "Durante meu doutorado, estudei mais ou menos como a mitocôndria controla a produção de radicais livres e as consequências, porque radicais livres podem ser bons, ou maus. Depois, no meu pós-doutorado, eu mudei um pouco e comecei a estudar como o transporte de potássio podia proteger corações, o transporte de potássio dentro de mitocôndrias, especificamente um canal chamado KPP, que transporta potássio para dentro do mitocôndria", relata a cientista. "Quando eu comecei a trabalhar com dietas, o interesse do público geral aumentou muito. E aí vem uma outra parte da minha carreira: eu comecei a falar mais com o público geral e fazer mais divulgação científica. Palestras, artigos e conferências", relata Kowaltowski. "De maneira geral, a gente quer entender mecanismos moleculares que são alterados por diferentes dietas e como esses mecanismos podem impactar em doenças", explica. Para ouvir a entrevista na íntegra, clique no botão PLAY

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Editora fundada por brasileiros revive obras francesas ‘esquecidas’ com foco na temática LGBTQ+

5/29/2024
A história de Roberto Borges, 45 anos, e Régis Mikail, 41, se funde com a criação da editora Ercolano, em abril em 2023. Juntos há sete anos, ambos viveram alguns anos em Paris, onde se conectaram mais intensamente à cultura e literatura francesa. Sócios na editora, eles participam da 3ª edição da Paris Book Market, de 29 a 31 de maio, uma feira editorial internacional que reúne gerentes de direitos de publicações francesas e editores estrangeiros interessados em adquirir obras. De Paris, Luiza Ramos para a RFI A Editora Ercolano foi fundada pelo casal há um ano, já com a ideia de descobrir ou reencontrar livros pouco conhecidos, esquecidos ou ainda não traduzidos para o português do Brasil. Na Paris Book Market, que recebe cerca de 200 editoras participantes, a Ercolano chega com o intuito de fazer o intercâmbio para possibilitar a “publicação de obras francesas contemporâneas ou não, que não estão em domínio público”, como explica Roberto Borges. “Eu costumo dizer que essa feira é um namoro em que a gente começa a ver quais títulos que poderiam interessar ao leitor brasileiro, quais títulos têm sinergia com a linha editorial da Ercolano. A gente faz as nossas apostas, fecha negócio. É muito legal”, entusiasma-se. Reviver títulos fora do cânone literário Eles defendem que ao longo da história da literatura, por conta da grande quantidade de livros publicados, com o passar do tempo alguns títulos acabam ficando de fora da seleção do que chamam de “clássicos eternos”. Naturalmente, obras de alta qualidade ou que tiveram relevância num certo período acabam ficando esquecidas e a Ercolano faz uma “arqueologia literária”. Como o livro "A menina que não fui" (La fille manquée, de 1903), romance do escritor Han Ryner, conhecido por seus escritos anarquistas e traduzido por Régis Mikail. “As questões de gênero e sexualidade sempre tiveram destaque no pensamento do Ryner. Ele tinha uma ideia de que primeiro seria necessário existir uma liberdade individual como condição para que algo possa ser compreendido como uma anarquia. 'A menina que não fui' é sobre isso, é um romance sobre a dificuldade de ser um jovem homossexual no fim do século 19 e começo do século 20”, detalha Régis. Temática LGBT+ em foco A editora traduziu ainda 'O beijo de Narciso' (de 1907) do francês Jacques Fersen e 'Manet do Rio', intitulado originalmente como 'Lettres de jeunesse 1848-1849: Voyage à Rio'. Publicação na qual cartas escritas pelo jovem Édouard Manet conta suas percepções sócio-culturais durante uma viagem ao Rio de Janeiro em meados do século 19, anos antes de se tornar um dos grandes nomes da pintura ocidental. Além disso, a Ercolano lançou a coleção Trilogia para a vida, uma série de três musicais originais brasileiros que contam a trajetória do vírus HIV. Entretanto, os fundadores da editora brasileira enfatizam que outras temáticas não estão descartadas e que não vão em busca de autores famosos ou célebres. “A gente quer trazer alguém desconhecido”, diz Roberto. Paris inspiradora “Muitas ideias novas, muitas inspirações, eu confesso que é tanta coisa que às vezes tenho que fazer uma triagem”, releva Régis, amante dos quiosques de buquinistas à beira do rio Sena em Paris e dos inúmeros sebos espalhados pela capital francesa. Para Roberto, Paris é uma cidade que faz match perfeito com a cultura literária. “A gente não sabe o que veio antes, se Paris combinando com livro, ou livro combinando com Paris. Acho que é uma mistura da cultura francesa essa questão editorial, do livro (...). Isso faz parte muito forte da cultura francesa”, acredita ele. Apesar das mudanças com o mundo digital, o editor crê que a força do livro impresso ainda existe em Paris por conta dos hábitos dos moradores de irem aos cafés para ler ou passar o tempo no metrô na companhia da leitura. “A gente se inspira diariamente. Em qualquer cantinho que a gente olhar tem livro, tem literatura e boas histórias aqui em Paris”, romantiza Roberto. As edições da Ercolano...

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Grupo francês de jazz lança álbum com influência de ritmos nordestinos e homenageia flora do Brasil

5/28/2024
Para tirar do papel a ideia de fundar um grupo de jazz com influências da música brasileira, Jamayê Viveiros, 23 anos, viajou ao Brasil na companhia do músico Tristan Boulanger, da mesma idade. Ambos fizeram uma imersão cultural no Nordeste, onde tocaram e conheceram ritmos como baião, forró, afoxé, maracatu e outros mais de perto. Eles se juntaram a sete jovens músicos franceses de origens variadas para compor o eclético Sapocaya, grupo que acabou de lançar seu primeiro álbum. De Paris, Luiza Ramos da RFI Jamayê é filho de pai brasileiro e mãe uruguaia, mas nasceu em Paris. O jovem flautista e trompetista se juntou inicialmente ao percussionista e compositor Tristan Boulanger para juntos decifrarem sons variados da cultura brasileira. Apesar de ser francês, Tristan é um entusiasta dos ritmos latino-americanos e embarcou na ideia de Jamayê no carnaval do ano passado. Nos estúdios da RFI, Jamayê descreveu a viagem como uma "experiência mágica" que culminou na "evidente" criação do Sapocaya após o retorno à França. "A vontade de criar um grupo em torno das músicas brasileiras foi de antes dessa viagem, a gente já estava falando desse projeto (...) E a gente teve a sorte de fazer um tipo de estágio entre Recife e Olinda em fevereiro de 2023. Trabalhamos com vários maracatus e tivemos a sorte também de tocar no Marco Zero para a abertura do Carnaval com a Transversal Frevo Orquestra acompanhando Geraldo Azevedo", referindo-se ao evento em Recife que inaugura o início da semana de Carnaval. Os demais músicos que fazem parte do Sapocaya são: Maxime Chevalier (trombone); Darius Moglia (saxofone alto/soprano); Zéphania Lascony (saxofone tenor); César Aouillé (guitarra elétrica); Simon Voituriez (baixo); Arlet Feuillard (percussão); e Taylor Philemon (bateria). Inspirações clássica e moderna Os nove parisienses, todos na faixa dos 20 anos, possuem formação musical baseada no jazz e cada um incorpora ao grupo sua própria experiência. Alguns com origens latinas, outros totalmente franceses, mas tendo em comum a admiração por nomes como Hermeto Pascoal, Moacir Santos e Baden Powell. "Quando começamos o grupo, não tínhamos composições ainda, eram só arranjos. A gente tinha arranjos do Hermeto e dos músicos que a gente encontrou lá [no Brasil]. Roque Netto, por exemplo, Cesar Michiles, Alexandre Rodrigues, [que é] pífaro", enumera Jamayê. O ritmo ao qual o jovem se refere é o pife nordestino ou também conhecido regionalmente como pífano. Trata-se de uma adaptação com influência indígena das flautas europeias. Homenagem às florestas brasileiras O nome grupo homenageia a florida árvore da sapucaia, que passou a ser escrita Sapocaya devido à pronúncia da língua francesa para facilitar a leitura e para dar mais estilo. O álbum de estreia homônimo também apresenta outras árvores da flora brasileira em cada uma das seis faixas, segundo Jamayê, como um lembrete para preservar as florestas. "A gente quer homenagear a floresta, algo que achamos que é importante hoje com todas as questões do desmatamento". Ele conta que os títulos foram escolhidos depois de cada música já pronta, a partir da observação das características das árvores e suas semelhanças com a composição. Como exemplo, a terceira faixa do EP: Jequitibá. "A composição de Jequitibá funciona com blocos de acordes, uma coisa bem enorme, então era a energia da música correspondente com essa ideia da árvore que a gente tem, que é chamada de 'o rei da floresta'. Também o ritmo usado nessa composição que é o ijexá, um ritmo bem importante", detalha o trompetista, exaltando a imponente sonoridade africana levado para a Bahia por iorubás escravizados no final do século 17. As outras faixas do EP de estreia são: a própria Sapucaia; Baraúna, que abre o álbum; Sucupira, a mais longa do conjunto; Juçara, que traz um pouco de samba com o uso de pandeiro; e a Embaúba, com uma pegada moderna de batida de funk brasileiro. O primeiro álbum do Sapocaya foi lançado em 17 de maio e pode...

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Curta “Amarela”, na disputa pela Palma de Ouro, mostra “outra cara do Brasil” em Cannes

5/25/2024
O último dos seis filmes brasileiros selecionados este ano em Cannes foi exibido nesta sexta-feira (24). O curta-metragem “Amarela”, de André Hayato Saito, está na disputa pela Palma de Ouro. A premiação será anunciada na cerimônia de encerramento do festival na noite deste sábado (25). “Amarela” é a única produção latino-americana na competição oficial de curtas nesta edição 2024 do Festival de Cannes. O filme, sobre pertencimento, identidade e discriminação contra pessoas de origem asiática, mostra também a diversidade brasileira. “É uma honra e uma responsabilidade porque o filme traz muito esse protagonismo de pessoas asiático-brasileiras”, diz André Haito Saito sobre essa estreia em Cannes representando a “comunidade amarela”. “Fico muito contente que tenham aberto a porta para a gente trazer essa outra cara do Brasil” para a tela de Cannes, festeja. “É uma coisa para mim até inédita ter essa sensação. Minha esposa até brincou: ‘você nunca foi tão chamado de brasileiro na sua vida’”. “Amarela” é o terceiro curta de André Saito sobre a ancestralidade e a cultura nipo-brasileira do cineasta, mas é o primeiro que denuncia a discriminação contra a comunidade asiática no Brasil. André percebeu que “chegou a hora de conflitar (...) as diferenças dessas duas culturas que estão dentro de mim”. Futebol e identidade A história, centrada em uma adolescente nipo-brasileira, se passa em 1998, durante a derrota do Brasil para a França na Copa do Mundo. “Nessa época eu tinha 14 anos, era fanático, e eu percebo hoje o quanto o futebol era um meio de eu me sentir brasileiro”, lembra. Ele usou o futebol e o tema identitário para abordar “vários tipos de violência: a opressão, racismo, xenofobia e machismo”. Tanto os atores quanto a equipe de “Amarela” são majoritariamente asiáticos-brasileiros. O curta é um protótipo do primeiro longa-metragem de André Saito, “Crisântemo Amarelo”, que está em fase de desenvolvimento. O projeto foi selecionado para o “TorinoFilmLab”, que apoia jovens talentos do mundo inteiro a aprimorar seus roteiros. Será mais uma oportunidade para o cineasta brasileiro continuar a continuar com “esse protagonismo amarelo para a gente poder contar essa história que geralmente a gente ouve sendo contada por pessoas brancas”. Clique na foto para ouvir a entrevista completa de André Saito.

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"Juventude negra no Brasil vive um verdadeiro holocausto", diz Dom Zanoni Castro na França

5/24/2024
Dom Zanoni Castro, arcebispo de Feira de Santana, na Bahia, é um dos convidados de um evento religioso em Limonest, na região de Lyon, para falar sobre a experiência à frente da pastoral Afro-Brasileira. O encontro é promovido por uma associação de padres diocesanos criada pelo beato Antoine para promover a espiritualidade e reforçar a fraternidade dos padres junto aos mais pobres. Bispo referencial da pastoral Afro-Brasileira, Dom Zanoni também é membro da Comissão episcopal para ecumenismo e diálogo inter-religioso e responsável pela Pastoral Afro da América Latina e Caribe e, nessa condição, traz uma mensagem sobre a situação das comunidades negras onde tem atuado. “No Brasil, a maioria absoluta dos habitantes são afrodescendentes, 50%. Em minha região é bem maior. Em alguns municípios na Bahia, chega a 92% de afrodescendentes. Para evangelizar, dar uma notícia boa, é preciso ter a realidade concreta, a origem, a cultura, a riqueza, a beleza dessa tradição do povo que vem da África”, afirma. Para o religioso, a missão católica de evangelização não pode esquecer os 300 anos de escravidão no Brasil, “um crime de lesa humanidade”. “Como falar de Deus? Como anunciar Jesus? O Evangelho? Tem que ser algo bem próprio. A pastoral, no sentido de evangelização, nessa perspectiva, deve ter presente a realidade, a cultura do povo”, afirma. A pastoral Afro-Brasileira tem origem nos anos 1970, uma experiência considerada recente pelo arcebispo, que justifica a decisão da Igreja Católica local de fazer um trabalho visando uma comunidade marcada por um passado escravagista e de marginalização. “Na história da Igreja tem uma perspectiva de perceber a realidade, o sofrimento, a dor dos escravos, a dor das pessoas. Nossa missão da pastoral é no sentido de cuidado, de zelo, apostólico, de preocupação”, diz. Dom Zanoni denuncia a situação da população negra brasileira que, segundo ele, vive uma situação de exploração, pobreza e de muita discriminação. “A maioria dos pobres são negros. Se vamos às delegacias, aos presídios, a maioria dos encarcerados são afrodescendentes. Em nossas periferias, a violência que cresce assustadoramente, é de afrodescendente", lamenta. Diante de um contexto social tão preocupante, o religioso faz um alerta contundente: "A nossa juventude negra está sendo dizimada. Poderíamos dizer, um verdadeiro holocausto da Juventude negra a cada momento, a todo instante” relata. Então, a preocupação da Igreja não é só falar de Deus, das coisas do céu. Mas da vida concreta dessas pessoas e têm a ver com ação evangelizadora que nos inspira”, argumenta. O arcebispo baiano afirma ainda que o Papa Francisco não apenas apoia como incentiva as ações das pastorais afrodescendentes no Brasil e na América Latina. “Ele tem possibilitado o diálogo com a cultura, com os movimentos sociais. O papa, falando num encontro com os movimentos sociais, disse: ‘esta causa que vocês lutam não é apenas uma questão política socialista, é Evangelho’”, finaliza.

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Literatura brasileira se reinventa e alimenta curiosidade do mercado, diz escritora Adriana Lunardi

5/24/2024
A escritora e roteirista Adriana Lunardi está em Paris para uma série de atividades literárias ligadas aos seus dois livros já traduzidos para o francês. É a ocasião também para apresentar nova obra, Contos Céticos. A catarinense Adriana Lunardi desenvolveu forte ligação com Paris, onde já viveu duas vezes em períodos diferentes e pelo interesse despertado no público desde a tradução de “Vésperas,” livro no qual ela narra os últimos momentos de vida de várias escritoras, como Clarice Lispector, Zelda Fitzgerald, Colette, Katherine Mansfield e Virginia Woolf. “Na época que publiquei esse livro não havia algo parecido que estava sendo lançado e isso despertou a curiosidade de alguns países”, diz. Na esteira de "Vésperas", indicado para a categoria contos e crônicas do Prêmio Jabuti de 2003, Adriana teve traduzido na França seu primeiro romance, "Corpo Estranho" (2006), que consolidou sua presença neste concorrido mercado editorial. “Meu trabalho de escritura é muito dedicado. Eu tenho uma linguagem mais literária, em comparação com uma narrativa, por exemplo, de ação ou uma narrativa que pretenda uma linguagem mais crua. Não é o meu caso. Eu sou mais arquiteta, mais estilista da língua e talvez isso tenha a ver é com essa penetração Internacional que meu livro possa vir a ter”, afirma. Além da longa tradição de tradução de autores brasileiros na França, como Clarice Lispector e Guimarães Rosa, Adriana Lunardi situa a partir dos anos 1980 outro grande momento de acolhimento e de visibilidade da literatura brasileira na França. “A partir assim dos anos 1980, em que a América Latina se tornou uma frente literária de interesse, o interesse também pelo Brasil cresceu. Eu vejo que tem muitos colegas da mesma geração que já foram traduzidos. E como a literatura brasileira é uma literatura que se reinventa, acaba tendo a cada geração uma certa novidade. Então eu acho que isso também alimenta a curiosidade do mercado”, avalia. Eventos em Paris O primeiro compromisso de Adriana Lunardi será com o Círculo de Leitura, um evento promovido pelo setor cultural da Embaixada brasileira de Paris que visa promover a literatura brasileira para os franceses. Os autores que têm livros traduzidos na França apresentam suas obras e discutem com o público seu processo criativo. Adriana vai focar na sua primeira obra traduzida na França, a coletânea de contos “Vésperas” (editora Losfeld Joelle). O evento acontece em local especial para a autora, o Palais Royal, onde está ambientada a trama. “Uma das minhas personagens é a Colette, que viveu no Palais Royal. Então é uma espécie de combinação muito feliz porque eu estudei muito para escrever sobre a Colette e a arquitetura do Palais Royal”, afirma. Na sequência, e no âmbito da Semana da América Latina e do Caribe, a autora também foi convidada para participar de um debate na tradicional Librarie Portugaise & Brésilienne, uma das principais vitrines da produção literária de língua portuguesa na capital. Na ocasião, Adriana Lunardi falará também de sua segunda obra já traduzida na França, "Corpo Estranho", de 2006. Nas duas ocasiões, ela também vai divulgar seu sexto livro, “Contos Céticos”, lançado no Brasil pela Editora Record. A nova obra, conta na entrevista à RFI, é distinta de todas as anteriores e foi concebida durante a pandemia. “Em geral, eu planejo muito um livro antes de escrevê-lo. Preciso saber onde vou chegar com uma ideia”, explica. Mas em meio à pandemia, com todos em lockdown, ela escreveu alguns contos que, em princípio, deveriam fazer parte de uma antologia futura, reunidos com outros textos já publicados em jornais. Mas a ideia evoluiu. “Eu reuni esses contos e comecei a entender que havia algo de comum entre eles. E conversando com os meus leitores mais próximos, que leram o livro original que montei, descobri que todas as personagens do livro eram céticas, e aí virou o nome do livro”, revela.

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Ministério dos Povos Indígenas ‘não consegue resolver’ crise Yanomami, diz Kopenawa em Cannes

5/22/2024
O xamã Yanomami Davi Kopenawa e o antropólogo francês Bruce Albert estão em Cannes para participar da apresentação do documentário “A Queda no Céu”. O filme integra a prestigiosa mostra paralela Quinzena de Cineastas. O longa, dirigido por Ery Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, sobre a cosmologia Yanomami, é baseado no livro que leva o mesmo nome, escrito por Kopenawa e o antropólogo francês. “A Queda do Céu” foi publicado inicialmente em francês em 2010. A tradução para o português é de 2013. O filme levou sete anos para ficar pronto e foi rodado na Amazônia, no território e na língua Yanomami. Davi Kopenawa, um dos principais porta-vozes dos povos indígenas brasileiros na atualidade, é o narrador, o guia do documentário. O longa é centrado na festa Reahu, o ritual funerário dos Yanomami. Em entrevista à RFI em Cannes, o xamã disse que aceitou a proposta dos diretores de transpor o livro para o cinema e o convite para participar do Festival de Cannes para “conhecer” outras pessoas e “para falar sobre a nossa cultura Yanomami, nossa língua diferente, para você entender melhor por que vocês não conhecem o meu povo”. Livro e filme também abordam questões atuais como as ameaças persistentes contra os Yanomami, a floresta e o planeta. "Esse filme ajuda a defesa do povo e a luta da Associação Yanomami”, ao divulgar a situação dos indígenas, acredita Kopenawa. Imersão no universo Yanomami O antropólogo francês Bruce Albert também está em Cannes. Ele colaborou com o documentário, orientando Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. O coautor de “A Queda do Céu” ficou “empolgado” com o filme que vai muito além do livro e propicia “uma imersão total no universo metafisico e na estética” Yanomami. Ele aponta que o “povo da cidade não escuta” os povos originários da floresta que pertence a “todos nós, povo indígena, povo brasileiro, estrangeiro também”. Ele pede ao povo da cidade para “pensar, respeitar e não derrubar mais a floresta”. Kopenawa ressalta que os “xapiri (espírito da floresta) é muito importante. Ele cuida de toda a natureza para não deixar cair a floresta, afundar a cidade e sujar os rios, como está acontecendo”. Ele espera que os jovens, as novas gerações, entendam essa mensagem, olhem e protejam “o nosso pulmão da Terra”. Crise humanitária Desde a publicação do livro, em 2010, as ameças contra os Yanomami, a floresta e o meio ambiente pioraram muito. O povo indígena viveu uma crise humanitária terrível após a invasão de garimpeiros ao seu território durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nem a criação do Ministério dos Povos indígenas, nem medidas adotadas pelo governo Lula no ano passado resolveram a situação. O xamã avalia que os garimpeiros podem até sair do território, mas “a doença” que eles levaram vai continuar. “O pessoal pode sair, pode ir embora, tirar todo o ouro, que vai ficar é doença, a água poluída. Esse acontecimento não tem homem que vai curar”, denuncia. Ministério dos Povos Indígenas Segundo ele, a criação do Ministério dos Povos Indígenas no governo Lula “não consegue” resolver a situação porque “não conhece” os Yanomami, porque “não anda”. Kopenawa critica os funcionários de Brasília que só foram na comunidade “para ficar olhando, tirar foto e depois vão embora. Ele afirma que “não tem remédio, não tem pessoa que trabalha lá” e que seu povo continua morrendo. “Ele (o governo) só foi lá para dizer que está trabalhando. Isso aí não é verdade, certo? Isso aí é para enganar você que o Ministério dos Povos Indígenas está trabalhando. Mas, ele só quer trabalhar na cidade, mas para trabalhar com meu povo, é difícil para ele”, critica. Kopenawa lembra que muita gente no Brasil pensa que “não tem mais indígena verdadeiro” no país. As imagens do filme “A Queda do Céu” e o livro mostram que “o indígena verdadeiro” existe e que “o povo originário brasileiro está lutando para todo mundo, para segurar aquele céu. Essa é a minha luta, esse é o meu papel de liderança, entendeu?”, questiona.

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“Baby”, de Marcelo Caetano, propõe um outro conceito de família em Cannes

5/21/2024
“Baby”, o segundo longa do diretor brasileiro Marcelo Caetano, estreia nesta terça-feira em Cannes e é um dos sete filmes na competição da Semana da Crítica, uma das mais importantes mostras paralelas do festival. Rodado principalmente no centro da cidade de São Paulo, “Baby” é descrito pelos organizadores como “um melodrama queer e uma história de amor impossível”. “Baby” foi selecionando entre mais de mil filmes e é um dos sete longas na competição da Semana da Crítica. O diretor mineiro, radicado em São Paula, já tinha vindo outras vezes a Cannes como produtor de um curta, em 2011, e como produtor de elenco dos filmes do Kléber Mendonça Filho, “Bacurau” (2019) e “Aquarius” (2016), mas nunca tinha participado como diretor. Independentemente de prêmios, Marcelo Caetano comemora essa estreia de “Baby” na Semana da Crítica. “É uma vitrine incrível, tanto por questões da relação com a crítica quanto a relação com os distribuidores internacionais, com os agentes de venda”, explica. “A gente está super feliz. Acho que acertou em cheio”, comemora, indicando que seu desejo é “levar essa história para o máximo de pessoas possíveis, levar São Paulo para o máximo de cinemas possíveis, do mundo inteiro. Então, já está sendo ótimo”. Convite ao cinema O primeiro longa de Marcelo Caetano, “Corpo Elétrico” de 2017, também sobre a temática LGBT e premiado em vários festivais, também foi rodado no centro de São Paulo. O diretor filma e observa a região há mais de 15 anos. “Tenho um interesse por esses personagens do centro de São Paulo, que para mim têm uma dinâmica muito cinematográfica. Todo mundo que chega ali quer fazer que a vida aconteça, que a coisa mova.” “Baby” é rodado principalmente à noite. Nos espaços privados, a câmera está muito próxima dos atores, mas as cenas externar são rodadas de muito longe. Com essa estética, Marcelo Caetano quis documentar a vida da cidade. “É uma estratégia que a gente usou para ter a cidade viva dentro do filme; Para que o filme também seja um documento dessa cidade de São Paulo”, conta. Outro conceito de família “Baby” levou sete anos para sair do papel porque a produção “passou muito tempo para captar, pois coincidiu justamente com os quatro anos do governo Bolsonaro e coincidiu com a pandemia”, resume o diretor. O filme acabou sendo realizado graças a coproduções com a França e a Holanda, que foram “muito importantes para o filme”, explica. O cinearta revela que esse tempo de espera também espelha as mudanças que ele observava no centro de São Paulo, que aprofundaram a “vulnerabilidade e a exclusão” do lugar. “Cada governo que passa, cada ano que passa, está cada vez mais abandonado”, denuncia. “Isso tudo vai sendo incorporado no filme.” “Baby”, com João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro, conta a história de um jovem que ao sair de um centro de detenção não encontra mais sua família, é abandonado por ela e se vê à deriva. Em um cinema pornô, ele encontra um homem mais velho, que o acolhe e o ensina a sobreviver. A relação dos dois se transforma em uma paixão complexa. Como em “Corpo elétrico”, o filme mostra outros conceitos de família possíveis. “Essa questão das famílias ‘alternativas’ é muito importante porque, de uma certa forma, eu falo nos meus filmes de migrantes sexuais, pessoas que saíram de suas cidades, sociedades pequenas ou de seus núcleos familiares muito restritos ou tradicionais, para buscar uma vida mais livre”, ressalta. Para Marcelo Caetano, a “amizade, a fraternidade, a solidariedade entre pessoas parecidas” ajudam a superar o determinismo social de classe e de gênero. Os vencedores da Semana da Crítica serão revelados nesta quarta-feira (22).

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Em novo livro de fotografias, Marcos Chaves reflete com humor sobre o cotidiano

5/21/2024
O artista plástico carioca Marcos Chaves está lançando o livro de fotografias “It Looked, and I Looked Back”. De passagem por Paris, ele falou à RFI a respeito do trabalho, que teve início durante a pandemia. “Eu fiquei em casa por cem dias sem botar o pé na rua e eu vi que essa minha vontade, o prazer que eu tenho em fotografar a rua, eu tinha que transportar para outro lugar, para um lugar menor. E eu comecei a fotografar a casa. Mas esse livro se expandiu. Ele não ficou só nesse tema e são fotos que eu fiz em viagens de trabalho, em viagens de prazer pelo mundo afora”, relata o artista. “É como se eu caminhasse pelo mundo e as coisas me olhassem e eu olhasse para elas de volta através da fotografia. E é um pouco isso que acontece mesmo. O meu trabalho acontece muito na rua. E eu sou um observador”, explica. Marcos Chaves já expôs pelo mundo, participou de bienais, publicou vários livros e tem vários projetos em andamento. Ele é representado pela galeria Nara Roesler em São Paulo, Rio e Nova York há mais de 22 anos. Ele estudou Arquitetura, onde teve aulas com Lygia Pape e Milton Machado, além de fazer cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Depois de formado, seguiu para a Itália, onde foi assistente de Antônio Dias. “Eu não trabalhei com arquitetura, mas tive uma boa formação de arte na faculdade”, conta. Humor para dizer muita coisa O humor permeia o trabalho de Marcos Chaves. Para ele, o humor é “essencial”. “Mas não o humor pelo humor”, ele deixa claro. “Eu acho que o humor tem uma capacidade de síntese, de observação. Com uma frase humorada, você pode dizer muita coisa”. Um exemplo desse humor com propósito é “Eu só vendo a vista”, com o Pão de Açúcar ao fundo, do começo da carreira de Chaves, nos anos 1990. Ele conta: “Era uma época que o Rio de Janeiro estava passando por um momento muito difícil e eu editava uma revista junto com o Chacal, Raul Mourão, a Sônia Barreto e outros artistas. A gente quis fazer uma revista que desse conta da pluralidade cultural da cidade, mesmo numa época tão difícil, e a revista se chamava ‘O Carioca’. Na época, ter uma imagem do Pão de Açúcar era uma coisa um pouco cafona, kitsch”. O ponto de partida foi reverter essa imagem. “Fiz uma foto do lugar clássico e escrevi essa frase – ‘Eu só vendo a vista’ -, que para mim resumia tudo o que eu queria falar. Queria falar da especulação imobiliária, queria falar do mercado de arte. Com a crase era ‘à vista’, só com dinheiro na mão, não vendo a prazo e não vendo fiado”, relata. Sem a crase, ganha um sentido poético. “Eu acho que é um trabalho que vai me acompanhar para sempre. Quer dizer, esse trabalho já foi embora, ele já passeia pelo mundo e eu vejo ele se repetindo por aí. ” Buracos com conteúdo Chaves conta que antes colecionava objetos que encontrava pela rua - os “ready made”, em inglês, ou “objets trouvés”, em francês - eventualmente usando-os em instalações. “A fotografia surgiu para registrar, de maneira fluida e natural. ” Como os buracos que encontra no meio da rua no Rio. Muitas vezes, os habitantes da rua, da cidade, para avisar os passantes do perigo, preenchem esses buracos de forma que se tornam interessantes para um olhar mais atento. Ele conta que “Buracos” é um trabalho em curso. “Mas eu preferiria que já não existissem os buracos da rua”. “It Looked, and I Looked Back”, editado pela KMEC Books (Nova York), tem textos de Bernardo Mosqueira e Luiza Duarte. O design é de Garrick Gott, produção de Todd Bradway, impressão Faenza (Italia) e distribuído pela Artbook D.A.P.

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Filme “A Queda do Céu” sobre os Yanomami estreia na Quinzena dos Cineastas de Cannes

5/19/2024
O documentário “A Queda do Céu", de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, foi o primeiro dos filmes brasileiros selecionados este ano a ser exibido no Festival de Cannes. A estreia do longa aconteceu neste domingo (19) na prestigiosa mostra paralela Quinzena dos Cineastas, na presença dos codiretores, do xamã Davi Kopenawa e do antropólogo francês Bruce Albert. Adriana Brandão, enviada especial da RFI à Cannes “A Queda do Céu”, sobre a cosmologia Yanomami, é baseado no livro homônimo de Davi Kopenawa e Bruce Albert. A obra foi publicada inicialmente em francês em 2010 e a tradução para o português é de 2013. “Li esse livro e foi um impacto muito forte. Costume dizer que o livro mudou meu cérebro de lugar”, lembra, em entrevista à RFI, Gabriela Carneiro da Cunha. “Passei a ver o meu mundo, o mundo não indígena, em uma perspectiva que nunca havia visto antes”. A ideia surgiu em 2017 e o longa levou 7 anos para ficar pronto. O filme foi rodado na Amazônia, no território e na língua Yanomami. Davi Kopenawa é “o narrador, o guia” do documentário, centrado na festa Reahu, o ritual funerário desse povo indígena. “O Davi nos convidou para filmar a festa Reahu em homenagem ao sogro dele, lá na comunidade de Watoriki. A Reahu é a principal festa Yanomami, que homenageia os mortos, as pessoas importantes que partiram”, conta Eryk Rocha à RFI, em Cannes. A equipe de filmagem, formada por apenas cinco pessoas, passou um mês com os indígenas na floresta. A experiência foi transformadora para o filme e também para a equipe. “Foi uma experiência muito radical de vida, de cinema, com toda a floresta poliglota, com todas essas vozes humanas e não humanas que habitam esse território Yanomami amazônico”, diz Rocha. A Reahu dura um mês, mas “começa a ser preparada um ano antes”, detalha Gabriela Carneiro da Cunha. A codiretora ressalta que “é bonito perceber como as coisas precisam de tempo". Ela fala de "uma festa comunitária em homenagem à vida de um grande homem, feita para encaminhar o espírito desse grande homem para o mundo dos mortos, que também é feita para segurar o céu sobre as nossas cabeças”. Ameaças contra os Yanomami e contra o planeta “A Queda do Céu” também aborda questões de hoje e ameaças contra os Yanomami, a floresta e o planeta. Segundo Eryk Rocha, o documentário “tem três eixos fundamentais”. O primeiro “é um diagnóstico da falência de um sistema que é o sistema capitalista ocidental”. O segundo eixo é o do alerta “sobre o fim do mundo, de uma catástrofe que já está acontecendo, porque, na verdade, o céu já está caindo sobre nós”, adverte Eryk Rocha. O codiretor indica que a tragédia atual no Rio Grande do Sul “é mais um exemplo marcante disso que o Davi chama da vingança, revolta da Terra, e que os cientistas chamam de aquecimento global”. A terceira e última temática, considerada primordial pelo o documentarista, é a “do convite. O convite para o sonho, para tentar inventar outros paradigmas de sociedade e de convivência, outros mundos”. A história, a evolução, dessa ameaça real é ilustrada no final do documentário com cenas de destruição dos filmes “Os Bandeirantes”, do brasileiro Humberto Mauro, e “A natureza”, do armênio Artavazd Pelechian, que retratam duas épocas diferentes. Esse final contrasta com a criação para o teatro de Gabriela Carneiro da Cunha, “Altamira 2042”, que também denuncia as consequências da destruição da floresta para os povos indígenas, mas termina com a imagem da usina de Belo Monte sendo destruída. Para ela, “para evitar a queda do céu é necessário evitar a construção de outras usinas como Belo Monte”. Encontro de dois mundos “A Queda do Céu” não pode ser definido apenas como um documentário etnográfico ou de denúncia. O filme começa com um longo e belo plano sequência da tribu liderada por Davi Kopenawa marchando em direção à câmera. Essa é, segundo Eryk Rocha, a imagem síntese do filme. “É um filme que fala do encontro ou desse desencontro, né?, desse embate entre mundos. É um...

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Experiência no cárcere inspira rapper curitibano a criar curta vencedor em festival na França

5/15/2024
Mano Cappu fez bonito em sua estreia no cinema. O curta “Bença”, que teve estreia mundial no Festival Cinélatino em março, levou o prêmio Courtoujours, do Júri Estudantil de Toulouse, no sudoeste da França. O evento é uma das principais vitrines do cinema latino-americano na Europa. Patrícia Moribe, enviada especial a Toulouse “Bença é um filme que nasceu a partir do encontro que eu tive com meu pai no cárcere”, conta Mano Cappu em entrevista à RFI, em Toulouse. “O meu pai era réu confesso, eu estava preso inocentemente e o Bença surgiu nesse lugar de potência para unir a nossa família”, diz Cappu, que passou dezoito meses preso até conseguir provar inocência. “O cárcere é visto como um lugar de muita violência. Mas em meio a esse caos, a gente conseguiu fazer uma história de amor e perdão. Para mim, a família é um lugar de muita honra”. Uma “catarse”, define o artista. “Os filmes brasileiros sobre o cárcere geralmente são feitos por pessoas que nunca ficaram presas. Então, bem, essa vem a partir da minha pessoa, que fiquei presa e sei o que acontece da grade para dentro. Não apenas um olhar estereotipado sobre o cárcere”, acrescenta. A música também é o fio condutor de “Bença”. “Comecei com o rap e o rap no Brasil é muito forte, fala muito sobre a desigualdade social brasileira e isso é muito interessante porque o primeiro rap que eu ouvi eu tinha 11 anos de idade, foi Racionais MC e “Diário de um Detento”, que fala sobre o Carandiru [antigo complexo penitenciário onde ocorreu um massacre de repressão a um motim em 1992, que levou à morte de 111 detento]. Quinze anos depois eu fui encarcerado injustamente e eu fui entender a prisão.” “Eu entendi que o rap também era uma potência, porque eu já cantava rap dentro da prisão e e as pessoas que estavam lá encarceradas ficavam ‘uau!’. E aí tinha a música do CIC, Cidade Industrial de Curitiba, o bairro periférico onde eu moro. Ele é visto como um bairro violento. Fomos projetados para ser o que a gente chama de peão de obra para nunca ser chefe, sempre ser um peão”, relata Cappu. “E aí a minha história, a história dos meus amigos que trabalham também com audiovisual, com música, a gente rompe esse lugar e nos tornamos artistas para falar de uma outra realidade, pois o jornal sempre coloca o CIC como lugar de violência.” Cappu explica que, no entanto, “existem milhares de comerciantes, milhares de cidadãos que estão lá fazendo com que o bairro prevaleça e viva e tenha muita história de amor que tenha. E não somente a violência. E a música chegou nesse lugar para mim para contar essas histórias. E aí círculo para o cinema para reverberar e trazer um pouco mais a imagem da periferia curitibana”, diz o cineasta. “Bença”, conta Mano Cappu, faz parte de uma trilogia. O longa-metragem, "X23" e a série “Labirinto” estão em fase de produção.

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Influenciada pela música brasileira, Amina Mezaache inventa ritmo “chorocatu” em novo CD

5/15/2024
“Vórtex” é o terceiro álbum de Amina Mezaache e do quarteto Maracujá. O disco, lançado agora na França, traz oito músicas que espelham a trajetória da flautista e compositora francesa, com influências de jazz, improvisação e principalmente música brasileira. O quarteto Maracujá foi criado em 2012 por Amina Mezaache e é formado ainda por Yoan Fernandez, na guitarra, Fabien Debellefontaine, no sousafone, e Jonathan Edo, na percussão. Desde a fundação, a música brasileira está muito presente no trabalho do grupo. Foi um encontro com Hermeto Pascoal, que, aliás é homenageado com uma faixa no álbum “Vórtex”, que influenciou as composições de Amina Mezaache. “Eu realmente me apaixonei pela música dele porque eu sou musicista de jazz. Gostei muito do espírito de liberdade que tem na música do Hermeto. Depois, fui ao Rio e ao nordeste também, e descobri a tradição muito rica, muito forte, das várias músicas, dos vários ritmos do Brasil”, relembra a flautista. Ela se sente tão à vontade com os sons brasileiros que até criou “um ritmo” próprio, o “chorocatu”, título de uma das faixas do álbum, que seria uma mistura de choro e maracatu. “Eu escrevi essa música para o Festival de Choro de Paris. Tentei escrever um choro e saiu também o maracatu dentro. Isso é realmente meu jeito de criar. Sempre tem vários ritmos que chegam assim naturalmente no processo”, conta, ressaltando ter ficado contente por “pelo menos uma pessoa” ter entendido o título da música. Influências africanas e jazz No turbilhão de sons que é o álbum “Vórtex” tem também influências de músicas do norte da África, região onde Amina Mezaache cresceu. Ela viveu na Argélia até os 13 anos, antes de vir para a França. “Lá (na Argélia) tem vários tipos de músicas e uma influência da África do Oeste. Então, eu tenho isso naturalmente. Acho que a música brasileira também me interessou por causa disso e das raízes africanas fortes na música brasileira”, afirma. Os dois primeiros álbuns de Amina Mezaache e do quarteto Maracujá - “Imaginarium” (2016) e Mondo (2020) - já eram marcados por ritmos brasileiros e africanos, e também muito jazz e improvisação, que são a alma do estilo da compositora. “O jazz é que vai pegar essas influências e misturar. A improvisação no grupo é bem importante. A gente tem muita liberdade de interpretar. Então, nos concertos, sempre pode acontecer coisas que não estavam previstas”, antecipa. O público parisiense vai poder conferir e se surpreender com o jazz “chorocatu” de Amina Mezaache e do quarteto Maracujá no dia 16 de maio, no lançamento do CD “Vórtex” no Estúdio Ermitage. Pela primeira vez, o show, assim como o álbum, conta com a participação de um rappeur, Edgar Sekloka, que segundo Amina, “vai também improvisar num forró. Vamos ver o que vai sair”. Clique na foto principal para assistir a entrevista completa.

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Historiador destaca troca de experências entre intelectuais brasileiros e franceses desde criação da USP

5/14/2024
A história da criação da Universidade de São Paulo (USP) está ligada à participação de intelectuais franceses como Claude Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Roger Bastide e outros. O historiador Ian Merkel se interessou pelo lado B dessa colaboração, ou seja, a importâcia que a vinda para o Brasil trouxe ao trabalho subsequente desses pensadores. O livro “Termos de Troca – Intelectuais Brasileiros e as Ciências Sociais Francesas”, originalmente publicado em inglês e agora em francês, traz uma nova luz para o intercâmbio internacional entre pensadores brasileiros e franceses entre 1930 e 1960, a partir da criação da USP. Trocas afetivas e intelectuais marcaram profundamente ambos os lados, como Merkel constatou. Através das obras e contato com Mario de Andrade, Caio Prado Jr., Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, entre outros, os franceses tiveram uma imersão privilegiada em questões como colonialismo, sincretismo religioso e fundamentos das estruturas sociais. “Este livro é uma examinação, uma exploração das trocas entre os intelectuais brasileiros e grandes figuras das ciências sociais francesas, sobretudo Fernand Braudel e Claude Lévi-Strauss, mas também outros como Roger Bastide, que fundaram a Universidade de São Paulo nos anos 30", explica. "Existe uma grande historiografia sobre este tema do ponto de vista da recepção destes intelectuais no Brasil. Mas a inovação deste livro é de mostrar o outro lado da moeda, como a experiência brasileira e como os interlocutores brasileiros contribuíram ao que a gente pensa que são as ciências sociais francesas”. Jovens inovadores “Então vemos o jovem Lévi-Strauss ou o jovem Braudel, antes que eles se tornassem as personagens que conhecemos hoje”. Merkel explica que foi “um momento em que puderam inovar, com pesquisas de campo, que era uma coisa muito difícil naquela época, fora das colônias francesas e, sobretudo, com o novo meio intelectual brasileiro que acabou de passar pelo modernismo nos anos 20”. “O que eu mostro no livro é que os fundadoros de pensamento social brasileiro, ou seja, Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque da Holanda, Mário de Andrade, eram não somente contemporâneos dessas grandes figuras europeias, mas estávamos em contato, estávamos em diálogo”, salienta o pesquisador. Para iniciar a pesquisa, Ian Merkel estudou os arquivos no Instituto de Estudos Brasileiros na USP, que abriga, entre outros materiais, correspondências de Mário de Andrade, Pierre Monbeig e Roger Bastide. Dali ele foi expandindo as possibilidades, como os arquivos pessoais de Fernand Braudel e Lévi-Strauss, em Paris. "Cluster" de intelectuais “Eu comecei a ver quem estava falando com quem, sobre o quê, etc. E isso foi se multiplicando. Tinha o arquivo de Florestan Fernandes em São Carlos (SP), de Gilberto Freyre, em Apipucos (PE). E então eu construí esta base enorme de correspondência de várias pessoas. Eu identifiquei o que eu chamo de um núcleo ou de um cluster de intelectuais que cuja correspondência e trocas intelectuais era particularmente forte”, relata o pesquisador americano. “Era preciso um historiador, um pouco antropólogo, para ver essa troca com uma certa distância”, alguém que conhecesse bem as duas línguas, mas que não fosse brasileiro ou francês, “porque cada um dos lados tem uma visão, uma maneira de conceber esta história própria”, opina. Merkel iniciou a vida acadêmica estudando a história do império francês, tendo vivido no Mali. O mundo colonial francês despertou sua curiosidade para as duas missões francesas ao Brasil – a primeira, da corte de Dom Pedro I no início do século XIX e das missões universitárias no século 20.

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“Recebi um único apoio do Brasil”, diz músico Mario Bakuna que faz sucesso na Europa

5/3/2024
O músico, guitarrista, compositor, arranjador e cantor com uma grande capacidade vocal, Mario Bakuna, está atualmente na estrada para promover principalmente seu último álbum, “Brazilian Landscapes” (Paisagens Brasileiras). Nesta sexta-feira (3), a turnê faz escala em Paris, no “360 Paris Music Factory”, com o show "Mario Bakuna e amigos". O músico, radicado em Londres há mais de 10 anos, tem uma carreira de sucesso na Europa e diz que nesse tempo todo só recebeu apoio institucional do Brasil “uma única vez”. No álbum “Brazilian Landscapes” e nos shows da turnê, Mario Bakuna propõe uma viagem musical brasileira, com novas interpretações e novos arranjos de obras de grandes músicos da MBP como Dominguinhos, Djavan, Arismar do Espírito Santo e Marcos Valle, entre outros artistas de diferentes regiões do país. Nos seus trabalhos e apresentações, Mario Bakuna se une a grandes talentos como o percussionista Edmundo Carneiro, mas também faz questão de trabalhar com músicos locais, nos países por onde se apresenta. Em Paris, vai estar ao lado do flautista Pierre Baillot, Julian Brunard, no violoncelo e das cantoras Soaya Toukabri e Swathi Raghavan. “Às vezes por uma questão de logística, mas também de experimentação. Eu sempre estou reformulando as bandas”, explica o artista que tem entre suas principais inspirações Baden Powell e João Gilberto. Como vocalista, que usa sua habilidade e extensão vocal para incluir onomatopeias e imitações de instrumentos como o trombone, ele diz estar aprimorando esse recurso musical. “Eu venho melhorando. Depois de ver o Al Jarreau e o Bobby McFerrin, eu me enveredei para o vocalise e para usar a voz como instrumento. Isso define bastante a personificação da minha performance”, avalia. Palcos do mundo Mario Bakuna, radicado há 13 anos no Reino Unido, tem frequentado palcos não apenas europeus, mas também na América do Norte e países africanos. Na programação desta temporada, já se apresentou em festivais no Cazaquistão e tem shows agendados até 2025, incluindo passagens pela Rússia e Canadá. Por onde tem passado, tem encontrado casas lotadas e um público receptivo ao seu trabalho, fruto, segundo ele, de muita persistência já que não conta com apoio institucional no exterior. “Eu peço ajuda para levar minha música para festivais, mas nunca tive apoio de uma embaixada do Brasil. Eu sempre mando projetos”, afirma. No entanto, ele lembra que a única representação diplomática que o ajudou foi a do Azerbaijão. “O embaixador Marcelo Montenegro contatou o Instituto Guimarães Rosa e fez muita força para que acontecesse minha ida ao Baku Jazz Festival, que foi um grande divisor de águas para mim”, afirma. “Foi a única vez em 13 anos que tive apoio. Falta muito incentivo e seria importante para o Brasil. Quando alguém em Brasília entender que quanto mais se falar de cultura brasileira no mundo, com certeza as relações diplomáticas e políticas vão mudar”, diz o artista, que prepara seu o próximo álbum com apenas composições próprias e de outros parceiros musicais. “Nos meus dois primeiros discos, procurei executar minha capacidade de arranjador, até para melhorar minha capacidade como compositor. O arranjo é o caminho mais nobre para você aprender a compor de maneira mais efetiva”, explica.

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FESTin completa 15 anos em Lisboa dando visibilidade a filmes em língua portuguesa

5/1/2024
O Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, FESTin, começa nesta quinta-feira (2) em Lisboa em clima de festa. O evento completa 15 anos e promete uma edição “histórica” para celebrar o aniversário. Até o dia 12 de maio, 38 filmes serão exibidos. Adriana Niemeyer, fundadora e diretora-artística do FESTin comemora o aniversário. “Quinze anos é uma data muito importante para nós”, garante, ressaltando as dificuldades enfrentadas para chegar até aqui. “Trabalhar com a língua portuguesa não é muito fácil. A gente tem pouco apoio financeiro, não somos uma língua que tem tanta visibilidade no mundo”. Ela lembra que o evento, criado ao lado da também jornalista Léa Teixeira, veio preencher uma lacuna porque “não existia um festival dedicado só à língua portuguesa” e que há 15 anos não “imaginávamos que chegaríamos a essa dimensão”. Nessa década e meia, 1.238 filmes, produzidos em todos os países de língua portuguesa, foram exibidos. Houve 23 itinerâncias em todo o mundo, 350 convidados internacionais e uma plateia de 60 mil espectadores, sem contar os internautas, que seguem o evento online. “Hoje, podemos ser considerados o maior festival do mundo dedicado à língua portuguesa”, se orgulha a diretora-artística. Diversidade e música Os 38 filmes selecionados este ano, entre longas, curtas e animação, tanto de ficção quanto documentários, integram as quatro mostras competitivas do FESTin, além de uma retrospectiva e três mostras paralelas, todas marcadas pela “diversidade”. “Nós costumamos escolher filmes que falam sobre direitos humanos, sobre igualdade de gênero, racismo, imigração, meio ambiente, mas também temos muitos filmes ligados à música esse ano”, detalha Adriana Niemeyer. O festival terá música na tela do início ao fim, confirmando uma tendência atual do cinema brasileiro. Na cerimônia de abertura, nesta quinta-feira, será exibido o filme “Mamomas Assassinas – O Filme”, de Edison Spinello, e o encerramento será com “Mussum”, de Silvio Guindane. A grande novidade dessa 15ª edição é a multiplicação dos locais de exibição em Lisboa visando ampliar ainda mais o público. Produções brasileiras dominam O FESTin é um festival de língua portuguesa com filmes produzidos nos vários países que falam português, mas as produções brasileiras dominam amplamente a seleção, seguidas pelas portuguesas. Na opinião de Adriana Niemeyer essa proporção espelha a realidade. “O Brasil sempre dominou. Tem a dimensão do país, mas também as condições (de financiamento). Sempre aproveitamos alguns programas de incentivo culturais do Brasil para a produção de filmes”, diz a fundadora. Ela ressalta que o FESTin não é o único festival de cinema em que essa dominação da cinematografia brasileira é evidente. “Isso se vê bem claramente em todos os festivais no mundo inteiro”, assegura. Mas a maior presença do Brasil é também resultado de um recuo da produção em outros países. “Nós temos visto a produção africana cair. Nós não temos visto grandes produções. Os governos estão investindo cada vez menos na cultura lá, infelizmente”, lamenta. Para remediar essa situação, Adriana Niemeyer defende a coprodução entre os países de língua portuguesa. “Nós estamos também fazendo vários encontros entre os diretores portugueses, brasileiros e africanos para que possam fazer no futuro coproduções e incentivar realmente essa produção na África e que para o Brasil também seria muito importante”, acredita. Segundo Adriana Niemeyer, o FESTin serve de “vitrine para esses países africanos, que têm poucos recursos para mostrarem seus filmes em outros países”, ao mesmo tempo que “leva o cinema em língua portuguesa ao redor do mundo”. Para continuar esse trabalho, ela pede mais apoio das autoridades dos países de língua portuguesa. “Se fala muito em CPLP (Comunidade dos Países em Língua Portuguesa), em língua portuguesa na ONU, mas eles têm que entender que tudo começa também dentro das comunidades. Nós merecemos um pouco mais de atenção nesse sentido”,...

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Antonio Veronese, “O Pintor do Olhar”, inaugura exposição e lança livro em Paris

4/29/2024
Artista brasileiro radicado há mais de 20 anos na França, Antonio Veronese inaugura nesta terça-feira (30) sua mais nova exposição, “Le Peintre du Regard” (O Pintor do Olhar, em tradução livre) na qual traz obras recentes de seu trabalho conhecido por retratar “as profundezas da alma humana”. A mostra é inaugurada às vésperas do lançamento de um livro homônimo, com um resumo da trajetória do artista, que tem obras espalhadas por várias regiões do mundo. “É uma mostra com trabalhos novos, de uma fase em que a gente vai ficando mais velho e a pintura mudando um pouquinho”, afirma o artista em referência à oitava exibição na subprefeitura do 6° distrito da capital francesa. O local sempre foi uma referência para a obra de Veronese, que também já exibiu em outros locais de prestígio em Paris como o Carrousel du Louvre, Unesco e o Museu Histórico de Saint-Cloud. As novas obras se mantêm fiéis à essência de sua pintura: a expressão do sofrimento humano, preocupação despertada desde seus primeiros anos de vida, na sua cidade natal, Brotas, no interior e São Paulo. “Eu sempre tive uma sensibilidade muito grande, até desproporcionada com relação ao sofrimento dos outros. Eu me lembro que eu era pequeno, passava uma ambulância. Eu começava a fazer uma oração para quem estava dentro da ambulância. Meu pai dizia, meu filho, ele tem a família dele para fazer oração. Você não precisa ser o culpado de todas as dores do mundo. Mas eu acho que isso me um pouco enraizado em mim”, lembra o pintor ítalo-brasileiro. Suas telas traduzem também suas experiências no Brasil como voluntário de presídios de meninas e meninos menores, no Rio de Janeiro e em Brasília. “Eu falava da fome, da exclusão, da violência, mas eu não tinha tido experiência própria. E eu fui de encontro aos meus protagonistas nessas prisões, porque são vítimas absolutas da omissão do Estado brasileiro, que é incapaz de formar bem e incapaz de recuperar quando eles são desviados. Então eu fui tocado profundamente por essa realidade, que é uma realidade assustadora”, afirma o artista, que se formou em Direito e só passou a se dedicar completamente à pintura, sua grande paixão, a partir dos 36 anos, após um problema cardíaco. Pintor autodidata, ele teve como grandes influências de Lasar Segal e outros mestres como o norueguês Edvard Munch e do anglo-irlandês Francis Bacon. A relação com sua arte é totalmente orgânica, garante. “A pintura se manifesta de uma maneira quase que espontânea, quase que só trabalhando o hemisfério direito do cérebro, não o esquerdo. Então ela vai sair como? Como um vômito. De tudo isso que eu passei, de tudo isso que eu vi. E ela vai buscar, com a experiência, uma forma estética que possa convencer. Mas o primeiro movimento, o primeiro ato, ele é fruto de uma pulsão. Não existe nenhum tipo de racionalismo, racionalidade na primeira imagem que depois vai ser desenvolvida”, explica. Perplexidade do mundo contemporâneo Com obras expostas em lugares tão distintos como Paris, Dubai, Japão, Los Angeles, Suécia e Estados Unidos, Veronese acumula críticas elogiosas ao seu trabalho tanto da imprensa como da crítica especializada. Em 2011, lembra, o jornal The New York Times escreveu sobre suas obras: “Veronese não pinta rostos, pinta sentimentos”. No seu trabalho, Veronese expressa sua perplexidade diante das tragédias do mundo contemporâneo, e explica por que prefere não dar nomes às suas obras, apesar das exigências do mercado e dos expositores. “Eu não consigo explicar, porque realmente a pintura, a escolha do que vai sair, ela é sem nenhuma preparação, sem nenhuma racionalidade. Ela é fruto de uma pulsão. Então se eu dou o nome, eu te direciono para uma coisa que nem eu sabia que existia, aquela imagem. Ela vem de uma pulsão inicial”. Antonio Veronese decidiu se estabelecer na França, onde seu trabalho já foi catalogado como “expressionismo orgânico”. Mas curiosamente, conta, é o local onde menos vende suas obras. “A classe média francesa é...

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Romance histórico sobre rendeiras do interior de Pernambuco ganha tradução na França

4/27/2024
A escritora e roteirista carioca Angélica Lopes acaba de lançar na França a tradução de seu primeiro romance, "A Maldição das Flores" ("La Malédiction des Flores"), editado pelo prestigiado selo Seuil. Neste romance histórico, ela narra a intrigante história de um grupo de mulheres rendeiras do interior de Permambuco que inventa um código com os pontos da renda e lacês para poder se comunicar e salvar uma amiga de uma situação de violência doméstica, nos anos 1920. "Como todo grupo oprimido, que não tem como se comunicar ou lutar de maneira muito ruidosa, elas inventam uma técnica discreta, silenciosa, para conseguir passar mensagens e elaborar a fuga da amiga", explica Angélica em entrevista à RFI. A história é ambientada na região onde nasceu a bisavó de Angélica, um universo que sempre chegou aos ouvidos dela por meio de histórias contadas pela mãe ou por seu avô. Nascida no Rio de Janeiro, Angélica foi atraída pela região dos ancestrais – "dominada por coronelismos e outras leis, leis dos homens" –, uma realidade bem diferente do espaço urbano onde cresceu. "Esse livro veio de um desejo meu de falar sobre a união entre mulheres, de conexão entre mulheres, de luta por emancipação", explicou. A trama é alimentada pela maldição que atinge a família Flores. Todos os homens que passam pela vida das mulheres dessa família morrem cedo. Elas se casam, o marido morre, os filhos homens morrem ainda crianças. A partir de algumas gerações, o número de mulheres na casa aumenta. A cidade cria uma narrativa de que aquelas mulheres são amaldiçoadas, uma narrativa que "se você se aproximar das Flores, você pode morrer". Mas ao ficarem isoladas e não terem a vigilância de marido, irmão, elas se tornam muito mais livres do que todas as outras mulheres da cidade. "A maldição, na verdade, é uma bênção para elas naquela época, porque elas faziam a renda, elas tinham o próprio sustento pelas mãos", destaca a autora. Rendeiras: uma história de luta e independência Foram freiras francesas que introduziram a renda Renascença no Nordeste. Mas as religiosas teciam as peças em segredo nos conventos. Na pesquisa que Angélica fez em Pernambuco para a construção do romance, ela encontrou rendeiras que tiveram um papel determinante para a democratização da atividade, gerando renda para uma região sem recursos. Histórias reais dessas heroínas se entrelaçam com os personagens de ficção. "Maria Pastora, por exemplo, trabalhava num convento e aprendeu a fazer renda observando os movimentos das religiosas. Ela compartilhou a técnica com as suas amigas e familiares, fazendo a renda se espalhar por Pernambuco", conta. A cidade de Pesqueira, segundo a escritora, "tornou-se um grande polo de produção, gerando renda para todo mundo". Outra personagem que ela destaca é uma abolicionista do Recife que organizava manifestações feministas, participou da luta pelo voto feminino e pelo divórcio. Angélica Lopes tem 20 livros publicados, mas a maioria para o público infantojuvenil. Com este primeiro romance, ela diz que satisfaz um desejo de se dedicar a uma literatura de maior complexidade. "Eu já estava sentindo nos meus dois últimos livros juvenis, que eles já tratavam de temas adultos. Eram livros que tratavam de depressão, um outro de bullying. Apesar de serem temas também jovens, eles eram mais complexos, então eu já tinha essa vontade de buscar uma literatura um pouco mais desafiadora, um texto mais desafiador", diz. "A Maldição das Flores" já foi traduzido ou está sendo traduzido para França, Itália, Estados Unidos, Portugal (uma adaptação), Turquia, Romênia, Polônia e talvez seja brevemente publicado na Coreia do Sul. No Brasil, o livro é editado pela Planeta.

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"É um presente ocupar o pavilhão de artes aplicadas na Bienal de Veneza", diz Beatriz Milhazes

4/26/2024
A convite do brasileiro Adriano Pedrosa, curador da 60ª Bienal de Veneza, e do Victoria and Albert Museum (V&A) de Londres, a artista carioca Beatriz Milhazes expõe até novembro obras monumentais no Arsenale, o pavilhão dedicado às artes aplicadas na mostra internacional mais antiga do mundo. Vinte e um anos depois de estrear em Veneza, que representou para ela "um divisor de águas" na carreira, a pintora contou em entrevista à RFI como é estar de volta ao evento italiano. "Eu chamaria de um 'presente' o convite para essa participação", diz a carioca, uma das artistas brasileiras de maior projeção internacional na atualidade. Quando representou o Brasil na Bienal de Veneza de 2003, ao lado de Rosângela Rennó, cada uma em uma sala, Beatriz não imaginava que viveria novamente um momento tão intenso. "Esse convite em 2024 reúne duas coisas muito significativas na minha vida: o Adriano Pedrosa [diretor artístico do Masp], com quem tenho parcerias diversas há pelo menos 20 anos, e é o primeiro curador não americano e não europeu escolhido para ser o curador-geral da Bienal, e o pavilhão de artes aplicadas, que é uma colaboração entre o Victoria and Albert, um dos meus museus favoritos", relata Beatriz. O V&A tem a maior coleção de arte artesanal do mundo e sempre serviu de referência ao trabalho da brasileira. "É a união de duas situações muito fortes em termos da minha vivência artística", destaca. O universo do design, de tecidos, bordados, crochês e rendas sempre interessaram à pintora e gravadora. Para compor a seleção de obras apresentada em Veneza, o curador Adriano Pedrosa propôs a ela que focasse em tecidos para desenvolver as pinturas murais. A artista selecionou alguns que já tinha em sua coleção pessoal e, com uma verba do museu de Londres, comprou outros tecidos antigos artesanais. "Eu pude estudar especificamente a questão cromática, a construção dos tecidos e estruturas, o cruzamento, os elementos e motivos que você encontra, olhar para isso e trazer para o universo da minha pintura de forma mais objetiva", explica. "Foi um desafio, porque uma coisa é você ter essas referências e elas estarem livres no seu universo, outra coisa é você realmente ter aquele material 'x'". Em seguida, o resultado dessa observação foi transposto para os desenhos preparatórios, que foram o ponto de partida para a construção de cada uma das cinco pinturas monumentais que exibe em Veneza – todas inéditas para o público. História, arquitetura e pintura O visitante que entrar no pavilhão do Arsenale irá se deparar com a tela "Memórias do futuro 1", pintada por Beatriz Milhazes em 2022. "A ideia é realmente de você trabalhar ou vivenciar essa história para construir as memórias do futuro", avisa. Na passagem para a sala principal, vê-se um grupo de colagens de papel que serviu no processo de trabalhos em gravura e serigrafias recentes, mas anteriores à pandemia. Ao entrar na sala principal desse prédio histórico, carregado da memória de Veneza, construído com tijolos aparentes vermelhos e colunas imensas, aparecem as cinco pinturas monumentais sobre painéis, em um ambiente em que o público é envolvido entre a arquitetura e as pinturas. "No centro do pavilhão, tem uma mesa, onde eu fiz uma composição com tecidos de vários países – Filipinas, Vietnã, Japão, África, Brasil, Guatemala, México – que praticamente virou uma instalação", conta a pintora carioca. Tapeçaria irá decorar embaixada dos EUA em Brasília No painel principal, o maior deles, em frente às pinturas, a artista instalou uma tapeçaria desenhada por ela, mas executada na célebre Manufacture Pinton, instalada na região de Aubusson, no centro da França. A peça, de 8 metros de largura por 3,20 de altura, será instalada na nova sede da embaixada dos Estados Unidos em Brasília. Em sua pesquisa de preparação das obras, Beatriz Milhazes diz buscar "a poesia" e "lidar com a alma". "Esse tipo de 'fazer', que são parte de rituais, que demonstram uma preservação da cultura de...

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50 anos da Revolução dos Cravos: cientista político estuda oposição à ditadura portuguesa no Brasil

4/25/2024
O dia 25 de abril marca os 50 anos da Revolução dos Cravos, em Portugal, que resultou no fim da ditadura liderada por Antônio Salazar e que influenciou na independência de colônias portuguesas na África. Um aspecto menos abordado dessa história é a oposição ao governo português feita a partir do Brasil, onde muitos portugueses viveram exilados. Esse é o tema da pesquisa do professor e cientista social da Universidade Federal Fluminense (UFF) Douglas Mansur, entrevistado pela RFI Brasil. Maria Paula Carvalho, da RFI RFI: Para fugir da ditadura de direita mais longa do século XX, que durou de 1926 a 1974, várias levas de portugueses foram para o Brasil, um dos países que mais recebeu imigrantes de Portugal, juntamente com a França e a Itália. Esses migrantes tiveram uma atuação importante contra o regime de Salazar e pela volta da democracia no seu país de origem. Como funcionavam estes centros de oposição à ditadura portuguesa no Brasil e que impacto eles tiveram? Douglas Mansur: Como você mencionou, a ditadura de Portugal foi a maior ditadura de direita do século XX. Ela começou em 1926, com o golpe militar de Salazar, e segue ao longo dos anos com o Estado Novo. Salazar fica no poder até o final dos anos 1960, quando pela idade não tem mais condições de governar e vem a falecer. O regime dura, ainda, até 1974, nos últimos anos, tendo o Marcelo Caetano à frente. E durante todo esse período, nós tivemos uma oposição interna em Portugal, clandestina e alvo de prisões, de violações de direitos humanos etc., de formas de expulsão. Por isso nós tivemos um número significativo de exilados. O exílio no Brasil teve um papel fundamental. Até 1961, o Brasil era o país com maior número de imigrantes portugueses. RFI: Uma primeira leva de exilados partiu em 1927, segundo a sua pesquisa, com um perfil mais liberal e republicano e fundaram associações no Brasil, onde passaram a publicar jornais. Como foi essa atividade? Douglas Mansur: Uma primeira leva, como você mencionou, veio logo em 1927. Eram liberais republicanos e fundaram no Brasil, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, centros republicanos, além de jornais. O "Portugal Republicano" era um desses jornais. Mas essas associações foram fechadas com o nacionalismo de Vargas e com o início da Segunda Guerra Mundial. Então, nós temos um período de praticamente uma década em que há muito pouca oposição à ditadura portuguesa. O salazarismo, inclusive, cresce entre as colônias e entre as associações de imigrantes. RFI: Já depois da Segunda Guerra, a partir de 1950, começaram a chegar ao Brasil portugueses mais jovens, com ideais socialistas e comunistas, para fortalecer essa oposição. O que diferencia esse segundo grupo do primeiro e como eles atuavam? Douglas Mansur: Essa oposição é retomada em meados dos anos 1950, aí já mesclando essa geração mais antiga de liberais republicanos com uma geração nova, que vive os anos da guerra em Portugal, com uma predominância de comunistas, mas também socialistas, mais tarde de católicos e até de dissidentes do regime. RFI: Com a queda do fascismo e do nazismo, havia uma expectativa pelo fim das ditaduras na Espanha e em Portugal, o que não aconteceu. Mais do que nunca, esses portugueses no exílio se lançaram na luta pela democracia, e uma das suas armas era a publicação de um jornal. Esse processo também contou com a participação de brasileiros? Douglas Mansur: Esse pessoal resolve fundar, em meados dos anos 1950, um órgão de imprensa: o "Portugal Democrático". Este jornal vai durar até 1975, portanto até depois do fim da ditadura, e vai ser o único órgão de imprensa em língua portuguesa, que trata de Portugal no exílio e que não vai sofrer censura. E ele vai conseguir agregar não só grande parte dessa oposição, mas também ter uma relação com intelectuais, com universitários, com sindicalistas brasileiros, com a sociedade civil brasileira de modo geral. RFI: Logo em seguida, eles enfrentaram, também, a ditadura militar no Brasil....

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