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Economia - Pandemia: que mudancas no mercado de trabalho vieram para ficar?

RFI

Entrevistas com economistas, analistas de mercado, investidores e políticos, para explicar e comentar questões econômicas internacionais. O papel do Brasil e dos países emergentes na economia mundial.

Location:

Brazil

Networks:

RFI

Description:

Entrevistas com economistas, analistas de mercado, investidores e políticos, para explicar e comentar questões econômicas internacionais. O papel do Brasil e dos países emergentes na economia mundial.

Language:

Portuguese


Episodes
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Economia mundial entrará em 2025 em suspenso à espera do “imprevisível” Trump

12/25/2024
O ano de 2025 chega recheado de incertezas na economia global, pontuadas pela guinada protecionista prometida por Donald Trump nos Estados Unidos, a partir de janeiro. No Brasil, a expectativa é se o governo vai conseguir convencer os agentes econômicos sobre a solidez fiscal do país, em meio a uma disparada dos juros ao patamar mais alto em uma década. Instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a OCDE preveem que o crescimento do PIB mundial permanecerá estável, acima de 3%. O economista Renato Baumann, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), resume o quadro para o começo do ano: com a volta de Trump, a única certeza é um conjunto de incertezas. “A questão é que ele é imprevisível. Muito provavelmente a gente vai ver, nos primeiros meses, uma proatividade de mandar imigrantes ilegais de volta para os seus países e um discurso contra o multilateralismo, mas eu não afastaria a possibilidade de uma acomodação a médio prazo”, pondera o pesquisador. “Os custos de adotar tarifas, como ele fala, são custos que não serão menores”, salienta. O futuro presidente americano promete importar menos da China, e o país asiático deve crescer menos em 2025. Pequim já planejou a sua reação e vai se voltar para dentro: o governo chinês anunciou um ambicioso plano de estímulos para aquecer o consumo, aumentar os investimentos e enfrentar a crise imobiliária crônica. Este cenário tem tudo para afetar as importações do Brasil, uma vítima colateral da retomada da provável guerra comercial entre as duas maiores potências globais. Mas também pode representar uma oportunidade para as vendas de minério de ferro, que hoje respondem por cerca de um quarto da pauta de exportações brasileiras para o país. Leia tambémOs setores na França que não veem a hora de o acordo comercial com o Mercosul sair Dólar alto vai continuar Reginaldo Nogueira, economista e diretor nacional do Ibmec, ressalta ainda que a volta de Trump favorece a moeda americana e a China pode buscar fortalecer o yuan em contrapartida. Resultado: a cotação do dólar não deve baixar tão cedo em relação ao real. “Teremos um período em que o dólar vai continuar forte, e os países vulneráveis, entre eles o Brasil aparece disparado em 2025, serão aqueles que vão sofrer mais”, observa. “A pressão cambial sobre o Brasil vai continuar porque nós estamos com a jugular exposta, com déficit fiscal e déficit externo, simultaneamente. Isso deixa o país como um alvo muito claro para pressões cambiais.” No cenário interno, 2025 começa com desconfiança sobre os rumos da política fiscal, depois que o governo anunciou um pacote de ajuste considerado tímido demais, ao prever R$ 70 bilhões de economias em dois anos. Nogueira vê sinais de uma economia superaquecida pelo consumo, que têm levado o país a se afastar cada vez mais da meta de inflação, de 3%. Choque de juros Para frear esse ciclo, o Banco Central antecipou que a subida da taxa básica de juros não deve parar tão cedo. O atual índice em dezembro, de 12,25%, alça o Brasil ao país à posição de segundo maior juro real do mundo, atrás apenas da Turquia, e à frente da Rússia. “Acho que a pergunta que fica para 25 é o quão alto os juros precisarão chegar para que a gente tenha um cenário de inflação mais estável. Isso vai depender fundamentalmente da política fiscal”, afirma o diretor do Ibmec. “Se o governo seguir com um ajuste de 30 bilhões em 2025, provavelmente os juros terão que ir para perto de 15%, isso vai despencar o investimento privado e a gente vai ter uma situação, em termos de crescimento, muito mais complicada – não só em 25, mas também em 26”, antecipa. A previsão atual de crescimento brasileiro no próximo ano gira em torno de 2%, bem abaixo dos 3,3% projetados para 2024. Alguns economistas, como na Fundação Dom Cabral, avaliam que um quadro de estagflação pode estar se desenhando – ou seja, crescimento fraco, inflação elevada e desemprego em alta. Mas Renato Baumann, do Ipea, prefere olhar o futuro...

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Os setores na França que não veem a hora de o acordo comercial com o Mercosul sair

12/11/2024
A assinatura do acordo de livre comércio entre os países do Mercosul e da União Europeia causa, oficialmente, reações negativas da França, mas também leva diversos setores econômicos do país a celebrar. Industriais em variadas áreas e fabricantes de produtos agroalimentares, como vinhos e queijos, não veem a hora de o tratado entrar em vigor. Lúcia Müzell, da RFI em Paris O barulho dos agricultores franceses, que prometem continuar a bloquear a ratificação do acordo, abafa o entusiasmo dos produtores de vinho – ansiosos pela ampliação dos mercados de exportação para países onde o consumo está em plena ascensão, como na América Latina. Jean-Marie Fabre, presidente do Vignerons Indépendants de France, federação sindical que representa 60% da produção francesa e 65% das receitas, ressalta que, enquanto a União Europeia reluta, países produtores como a Austrália, os Estados Unidos e a África do Sul aceleram os acordos comerciais para diminuir os impostos sobre os vinhos exportados. "Eu peço que a gente assine este acordo, porque o dia em que conseguirmos baixar a zero as tarifas alfandegárias, que hoje são de 27% para os nossos produtos, nós ganharemos com certeza uma grande participação de mercado. Poderemos melhorar o desempenho econômico do nosso setor, mas também da França”, avalia. A Vignerons Indépendants reúne pequenos, médios e grandes produtores, para os quais as exportações representam cerca de 35% das vendas. Noventa por cento deles vendem para outros países da União Europeia e 81% para mercados externos ao bloco. Fabre cita o exemplo do acordo em vigor com o Japão, que permitiu aos viticultores franceses aumentarem 10% do volume de exportações ao país asiático. A expectativa é ainda mais favorável com os latino-americanos e, em especial, o Brasil. “O Brasil é um país onde o consumo avança a um ritmo de dois dígitos, de 12%, 15%. O Paraguai e o Uruguai estão bem mais atrás. Eu acho que, num primeiro momento, o impulso vai ser relativamente fraco em termos de volume, mas nos próximos 10 a 15 anos, será uma zona do mundo importante de consumo de vinhos e destilados”, espera. "Nós percebemos que é nestes mercados emergentes que a França não deve perder mais tempo e ficar atrasada ou prejudicada por regras de comércio diferentes dos seus concorrentes.” Vinho, carro-chefe do setor agrícola francês O setor vinícola é o que apresenta, de longe, o melhor desempenho da agricultura francesa. O vinho tem um peso importante no comércio exterior do país: situa-se logo atrás do setor aeronáutico e em pé de igualdade com o luxo, duas atividades que também festejam a assinatura do acordo comercial com o Mercosul, assim como as indústrias química, automotiva, farmacêutica e cosmética. Leia tambémCríticas de CEO do Carrefour à carne brasileira ilustram ‘falta de visão’, em meio a crise do varejo na França No ramo alimentar, os fabricantes de produtos transformados e laticínios se somam à lista, mas a rusga dos pecuaristas contra a carne latino-americana leva os produtores de derivados do leite a serem mais discretos quanto à aprovação do acordo. Quarenta mil toneladas de queijo e 10 mil de leite em pó passarão a entrar no Mercosul com imposto zero, dez anos após a entrada em vigor do tratado. “O princípio de um acordo é que seja olhado em uma escala global. Não podemos olhar uma corporação em particular, senão nunca vamos assinar nada, e estou bastante persuadido que, no fundo, o governo francês sabe que este tratado seria benéfico para França”, indica o economista especialista em comércio internacional Jean-Marie Cardebat, professor da Universidade de Bordeaux. "Neste momento, a política francesa está bastante lamentável e por razões de cálculos eleitorais mesquinhos, vamos derrubar um acordo que é extremamente importante para a economia francesa”, lamenta. Acordo é equilibrado e favorece os dois lados, diz professor A volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, trazendo com ele o aumento das tarifas de importação...

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Políticas de igualdade de gênero são chave para frear queda da fecundidade no mundo

12/4/2024
Em dois terços do planeta, a renovação de geração não está garantida – a queda da natalidade não é mais um problema apenas nos países ricos, mas se generaliza pelo mundo e atinge até os países em desenvolvimento. Especialistas alertam: a aceleração das políticas de igualdade de gêneros é uma das chaves para combater essa tendência e evitar que o envelhecimento das populações esvazie a força de trabalho ativa e vire uma bomba nos orçamentos públicos. Há dois séculos, a queda da mortalidade levou à diminuição da fecundidade nos países do norte – uma evolução que agora se replica em todos os lugares do planeta. “É um movimento generalizado, que leva a humanidade a mudar o seu regime demográfico. Os casais desejam ter menos filhos para garantir a eles uma vida melhor do que a que eles próprios tiveram, uma vida de qualidade”, explicou o especialista francês Gilles Pison, conselheiro da direção do Instituto Nacional de Estudos Demográficos da França e autor de Atlas da População Mundial (tradução livre). “Em lugar nenhum do mundo é mais possível ter seis ou sete filhos e que todos possam frequentar boas escolas, tenham diplomas e uma boa profissão”, esclareceu, ao programa Débat du Jour, da RFI. Atualmente, quase 70% da população mundial vive em um país onde a taxa de fecundidade por mulher é inferior a 2,1 crianças, segundo a ONU. A média mundial é um pouco acima, de 2,25, puxada pelos índices ainda elevados em regiões da África, Oceania e Ásia. Mas também nestes lugares, assim como nas Américas, a tendência é de queda até o fim do século, depois que a população global atingir o seu pico em 2080. O economista David Duhamel, professor-associado da Sciences Po Paris, salienta que o processo de transição demográfica acompanha o desenvolvimento econômico de um país. “Depende da urbanização – na cidade, fazemos menos filhos do que no campo – e da educação – as adolescentes não pensam muito em filhos quando elas estão no ensino médio, e ainda menos quando chegam à universidade. O que é interessante, nos últimos anos, é que o desenvolvimento demográfico está andando muito mais rápido do que o desenvolvimento econômico”, indicou. “Estamos vemos países que ainda são emergentes, como a Tailândia, terem índices demográficos semelhantes aos de um país como a Alemanha”, afirmou. Como relançar a fecundidade? Duhamel sublinha que o mundo em envelhecimento demanda um novo olhar sobre as pessoas com mais de 60 anos, que devem ser cada vez mais ser vistas como um recurso para a economia, e não um fardo, e sobre as minorias em idade economicamente ativa, incluindo os imigrantes. Já as pistas para relançar a fecundidade passam pela diminuição das desigualdades e por políticas de habitação que viabilizem o projeto de ter filhos de jovens casais nas zonas urbanas, menciona o economista. A velocidade com que países emergentes e em desenvolvimento começaram a ver os seus índices de natalidade cair surpreendeu especialistas – um fenômeno diretamente ligado ao ingresso e à ascensão das mulheres no mercado de trabalho, frisou Duhamel. “A escolha de ter um filho sempre foi uma escolha econômica, só que antes as mulheres pagavam exclusivamente por essa escolha, em silêncio. Elas não aceitam mais isso, não aceitam mais não compartilhar essa conta, no trabalho como em casa”, salientou. “Hoje elas têm mais escolhas – e isso é formidável: podem escolher dizer não, escolher ter uma carreira ou se retirar dessa divisão desigual sobre a maternidade. O caminho para reencontrarmos a fecundidade é pelo compartilhamento mais igualitário possível do preço de ter um filho”, avalia. Maior equilíbrio também em casa Assim, alguns países como a Coreia do Sul, que não aceleraram as políticas de apoio à carreira das jovens mães, veem sua natalidade despencar ao índice crítico de 0,6 criança por mulher. Isso significa que, estatisticamente, seis pessoas são substituídas por apenas uma criança sul-coreana atualmente. Não à toa, as nações europeias com maior taxa de...

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Críticas de CEO do Carrefour à carne brasileira ilustram ‘falta de visão’, em meio a crise do varejo na França

11/26/2024
O impacto negativo dos comentários do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, sobre a carne produzida no Mercosul pode custar caro para o grupo, que tem no Brasil o seu maior mercado fora da Europa. Há dois anos, ao celebrar a compra do concorrente BIG e quase dobrar a presença no país, Bompard dizia que “o futuro do grupo será escrito, em grande parte, no Brasil e na América Latina”. Lúcia Müzell, da RFI em Paris A escolha estratégica de apostar as fichas no país emergente se deu em um momento em que o modelo de hipermercados entrou em crise na França. “O Brasil está, mais do que nunca, no coração do grupo”, disse o CEO em junho de 2022. A aquisição do BIG do Walmart levou o Carrefour a se tornar o maior empregador privado no Brasil, com 130 mil funcionários. "Globalmente, o Brasil é extremamente importante para o Carrefour, principalmente num momento em que ele enfrenta questionamentos sobre o modelo dos hipermercados no mercado francês, e que funcionam bem no Brasil. O país é um elemento essencial para o desenvolvimento da empresa, ainda mais que o grupo perdeu mercados no exterior nos últimos anos", afirma o pesquisador Jean-François Notebaert, professor de gestão da Escola de Administração da Universidade da Borgonha. "Acho que Bompard quis confortar os agricultores franceses, mas não teve uma visão internacional do grupo", avalia. A atuação no Brasil representa um quinto do faturamento total do grupo francês, conforme balanço do terceiro trimestre. Marcos Gouvêa, um dos maiores especialistas da área do país, concorda que faltou visão para o executivo francês. "Nesse processo que nós temos vivido, de desglobalização do varejo físico, com o crescimento do varejo digital e a metaglobalização do varejo digital, a representatividade do mercado brasileiro mereceria, no mínimo, muito mais reflexão antes de uma manifestação como foi feita", comenta Gouvêa. "Fica fácil ver quem sai ganhando: são os concorrentes do Carrefour". O Brasil é o maior produtor mundial de carne e abastece também as unidades da rede francesa em outros países do mundo. Com os comentários, Bompard acabou preso na própria armadilha. "A comunicação dele também causa problemas no sentido de que Bompard considera que esta carne não corresponde às normas do mercado francês, mas e os outros países europeus nos quais Carrefour está implantado, como Portugal, Espanha, Itália ou Polônia? Ele vai continuar vendendo esta carne que ele considera não corresponder às normas francesas?", questiona Jean-François Notebaert. França quase não compra carne brasileira Nos últimos anos, o mercado europeu se tornou menos relevante para as vendas brasileiras de carnes, em detrimento do chinês. A União Europeia compra menos de 4% do volume exportado, e a França responde por uma quantidade insignificante, de 0,66% do total vendido para a UE. O bloco europeu permanece uma potência exportadora de proteína animal, e não o contrário. Na carne bovina, ainda mais: 85% do que é consumido na França tem origem no próprio bloco. Ou seja, as declarações de Bompard buscavam confortar um mercado nacional que praticamente já não consome carne brasileira. O CEO parece ter esquecido deste contexto quando prometeu que não venderá nos supermercados na França carne proveniente dos países do Mercosul – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai –, mesmo se o acordo comercial entre a União Europeia e o bloco sul-americano for ratificado e baratear o custo destes produtos. Na sequência, outra grande rede varejista francesa, a Intermarché – que não atua no Brasil – também assumiu o mesmo compromisso. A tomada de posição de Bompard enfureceu produtores, frigoríficos, consumidores e até o governo brasileiro, em um movimento de união bastante raro em torno do setor. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que Brasília “não vai admitir” que a qualidade da carne brasileira seja questionada. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, acrescentou que espera “uma resposta clara” do Congresso,...

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Na Europa, nos EUA ou no Brasil, falta mão de obra para a transição energética

11/13/2024
Enquanto o mundo se mobiliza para promover a economia de baixo carbono, falta mão de obra qualificada para realizar o isolamento térmico dos prédios, fabricar veículos elétricos ou para desenvolver, instalar e manter painéis solares e parques eólicos. Apesar do futuro promissor, na Europa, nos Estados Unidos ou no Brasil a formação de profissionais ligados à transição energética ainda é insuficiente e não dá conta da demanda crescente. Em 2023, o setor gerou um recorde de 2,5 milhões de empregos no mundo, segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A alta representa 18% a mais de vagas em apenas um ano, chegando a 16,2 milhões de trabalhadores – principalmente na China, em plena disparada da indústria fotovoltaica para a energia solar, da qual é líder mundial. A Agência Internacional de Energia (AIE) antecipa que, até 2030, 30 milhões de vagas deverão ser preenchidas nestas indústrias em todo o planeta. Não é diferente no Brasil, onde a parte das fotovoltaicas quadruplicou e hoje responde por 20% da matriz elétrica brasileira. O setor gerou mais de 1,4 milhão de empregos desde 2012, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). “A tendência é continuar crescendo. Algumas projeções indicam que a solar fotovoltaica vai representar 50% da nossa matriz elétrica. Mas a gente percebe uma escassez de mão de obra qualificada – não somente para cargos de gestão, como para a fábrica, para a instalação dos sistemas, por profissionais que sejam formados para isso”, afirma Bárbara Rubim, vice-presidente da entidade. Leia tambémComo o Reino Unido conseguiu ser o primeiro país desenvolvido a se livrar da energia a carvão “Num cenário de médio prazo, o setor de energia vai demandar cada vez mais um profissional com um perfil plural, que consiga entender a parte técnica, mas também tenha uma visão mais ampla de desenvolvimento e de país – até para conseguir pensar melhor o futuro das empresas num setor, e também num país, que têm mudado tanto”, salienta. Fuga de cérebros Rubim reconhece que a escassez de profissionais desacelera o potencial de desenvolvimento das renováveis no país. Outro problema é a fuga de cérebros: num contexto em que sobram empregos na área nos países ricos, como nos Estados Unidos, o Brasil nem sempre têm conseguido segurar os seus talentos. “A fuga de cérebros se torna um problema sobretudo quando a gente olha a pesquisa e desenvolvimento, que já é uma dor crônica do nosso país. Sem dúvida alguma, a reindustrialização verde também perde um pouco de força”, indica a vice-presidente da Absolar. Na Alemanha ou na França, potências europeias, as empresas buscam, ainda nas universidades e em cursos técnicos, os formandos nestas áreas. Raphael Ameslant, funcionário de uma multinacional de parques eólicos offshore, também dá aulas no Instituto Universitário de Tecnologia de Saint Nazaire, na Bretanha, onde aproveita para recrutar futuros funcionários. “Sempre precisei de técnicos em manutenção e agora está complicado de encontrar bons. Tenho buscado me envolver nos cursos para poder, ao mesmo tempo, buscar estudantes que poderão se tornar técnicos”, disse a Justine Fontaine, da RFI. “Todos aqui já têm contratos assinados.” Faltam alunos O planejamento da França em matéria de redução de emissões de gases de efeito estufa dá respaldo a quem apostar nesta área: a perspectiva do país é de pelo menos triplicar a produção de energia eólica no solo ou no mar, nos próximos 10 anos. Hoje, entretanto, o interesse dos estudantes ainda é baixo. “Fiz um cálculo rápido e isso representa oportunidades para cerca de 600 pessoas por ano, apenas na área de exploração e manutenção. Mas neste ano, teremos apenas 12 diplomados aqui”, lamentou Patrick Guérin, diretor do curso. “Nós ampliamos a nossa capacidade das turmas em 2024, mas o número de candidaturas não subiu. Não compreendo muito bem por quê.” Para...

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Eleições americanas: entre Trump e Harris, qual favorece mais a economia do Brasil?

10/23/2024
Na reta final antes das eleições presidenciais americanas, os rumos da maior economia do planeta impactam o Brasil, que tem nos Estados Unidos o seu segundo maior parceiro comercial. Os fluxos internacionais de investimentos e as taxas de juros e de câmbio também são influenciados diretamente pelo que acontece no país, que em 5 de novembro vai escolher entre a continuidade, representada pela democrata Kamala Harris, ou a volta do republicano Donald Trump à Casa Branca. Lúcia Müzell, da RFI em Paris Na política, dois projetos antagônicos se enfrentam nas urnas. Na economia, nem tanto: os dois candidatos pretendem estimular a atividade econômica, uma por meio mais gastos públicos, com transferência de renda e estímulos para setores como a inovação e a sustentabilidade, e o outro por cortes de impostos em favor das empresas. A maior diferença é que Donald Trump assume o viés protecionista do seu programa de governo: planeja impor taxas pesadas sobre determinadas importações, que chegariam a até 60% sobre os produtos fabricados na China. No seu primeiro governo, o republicano lançou uma guerra comercial com o concorrente asiático e adicionou 25% de sobretaxas às mercadorias chinesas. Um eventual segundo mandato Trump tende a ser ainda mais protecionista, avalia Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, em São Paulo – e o Brasil estaria à mercê das consequências indiretas dessas medidas: “Tem estudos que mostram que o crescimento da economia chinesa poderia reduzir 2 pontos percentuais. Qualquer coisa que aconteça com a China acaba tendo impacto sobre países emergentes exportadores de commodities”, afirma. “Eu acho que por conta desse aspecto específico, a Kamala Harris seria mais favorável para o Brasil”, avalia Leal. Comércio bilateral O impacto direto na relação bilateral é menos claro. Os Estados Unidos são o segundo principal destino das exportações brasileiras, incluindo alguns itens industrializados como aço e laminados, que já foram alvo de alta de tarifas alfandegárias no primeiro governo Trump. Mas se novas medidas se concentrarem na China, poderia haver espaço para aumentar a participação brasileira no mercado americano, atualmente de apenas 1,2%, segundo números da ApexBrasil (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos). Em 2023, a corrente de comércio foi de quase US$ 75 bilhões – valor que representa uma pequena fração das transações americanas, de mais de US$ 7 trilhões. “O Brasil está longe de ser um parceiro super-relevante para os Estados Unidos. Antes do Brasil, é muito mais importante China, Europa, México, Canadá, países do lado dos Estados Unidos”, destaca o economista William Castro Alves, estrategista- chefe da corretora Avenue, em Miami. “Muito se fala que o Trump pode ser ruim e a Kamala pode ser mais favorável, mas dentro da pauta dos candidatos, seja quem quer que seja e mesmo se for o Trump, o Brasil não está na prioridade. Quando o Trump fala em ‘make America great again’, ele está muito mais se endereçando à China e ao próprio México”, lembra. Leia tambémCâmbio alto prejudica viagens para o exterior; real não deve se fortalecer tão cedo O Brasil vende principalmente matérias-primas como petróleo bruto, ferro e aço, café e celulose, além de aeronaves, e compra dos Estados Unidos produtos industriais e relacionados à energia, como combustíveis refinados e gás natural, ou ainda fertilizantes. Também importa aeronaves e instrumentos médicos. Os americanos são, há mais 10 anos, os principais investidores estrangeiros no Brasil, responsáveis por um quarto do total de investimentos estrangeiros diretos no país. Uma vitória de Kamala Harris tende a manter este status quo, nota Luís Otávio Leal. “Ela caiu meio de paraquedas na campanha. Eu acho que só mais do meio para o final do mandato é que ela imprimiria uma marca mais personalista dela, e a gente não sabe qual seria”, pontua o economista-chefe da G5 Partners. “Ela foi uma vice-presidente apagada e a gente realmente não sabe o...

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Sob impulso russo, Brics aceleram pagamentos sem dólar, mas moeda própria ainda é sonho distante

10/16/2024
Anfitriã da cúpula do Brics este ano, a Rússia quer aproveitar a reunião de chefes de Estado dos países emergentes para impulsionar os projetos de sistemas financeiros alternativos ao dólar. A criação de uma moeda única do bloco, entretanto, ainda é um sonho distante, que esbarra na grande assimetria econômica e geopolítica entre os seus integrantes. Os líderes do Brics se reunirão em Kazan, no oeste russo, na próxima semana, e discutirão diferentes projetos de mecanismos financeiros alternativos ao dólar no comércio intrabloco: o Brics Pay, equivalente à plataforma internacional de pagamentos Swift, o Brics Bridge, sistema baseado em blockchain que interligaria os respectivos bancos centrais, e a eventual moeda comum dos Brics. "A ideia é se liberar de algumas amarras que, para eles, não têm mais muita razão de existir, dado o peso econômico destes países. Eles veem como algo quase irracional: por que deveríamos ainda precisar tanto do dólar para as nossas transações entre nós, entre Brasil e China, por exemplo?”, afirma Carl Grekou, economista especialista em finanças do Centro de Estudos Prospectivos e de Informações Internacionais (CEPII), em Paris. "Para muitos deles, o aspecto antidólar não conta tanto quanto o objetivo de apenas simplificar as coisas. Mas por trás disso tudo, tem a Rússia que claramente quer forçar a barra, afinal ela é alvo de sanções." Desafio da expansão do Brics Até agora, 32 países confirmaram presença no evento, na continuidade do processo de abertura do grupo iniciado na última cúpula, quando cinco novos membros se associaram oficialmente ao Brics – Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Irã, Egito e Etiópia. A expansão complexifica ainda mais um projeto que já não era fácil de concretizar: se, por um lado, os aspectos técnicos são relativamente simples de viabilizar, a coesão interna de países tão diversos e apegados à sua soberania é uma barreira importante a ser superada. "Mas eu acredito que, dentro de um horizonte de alguns anos, se tenha um avanço considerável para intensificar essas transações. Estes exemplos têm uma base técnica que já é bastante controlável, já se tem um domínio dessas técnicas”, destaca Marcelo Milan, do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS). "Resta a questão do direcionamento, de intensificar os fluxos em uma direção ou outra, para que o bloco possa criar mecanismos para que os arranjos de pagamentos sejam feitos cada vez mais com referência nas moedas nacionais e, se um dia for possível, nessa moeda comum", aponta Milan. Leia tambémTurquia solicita oficialmente adesão ao Brics para se emancipar da UE e dos EUA Peso desproporcional da China O maior problema rumo à moeda própria é que pressuporia uma preponderância do yuan chinês, dado o peso desproporcional de Pequim dentro do grupo. A maioria dos países rejeitaria a ideia de assumir o yuan como principal referência e em especial a Índia, garante o pesquisador Julien Vercueil, ligado ao Departamento de Comércio Internacional do Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais (Inalco) da França. “Envolve muito engajamento político e econômico, a possibilidade de terem de enfrentar choques assimétricos, de viabilizarem grandes transferências de riquezas de um país para o outro. Ainda estamos muito longe desse tipo de configuração dentro dos Brics, sem mencionar o fato de que eles não estão nada sincronizados nos seus ciclos econômicos, ao contrário do que temos na Europa com o euro, por exemplo”, resume. "Ou seja, eles teriam problemas econômicos insuperáveis para adotar esta moeda.” Especialista na economia russa, Vercueil avalia, entretanto, que os Brics tentarão passar como sendo já moeda própria os outros dois projetos mais avançados – para os quais o sistema Cips chinês parece servir de modelo. O Cips (China International Payement System) já começou a se interligar aos bancos centrais de alguns países do grupo de...

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Meca da moda, França vive onda de falências de marcas prêt-à-porter

10/2/2024
A fast fashion no mundo globalizado derruba algumas das marcas mais tradicionais do prêt-à-porter da França, berço de ícones da moda mundial. A crise no setor não vem de agora – desde o início dos anos 2010, as fabricantes francesas de vestuário e calçados sofrem com a concorrência do comércio online, ao qual demoraram a se adaptar. A pandemia e os novos modos de consumo que dela decorreram aceleraram uma tendência de declínio que já estava instalada no país, revela um estudo do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee). Em 2020, as vendas de roupas no país despencaram 22,6% e as de calçados, 19,8%, ao mesmo tempo em que o varejo em geral só recuou 2,5%. Na sequência, o crescimento das vendas se manteve inferior a 1%. Este contexto, afirma o Insee, explica a queda brusca do número de lojas no país: de -18% das butiques de roupas e -26% das de calçados, entre 2014 e 2021. “Tem uma correção de mercado que se opera desde 2013. Ela continua e, infelizmente, não temos razão para pensar que ela terminou”, constata Gildas Minvielle, diretor do Observatório Econômico do Instituto Francês da Moda. O especialista salienta que a moda francesa demorou a acreditar na força do comércio online – e perdeu tempo ao focar os investimentos em novas lojas físicas, em vez de no desenvolvimento de sites modernos. Depois, os anos de inflação alta e queda do poder aquisitivo levaram os consumidores a serem mais sensíveis ao fator preço. O golpe final veio da China, com a chegada avassaladora das plataformas Shein e Temu no mercado europeu, desafiando os valores praticados pelas marcas de fast fashion bem implantadas no bloco, como a sueca H&M, as espanholas Zara e Mango e a irlandesa Primark. “Quando vemos atores como Shein, que chegam e tomam conta do mercado de uma forma muito agressiva, deveríamos poder controlar melhor o fato de que os consumidores aqui não tenham de pagar direitos de importação. Isso não é normal”, aponta Minvielle. “Mas, para ser totalmente honesto, não tenho certeza de que isso mudaria alguma coisa, até porque a Shein não é única que derrubou os preços.” Num contexto de concorrência cada vez mais feroz, na França o prêt-à-porter de baixo e médio custo é o mais atingido, vítima direta desta nova configuração. Redes como Camaïeu, Kookai, Naf-Naf, Pimkie e GoSport ou faliram, ou foram obrigadas a só operar pela internet. No ramo calçadista, as tradicionais André e San Marina enfrentam o mesmo destino. Roupas de segunda mão já pesam no mercado A emergência do fenômeno das compras de segunda mão, em lojas físicas como pela internet, também já impacta o desempenho do mercado de roupas e calçados novos. As vendas de usados pesavam, em 2022, entre US$ 100 e US$ 120 bilhões, em nível mundial, de acordo com um estudo da consultoria Boston Consulting Groupe (BCG) realizado a pedido da plataforma francesa Vestiaire Collective, um dos principais nomes da revenda de segunda mão no país. O volume representa três de 3% a 5% do total do setor e triplicou desde 2020. Segundo este relatório, nos próximos anos, as compras de peças usadas poderão atingir 40% do mercado, impulsionadas pelos jovens. Nos países europeus, a faixa etária de até 30 anos já se acostumou a só comprar em brechós ou em plataformas especializadas, em busca de preços mais baixos e peças exclusivas, mas também por preocupação com o impacto ambiental do consumo. Numa tentativa de se adaptar à tendência, a maioria das grandes lojas francesas – entre elas a famosa Galeries Lafayette – instalou um “canto das usadas”. No espaço, as clientes podem comprar e revender as suas peças da marca. Aposta na qualidade francesa Gildas Minvielle avalia, entretanto, que o prêt-à-porter novo ainda tem dias promissores pela frente, à condição de apostar na qualidade e em subcategorias mais especializadas, como moda sustentável, marinha ou o chamado luxo acessível. “Não são volumes como os da Camaïeu, da Zara ou da H&M, claro. Mas temos muitas marcas fortes em...

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Lei antidesmatamento e queimadas podem ser ‘bola da vez’ para manter acordo UE-Mercosul travado

9/25/2024
O Brasil tenta acelerar as negociações do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul até o fim deste ano. Mas do lado dos europeus, dois argumentos ligados à atualidade têm potencial de continuar travando a finalização do texto: a entrada em vigor de uma lei antidesmatamento importado no bloco, prevista para janeiro de 2025, e os incêndios florestais em curso em diversas regiões brasileiras. Lúcia Müzell, da RFI em Paris O tema tem sido evocado pelo Itamaraty e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em conversas com Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e Olaf Scholz, chanceler da Alemanha – país favorável ao tratado. A série de queimadas nos biomas brasileiros se tornam um argumento a mais para aqueles que se opõem há anos à ratificação do texto na Europa, em especial o setor agrícola. “O que está acontecendo no Brasil quase que justifica a regulação europeia sobre o desmatamento. Eu não a considero como um instrumento protecionista. Qualquer regulação pode ser usada de uma maneira protecionista, mas eu acho que ela tem uma motivação legítima ambiental, climática”, alega Pedro da Motta Veiga, diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), focado em política externa brasileira. “Na ausência de algum tipo de regulação multilateral ou acordada entre os países, eu entendo que a União Europeia tenha resolvido estabelecer um papel pioneiro de estabelecer uma legislação unilateral relativa às importações para os seus países-membros”, analisa. Bloqueio permanente A última rodada oficial de negociações do acordo foi realizada em Brasília, no começo de setembro, sob protestos de entidades representativas dos agricultores franceses, holandeses ou irlandeses. O diplomata aposentado José Alfredo Graça Lima, ex-embaixador na missão brasileira junto à União Europeia, é um dos mais experientes negociadores em tratados comerciais em nome do Brasil e do Mercosul – e estava no posto quando as negociações foram suspensas, em 2004. Ele demonstra pouca esperança de ver os entraves ao acordo serem superados um dia. “Sempre tem e sempre terá, porque essas controvérsias não vão desaparecer. E aí o acordo fica no limbo”, constata. “Enquanto existir a Política Agrícola Comum (PAC) europeia, não tem expectativas de comércio mais livre para os produtos agrícolas de fora da União Europeia. É uma total impossibilidade.” O atual momento político na Europa também não é favorável, com a ascensão da extrema direita nacionalista em diversos países. Em plena crise política, tudo que a França não quer é reavivar um tema tão polêmico quanto a associação comercial com o Mercosul. Além disso, o novo primeiro-ministro francês, o conservador Michel Barnier, seria pessoalmente contrário à conclusão do tratado, segundo o site Euractif apurou com aliados do premiê. Barnier foi o negociador-chefe europeu para o Brexit e é apegado às chamadas cláusulas-espelho, que determinam a reciprocidade entre as duas partes. Rejeição do acordo pelo PT O projeto foi lançado há quase 25 anos, passou cerca de 12 anos paralisado e, por fim, só foi concluído durante o segundo ano de governo de Jair Bolsonaro, em 2019. Entretanto, a etapa seguinte, da ratificação pelos Parlamentos dos países membros dos dois blocos, jamais se concretizou, no contexto da disparada do desmatamento na Amazônia. As negociações foram reabertas após a troca de governo no Brasil, em 2022. Na visão de Motta Veiga, a responsabilidade pelo fracasso até agora é partilhada pelos dois lados. Depois de a União Europeia exigir a inclusão do combate ao desmatamento no texto, o Brasil impôs uma nova lista de condições em contrapartida, como restrições de acesso às compras governamentais nos países do Mercosul. O especialista lembra que as gestões petistas sempre se opuseram ao avanço das tratativas – e afirma duvidar quando o presidente diz desejar fechar o texto até dezembro. “Eu não sei se o Brasil espera isso. Eu sou muito cético sobre a...

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Câmbio alto prejudica viagens para o exterior; real não deve se fortalecer tão cedo

9/18/2024
Quem viaja para o exterior a turismo ou faz negócios internacionais começa a se acostumar com o câmbio alto: o dólar e euro em relação ao real subiram no início do ano, dispararam em junho e não baixaram mais. A queda dos juros nos Estados Unidos deve estancar esse movimento, mas não bastará para fazer o real se valorizar. A moeda americana tem oscilado entre R$ 5,60 e R$ 5,65, ante a cerca de R$ 5 em 2023. Já a europeia é cotada acima de R$ 6,2 – em torno de R$ 0,85 a mais do que no ano passado. O aumento tem pesado no bolso dos turistas que viajam ao exterior, nota a presidente da Agência Brasileira das Agências de Viagem (Abav), Ana Carolina Medeiros. “A procura não diminuiu, mas a gente percebe que mudaram as escolhas como o tipo de assento no avião, na classe executiva ou na econômica, uma diferença na hotelaria, que fica bem mais restrita para o cliente poder economizar. Ele também muda para outro destino que seja um pouco mais em conta", assinala. "Nós temos buscado, junto aos fornecedores, por mais facilidade de pagamento, como parcelamento no cartão", diz Medeiros. A expectativa da queda da taxa de juros nos Estados Unidos, que se arrastou ao longo do ano, foi a principal justificativa para a valorização do dólar no primeiro semestre, e em relação não apenas ao real. O peso mexicano chegou a perder 18%. “Quase sempre, os fatores externos são dominantes, mas a moeda brasileira, como as emergentes de maneira geral, tem se comportado um pouco pior neste mundo com tantas incertezas e riscos, relacionadas à reversão do ciclo monetário que começa no mundo desenvolvido e também pela eleição americana”, salienta Livio Ribeiro, professor e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas e sócio da BRCG Consultoria. Ciclo de queda de juros nos EUA Nesta quarta, as peças podem começar a se mexer no xadrez do câmbio: o mundo está de olho na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), para uma aguardada decisão sobre o início de um ciclo de redução dos juros pelo Banco Central americano (Fed). O mercado espera um primeiro corte de pelo menos 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira – o que já favorece a procura pelas moedas das grandes economias, inclusive o euro. “No DXY, índice que mede o dólar em relação a outras moedas, principalmente de mercados de desenvolvidos, já podemos ver que o yen está com um peso forte”, nota Thais Batista, gestora de portfolios na Schelcher Prince Gestion, em Paris, onde é especializada em mercados emergentes. “A gente vê que o dólar, no ano, está caindo agora. Já está negativo, provavelmente por causa da força do yen.” Mas a conjuntura externa não é a única explicação para o real desvalorizado. Aspectos internos no Brasil acentuam a queda: incertezas sobre a situação fiscal do país, ingerências do governo na governança do Banco Central e dúvidas sobre a próxima presidência da instituição são alguns dos fatores que pressionam a moeda nacional. “O investidor local vive com esse bicho-papão da inflação há décadas e isso influencia muito o câmbio por conta do contexto interno. As questões estruturais do Brasil ainda estão pesando na moeda e nos cenários que os investidores fazem”, observa Batista. “A gente precisaria que eles pintassem um quadro um pouco melhor para o país para justificar uma alta significante do real.” Impacto no Brasil Por isso, não se espera uma mudança significativa do câmbio para os próximos meses. A instabilidade no México favorece a maior procura pelo real, entre as economias latino-americanas, e a provável nova alta da taxa básica no Brasil, que também deve ser decidida esta semana, tende a estancar a desvalorização da moeda brasileira. “A gente tem uma economia que está se mostrando mais forte do que as pessoas imaginavam, com um mercado de trabalho forte e a economia como um todo crescendo bastante, principalmente nos setores de serviços e consumo interno. Tem uma política fiscal expansionista e talvez...

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Bloqueio do X abala ambiente de negócios no Brasil? Especialistas analisam

9/4/2024
Desde o bloqueio da rede X no Brasil pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, empresários alegam que a medida prejudica o clima de negócios no país. A decisão traria um ambiente de “insegurança institucional” para as empresas que operam no Brasil e poderia afugentar investimentos estrangeiros. Moraes suspendeu as operações e o uso da plataforma em território brasileiro depois que o X se recusou a nomear um representante legal no país, num contexto de suspeita de que a rede estimula a disseminação de conteúdos falsos e discursos de ódio. O dono da rede, o bilionário americano Elon Musk, fomenta há meses um embate com o ministro do STF, que ele acusa de tentar censurar a rede. O caso gerou repercussão mundial – e ocorre uma semana depois do dono da plataforma Telegram, Pavel Durov, ser detido em Paris por descumprir ordens judiciais. “O mercado brasileiro pode ser penalizado se alguns atores internacionais estimarem que o acesso está mais difícil. Isso pode criar, a médio e longo prazo, efeitos negativos”, reconhece Julien Maldonato, diretor de digital trust da auditoria Deloitte. “Mas um país deve poder tentar manter uma forma de soberania em alguns assuntos, seja de negócios ou da gestão da comunicação e da informação. É preciso tentar encontrar um equilíbrio dinâmico, porque ao longo do tempo, esses equilíbrios serão sempre questionados.” Tentativas de controle afetou investimentos na China Apesar de inúmeras tentativas pelo mundo, o controle das plataformas digitais se tornou quase impossível – nem os países abertamente autoritários conseguem, salienta Nathalie Janson, professora associada de Finanças da Neoma Business School, em Rennes. “Levanta dúvidas sobre a capacidade das empresas multinacionais poderem fazer negócios nestes países, se as regras podem mudar de um dia para o outro. É uma questão colocada há uns 10 anos na China, aliás, que tem um governo autoritário”, explica a especialista em finanças digitais. “Depois dos problemas com o empresário Jack Ma e diversas proibições de atuação, o clima de negócios se tornou, evidentemente, desfavorável – e a China teve uma baixa dos investimentos estrangeiros. Então, acho que a questão é legítima no Brasil.” A professora evoca a delicada fronteira da liberdade de expressão, que pode entrar em conflitos com diferentes leis dos países. Janson destaca que em muitos deles, o X salvou vidas e ajudou a combater regimes opressivos. “A pressão por maior regulação é importante ao gerar debate, para as pessoas saberem por que estão querendo regular as plataformas. Porém, eu não acho que essa pressão terá um impacto maior do que o já vimos na Europa, que conseguiu aprovar o Digital Services Act.” Para Musk, dois pesos, duas medidas O caso de Elon Musk tem uma especificidade em relação a outras redes sociais: o bilionário faz uso político da plataforma que comprou em 2022. Ele faz campanha pelo candidato republicano Donald Trump nos Estados Unidos e, de forma mais ampla, milita contra a esquerda. Musk escolheu a dedo os pedidos judiciais ou de governo que recusaria – em 80% dos casos pelo mundo, acatou sem alarde as solicitações oficiais de suspensão ou fechamento de contas no X, observa Maldonato. “Estamos vivendo estes novos equilíbrios, nos quais as potências tecnológicas chegam a ter mais poder e impacto que um Estado. Musk pode se servir dessa força tecnológica e capitalista que ele tem para influenciar correntes de pensamento no seu próprio país e no exterior”, afirma o consultor francês. “Ele acha que existe praticamente só um caminho, a corrente de um mercado muito livre e libertário, e que só haverá progresso desta forma.” A confrontação Musk x Moraes no Brasil impulsionou o crescimento de uma rede social concorrente, o Bluesky, que passou de 6 para 8 milhões de usuários em pouco mais de três dias. Nathalie Janson, entretanto, demonstra ceticismo quanto ao fim da hegemonia do ex-Twitter, anunciada desde que a rede foi comprada pelo...

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Jogos Paralímpicos evidenciam diferenças de acesso a tecnologias por países ricos e pobres

8/28/2024
Os Jogos Paralímpicos trazem à luz os desafios da acessibilidade para as pessoas com deficiência. Por trás do desempenho dos campeões, está uma vasta cadeia especializada em melhorar não apenas a performance dos atletas, mas também o cotidiano das pessoas com deficiência. Mas o evento também ilustra o quanto o acesso dos países às melhores tecnologias é desigual. Até agora, mais de 1,9 milhão de ingressos já foram vendidos para os Jogos Paraolímpicos de Paris 2024, de um total de 2,5 milhões postos à venda. Com 22 modalidades, a metade da Olimpíada, o evento não desfruta do mesmo prestígio, mas representa um momento único para promover avanços para cadeirantes, cegos e outros. Um exemplo: apenas 3% da vasta rede de metrô de Paris oferece acessibilidade plena, uma fragilidade que será exposta agora que a cidade espera receber 350 mil visitantes com deficiência durante o megaevento. A realização dos Jogos Paralímpicos força o país a olhar para problemas que costumam ser invisíveis para a maioria dos cidadãos, empresas e tomadores de decisões, aponta Juliette Pinon, pesquisadora do Instituto de Administração de Empresas da Sorbonne, em entrevista à emissora France Culture. Pinon desenvolve uma tese sobre a dimensão inclusiva do legado de Paris 2024. “Temos um eixo material, sobre coisas que ouvimos falar muito agora, como transportes, infraestruturas e equipamentos esportivos para o evento e para o cotidiano dessas pessoas. E temos o eixo imaterial: a sensibilização para as pessoas com deficiência, a mudança de olhar sobre elas”, afirma a pesquisadora. “É um momento chave para a França, cujas políticas públicas para as pessoas com deficiência foram criticadas por diferentes instâncias, em especial organismos internacionais, pelas violações dos direitos das pessoas nessa situação.” Diferenças entre delegações Na Vila Paralímpica, adaptada para receber os 4,4 mil atletas, um centro de revisão e consertos de próteses, cadeiras de rodas e outros equipamentos opera com 164 funcionários do grupo alemão Ottobock, parceiro do Comitê Paralímpico Internacional desde os Jogos de Seul, em 1988. O local é uma amostra de toda uma cadeia que melhora as condições de vida dessas pessoas. O diretor técnico das instalações, Bertrand Azori, relata que as visitas ao centro evidenciam o fosso que existe entre as delegações de países ricos e pobres, onde o acesso a tecnologias mais avançadas é baixo. “Já teve prótese feita com cano de encanamento, de plástico, cumprindo o papel do alongamento da prótese. E a gente sempre tem que encontrar uma solução”, comenta, à RFI. “Tem próteses improvisadas, outras que vemos que foram consertadas em casa. Há próteses de joelhos que não víamos há mais de 30 anos, e neste caso somos obrigados a trocar porque aqui temos tudo que precisamos para consertar, mas tem uns modelos que nem saberíamos como fazer para consertar.” O centro dispõe de cerca de 60 cadeiras de rodas para empréstimo, tem 15 mil peças no estoque e impressoras 3D que podem fabricar novas. O arqueiro francês Damien Letulle passou para verificar as rodas da sua cadeira, a poucos dias do início das competições paralímpicas. “Eles são muito competentes e vemos como eles prestam atenção em cada detalhe. A gente já tem que estar muito concentrado e não devemos estar preocupados com um probleminha técnico que nos atrapalharia”, diz o atleta. “Eles fazem de tudo para que a gente possa estar com a cabeça fria para praticar a nossa modalidade da melhor forma.” Tecnologia da Airbus a serviço dos atletas No ambiente da alta performance das Paralimpíadas, a tecnologia pode fazer toda a diferença – e pode vir de pesos-pesados do setor, independentemente da área de atuação principal. A quase 700 quilômetros ao sul de Paris, o laboratório de inovações da fabricante de aviões Airbus desenvolveu 30 equipamentos paralímpicos em parceria com a Agência Nacional do Esporte francês, como bicicletas melhor adaptadas ou um punho que torna a prática de esgrima mais...

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Oportunidade de ouro ou frustração? Olimpíada desafia brasileiros que trabalham em Paris

7/24/2024
A realização da Olimpíada em Paris oferece oportunidades profissionais inéditas para brasileiros instalados na França – mas também impacta negativamente no trabalho daqueles que não atuarão diretamente no evento. Os meses de verão costumam ser a alta temporada para o turismo na capital francesa. Este ano, entretanto, uma estranha calmaria tomou conta do setor. Lúcia Müzell, da RFI em Paris A fotógrafa e videomaker Camilla Cepeda trabalha há oito anos registrando a visita de estrangeiros de passagem pela cidade. Mas desta vez, o turista tradicional, que vai a Paris para conhecer ou voltar aos principais monumentos, preferiu antecipar a viagem para escapar do agito dos Jogos Olímpicos ou adiá-la para depois que os cartões postais forem devolvidos à cidade, a partir de setembro. Camilla já se preparava para uma queda da demanda, já que vários dos principais pontos turísticos parisienses estão ocupados para as competições e os preços da viagem dispararam. "Muitas agências de turismo que são minhas parceiras no Brasil e mandam clientes para cá me disseram que não embarcaram o público esperado”, relata. A goiana tem em mente o impacto dos Jogos de Londres para a capital britânica, há 12 anos: o megaevento esportivo acabou assustando a clientela típica que vai à Europa aproveitar os meses de verão. "Tenho alguns trabalhos agendados de pessoas que já tinham feito o planejamento da viagem para a Olimpíada. Ou seja, é um outro perfil de cliente que eu vou atender neste período. Não é o perfil habitual do turista que vem e consome Paris em todos os quesitos, desde restaurantes, moda, shopping”, indica a fotógrafa. "O turista que virá a partir da semana que vem é o turista esportivo. Vai ter, mas será pontual: nada comparado ao movimento de julho turístico de Paris." Na falta de clientes, opção é mostrar a cidade na 'versão olímpica' A mineira Karine Naves organiza roteiros turísticos para brasileiros em Paris desde 2017 – e chega à mesma conclusão. "Em julho, costuma ser o momento em que eu mais trabalho, eu e outros colegas guias. Mas esse ano está sendo atípico, por causa das Olimpíadas”, constata. "Tudo está muito mais caro, as pessoas estão com dúvidas de como vai ser, sobre as dificuldades de locomoção em Paris, as estações de metrô fechadas. Eu vejo que os hotéis estão vazios, não só de brasileiros, mas de outras nacionalidades”, afirma. Ao perceber que a demanda estaria em queda, Karine não hesitou: decidiu curtir o período ao lado de clientes que se tornaram amigos e estarão na cidade. "Eu me dei esse tempo para eu poder aproveitar mais as Olimpíadas e não só estar trabalhando", afirma. De quebra, ela tem mostrado a preparação de Paris para os Jogos para os seus seguidores nas redes sociais. Virada à vista? Nessas horas, nada como a experiência para superar os altos e baixos do métier. Vivendo há quase 30 anos na França, a pernambucana Adriana Leal traz na bagagem da vida outros megaeventos sediados na cidade, como a Copa de 1998 e a Eurocopa de 2016. A aposta dela é que ainda ocorrerá uma virada na situação. "A gente tem que ter um pouco de calma, sangue frio. Talvez porque eu tenha jogado basquete, eu aguento a pressão e deixo que o jogo comece. Quando o juiz apita e o jogo começa, aí vai!”, compara. "Então estou esperando que, no sábado, depois da abertura, as coisas comecem a evoluir de uma forma mais positiva para o tamanho do evento que temos pela frente”, prevê. Adriana organiza e recepciona turistas estrangeiros e conta com uma rede de motoristas que, como ela, já têm “gingado" para atender a um volume de trabalho que poderá surgir de última hora. "O brasileiro gosta de decidir muitas coisas em cima da hora. E quando o show começa, eles ficam animados com o que veem e acabam vindo, até porque surgem promoções ou pacotes interessantes”, diz. "De repente, um dia antes eles me avisam: “tô chegando e quero isso e isso", e do nada surgem três ou quatro carros de uma vez só que eu tenho que disponibilizar para...

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Restrições das Olimpíadas deixam comerciantes de Paris ‘desencantados’ com evento

7/17/2024
O que parecia ser uma oportunidade de ouro para os negócios se revela, na verdade, um prejuízo: as Olimpíadas de Paris decepcionam diversos serviços dependentes do turismo, que viram a frequentação de visitantes cair nas semanas anteriores ao evento e ainda temem o pior. Comerciantes e gerentes de hotéis e restaurantes evocam o impacto da série de restrições ao trânsito na cidade e o medo dos preços altos, que parecem afugentar os turistas habituais da alta temporada. Lúcia Müzell, da RFI em Paris O tempo chuvoso e fresco neste início de verão parisiense também não colabora. Julho não tem sido um bom mês na comparação com os outros anos, garante Franck Delveau, presidente da União das Profissões e da Indústria Hoteleiras. Ele lamenta a expectativa de apenas 70% de ocupação dos hotéis na capital francesa. "Muita gente desistiu de vir a Paris por causa dos problemas para circular na cidade, com muitas obras. Sem falar do clima político na França hoje – que, preciso destacar, contribui para atrapalhar a vinda dos turistas”, aponta. "A Olimpíada vai trazer 1 milhão ou 1,3 milhão de turistas estrangeiros. Nos tempos normais, costumam vir de 3,5 milhões a 4 milhões no verão." A fuga dos turistas não chega a ser uma surpresa: as imagens da cidade-sede virada do avesso para a realização das Olimpíadas geram efeito negativo nos meses que precedem o evento, um fenômeno já tinha sido verificado nos Jogos de Londres, em 2012. Em junho, as receitas do turismo em Paris caíram 25,4% em relação ao mesmo mês em 2023, conforme apurou a consultoria MKG Consulting, especializada no setor. O preço médio das diárias de hotel recuou 14,5%, impactado também pela queda do turismo de negócios. Paris acabou riscada do mapa para a realização de outros eventos empresariais e de instituições. A companhia Air France nota essa baixa nos seus aviões, mais vazios neste verão. A empresa antecipa que as receitas serão de € 160 milhões a € 180 milhões menores nesta temporada, na comparação com o verão passado. Obras, grades e bloqueios afastam turistas Em pleno coração de Paris, os comércios, cafés e restaurantes acostumados a receber milhares de pessoas por dia veem a Olimpíada como uma decepção. Não bastassem as grades provisórias instaladas por toda a região central para a programação olímpica, o garçom Laurent mal consegue acreditar que banheiros químicos serão colocados bem em frente ao café onde trabalha. “Para a gente, é um desencanto, porque aquilo que deveria ser um evento convivial se tornou uma Paris vazia”, resume, à reportagem da RFI. "Visualmente, o resultado aqui é lamentável. Não estamos conseguindo atrair gente para as mesas na rua, porque ninguém quer ficar instalado na frente de uma grade dessas. Ninguém quer ver isso quando vem conhecer a cidade e apreciar a beleza de Paris”, afirma o garçom. O frequentado mercado de flores Elisabeth II, na ilha de la Cité e a poucos metros da catedral de Notre Dame, não poderá abrir na véspera e no dia da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. Em toda a cidade, 10% dos tradicionais mercados ao ar livre serão atingidos pelo evento. "Nós seremos obrigados a fechar porque não terá ninguém. Tudo vai estar bloqueado. Eles já começaram a cortar o acesso às pontes”, diz a florista Betty. "Como vamos poder trabalhar, e como faremos para pagar os nossos aluguéis, para comer, afinal ninguém aqui é grande empresário. Somos todos pequenos comerciantes”, questiona Betty, que vai exigir da prefeitura compensações pelos prejuízos. Cerimônia de abertura fecha margens do rio Sena A cerimônia de abertura, no dia 26 de julho, acontecerá em um formato inédito, ao ar livre no rio Sena, e vai exigir um esquema de segurança também excepcional. A partir desta semana, apenas moradores e trabalhadores na região terão acesso às margens do rio, depois de obterem autorização dos serviços policiais. Turistas e visitantes também precisarão se cadastrar e apresentar documentos – uma "burocracia" que tem tudo para...

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Cidades europeias reagem ao turismo de massa, apesar de receitas cada vez maiores

7/10/2024
Com a chegada do verão e de, literalmente, milhões de turistas pelas cidades espanholas, habitantes de grandes metrópoles, como Barcelona, e de vilarejos menores, como Cadix e nas ilhas Canárias, também saem às ruas – mas não é para visitar monumentos. Fartos do turismo de massa, os moradores protestam para exigir medidas de restrição aos visitantes, ainda que a movimentação do setor gere cada vez mais riquezas para as economias locais. Na manifestação em Barcelona, os cartazes traziam palavras nada amigáveis: “Turistas, vão embora”, “É a nossa cidade, não o seu parque de diversões”. Basta um curto passeio nos fins de semana para entender as razões de tanta animosidade: as tradicionais ramblas ficam saturadas entre tanta gente e vendedores de lembrancinhas. A Espanha é o segundo país mais visitado do mundo, atrás da França. Este ano, as receitas do setor devem bater um novo recorde e chegar a € 202 bilhões, antecipa o organismo estatal Exceltur. Em entrevista à RFI, Eva Doya Le Besnerais, representante do governo regional da Catalunha na França, ressalta que 70% dos catalães são favoráveis aos incentivos para o turismo, mas as pesquisas mostram que a metade da população gostaria de mais regulação. "Evidentemente que o turismo é uma fonte de riquezas para a Catalunha, de cerca de 10% do PIB da região. Mas se pensamos nos 8 milhões de habitantes, o número de turistas é considerável: são 2 milhões por mês”, observa. "O impacto que essas duas milhões de pessoas geram precisa ser considerado e esse é o papel do poder público." Impacto no mercado imobiliário Sujeira, poluição sonora, saturação dos transportes e uso excessivo da água pública são alguns dos efeitos mais negativos da presença de visitantes em massa. A consequência mais nociva para o bolso dos moradores é no mercado imobiliário. "Moradias que antes eram usadas como habitação permanente agora são destinadas só para o turismo. Por isso é preciso regular e foi o que fizemos, com um decreto, depois que observamos que em 262 localidades da Catalunha, havia aluguéis turísticos demais”, defende Le Besnerais. "O parque imobiliário disponível passou a ser insuficiente para as pessoas que vivem nestes lugares e o mercado ficou sob muita tensão.” Na capital catalã, os aluguéis subiram quase 70% em 10 anos, o que levou a prefeitura a adotar uma reação radical: proibir a plataforma AirBnb na cidade a partir de 2028, de modo a liberar 10 mil apartamentos para a venda ou aluguel com contratos mais longos. Diversas cidades europeias, como Paris, Londres ou Berlim, impõem um limite máximo de curta locação anual dos imóveis. Amsterdã adota série de medidas antiturismo Outra cidade cada vez mais incomodada com a presença excessiva de turistas – 20 milhões por ano – é a holandesa Amsterdã. Facilmente acessível de trem ou voos de baixo custo, o município já impôs restrições como proibir o uso de cannabis nas ruas, deslocar do centro o porto de chegada dos cruzeiros, e agora acaba de proibir a construção de novos hotéis. Mas para pesos pesados do setor, a prefeitura começa a exagerar a dose e, desta vez, errou o alvo, alega o diretor do hotel Mövenpick, Remco Groenhuijzen. "55% das pessoas que visitam Amsterdã o fazem só durante o dia, portanto não são atingidas pelas novas regras. Temos a impressão de que as medidas atingem justamente os turistas que não causam problemas na cidade”, critica. A reportagem da RFI conversou com Guido, que opera barcos turísticos Shipdock pelos canais de Amsterdã. O serviço integra a rede Bulldog, que começou há 40 anos como um coffee shop e hoje também inclui bares, lojas de lembrancinhas e um hotel na capital holandesa. "Você não pode impedir as pessoas de virem aqui. É impossível. Tentaram na Inglaterra e foi contraprodutivo: falaram para as pessoas pararem de ir lá e o efeito foi o contrário, teve ainda mais gente”, argumenta. "Não precisa regular. Para mim a prefeita é uma idiota e o melhor que poderia acontecer seria ela sair.”

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Por que os programas de governo da extrema direita e da esquerda preocupam cúpula econômica francesa

7/3/2024
O primeiro turno das eleições legislativas na França colocou frente a frente dois modelos diametralmente opostos de sociedade, mas que têm alguns pontos em comum nos seus programas econômicos de governo do país. O Reunião Nacional (RN), de extrema direita, e a Nova Frente Popular (NFP), aliança de partidos de esquerda, baseiam suas propostas em um expansionismo orçamentário que preocupa os agentes econômicos, num momento em que a degradação das contas públicas francesas já causa danos ao desempenho do país. Por Lúcia Müzell, da RFI em Paris O Medef, principal organização patronal francesa, considerou os dois programas “inapropriados” e “perigosos” para a economia do país, ao “gerarem altas de impostos, fuga de investidores estrangeiros e falência em massa de empresas”. O termômetro dos mercados financeiros cristaliza esses temores, com instabilidade nas bolsas desde que o Reunião Nacional saiu vitorioso nas eleições europeias e a coligação de esquerda despontou como a segunda principal força política, à frente do partido do presidente Emmanuel Macron. No mercado da dívida, a diferença entre as taxas a 10 anos do Tesouro francês para o alemão, referência no bloco europeu, não para de subir e atingiu a maior variação desde 2012. O economista Jean Tirole, prêmio Nobel de Economia de 2014, publicou um artigo no qual afirma que “o que pode resultar destes programas só pode preocupar os cidadãos que querem manter o nosso sistema social e a nossa democracia liberal”. Ele criticou as promessas dos dois opositores para melhorar o poder aquisitivo dos franceses, mas sem prever fontes de riquezas coerentes para financiar as medidas. Outra vencedora do prêmio Nobel, a francesa Esther Duflo, salientou à emissora France Culture que a sigla de extrema direita aposta que o seu mantra da redução de impostos para as empresas e dos gastos sociais será suficiente para convencer o empresariado, apesar do programa vago do partido sobre a gestão da economia. O projeto prevê um déficit de pelo menos € 14,5 bilhões ao ano. “O problema é que tem muitas medidas que beneficiam a todos, inclusive os ricos. Por exemplo, a exoneração de imposto de renda para menores de 30 anos também beneficia jogador de futebol ou empresário da tech que é jovem”, aponta Gabriel Gimenez-Roche, professor-associado da Neoma Business School. Programa do RN favorece os mais ricos O partido busca conquistar o eleitorado de baixa renda, mas, na prática, suas medidas aumentariam as desigualdades: tornariam os 10% mais ricos da população ainda mais ricos e piorariam a condição dos 30% mais pobres, segundo uma análise detalhada do economista Raul Sampognaro, do Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE), com a colega Elvire Guillaud, da Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne). Eles concluíram que o conjunto de reduções de impostos e benefícios sociais teria um impacto negativo de 1% na renda da população mais pobre, e 1,5% positivo para o topo da pirâmide. “Nós visualizamos os 30% mais pobres, mas eles enxergam a população estrangeira como alvo. Em resumo, o programa do RN quer retirar € 15 bilhões de ajudas sociais dos estrangeiros, além de outros € 5 bilhões que eles dizem que não mandarão mais para a Comissão Europeia”, afirma. “Quanto ao resto da população francesa, se excluímos os imigrantes, vemos que a maior parte das medidas fiscais beneficiam o topo da pirâmide de renda”, aponta. Decisões como subsidiar os preços da energia, proposta pelo RN, ou a anulação da última reforma das aposentadorias, prometida pela Nova Frente Popular, aumentariam ainda mais o endividamento francês, num contexto em que as taxas dos títulos da França já estão em alta. Um mês antes do primeiro turno, a agência de classificação de riscos Standard & Poor’s havia rebaixado a nota soberana da França, alegando dúvidas quanto à capacidade de o país reverter o déficit de mais de 5,5% registrado em 2023. Esquerda promete aumentar carga tributária A Nova Frente Popular quer bloquear os...

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Mundo sob tensão leva cotação do ouro a disparar, como um investimento seguro

6/12/2024
Em tempos sombrios, nada é mais valioso do que a segurança – inclusive nos investimentos. A compra de ouro disparou desde 2023 e leva a cotação do metal precioso a bater recorde atrás de recorde, impulsionada pela procura não apenas de investidores, como de Bancos Centrais. A cotação subiu cerca de 13% só neste ano. O movimento reflete o clima de incertezas que toma conta da economia mundial, com inflação persistente, duas guerras importantes em menos de dois anos – na Ucrânia e em Gaza – e a situação fiscal americana preocupante a longo prazo. “Quando analisamos a situação fiscal americana num horizonte de 20 anos, se continuar assim, temos uma situação um pouco complexa. Por quanto tempo esse país vai continuar com déficit e o mundo financiando esse déficit?”, explica William Castro Alves, economista-chefe da corretora digital Avenue, baseada em Miami. “Há uma correlação entre o déficit dos Estados Unidos e o preço do ouro: ele vai subindo como uma busca de diversificação de reservas.” Há milênios, o ouro é visto como uma garantia estável e segura, salienta Alessandro Soldati, diretor de uma das líderes mundiais no setor, a Golden Avenue, de Genebra. “Nós vemos que, há 50 anos, a moeda perde valor, o que nos faz perder poder de compra. Ao mesmo tempo, o ouro continua a manter o seu valor e, mais do que isso, a aumentá-lo”, resume. “Acho que o ouro deve ser visto como uma diversificação dos seus investimentos: colocar 5 ou 10% dos bens em ouro para proteger a poupança. Ele nos dá segurança para poder continuar fazendo outros investimentos com tranquilidade.” China troca dólares por ouro As aquisições de investidores chineses e do Banco Central do país, que por 18 meses consecutivos trocou dólares por ouro nas suas reservas, também impulsionam essa alta dos preços. “Os chineses continuam a ser os maiores credores americanos. Mas como é um agente com muitos recursos, quando ele diversifica 10% das reservas, estamos falando de US$ 300 bilhões, um valor gigantesco”, aponta. “Mesmo que esse movimento seja marginal, ele acaba mexendo no preço, chama a atenção. Outros BCs, como da Índia, Turquia ou Rússia, também sustentam essa demanda. Até agora, o pico histórico foi atingido em maio, a US$ 2.450 onças troy, a medida inglesa para pesar o metal. O valor é o dobro do negociado há quatro anos. A tendência deve permanecer diante da expectativa de queda das taxas de juros nos Estados Unidos ainda em 2024 – quando os índices caírem, reduzindo também os rendimentos nos títulos americanos, o ouro poderá atrair ainda mais interessados. “Não podemos saber em qual direção vai continuar a cotação, mas nós estamos com a perspectiva de que as coisas vão piorar no mundo antes de melhorarem. Vamos continuar a ter desvalorização da moeda, a ter riscos geopolíticos importantes, um contexto de incertezas que permanece e pode até aumentar no futuro”, indica Soldati. “Muitas pessoas comparam o Bitcoin ao ouro digital, mas faz cinco mil anos que o ouro é uma referência para todo o mundo. O Bitcoin existe só há 14 e é muito volátil”, compara. Movimento 'inédito' em lojas de compra e venda A corrida pelo metal repercute em lojas de compra e venda mundo afora. Na Godot & Fils, uma das lojas mais tradicionais de Paris, um dos diretores, David Knoblauch, nunca viu nada igual. “Há 10 anos, havia cerca de 10 pessoas que entravam por dia para fazer uma transação, e hoje estamos a 60, às vezes 80 transações diárias. É algo inédito”, conta, à reportagem RFI em francês. “Da abertura da loja até o fechamento, o movimento não para.” O cliente Jean-Pierre é um deles: ao ler as notícias sobre a alta da cotação do ouro, convenceu a família a se desfazer de algumas peças. Por um anel, um colar e um par de brincos, recebeu € 440. “Trago joias antigas de famílias que estavam guardadas numa gaveta. Nós concordamos que chegou a hora de vendê-las. Não serviam mais para ninguém e com o dinheiro vamos aproveitar com os nossos filhos, nossos netos”, afirma o...

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Como as enchentes no RS impactam na economia de todo o Brasil

5/24/2024
As enchentes no Rio Grande do Sul atingem 94% da estrutura econômica do estado, e seus impactos são sentidos em todo o Brasil. O maior desastre climático já visto na história recente do país pode ameaçar o objetivo de crescimento econômico superior a 2% em 2024, antecipam previsões de bancos e analistas. O Estado responde por 6,5% das riquezas nacionais e tem quarto maior PIB do Brasil – mais alto que o de países vizinhos como o Uruguai e o Paraguai. Com a tragédia, o impacto para o país tem sido avaliado entre 0,2% e 0,3%. “Num primeiro momento, não tem como evitar um empobrecimento da região, portanto, é um Brasil que cresce menos. O ponto agora é como vai recuperar as condições de crescer”, diz o analista econômico José Francisco Gonçalves, ex-professor da USP. “Você precisa ter um plano de recuperação da atividade. Se deixar no cada um por si e que as próprias empresas se recuperem, não será, absolutamente, factível”, antecipa. A agricultura gaúcha é responsável por 12,6% do que é produzido no Brasil, em especial mais de dois terços de todo o arroz. A tragédia nas lavouras no Rio Grande do Sul pode repercutir nos preços dos alimentos a curto prazo, mas medidas como importações pontuais já mitigam esse efeito para os consumidores brasileiros. Para o Estado, as consequências podem ser mais duradouras – sem a recuperação da infraestrutura de armazenamento e da logística para escoar a produção, a próxima safra pode estar comprometida. “A próxima safra vai depender da logística e de como ficaram os solos. Aquela água passa lavando e leva embora a cobertura do solo, nutrientes, tudo que fica para a plantação seguinte”, salienta Gonçalves. Impacto nos preços de alimentos, eletroeletrônicos e materiais de construção Luis Otavio Leal, economista-chefe e sócio da G5 Partners, mantém otimismo sobre o desempenho do PIB brasileiro graças a resultados melhores do que os esperados no primeiro trimestre do ano, antes da catástrofe no Sul. Os números definitivos devem ser revelados em junho e “poderão compensar a perda que virá do Rio Grande do Sul”, afirma. Mas o economista observa que, se o choque de oferta nos alimentos tende a ser compensado rapidamente, outros setores podem ter consequências mais duradouras, como a oferta de eletroeletrônicos e materiais de construção. “Todo mundo vai querer refazer a casa no mesmo momento. A gente pode ter um aumento pontual de demanda por geladeira, fogão, televisão, que nos leve a um gargalo de oferta”, frisa o consultor. “Material de construção também, talvez até mais que eletroeletrônicos.” Armando Castelar, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisador associado do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia, da FGV), também pondera. “Vai haver neste resto de ano um certo aquecimento com as transferências que os governos estão fazendo, de renda, para a reconstrução”, ressalta. “Usualmente, quando há desastres dessa natureza, o setor de construção civil tende a ter um desempenho relativamente bom nos anos seguintes”, afirma. Ainda há pouca clareza sobre qual será a velocidade da recuperação gaúcha. As inundações afetaram nove em cada 10 indústrias do Estado. Na agricultura, a chegada do fenômeno La Niña no próximo semestre pode acarretar novos prejuízos para a agricultura, desta vez pela seca. Impacto nas contas públicas Para projetar cenários futuros, a G5 Partners buscou referências em outras catástrofes climáticas semelhantes, como o furacão Katrina, que devastou Nova Orleans em 2005. “Essa reconstrução não vai ser como nos Estados Unidos, que foi relativamente rápida. Ela talvez vá ser mais lenta pela capacidade menor de alavancar recursos como tiveram os Estados Unidos naquela época”, indica Leal. Os valores estimados para a reconstrução do RS estão sendo calculados, mas devem passar dos R$ 100 bilhões. Os aportes excepcionais do governo federal nesta conta causam uma certa preocupação sobre o impacto para o equilíbrio fiscal do país. “Sem dúvida, se isso...

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França revisa para cima previsão de impacto econômico dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Paris 2024

5/22/2024
Enquanto a França faz os últimos preparativos para receber o maior evento esportivo do mundo, economistas calculam a repercussão financeira para Paris e traçam três cenários possíveis. Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Paris 2024 terão um impacto econômico entre 6,7 bilhões e 11,1 bilhões de euros (ou de R$ 37,2 bilhões a R$ 61,4 bilhões, na cotação atual) para a região de Île de France, onde fica a capital e estão concentrados vários locais de competição. Maria Paula Carvalho, da RFI O cenário mais provável, segundo um estudo encomendado pelo Comitê Olímpico Internacional e o Comitê Organizador dos Jogos, é de um impacto econômico de € 8.9 bilhões na economia local (cerca de R$ 50 bilhões). O Centro de Direito e Economia do Esporte (CDES) atualizou as cifras de um estudo realizado em 2016, época da candidatura da França como país-sede, revisando para cima a geração de receitas econômicas que antes estavam entre € 5,3 bilhões e € 10,7 bilhões (R$ 29,4 bilhões a R$ 59,4 bilhões) para a região de Paris. Porém, medir a repercussão de grandes eventos esportivos é algo complexo e os autores do estudo pedem cautela na interpretação dos resultados. Christophe Petit, responsável pelos estudos econômicos do CDES, explica que não se trata de medir a "rentabilidade" dos Jogos, que poderá ser avaliada em pesquisa posterior. O impacto econômico de um evento esportivo é um indicador. "Esse valor de 9 bilhões mede o crescimento da atividade econômica gerado pela organização e o acolhimento dos Jogos no território da Île de France e que não teria acontecido se os Jogos não fossem em Paris", analisa. "Porém, não é um estudo sobre a rentabilidade econômica dos Jogos e por isso nós não comparamos o custo dos Jogos, ou de qualquer evento, com o impacto econômico. Se quisermos fazer um estudo de rentabilidade, precisaríamos integrar o impacto econômico, mas também elementos de mais longo prazo, como a transformação de bairros inteiros, o que não foi feito, e analisar os benefícios e custos do ponto de vista social, ambiental inerente aos Jogos", acrescenta. O estudo faz uma projeção de 17 anos. “Nós analisamos três fases: a preparação de 2018 a 2023, essencialmente marcada pelos investimentos relativos à construção e renovação de infraestruturas; a fase de desenvolvimento, que é marcada pelas despesas operacionais da realização dos Jogos, para acolher os atletas, fornecer os serviços necessários para os que virão trabalhar ou participar dos Jogos, e a fase de legado, de 10 anos após os Jogos, de 2024 a 2034", observa Christophe Petit. "É importante dizer que os dados utilizados são os mais atualizados sobre a preparação e realização dos Jogos, e para a fase de legado usamos hipóteses do estudo anterior, mas corrigimos elementos macroeconômicos, como a inflação”, afirma. Os setores mais beneficiados são a organização de eventos (€ 3,8 bilhões), seguido da construção civil (€ 2,5 bilhões) e do turismo (€ 2,6 bilhões). A maior parte dos investimentos estão concentrados na fase de preparação (2018-2023) e realização dos Jogos (2024). Somente 8% do impacto econômico é previsto na fase de legado (de 2025 a 2034) num cenário pouco otimista, passando a 16% e 17%, respectivamente, num cenário intermediário e alto. Orçamento de € 4 bi Os dados atualizados apontam que o orçamento do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Paris 2024 é de quase € 4,4 bilhões. Um valor 18% superior ao anunciado no momento da candidatura, devido a atualizações do projeto olímpico e à inflação gerada pela instabilidade geopolítica. "Esse orçamento é principalmente financiado por dinheiro privado. No caso dos Jogos Olímpicos, 100% dos custos da organização são pagos por dinheiro privado e há uma contribuição de dinheiro público de € 171 milhões para ajudar a pagar a organização dos Jogos Paralímpicos, cujo modelo econômico ainda não proporciona um orçamento equilibrado", diz Tony Estanguet, presidente do Comitê Organizador. Estanguet ainda explica que os valores...

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Indústria europeia de painéis solares vive momento crítico, em pleno ‘boom’ da transição energética

5/15/2024
A cada mês, uma nova fabricante europeia de painéis solares fecha as portas ou decide se mudar para o exterior – e isso em plena transição “verde” nas economias do bloco. A indústria do continente demorou para perceber a revolução que estava por vir, enquanto a China não perdeu tempo. Resultado: o setor de energias renováveis na Europa foi dizimado pela concorrência chinesa, que hoje domina 95% do mercado. A disseminação de painéis fotovoltaicos pelo campo e pelas cidades europeias é uma transformação recente. Foi acelerada nos últimos 10 anos, depois que o bloco adotou uma série de medidas para implementar, de fato, a transição energética para uma economia de baixo carbono. Mas diferentemente do que se poderia imaginar, não foram as indústrias europeias que se beneficiaram deste movimento – ao contrário, as fábricas pioneiras de renováveis, abertas há 30 anos, agora não resistem à avalanche dos produtos chineses que inundam o setor, com preços quatro vezes mais baixos. Em abril, foi a vez de uma das últimas empresas francesas fechar as portas. A Systovi, no oeste do país, deixa para trás 87 funcionários. Gaëtan Masson, co-presidente do Conselho Europeu de Fabricantes de Solares (ESMC, na sigla em inglês), não se surpreende. A entidade reúne cerca de 80 empresas do setor. “O caso da Systovi é típico na Europa hoje: um ator pequeno confrontado a gigantes chineses. Um dos principais problemas que atingem os europeus é a ausência de uma economia em escala, na comparação com os chineses. Produzimos mais ou menos as mesmas quantidades de 10 ou 15 anos atrás, mas o mercado mundial foi multiplicado por 50”, explica. China adotou plano estratégico para liderar produção mundial No começo dos anos 2010, o governo do país asiático adotou um plano estratégico de desenvolvimento do setor, fortemente subsidiado e que beneficia toda a cadeia de renováveis: eólicas, veículos elétricos, baterias e eletrolisadores. A demanda, entretanto, levou mais tempo para acompanhar a explosão da oferta, o que explica os valores tão baixos praticados hoje. “Atores de nicho que sobreviviam na Europa se encontram em uma situação em que simplesmente não conseguem mais vender seus produtores a tarifas que os possibilitem continuam funcionando. Podemos esperar novas falências na Europa nos próximos meses e anos, principalmente das pequenas e médias empresas”, lamenta Masson. A concorrência de Pequim não é a única a ameaçar as indústrias europeias. Os subsídios bilionários do governo americano para o setor também têm atraído empresas do bloco, a exemplo da maior fabricante na Alemanha de fotovoltaicos, a suíça Meyer Burger, que transferiu as linhas de produção para os Estados Unidos em março. Quinhentos empregos foram suprimidos na Alemanha – país que, até a ascensão chinesa, era líder mundial de fotovoltaicos. Salvar o setor não será fácil. A reação europeia a esta conjuntura está curso, mas será de médio prazo. A nova Lei da Indústria com Emissão Zero, aprovada em fevereiro, visa restringir pelo menos uma parte do mercado europeu às importações, como nos contratos públicos e nas licitações. A regulamentação beneficia 19 tecnologias – além das ligadas às energias solar e eólica, também a nuclear, a captura e o estoque de carbono e biotecnologias, entre outras. Reação europeia veio tarde e será lenta A expectativa é que, até 2030, 40% dos painéis fotovoltaicos vendidos na União Europeia tenham sido fabricados no bloco. Para atingir este objetivo, será necessário privilegiar as grandes indústrias, capazes de produzir em massa, esclarece Gaëtan Masson. “Uma vez que um certo número de atores conseguirão se desenvolver, poderemos ter um diferencial de competitividade em relação aos chineses. Levará alguns anos para eles crescerem – não conseguiremos chegar a usinas de 5 gigawatts de um dia para outro”, salienta o representante do setor. “Mas o direcionamento está bom, parecemos contar com a vontade política em muitos países e com um apoio de peso da...

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