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Economia - Pandemia: que mudancas no mercado de trabalho vieram para ficar?

RFI

Entrevistas com economistas, analistas de mercado, investidores e políticos, para explicar e comentar questões econômicas internacionais. O papel do Brasil e dos países emergentes na economia mundial.

Location:

Brazil

Networks:

RFI

Description:

Entrevistas com economistas, analistas de mercado, investidores e políticos, para explicar e comentar questões econômicas internacionais. O papel do Brasil e dos países emergentes na economia mundial.

Language:

Portuguese


Episodes
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Índia caminha para ser terceira maior economia do planeta, mas segue distante de superpotências

4/24/2024
Na busca por um terceiro mandato, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, repete que o país se tornará a terceira maior economia nos próximos três anos e, em duas décadas, será uma nação desenvolvida. O crescimento espetacular da economia indiana nos últimos 10 anos deu um peso inédito ao país na geopolítica internacional – mas, apesar dos avanços, Nova Déli ainda enfrenta desafios profundos para se tornar a superpotência que almeja. O PIB indiano passou de US$ 3,7 trilhões em 2023, ou a quinta maior economia global, conforme o Fundo Monetário Internacional (FMI). Apoiada em uma força de trabalho excepcional, com uma população jovem de 1,4 bilhão de habitantes, o país registra há vários anos um crescimento superior ao chinês. Nesse ritmo, a economia indiana deve ultrapassar a japonesa e a alemã até 2027, e se posicionar atrás de China e Estados Unidos. Entretanto, o PIB por habitante segue um dos mais baixos do mundo: a Índia abriga a metade dos pobres do planeta, salienta o pesquisador francês Jean-Joseph Boillot, especialista nas economistas emergentes do Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), em Paris. “Não é porque você tem uma massa econômica considerável que a sua economia, do ponto de vista qualitativo, tem um bom nível. No caso indiano, como o país não consegue gerar empregos suficientes de qualidade e a taxa de subemprego chega a cerca da metade da população jovem – o que conduz a uma forte emigração –, o crescimento de mais de 6% em média nos últimos 10 anos não basta para reduzir a pobreza em massa”, afirma o autor de livros como A Economia da Índia e Chindiafrique. Para ele, o país sequer está em vias de desenvolvimento, uma vez que a metade da população indiana vive em favelas e apenas um terço têm acesso à água potável. Indústria barata e mão de obra pouco qualificada Com mão de obra barata e abundante, investimentos pesados em infraestruturas e na chamada indústria do offshore digital, Nova Déli sonha em destronar a vizinha China do posto de locomotiva industrial mundial. Essa economia, acelerada com incentivos fiscais a companhias estrangeiras como Apple e Samsung na periferia de cidades como Bangalore e a capital, movimentou US$ 250 bilhões no ano passado. Entretanto, faltou ao país a estratégia de base de qualificar os trabalhadores para atenderem a demandas mais complexas e impulsionar a classe média – ao contrário do que promoveu Pequim a partir dos anos 1960, aponta Boillot. “Esta fábula – porque é realmente uma fábula que está sendo vendida nos mercados, sob impulso do regime indiano – diz que agora existe uma alternativa à China e que a indústria manufatureira indiana poderá substituir a chinesa. Essa é evidentemente uma história construída do início ao fim: a manufatura indiana representa cerca de um vigésimo da chinesa hoje”, ressalta o especialista francês. “Não há, na Índia, grandes polos industriais como os que a China conseguiu fazer, baseada nos modelos coreanos e japoneses.” Reequilíbrio de forças Assim, a China continua a concentrar 50% do PIB asiático, bem à frente da Índia, com 10%. Mas apesar dessas diferenças estruturais, a ascensão indiana trouxe um reequilíbrio de forças na geopolítica internacional. O Ocidente busca se aproximar de Nova Déli para contrapor a expansão e a influência chinesas no mundo. “É a razão pela qual temos visto a China avançar na direção da América Latina, por exemplo, para se blindar desta nova configuração, e também por quê, no contexto do Brics, temos visto Pequim pressionar para ampliar o grupo e assim diluir o peso da Índia”, explica.

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'Troco mesinha por leite integral': nas redes, mães solo são face visível da alta pobreza na França

4/10/2024
“Troco mesinha de centro por pack de leite integral”. “Doo brincos em troca de pacote de biscoitos ou purê de frutas”. “Veja abaixo a lista de objetos que eu troco por qualquer produto alimentar”. Os anúncios, publicados em grupos no Facebook por mães solo, ilustram uma das faces mais visíveis do aumento da pobreza na França, em alta regular desde os anos 2000. As mães solteiras estão na linha de frente face ao aumento generalizado dos preços, depois que a inflação na Europa atingiu picos não vistos havia décadas. Nos diversos relatórios sobre a pobreza publicados por instituições francesas, elas estão hiper-representadas na comparação com outras populações, inclusive as mais vulneráveis, como os desempregados. Com a expansão da economia circular e do comércio de produtos de segunda mão, afloraram diversos grupos na internet para facilitar a troca de produtos entre pessoas. A surpresa foi ver que, em vez de buscar por boas oportunidades, muitas mães recorrem a estes espaços para conseguir trazer comida à mesa dos filhos, oferecendo o que dispõem em casa contra produtos alimentares básicos, como leite e farinha. Dorotée, 43 anos, moradora da região parisiense, conta que não precisa mais comprar roupas para os dois filhos – consegue o que precisa com trocas na internet. Mas também se acostumou a ajudar outras mães em situação financeira mais delicada que a dela. “Tem claramente pessoas necessitadas, que buscam coisas específicas e não têm dinheiro para comprar. Vejo inclusive algumas que estão grávidas e já se preocupam como vão fazer no nascimento da criança”, relata. “Vejo cada vez mais perfis assim.” Mais atingidas do que a média O economista Pierre Concialdi, pesquisador sobre o combate à pobreza no Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ires), afirma que pouco menos de um terço das famílias monoparentais estão em situação de pobreza no país. “Isso é 2,5 vezes a mais do que a média das famílias, e é algo que acontece há muito tempo”, salienta o especialista. “Sabemos que quando só tem um salário na casa e ainda há despesas com filhos, é quase impossível conseguir pagar todas as contas no fim do mês. Então elas estão, sim, na linha de frente deste problema, ao lado de populações como os desempregados, pessoas com empregos precários ou que estão afastadas do mercado por invalidez”, aponta o pesquisador. A “invasão” dessas mães nos grupos de troca no Facebook nem sempre é bem-recebida pelos administradores das páginas. Alguns moderadores preferem relembrar que o objetivo dos grupos não é substituir as instituições de assistência social – que nos últimos anos, vêm alertando sobre o aumento constante da demanda por ajuda. De acordo com os últimos dados oficiais do Insee (Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos), relativos a 2021, 14,5% da população francesa está abaixo da linha pobreza. “O nível está historicamente elevado. Precisamos voltar 40 anos no tempo para encontrar um índice tão alto”, frisa Concialdi. “Embora a inflação tenha restringido os gastos das famílias, esse fenômeno não é conjuntural. Ele não ocorre por causa da alta dos preços: a pobreza e a precariedade se instalaram ao longo do tempo, na França, há alguns anos.” Salário-mínimo pressionado A expectativa é que o quadro tenha piorado no ano passado, devido ao impacto duradouro da inflação no orçamento das famílias mais modestas, já que os salários não subiram no mesmo ritmo. Essa dinâmica favorece ao que está sendo apelidado de “salário-minimização” do mercado de trabalho no país: em dois anos, o número de pessoas que recebem um salário mínimo subiu quase 50%, passando de 12% para 17,3% dos trabalhadores, no período de três anos. “Isso não seria um problema se o nível do salário mínimo fosse satisfatório, mas um certo número de indicadores nos mostram que não é o caso. Nossas pesquisas mostram que nem um casal remunerado com o salário mínimo e sem filhos consegue ter um nível de vida mínimo decente. Uma pessoa sozinha não...

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Déficit em alta leva França quebrar tabu de cortes de gastos sociais

4/4/2024
As contas públicas da França estão em pior situação do que o governo esperava: o déficit em 2023 chegou a 5,5% do Produto Interno Bruto, 0,6% a mais do que o previsto. Além disso, a França ainda é um dos únicos seis países da União Europeia com endividamento público superior a 100% do PIB nacional (111,6%). Os resultados colocam Paris nas últimas posições no ranking do equilíbrio fiscal no bloco e levam o país a mexer em um de seus tabus: o corte de gastos sociais e de saúde. Na escolha entre aumentar as receitas ou diminuir as despesas, o governo tem optado pela segunda opção. Os franceses se beneficiam de um dos sistemas sociais mais generosos do mundo, mas restrições ao acesso universal à saúde vêm sendo impostas progressivamente. Assim, desde o último 31 de março, a contribuição financeira dos pacientes para cada consulta paramédica – como fisioterapeutas ou enfermeiros – ou na compra de uma caixa de medicamentos passou de € 0,50 para € 1. Já a subvenção dos transportes sanitários, que permitem a doentes terem acesso a táxis, caiu pela metade. Graças às mudanças, o governo espera uma economia de € 360 milhões ao ano. Em uma entrevista à emissora francesa RMC, o ministro da Economia e das Finanças, Bruno Le Maire, disse que a compra de medicamentos "não pode ser um open bar”. Sinalização para investidores O analista Bruno de Moura Fernandes, head de macroeconomia da seguradora Coface, lembra que o país teria margem para cortes, já que está no topo da lista dos gastos públicos na Europa. Ele avalia que as decisões recentes visam enviar uma mensagem para os mercados financeiros. “Acho que são anúncios mais para as agências [de avaliação de crédito], para dizer que ‘nós estamos dispostos a tocar no nosso sistema social’”, afirma. “O problema é que estamos numa fase em que vai ser muito difícil reduzir as despesas de investimentos na transição ecológica, de defesa, por causa da guerra na Ucrânia, e no digital, ao mesmo tempo em que precisamos diminuir o déficit. O governo está frente a uma equação difícil, por isso já anuncia que vai reduzir algumas despesas sociais.” Em março, Paris já havia promovido uma nova reforma das regras de acesso ao seguro-desemprego, cuja duração passou a ser indexada ao índice oficial de desemprego no país. Na prática, isso significa que o limite máximo para o recebimento do benefício passa de 24 para 18 meses. Foi a terceiro aperto das regras em quatro anos. A França é o país europeu que mais gasta com benefícios sociais, num total de € 849 bilhões em 2022, ou 32% do seu PIB. O valor destinado à saúde também é o maior no bloco, ao consumir 10% do total de riquezas francesas. Impacto da Covid-19 A degradação das contas públicas se aprofundou na sequência da crise da Covid-19, quando o país adotou a política arriscada de manter a economia funcionando “custe o que custar”. Ao final de três anos, o montante para enfrentar o choque da pandemia chegou a € 170 bilhões. Só que, nos anos seguintes, a economia não cresceu como esperado. A arrecadação caiu, em vez de subir para compensar o rombo da Covid. O cenário atual é visto como preocupante e a redução da nota de crédito da França não está descartada, observa Moura Fernandes. “É muito possível”, indica. “A dívida é sustentável enquanto os investidores acreditam que ela é. Se as taxas de juros começam a subir muito, as despesas com os juros também sobem e a dívida fica ainda mais difícil, como foi o caso da Itália.” Queda de impostos é ‘dogma’ de Macron O Ministério da Economia e das Finanças mantém a determinação de reduzir o déficit a 3% até 2027, e assim se adequar à determinação europeia, mas descarta mexer na carga tributária para aumentar as receitas. A redução dos impostos é um dogma do presidente Emmanuel Macron desde a sua eleição, em 2017. O economista Henri Sterdyniak, do Observatório Francês de Conjuntura Econômica, ressalta que os cortes de impostos daquele ano até 2020 tiveram um impacto de € 70 bilhões no orçamento –...

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Na primeira visita à América Latina, Macron vai ao Brasil em busca de ampliação de parcerias

3/20/2024
Mais de 10 anos depois da última visita oficial de um presidente francês ao Brasil, Emmanuel Macron desembarca na próxima terça-feira (26) em Belém, onde será recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos três dias de viagem, França e Brasil esperam um impulso das parcerias bilaterais, com a expectativa de assinatura de pelo menos 10 contratos em áreas como energia, tecnologia e segurança. Apesar das afinidades entre os dois líderes, divergências importantes mancharam a reaproximação de ambos os países desde a eleição de Lula. Os quatro anos de mandato de Jair Bolsonaro, na sequência do mandato-tampão de Michel Temer, marcaram um resfriamento inédito desta relação de mais de 200 anos de amizade, alçada ao nível de parceria estratégica desde 2006. Macron, no poder desde 2017, demonstrou interesse limitado pela América Latina no seu conjunto: ele é o único presidente francês a não ter realizado nenhuma visita oficial aos países da região, jejum que agora será rompido no Brasil. “Antes tarde do que nunca. Eu diria que é uma visita necessária, em que ele estará acompanhado de uma delegação de empresas francesas, organizada pelo movimento das empresas da França em parceria com a CNI, afinal tem um aspecto econômico bilateral muito importante nesta viagem: o Brasil é o principal mercado de investimentos diretos da França em países emergentes”, frisa Stéphane Witkowski, presidente do Bale Conseil e respeitado consultor sobre o Brasil ao meio empresarial francês. Se, por um lado, a volta ao poder de Lula em 2023 foi celebrada por Paris, desde então o posicionamento antagônico entre o petista e Macron sobre o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, além de outros temas da geopolítica internacional como a guerra na Ucrânia, não favoreceram uma retomada tão frutuosa quanto a imaginada. Em janeiro, a presidência francesa chegou a anunciar o encerramento das negociações do tratado com o Mercosul – bloqueadas, em grande parte, pela oposição aberta de Paris. Oposição francesa ao acordo com o Mercosul Witkowski, que também preside o Conselho de Orientação Estratégica do Instituto de Altos Estudos da América Latina (IHEAL-Paris), afirma que ao contrário do meio agrícola, os industriais franceses não veem a hora de o texto ser ratificado. “Eu tenho a convicção de que os dois presidentes são inteligentes e entendem as preocupações de cada lado. Macron hoje diz que se opõe ao acordo da maneira como ele está colocado, mas quando ele foi eleito, estava totalmente a favor deste tratado”, ressalta. "Do ponto de vista dos interesses da França a longo prazo, o acordo é importante. Muitas empresas querem que ele aconteça, pelas oportunidades que abre em infraestrutura, comércio, energia, indústria – na França como em outros países, como Espanha, Alemanha ou Portugal”, aponta. As recentes manifestações de agricultores europeus contra o acordo somadas à proximidade das eleições parlamentares europeias, em junho, fazem que com que “não tenha clima” para o presidente francês voltar a se pronunciar em favor do texto, reconhece uma fonte da diplomacia brasileira, garantindo que esse imbróglio “não azeda” as relações entre os dois líderes. Embora os franceses estejam entre os maiores empregadores estrangeiros no Brasil, com mais de 1,1 mil empresas francesas instaladas no país, a balança comercial bilateral é baixa e relativamente estável há vários anos. Foram € 8,4 bilhões em 2023, o que coloca o Brasil no 34º lugar na lista de parceiros comerciais da França. No sentido inverso, os franceses são ocupam a 27ª posição entre os fornecedores do Brasil. Potencial na economia verde Atualmente, os franceses são os quartos maiores investidores estrangeiros diretos no Brasil, de perfil diversificado. O potencial de ampliação é grande, em especial nos setores ligados à economia verde, com conversas sobre projetos de produção de hidrogênio e em energias renováveis, além de gás e até nuclear. A França é um player mundial importante,...

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França proíbe supermercados de darem descontos superiores a 34% em produtos de higiene e limpeza

3/6/2024
Apesar da inflação alta, que corroeu o poder de compra dos franceses nos últimos três anos, uma nova lei acaba de limitar o direito dos supermercados de promoverem grandes promoções nos produtos de higiene e limpeza. A partir de 1º de março, o varejo não pode mais oferecer produtos com mais de 34% de desconto nestas categorias – uma medida que levou os consumidores a fazerem estoques preventivos, antes da entrada em vigor da polêmica legislação. O objetivo é proteger os fabricantes franceses da pressão por preços cada vez mais baixos, exercida por grandes varejistas como Carrefour e Leclerc. No contexto inflacionário, para poderem vender mais barato, os hipermercados têm exigido cortes nos valores praticados pelos produtores – uma das razões que motivaram os recentes protestos de agricultores na França. Entretanto, a alimentação ficou de fora da nova norma. A lei visou apenas os produtos industriais de higiene e limpeza – prateleiras onde são comuns grandes promoções para compras em volume, do tipo “pague um e leve três”. Na imprensa, a limitação dos descontos a no máximo 34% de redução foi criticada. Na emissora francesa TF1, a principal do país, o economista e editorialista François Lenglet denunciou o “exagero” de novas leis para regulamentar a economia do país – com efeitos nem sempre bem-vindos, segundo ele. “Para que um golpe como este no poder aquisitivo dos franceses? Os deputados querem proteger os lucros dos pequenos industriais franceses, mas o problema é que este mercado é dominado pelas multinacionais americanas ou britânicas, como a Unilever”, alegou. “São os acionistas delas que vão agradecer aos nossos parlamentares. Essa lei protege, na realidade, os lucros das grandes empresas.” Competição pelos maiores descontos Dias antes da entrada em vigor da nova regulamentação, as grandes redes do país se lançaram numa corrida de qual faria a maior promoção, chegando a descontos de 80%. Mensagens como “compre antes que a promoção seja proibida” acompanharam os cartazes em letras garrafais. No sul da França, a consumidora Sylvie P. decidiu fazer estoque quando soube da mudança iminente. “Estou com quantidades industriais agora. Ouvi dizer que os preços iriam subir, já que não teremos mais direito a promoções, então comprei pasta de dentes, sabão para a roupa, produtos de limpeza, tudo que eu pude. Encontrei coisas realmente interessantes, a -70%”, disse. Sylvie conta que sequer tem o hábito de buscar o melhor desconto, mas vai procurar ficar mais atenta a partir de agora. “Vamos ter que olhar melhor nas lojas e procurar onde está mais barato, porque 30% é pouco”, lamenta. Negociações de preços A lei “para reforçar o equilíbrio entre os fornecedores e os distribuidores” é um projeto do deputado centrista Frédéric Descozaille, do partido do presidente Emmanuel Macron. Ao defender o texto, o deputado afirmou que a limitação das promoções “protege empregos” e argumentou que a corrida por preços baixos ameaça a sobrevivência de indústrias locais, inclusive as filiais francesas de marcas internacionais. A nova lei também favorece os fabricantes no momento das negociações anuais de preços com o varejo: se ambos não chegam a um acordo, os supermercados não poderão mais continuar aplicando as tarifas anteriores e os produtores poderão decidir suspender as entregas.

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Brasil tenta emplacar avanços no combate às desigualdades em reunião financeira do G20

2/28/2024
Em um contexto de profundas divisões na geopolítica internacional, o Brasil deve deixar de lado os conflitos que abalam o mundo e tentar emplacar o combate às desigualdades e a reforma das instituições multilaterais como pauta prioritária na agenda do G20 em 2024. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, lideram a primeira reunião dos ministros das Finanças e presidentes dos Bancos Centrais do grupo, em dois dias de encontros em São Paulo nesta quarta (28) e quinta-feiras (29). Os diálogos balizarão a sequência de encontros que ocorrerão ao longo do ano, até a cúpula de chefes de Estado e de Governo, em novembro, no Rio de Janeiro. O G20 reúne as 19 maiores economias do planeta mais a União Europeia e a União Africana, recém ingressa no clube. "Temos que lembrar que o G20 não é uma instância deliberativa, ou seja, só pode fazer propostas sobre os grandes temas da atualidade. Acho que os países até endossam a ideia de que é preciso fazer reformas no sistema multilateral, no Fundo Monetário Internacional ou na OMC, o problema é conseguir que isso aconteça – e a gente sabe que esses organismos refletem muito a correlação de força que existe entre os países”, salienta a professora de Economia Internacional Lia Valls Pereira, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). "Para fazer qualquer reforma, os grandes países têm que querer. Sem a anuência de Estados Unidos, União Europeia, China, Japão ou Rússia, nada acontece”, diz Pereira, também membro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Focos de tensão devem ser minimizados As guerras na Ucrânia e em Gaza, que cristalizam diferenças que já vinham afastando os membros do grupo nos últimos anos, podem ter apenas uma breve menção na declaração final do evento. Já o enfrentamento das desigualdades interliga os quatro focos da rodada de reuniões: política econômica, diagnóstico da economia global com ênfase na geração de crescimento, tributação internacional e dívidas nacionais e impactos para o financiamento do desenvolvimento sustentável. "Nós esperamos que essas discussões que ocorrerão em nível ministerial nos deem oportunidade para a troca de ideias mas também para avançar concretamente na formação de consensos que propiciem a mobilização maciça de recursos domésticos e internacionais, para um crescimento sustentável, equilibrado e inclusivo”, explicou a secretária de Assuntos Internacionais do ministério brasileiro e coordenadora da Trilha de Finanças do G20, Tatiana Rosito, em um briefing à imprensa. Taxação de super-ricos O economista francês Gabriel Zucman, cofundador do European Tax Observer e especialista em evasão fiscal, avalia que a presidência brasileira do G20, sob Lula, representa uma “oportunidade histórica” de os países avançarem em um acordo global para aumentar a tributação das riquezas. No ano passado, a entidade revelou que artifícios como evasão fiscal, ocultação de patrimônio e uso de paraísos fiscais fazem com que, em média, os mais ricos sejam submetidos a no máximo 0,5% de alíquota de impostos. Por outro lado, os impostos elevados sobre o consumo corroem o poder de compra dos mais pobres. A maior tributação de ricos, mas também de multinacionais, pode encontrar eco junto aos parceiros do G20 em um momento de desaceleração do crescimento mundial, pressões de dívidas nas alturas e inflação que também segue persistente. O ministro Haddad já antecipou que o Brasil proporia uma regulamentação sobre o tema. “Esse é um exemplo do que depende muito da vontade dos países. Eu acho que vai ser muito difícil. Talvez seja do interesse dos países mais ricos, afinal evita evasão fiscal. Mas e todos aqueles que se aproveitam da evasão?”, afirma Lia Valls Pereira. Integração de fluxos financeiros internacionais No âmbito dos Bancos Centrais, as discussões devem se focar na governança dos sistemas de pagamentos internacionais – o que contribui para combater a sonegação fiscal, mas também...

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Brasil busca reaproximação tardia com a África, cortejada por outras potências emergentes

2/14/2024
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, realiza a partir desta quarta (14) a segunda visita à África em um intervalo de apenas seis meses, em busca de uma maior aproximação com o continente africano – uma cooperação que, apesar dos laços históricos que unem os dois lados, até hoje não decolou como poderia. As viagens ao Egito e à Etiópia têm foco mais político, mas também buscam ampliar parcerias comerciais com os dois novos membros do Brics e fomentar novas oportunidades com a União Africana. O Egito, segunda maior economia do continente, é o principal parceiro comercial do Brasil na região. Já na Etiópia, Lula foi convidado a participar da cúpula do bloco africano, do qual fazem parte 54 nações e cuja sede fica em Adis Abeba, capital etíope. O grupo acaba de entrar no G20, do qual o Brasil exerce a presidência este ano. Nos três dias em que estará no país, o presidente ainda terá uma série de reuniões bilaterais com outros líderes africanos – uma ocasião para promover novos acordos e parcerias. “Isso é estratégico para o nosso país e para a liderança que Lula quer exercer no chamado Sul global. O continente africano é uma frente de expansão que vem sendo disputada por várias forças internacionais que tem oferecido, de modo prospectivo, uma ampla possibilidade de expansão de mercado”, ressalta o professor da Unicamp Kauê Lopes dos Santos, que também é pesquisador visitante na London School of Economics, da Inglaterra. “O Brasil consolidou há décadas uma agenda internacional de cooperação Sul-Sul. Ao longo dos governos Lula 1 e 2, o país fez uma série de acordos, principalmente nas áreas de agricultura e medicina tropical”, relembra. ‘Entra e sai’ na África abalou credibilidade do país Mas desde então, essa interação andou devagar. Ao retornar ao poder para o terceiro mandato, o petista ressaltou que promoveria a 'volta' do país ao continente, num contexto em que outras potências emergentes – como China, Índia, Rússia e Turquia – ampliaram como nunca as parcerias comerciais e investimentos diretos nos países africanos, na última década. Os chineses se transformaram nos maiores fornecedores de uma gama variada de produtos à África, de matérias-primas a bens industriais, além de financiarem uma série de projetos de infraestrutura nos países africanos. Na comparação, as trocas com o Brasil são moderadas: apenas 3,8% das exportações brasileiras em 2022 foram para a região, ou US$ 12,8 bilhões. Esse índice se mantém praticamente estável desde o início dos anos 2010. Gustavo de Carvalho, pesquisador sênior em Governança Africana e Diplomacia no Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais (SAIIA) vive há mais de 15 anos no continente. Ele nota que, neste período, viu muitas promessas dos dirigentes brasileiros não se concretizarem. “Teve um problema de continuidade que não começou no governo Bolsonaro, uma continuidade de um interesse muito mais reduzido no continente africano nos anos 2010, desde o governo Dilma. E também teve uma questão de narrativas: nos anos 2000, o Brasil desenvolveu uma narrativa de cooperação Sul-Sul sofisticada, que atraiu muito interesse. Mas muitas vezes os efeitos práticos foram mais limitados”, explica Carvalho. “Esse entra e sai do Brasil, que parece uma montanha-russa nas relações entre o Brasil e a África, tira a credibilidade do país como um parceiro consistente. A mudança brusca, em relação aos anos 2000, e acentuada durante o governo Bolsonaro, não causou uma boa imagem do Brasil por aqui, neste sentido.” Oportunidades em um continente dinâmico Carvalho lembra que algumas das economias que mais crescem no mundo estão no continente, com seus 1,4 bilhões de habitantes. Além disso, a União Africana está em processo de implementação de uma zona de livre comércio entre os países-membros, que representa também novas oportunidades para parceiros externos como o Brasil, “Se nós olharmos o crescimento de comércio entre a África e o Brasil, tem aumentado, obviamente,...

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O luxo não conhece a crise - apesar das guerras, setor segue de vento em popa

1/31/2024
Não há pandemia, guerra ou crise econômica que faça o setor do luxo desacelerar – que o diga francês Bernard Arnault, CEO do grupo LVMH, dono de marcas como Louis Vuitton, Dior ou Tiffany. O bilionário voltou destronar o americano Elon Musk no posto de homem mais rico do mundo graças aos resultados do conglomerado francês em 2023, que levaram a bolsa de Paris a bater um recorde absoluto na sessão da última sexta-feira (26), a 7.634 pontos. A valorização do LVMH passou dos 12%, a maior capitalização já vista na França, após a empresa registrar alta de 9% das vendas e 8% dos lucros, “apesar do contexto perturbado” nos mercados internacionais, ressalta o comunicado do grupo. O único tropeço, a desaceleração da economia China no terceiro trimestre, não foi suficiente para o desempenho esfriar – algo que tem se repetido a cada nova crise que o resto do mundo enfrenta. A solidez do mercado chinês, que levou o luxo a crescimentos estratosférico nos anos 2010, trouxe incertezas em 2023. Mesmo assim, as vendas no país seguiram em alta de no mínimo 3% ao longo do ano. É como se o luxo, e a clientela que o sustenta, vivessem num mundo à parte. “O período de pós-pandemia foi de aumento das desigualdades, ou pelo menos de aumento da concentração de rende e de riquezas. Hoje temos dados mais concretos desse período que mostram que a renda no topo da pirâmide tem crescido consistentemente mais depressa do que na base”, aponta o economista Gedeão Locks, especialista em tributação e desigualdades e pesquisador do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica, em Berlim. “Como são essas as pessoas que compram esse tipo de produtos, é normal que seja um setor pouco afetado pelo que acontece de ruim em volta.” Resiliência às crises O setor é vasto – engloba desde vestuário e cosméticos até a saúde, passando por imobiliário, automotivo, turismo ou serviços. A grande vantagem do luxo é a sua capacidade se resiliência: a inflação, por exemplo, também atingiu o segmento e levou os produtos a ficarem ainda mais caros. Entretanto, a elite segue disposta a pagar o preço. "Os ricos têm conseguido se proteger da inflação, com mecanismos financeiros sofisticados, e a inflação foi o que corroeu o poder de compra da classe média e dos pobres. Como são os ultrarricos que podem comprar artigos de luxo, a demanda por esses bens permanece ou inclusive aumenta, já que há ainda mais gente nessa faixa de renda e de riqueza", salienta Locks. Mercado brasileiro do luxo Uma nota da consultoria Statista, publicada em 15 de janeiro, resume a conclusão: “o luxo não conhece a crise”, liderado pelas vendas nos Estados Unidos, China, Japão, França a Reino Unido, nesta ordem. O Brasil é um mercado ainda pouco significante, mas em expansão, principalmente na última década. O setor movimentou R$ 74 bilhões em 2022, conforme levantamento da Bain & Company, que projeta a cifra de R$ 133 bilhões até 2030. Mas essa alta não só não é acompanhada de desenvolvimento, como simboliza o aumento ainda maior das desigualdades no país, assinala o pesquisador. "Nas sociedades onde a desigualdade é mais acentuada é também onde floresce um desejo maior de ostentação e diferenciação baseada nesse tipo de símbolo, que constituem as grandes marcas de luxo. No Brasil, saiu um estudo do Ipea que mostra que o topo de 1% mais ricos dobrou a sua renda desde 2017: as pessoas com rendimentos mensais de em torno de R$ 400 mil dobraram a sua renda", observa. "Então, não me surpreende que o Brasil suba nesses rankings, mas isso não guarda nenhuma relação com o desenvolvimento econômico em si." Como essa riqueza poderia aumentar a contribuição para o avanço de um país? Uma parte dos ultrarricos, liderados por nomes como Bill Gates e Abigail Disney, faz campanha para que eles mesmos sejam submetidos a pagar mais impostos. No último Fórum Econômico Mundial, em Davos, o apelo voltou a ser feito por uma lista de 250 milionários – entre eles, apenas um brasileiro, o fundador do grupo de investimentos Gaia,...

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Vendas de champanhe francês sofrem com inflação e concorrência de outros espumantes

1/24/2024
A inflação alta não poupou as vendas de champanhe em 2023, inclusive dentro da própria França, país que produz e exporta a bebida para o resto do mundo. O balanço revelado pelo Comitê Interprofissional do Vinho de Champagne apontou uma queda de 8,2% das vendas no ano passado, impactadas também pelo aumento do consumo de outros tipos de espumantes, fabricados no país ou em vizinhos europeus. O espumante mais famoso do planeta, associado a momentos festivos e comemorações, ainda enfrenta os contratempos gerados pela pandemia de Covid-19. Em 2020, o lockdown levou as vendas a despencarem 18%, mas retomaram com uma força igualmente anormal nos dois anos seguintes, com alta de 25% em 2021 e o recorde de 326 milhões de garrafas vendidas em 2022. Após esses dois picos, o contexto inflacionário gerado pela guerra na Ucrânia levava o setor a já esperar um recuo na desempenho em 2023. O diagnóstico apontou para uma queda ainda maior que a projetada, conforme a nota divulgada pela principal entidade representante do setor. Foram 299 milhões de garrafas vendidas. “Depois de três anos anormais, o champanhe volta ao nível de vendas de antes da crise sanitária. O mercado nacional sofre mais do que os mercados de exportação com os efeitos da inflação, que pressionaram o orçamento das famílias durante todo o ano”, diz o comunicado. “A exportação de 172 milhões de garrafas ultrapassou o seu nível de 2019 (156 milhões de garrafas) e agora garante 57% do total de vendas, contra 45% há 10 anos.” Por que o champanhe é mais caro? O setor festeja, entretanto, que o faturamento tenha se mantido estável, acima de € 6 bilhões – um efeito do aumento do preço das garrafas, que passaram de uma média de € 20 a unidade para € 23. “O champanhe tem custos de produção que são bastante elevados. Tem vários fatores que explicam, inclusive o preço do hectare de terra em Champagne, que é muito cara: 1 hectare de vinhedos custa cerca de 1 milhão de euros, enquanto que no sul da França, em Languedoc, por exemplo, custa entre 20 e 30 mil euros”, explica a sommelière brasileira Ana Carolina Dani, que atua na França e integra a Associação de Sommeliers de Paris. “A colheita precisa ser obrigatoriamente manual, o que aumenta mais o custo. E neste contexto de alta dos preços, é um vinho que foi particularmente afetado: o processo de vinificação do champanhe é complexo e o uso de energia para resfriar as cubas de fermentação, por exemplo, é muito intenso – e a energia aumentou muito na França”, complementa. O preço ainda maior levou os consumidores mais atingidos pela inflação a experimentar alternativas ao champanhe, inclusive em momentos emblemáticos como o Natal. Assim, espumantes como o crémant de Alsácia ou da Borgonha, considerados os “primos pobres” do champanhe, ganharam um espaço de mercado francês. Prosecco ganha espaço Da mesma forma, o prosecco italiano – na esteira do sucesso do coquetel Spritz, que leva a bebida – e a cava espanhola também seduzem os consumidores, com seus preços no mínimo três vezes inferiores aos do champanhe. “A diferença é muito alta. Para uma família de classe média francesa, num contexto de alta geral de preços, foi preciso apertar os cintos e optar por produtos mais essenciais. O consumidor acabou indo procurar opções mais baratas”, salienta Dani. “A Itália conseguiu fazer um marketing mundial do prosecco graças ao Spritz e o hoje este espumante está muito mais presente na mesa dos franceses do que há um ou dois anos atrás. E os espumantes nacionais também têm ganhado muito espaço. Muita gente hoje prefere beber um bom espumante do que um champanhe ruim.” As vendas de crémant da Alsácia registravam alta de 4,2% no período de um ano encerrado em outubro – e apesar do aumento do preço das garrafas nas prateleiras de supermercados e adegas. Os dados de exportação do champanhe devem ser divulgados em março. Com pouco mais de 700 mil garrafas compradas em 2022, o Brasil não é um mercado importante para o setor, embora registre...

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Novo imposto mínimo mundial sobre lucros de multinacionais terá implementação progressiva até 2025

1/10/2024
Um novo e inédito mecanismo internacional contra os paraísos fiscais e a concorrência tributária entre os países entra em vigor neste mês de janeiro de 2024. Um “imposto mundial mínimo” de 15% sobre os lucros das multinacionais começa a ser cobrado pelos 140 signatários. Lúcia Müzell, da RFI O imposto representa um avanço ao acabar com a exoneração praticada nos paraísos fiscais e elevar o índice praticado em lugares como a Irlanda, destino preferencial das companhias digitais na Europa, ao aplicar apenas 12,5% em impostos. A taxa mínima será cobrada inclusive das empresas que não estão fisicamente implantadas no seu território, mas onde registram receitas. No alvo, estão as companhias que faturam mais de € 750 milhões – ou menos de 10 mil empresas no mundo. Esta foi uma maneira de aumentar a arrecadação das grandes companhias de tecnologia. Uma empresa alemã domiciliada nas Bahamas, onde é isenta de impostos, passa a pagar o mínimo de 15% nas operações realizadas na Alemanha, signatária do acordo. O texto foi costurado por mais de uma década pela OCDE e adotado no âmbito do BEPS (sigla em inglês para Erosão da Base Tributária e Transferência de Lucros), iniciativa conjunta com o G20, em outubro passado. “É um acordo definido pelos próprios países. Será um conjunto de regras nacionais, que têm os mesmos princípios de cálculos, e ele depende também da adoção das regras pelos demais países, ou seja, todos terão interesse em verificar se os outros estão fazendo conforme os modelos das regras. Essa colaboração é essencial para o projeto”, aponta Felicie Bonnet, chefe interina da divisão de fiscalidade internacional da organização, com sede em Paris. “Nós observaremos se a implementação vai acontecer como previsto e que a coordenação prevista entre eles, sobre as regras, funcionará na prática”, indica. EUA e China de fora Entre os signatários, estão União Europeia – incluindo Luxemburgo e também a Suíça, apontados como paraísos fiscais na Europa ao lado da Irlanda –, Reino Unido, Canadá, Japão, Austrália, Malásia e Coreia do Sul, de um total de 50 que já passaram a aplicar o texto no âmbito nacional. No entanto, as duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, por enquanto estão de fora. “O acordo tem impacto mesmo se todos os países não o aplicam. Basta que uma massa crítica de países o faça e ele se torna efetivo, e hoje temos essa massa”, afirma o economista Pascal Saint-Amans, que acaba de deixar a direção do Centro de Política Fiscal da OCDE. “Os mecanismos do acordo são bem diabólicos, ao preverem que, até se países importantes como a China e os Estados Unidos não o adotam, as multinacionais deles serão submetidas ao imposto mínimo mundial. A única questão em jogo será quem vai arrecadar este imposto: se não for os americanos, poderão ser os europeus no lugar deles”, afirma. A expectativa da OCDE é que a medida leve à arrecadação de US$ 220 bilhões por ano em benefício dos Estados. A organização espera que a adoção do novo imposto ocorrerá progressivamente entre 2024 e 2025, com prazo mais lento principalmente nos países em desenvolvimento. “Os países em desenvolvimento têm interesse em colocá-lo em prática por diversas razões. Eles podem ter, por exemplo, índices de imposto que já são, em tese, superiores a 15%, mas que na prática são menores devido a isenções e benefícios fiscais oferecidos às multinacionais, de modo que elas não pagam impostos”, observa Bonnet. Brasil se prepara para implementar Em novembro, o Ministério da Fazenda do Brasil indicou que a Receita Federal estava “se organizando” para implementar o acordo. José Sarquis, embaixador da missão do Brasil junto à OCDE, explica que o país está na fase de “considerações” e vê o processo “de modo muito construtivo”. “Tradicionalmente, havia uma diferença de abordagem no direito tributário doméstico e no internacional, entre as práticas de países mais desenvolvidos e os em desenvolvimento. Com o tempo, essas práticas estão se aproximando e...

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Juros altos, inflação, guerras, Brics ampliado: o que marcou 2023 na economia

12/28/2023
O ano de 2023 chega ao fim com um princípio de luz de fim do túnel na sequência de alta dos juros que marcou o período e atrasou uma retomada econômica mais robusta, em meio à inflação que permaneceu elevada em boa parte do mundo. As incertezas geopolíticas, com o conflito na Ucrânia e a guerra em Gaza, não ajudaram a economia mundial a decolar. O coquetel de juros altos e crescimento baixo, somado à desaceleração da China, foi ainda mais perigoso para os países mais vulneráveis, em especial os africanos. “Nas economias avançadas, vemos que claramente as taxas vão ficar altas durante muito tempo, durante toda a primeira parte do ano 2024, e agora produzem impacto na atividade. Em geral, temos 12 meses de atraso entre o momento em que os bancos centrais sobem as taxas de juros e o momento em que realmente essas taxas afetam a atividade – e elas foram elevadas há pouco mais de um ano”, explicou à RFI Bruno de Moura Fernandes, chefe de macroeconomia da seguradora francesa Coface, presente em mais de 100 países. “Então vamos sentir mais, nos próximos trimestres, o impacto para as empresas, para as famílias”, disse, em entrevista realiza em agosto. A Unctad, Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, previu em abril que o ciclo de aumento de juros vai custar mais de US$ 800 bilhões em perda de renda nos países em desenvolvimento, nos próximos três anos. Além da depreciação cambial, as consequências imediatas nas economias mais vulneráveis – como Zâmbia, Chade, Sri Lanka ou Argentina – foram a explosão das dívidas, a dificuldade de acesso ao crédito e risco de crise monetária, podendo resultar em crise de dívida soberana. Na Ásia, a crise imobiliária chinesa, o crescimento baixo, de 5%, e o alto desemprego dos jovens na segunda maior economia mundial acenderam o alerta para uma piora da conjuntura. “Já vemos que claramente as exportações chinesas estão caindo pela pouca procura por parte dos Estados Unidos e da Europa, e que o consumo das famílias chinesas também é uma grande decepção, porque, afinal, não tem confiança. Por enquanto, não vemos como a recuperação pode acelerar nos próximos meses”, advertiu Fernandes. Esse contexto internacional abalou o mercado mundial de commodities e repercutiu imediatamente no Brasil. Cerca de 30% das exportações brasileiras, essencialmente de matérias-primas, vão para a gigante asiática. Governo sob pressão desde o primeiro dia No Brasil, o ano começou turbulento, com os ataques aos Três Poderes na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já em 8 de janeiro. A crise política aberta logo na primeira semana do mandato aumentou ainda mais a pressão sobre a agenda econômica do presidente petista, em especial pelo ajuste fiscal, e na contramão da política econômica mais expansionista desejada pelo presidente. “A economia internacional vai desacelerar e, com isso, os preços das commodities não vão continuar altos como estavam. Essa situação reduz a margem de manobra para adotar políticas mais expansionistas”, previu Daniela Magalhães Prates, economista sênior da Unctad, em janeiro. “O embate com o mercado vai ser um problema. A incerteza política pode ser usada para isso: reduzir a margem na política fiscal e monetária”, antecipou. Com o país ainda marcado pela polarização no plano interno, o presidente não demorou para iniciar giros internacionais – a começar pela China. Apesar de ser a maior parceira comercial do Brasil, Pequim vinha sendo desprezada pelo governo de Jair Bolsonaro. "Por uma escolha de Estado, nós saímos da mesa. Essa escolha teve custos, e agora estamos voltando à mesa e isso é extremamente importante, na minha opinião”, disse o pesquisador associado do FGV-Ibre Livio Ribeiro, especializado em economias emergentes e em particular a chinesa. “Tradicionalmente na China, os ritos importam muito – até mais para os chineses do que para a gente. Assim sendo, a presença do presidente muda o nível da discussão e faz toda a diferença.” A viagem oficial de...

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Franceses planejam Natal mais econômico, com ceias menos sofisticadas e presentes de segunda-mão

12/20/2023
Por aqui, o peru de Natal e as tradicionais rabanadas não costumam fazer parte da ceia dos franceses, que preferem os frutos do mar e o típico foie gras, uma iguaria à base de fígado de pato ou ganso. Entretanto, neste ano de 2023, muitas famílias vão ter que adaptar a refeição tradicional para fazer com que ela caiba no orçamento, afetado pela inflação e pela queda no poder de compra. Com fatores geopolíticos afetando diretamente a economia, em recuperação lenta após a pandemia de Covid-19, a França deve fechar 2023 com uma inflação média de 5,8%, segundo o Banque de France (Banco Central da França), ultrapassando ligeiramente o índice de 2022, que ficou em 5,2%. Simone de Albuquerque, uma brasileira que mora na França há 33 anos, conta que o Natal desse ano vai ser entre familiares e amigos, reunindo irmãos, netos, vizinhos, mas que a ceia vai ter que ser mais comedida, já que os preços este ano estão muito altos. “Esse ano pretendemos fazer o mesmo que no ano passado, mas com preços mais em conta. Os lugares em que comprávamos antes, não vamos mais. Buscamos outros com produtos quase iguais, mas com preços bem mais próximos da realidade”, disse. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Econômicos (Insee) entre 2021 e 2022, os preços dos bens e serviços aumentaram historicamente no país, mas em 2023 os índices estão em desaceleração. Ainda assim, segundo a instituição, os aumentos nos preços pesam duas vezes mais sobre os mais pobres do que sobre os mais ricos. A aposentada Françoise Gervez acredita que este Natal será de privações para muitas famílias. “Tudo aumentou muito e eu penso que para algumas famílias vai ser muito difícil. Não tanto em termos de brinquedos e presentes, porque há sempre coisas bonitas em lojas com preços mais moderados, onde os pais podem fazer escolhas mais razoáveis. Em contrapartida, em relação à comida, as pessoas vão ter mais dificuldade em conseguir uma qualidade igual aos anos anteriores”, destaca. Produtos para a ceia em promoção Nos meios de comunicação, não faltam por aqui reportagens para ajudar o consumidor a economizar na compra dos produtos para a ceia de Natal. A BFMTV, por exemplo, divulgou supermercados que estão promovendo grandes promoções como o famoso foie gras com € 5 de desconto, o segundo pacote de chocolate saindo pela metade do preço e 30% a menos no salmão defumado, destacando que essas “pechinchas” só costumam aparecem a partir do dia 26 de dezembro, mas que neste ano tomaram conta das gôndolas para dar uma forcinha para os orçamentos mais restritos. Françoise Gervez concorda, acrescentando que em alguns estabelecimentos ainda é possível encontrar preços que permanecem mais viáveis e com boa qualidade. “Por outro lado, os produtos de marcas mais tradicionais permanecem inacessíveis”, diz ela, que se organizou com dois meses de antecedência para não ter que abrir mão das tradições natalinas partilhadas em família. “Eu não mudo os meus hábitos, mas sei que muitas pessoas são obrigadas a mudar. É triste, há muita miséria”, lamenta. “Lembrancinhas” Um estudo da empresa de pesquisas Kantar aponta que os franceses pretendem gastar menos com os presentes de Natal deste ano: uma média de € 223 no total (quase R$ 1.200,00), 8% a menos do que no ano passado. Simone de Albuquerque explica que na família dela, só as crianças vão ganhar presente este ano. Para os adultos, será a tradicional “lembrancinha”. “Cada criança vai ganhar o seu presente, mas para nós adultos, não precisa tanto. Mas com certeza vai ter uma lembrancinha. Uma lembrancinha é obrigação”, brinca ela. Lojas cheias, sacolas nem tanto Na capital, com os preços altos, muitos franceses e visitantes não têm se deixado levar pelas belas decorações de Natal que tornam Paris ainda mais bonita nesta época do ano. As lojas estão cheias, mas as sacolas, nem tanto. Além disso, muitos estão aguardando as ofertas das grandes promoções de inverno, que começam em janeiro, para encontrar...

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Brasil aposta em recuperação de áreas degradadas para dobrar a produção do agro sem desmatar

11/29/2023
Não apenas de ambientalistas, diplomatas e governantes é feita a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP28), que começa nesta quinta-feira (30) em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O evento é um ponto de encontro de empresários e lobistas dos mais diversos setores da economia. Na delegação brasileira, o agronegócio comparece em peso para tentar dar uma nova imagem à produção agrícola do país – associada, nos últimos anos, ao desmatamento e à devastação do patrimônio natural. Esse impulso virá do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deixou para anunciar na COP os detalhes de um plano recém lançado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária para recuperar áreas degradadas e improdutivas. Tratam-se de 40 milhões de hectares de terras utilizadas para pastagens, pela pecuária, e que possuem “alta aptidão para a agricultura” se fossem reabilitadas para o plantio. O objetivo se inscreve na promessa do governo de aumentar a produtividade brasileira sem derrubar mais florestas – principal calcanhar de Aquiles do Brasil na área ambiental. Conforme estimativas do ministério, o país tem cerca de 150 milhões de hectares de áreas degradadas que servem a pastagens – ou mais de duas vezes o território de um país como a França. A maior parte delas, cerca de 60%, ficam no Cerrado. “Não pode ter apenas uma cabeça de gado por hectare. Com tecnologia, assistência técnica, financiamento correto, poderá se ter três ou duas cabeças”, disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao depor a uma comissão no Senado nesta segunda-feira, antes de viajar a Dubai. “Não precisa nem ser um sistema intensivo, basta ser semi-intensivo e a gente dobra a produção sem precisar avançar sobre os ativos ambientais do nosso país”, argumentou. Contribuição do Brasil conta com recuperação de áreas degradadas No âmbito do Acordo de Paris sobre o Clima, o país se comprometeu a recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030 – o que permite evitar mais desmatamento. A meta faz parte da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês) do Brasil, as ações que cada país apresenta para limitar as suas emissões de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento do planeta. O Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária 2020-2030, adotado em 2021, visa dobrar esse objetivo, chegando a 30 milhões de hectares. “Uma pastagem bem manejada, recuperada, com alto vigor produtivo, sequestra carbono, em vez de emitir. Então é uma grande oportunidade para toda a agenda climática do Brasil e tendo o setor agropecuário como um protagonista”, disse à RFI Leila Harfuch, economista especialista em sustentabilidade no agronegócio e sócia-gerente da Agrícone. Ela lembra que o Plano Safra já direciona recursos para práticas de menor impacto ambiental, via Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono). A demanda por linhas de crédito como o Renovagro, de R$ 7 bilhões, é crescente. “Isso pode ser revolucionário para o Brasil. É algo bastante interessante.” Investimento é alto Num prazo de 10 a 15 anos, o governo pretende investir US$ 120 bilhões (cerca de R$ 587 bilhões) no projeto e expandir a área agrícola brasileira de 65 para 105 milhões de hectares, sem desmatar. Linhas de financiamento do BNDES, do Fundo Soberano Brasileiro e do Banco do Brasil devem ser alocadas para os produtores interessados em comprar ou arrendar terras improdutivas e melhorar a gestão da produção, com insumos menos agressivos, técnicas mais sustentáveis de plantio e aumento da rastreabilidade da cadeia, uma exigência do mercado europeu. “É caro tanto recuperar quanto converter essas pastagens para a agricultura. É uma série de operações agrícolas que precisam acontecer para recuperar o vigor e a fertilidade do solo, e o processo de maturação é longo, de em média cinco anos para o investimento retornar para o produtor”, ressalta Harfuch. “E também tem uma questão de escala produtiva: uma coisa é o produtor...

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Rumo à eletrificação da economia, Europa acelera abertura de minas de lítio

11/15/2023
Num contexto em que quase metade do lítio mundial é produzido em minas australianas, um terço vem de lagos salgados do Chile e 15% tem origem chinesa, a Europa busca garantir a sua soberania no abastecimento do metal. Enquanto o mundo começa a discutir o fim da era do ouro negro – o petróleo –, agora é o ouro branco, como vem sendo apelidado o lítio, que atiça o apetite dos industriais. Leve, altamente condutor de eletricidade, a commodity é essencial para a fabricação de carros elétricos, em plena transição energética. Estima-se que Portugal tenha as maiores reservas europeias. A França também se posiciona nessa corrida: uma das maiores minas da Europa deve sair do solo na região de Allier, no centro do país. O geólogo Benjamin Barré, da mineradora francesa Imerys, recebeu a reportagem da RFI. “Estamos na fase da galeria piloto, que nos permitirá alimentar a usina piloto para terminarmos os nossos testes em escala semi-industrial”, explicou, à repórter Justine Fontaine. Por enquanto, a poucas centenas de metros do pequeno vilarejo de Echassières, o que se vê é uma grande cratera de onde se extrai caulim, uma rocha quebradiça usada para fabricar porcelana. Mas as obras para a extração do lítio sob a pedreira estão em andamento. O investimento previsto até 2028 é de mais de €1 bilhão, incluindo a extração, a trituração e o refino. “Na França, acho não houve abertura de uma mina nos últimos 50 anos. Faz muito tempo que não descobrimos uma reserva como esta que nós temos aqui. Podemos dizer que tivemos sorte de chegar a ela, que se encontra embaixo de um local já conhecido e que deve nos permitir, de acordo com o que sabemos até agora, produzir 34 mil toneladas de hidróxido de lítio por ano, durante pelo menos 25 anos”, complementa Vincent Gouley, diretor de Comunicação e Desenvolvimento Sustentável para projetos de lítio da Imerys. “Isto corresponde às necessidades de lítio de 700 mil veículos elétricos por ano, ou seja, metade da produção francesa atualmente. Ou seja, é um depósito significativo em nível francês e europeu”, diz ele. Explosão da demanda A Agência Internacional de Energia (AIE) avalia que a procura por lítio vai crescer 25 vezes até meados do século, estimulada por medidas como a proibição dos carros com motores térmicos na Europa, a partir de 2035. Mais de 30 usinas de fabricação de baterias elétricas estão sendo construídas no bloco e para atender à demanda por lítio, os projetos de minas existentes hoje já serão insuficientes para chegar até 2030, antecipa a agência. É por isso, para além das reservas, os países europeus também buscam se aperfeiçoar em toda a cadeia de produção. Em Lauterbourg, na fronteira franco-alemã, a start-up Viridian pretende realizar uma das etapas intermédias entre as minas e as fabricantes de baterias eléctricas – o refino. O projeto obteve €12 milhões em subsídios públicos, revela um dos seus cofundadores, Rémy Welschinge. “O processo começa com o produtor de lítio, que extrai o metal do solo ou da rocha, como vemos muito na Austrália, ou da salmoura, no caso chileno. Depois é preciso refinar. Alguns produtores fazem isso sozinhos, outros preferem enviá-lo para refinarias independentes, para processá-lo ou purificá-lo ainda mais”, aponta Welschinge. “É esse lítio que é fornecido aos fabricantes de eletrodos, para a construção das células de bateria que serão colocadas em veículos elétricos.” Em 2022, a Comissão Europeia lançou uma nova legislação sobre matérias-primas críticas para facilitar a busca pela soberania no metal e em outros minerais essenciais para a transição energética – baseada, em grande parte, na eletrificação da economia. De quebra, também visa a menor dependência do petróleo e gás da Rússia, no contexto da guerra contra a Ucrânia, e das baterias chinesas. Risco ambiental Nas fronteiras europeias, além de França e Portugal, Alemanha, Espanha e Finlândia também se mobilizam em busca de lítio, além do vizinho Reino Unido. Mas apesar do interesse econômico...

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Em meio à guerra, como ficam as relações comerciais do Brasil com o Oriente Médio?

11/8/2023
Com parcerias comerciais importantes no Oriente Médio, incluindo uma agenda em ascensão com Israel nos últimos anos, o Brasil tem feito malabarismos diplomáticos para que o conflito na Faixa de Gaza não abale os negócios com a região. A esquerda tem pressionado o governo Lula a ser mais enfático nas críticas a Tel Aviv, mas o agronegócio pressiona no sentido contrário. O Oriente Médio respondeu por 5,1% das exportações brasileiras em 2022, num total de US$ 17,2 bilhões, com balança comercial favorável a Brasília. “Sem a menor dúvida, as relações comerciais pesam muito e a geopolítica tem uma grande importância no comércio exterior brasileiro. Não dá para escolher um lado”, aponta Paulo Ferracioli, professor de políticas de comércio exterior e de economia no FGV Management. “A população desses países é grande: a do Irã são 88 milhões de habitantes. A da Arábia Saudita, que as pessoas pensam que é um grande vazio, tem quase 40 milhões de habitantes. A entrada desses dois países no Brics vai facilitar muito os negócios do Brasil na região”, salienta. Nos primeiros cinco meses deste ano, as vendas para os 22 membros da Liga Árabe subiram 11%, em relação ao mesmo período do ano anterior, conforme dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio). A pauta inclui majoritariamente produtos agrícolas. Parceria comercial inédita com Israel Durante os anos do governo de Jair Bolsonaro, próximo do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, as trocas com Israel atingiram níveis inéditos – o Brasil foi o principal fornecedor de petróleo do Estado hebreu, que foi também o sexto maior comprador da região de produtos agropecuários brasileiros. Sob a gestão Lula, essa dinâmica desacelerou, com queda de 68% das exportações. Mesmo assim, no fim de agosto – um mês antes da eclosão do conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas –, os dois países formalizaram uma nova parceria comercial histórica. O Brasil se tornou o primeiro país a receber autorização para exportar carne de frango para Tel Aviv, sob os rigorosos padrões de produção kosher, as diretrizes alimentares que definem o que os judeus podem ou não consumir. Israel é um dos maiores consumidores de carne de frango do mundo, com 42 quilos por pessoa por ano, conforme dados do Ministério da Agricultura de Israel. Para o Brasil, este acordo representa uma oportunidade para dar um salto no setor, podendo superar, pela primeira vez, a marca de 5 milhões de toneladas de frango exportados para o resto do mundo, segundo projeções da Associação Brasileira de Proteína Animal. Antes da nova parceria, o Brasil já tinha vasta experiência na venda de alimentos com certificação halal, para os países muçulmanos. “Não é de forma alguma do interesse do Brasil se afastar de Israel, com o qual nós estamos fazendo bons negócios na área de agroindústria, mas há muito mais do que isso. A tecnologia de Israel interessa tanto ao Brasil quanto à Arábia Saudita. Todos os países querem investimentos de Israel em produtos altamente tecnológicos”, afirma Ferracioli. Preço do petróleo e impacto nos investimentos Para além da pauta de exportações, analistas têm apontado que o principal impacto da guerra na Faixa de Gaza tende a ser o aumento do preço do petróleo no mercado internacional – principalmente se o conflito se alastrar pela região. A entrada do Irã, apoiador do Hamas, poderia resultar no endurecimento das sanções a Teerã pelos Estados Unidos e seus aliados. “Se houver um aumento dos preços, os dos derivados de petróleo também subirão. O Brasil não vai quebrar por isso, mas vai sofrer uma alta de preços no mercado interno, que poderia impactar de forma bastante inconveniente a nossa inflação. Esse é um aspecto importante”, aponta o professor da FGV Management. “Eu não acredito que o Irã vá entrar no conflito, mas a incerteza é grande.” Desde o início da guerra, em 7 de outubro, o barril de Brent já acumula alta de 6%, a US$ 86. Na semana passada, o Banco Mundial alertou que, no...

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Por que, apesar de avanços, ricos e empresas continuam a sonegar bilhões de impostos pelo mundo

10/23/2023
Um trilhão de dólares, cerca da metade do PIB do Brasil, é o valor que multinacionais continuam a sonegar de impostos pelo mundo, graças a manobras fiscais que as permitem contornar as cobranças, como o registro dos lucros em paraísos fiscais. A informação é de um relatório inédito realizado por uma vasta equipe de pesquisadores da Paris School of Economics, sob o comando do economista Gabriel Zucman, discípulo de Thomas Piketty. O relatório Evasão Fiscal Global 2024, divulgado nesta segunda-feira (23) pelo Observatório Fiscal Europeu, faz um balanço dos avanços que foram promovidos no tema desde a crise financeira de 2008, mas aponta que o caminho rumo à transparência continua nebuloso – inclusive dentro da Europa. “A evasão das empresas representa, hoje, cerca de US$ 1 trilhão de lucros que são registrados nos paraísos fiscais, mas que aconteceram na verdade na França, na Alemanha ou nos Estados Unidos. E o mais interessante é que essa evasão em massa não se passa em Macau ou no Panamá, mas sim na própria Europa”, explicou Zucman à emissora France Inter. “São a Microsoft ou a Apple que registram dezenas de bilhões de dólares de lucros na Irlanda, mas que na realidade foram realizados na França”, apontou, ressaltando que uma menor arrecadação significa menos investimentos dos Estados em saúde, educação ou no combate às desigualdades. O montante também faz falta num momento em que os países ao redor do mundo buscam cobrir a explosão dos gastos dos Estados com a pandemia de coronavírus – e que levou muitos a se endividarem em patamares perigosos, como a própria França. Imposto mínimo de 15% ainda tem falhas O economista salienta que, desde 2017, a cooperação internacional entre os organismos fiscais deu um salto, sob o impulso de decisões do G20 e da OCDE. A maior transparência permitiu dividir por três as riquezas detidas em paraísos fiscais. Em 2021, 140 países concordaram com a aplicação de uma taxa mínima de 15% sobre os lucros no exterior, algo inédito. Entretanto, as grandes empresas e o bilionários continuam encontrando novas fórmulas para escapar dos impostos. “Infelizmente, desde 2021, uma série de desonerações a essa regra foram introduzidas. A mais importante e a mais problemática é uma chamada de ‘desoneração por substância’, que significa que quanto mais uma empresa está implantada num paraíso fiscal, mais ela poderá excluir lucros da cobrança da taxa mínima de 15%”, assinala Zucman à France Inter. “Ou seja, é um convite para enviar ao máximo a atividade para os paraísos fiscais como Irlanda, Suíça ou Holanda.” Embora o fim do sigilo bancário e os impostos mínimos sobre as sociedades tenham encerrado décadas de concorrência entre países por menores taxas de impostos, alguns ativos ainda escapam da cobrança, sinaliza o relatório. O documento afirma que a alíquota média paga pelos bilionários oscila apenas entre 0 e 0,5% da fortuna, graças às manobras fiscais que, quase sempre, utilizam empresas de fachada. 2% de imposto mundial para os 3 mil mais ricos “Não gosto de usar casos individuais, mas vou dar um exemplo só para explicar o fenômeno: o da família Arnault, que em 2023 ganhou € 3 bilhões em dividendos graças aos lucros da sociedade LVMH em 2022. Para um acionista normal, teria uma taxa de 30% que se aplicaria aos dividendos. Mas a família Arnault não pagou € 900 milhões em impostos”, afirma Zucman. “Pagou zero, ou quase isso, porque os dividendos são transferidos a holdings, que não são sujeitas ao imposto de renda de pessoas físicas.” O relatório Evasão Fiscal Global em 2024 propõe seis medidas para o combate ao problema, entre elas um imposto global de 2% sobre a fortuna dos bilionários. A cobrança recairia sobre menos de 3 mil pessoas no mundo, alegam os pesquisadores, e resultaria em US$ 250 bilhões a mais de arrecadação ao ano para os países. Se a proposta fosse estendida às multinacionais, o valor dobraria. “Para dar uma ideia das magnitudes envolvidas, estudos recentes estimam que os países...

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Apesar de avanços, ‘choque da maternidade’ ainda bloqueia espaço da mulher no mercado de trabalho

10/18/2023
Pela primeira vez, uma mulher ganhou sozinha um prêmio Nobel de Economia – um marco que, por si só, já reflete as barreiras para a ascensão profissional delas. A professora de Harvard Claudia Goldin foi recompensada pelos estudos sobre o espaço das mulheres no mercado de trabalho e a emancipação das americanas. A distinção reconhece os avanços promovidos nos últimos dois séculos, mas evidencia o quanto a igualdade de gêneros ainda é um objetivo distante, mesmo nos países mais desenvolvidos. “Elas se tornaram trabalhadoras, passaram a ter renda para elas e para as suas famílias. A vida delas mudou muito. Mas o mercado de trabalho e as políticas dos governos são, quase sempre, mais lentos para acompanhar isso”, disse Goldin ao ser entrevistada depois do anúncio do Nobel pela emissora Business Today. Nas suas pesquisas, apoiadas em documentos, estatísticas e dados empíricos, a economista retraçou a evolução da participação das mulheres no mercado de trabalho e concluiu que cada passo à frente ocorreu na sequência de algum grande evento histórico: guerras mundiais, surgimento dos anticoncepcionais ou, mais recentemente, a pandemia de Covid-19 e a expansão do trabalho remoto. A francesa Dominique Meurs, economista associada do Instituto Nacional de Estudos Demográficos (Ined) e professora da universidade Paris-Nanterre, celebra a vitória do Nobel, mas ressalta que já poderia ter ocorrido há muito tempo. “Faz mais ou menos 10 anos que eu digo que ela tinha que vencer esse prêmio Nobel. Então, ele chega meio tarde, eu acho, porque se trata não apenas de se interessar pelo mercado de mulheres, mas sim de ter uma outra visão do mercado de trabalho, com base em dados, apresentando hipóteses, pesquisando, e percebendo as grandes evoluções que foram acontecendo”, aponta, à RFI. “Hoje olhamos para o mercado de trabalho de uma maneira totalmente diferente. Ela mudou a nossa forma de trabalhar e olhar as coisas.” Mulheres demitidas ao casarem Claudia Goldin despertou para o assunto quando descobriu que, nos anos 1920, as mulheres eram sistematicamente demitidas nos Estados Unidos assim que se casavam – fruto de uma lei determinando a prática e que só perdeu força mais de 20 anos depois. “Foi no pós-guerra. As empresas precisavam também das mulheres casadas e não podiam mais se dar ao luxo de demitir assistentes, secretárias, só porque elas se casavam. Foi, então, pela pressão da demanda de trabalho nas empresas que as legislações mudaram”, afirma Meurs. De lá para cá, a participação das mulheres no mercado de trabalho só cresceu, mas apesar das aparências, elas continuam sem acesso à maioria dos cargos de liderança e ganham, em média, 14% a menos do que os homens em um posto equivalente, nos países da OCDE – ou seja, nas economias mais desenvolvidas do planeta. Nos últimos 10 anos, essa diferença praticamente não caiu, baixando apenas 2%. “Nos países da OCDE, infelizmente, a explicação ainda é bem simples: é o choque das maternidades que leva a uma ruptura na carreira. Para explicar a diferença de salários entre homens e mulheres, não temos mais a diferença de educação, de experiência e nem de profissão, embora este ainda seja um aspecto a se considerar. É a chegada da maternidade e as consequências no ritmo de vida, e o fato de que as normas sociais impõem que as responsabilidades ainda sejam compartilhadas de forma desigual”, frisa a francesa. Os mais disponíveis são os maios recompensados: os homens Claudia Goldin estudou particularmente os bloqueios para o reconhecimento das mulheres no mercado altamente qualificado, em que a competição com os pares masculinos se mostra mais cruel, sobretudo se elas têm filhos. São cargos que implicam maior disponibilidade para receber clientes, por exemplo, o que significa jornadas de trabalho mais longas. As empresas tendem a recompensar os funcionários mais disponíveis, que costumam ser os homens. Dominique Meurs frisa que a pandemia de Covid também marcou um freio na carreira de muitas...

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Como a TV tradicional tem conseguido enfrentar o avanço do streaming

10/11/2023
A disseminação dos serviços de streaming e as mudanças nos hábitos de consumo dos usuários na última década levam a audiência da televisão tradicional a cair a cada ano, no Brasil, nos Estados Unidos ou na Europa. E quando grandes atores do mercado se reposicionam para se adaptar a essa revolução digital, a questão fundamental volta a emergir: a televisão linear está fadada a desaparecer? No cenário internacional, a última a mexer as peças no tabuleiro foi a Disney, que passa por um grande processo de reformulações desde que anunciou a intenção de ceder canais de peso como a emissora da TV aberta ABC e os canais a cabo National Geographic e FX. O grupo investiu pesado no streaming, em especial a Disney +, apostando na tendência antecipada por muitos analistas especializados. “Tem Disney+, Star+, a ESPN, o Hulu, que eles acabaram de adquirir o controle. O caso da Disney é bem particular: é muito agressivo o investimento que ela faz no streaming e, pelo que temos de informação, esse investimento ainda não teve o retorno esperado – até porque o mercado de streaming não está crescendo na velocidade que alguns analistas previam. Em cima dessas previsões irreais, muitos investimentos foram feitos e eles precisam tirar o dinheiro de algum lugar para cobrir o buraco”, explica Fernando Morgado, professor de cibercultura e inteligência de mercado na ESPM-Rio. Ele é um dos que acreditam que, apesar das profundas transformações por que passa o setor de mídia audiovisual, a televisão convencional ainda terá o seu lugar na casa dos telespectadores – mas não da mesma maneira que a consolidou. TV mais ao vivo Antes, uma parte importante do conteúdo era gravado ou vinha pronto do exterior – os famosos ‘enlatados’. Agora, as plataformas souberam ocupar esse espaço e sobrou para as televisões investirem nos programas ao vivo e locais, além dos de ‘infotainment’, programas que aliam entretenimento com informação. “Não vejo esse fim tão cedo. Eu vejo uma complementaridade e parto da ideia da adaptação que os negócios são obrigados a fazer”, avalia. “A TV convencional, como a gente conhecia até uns anos atrás, essa morreu. No lugar dela, surgiu uma nova: mais ao vivo, mais jornalística, e também com mais eventos. Os torneios de futebol estão com os direitos de transmissão nas alturas, com valores que nunca foram alcançados antes – e isso também ajuda a manter um modelo de televisão baseado em horários”, observa. Neste aspecto, o especialista observa que a programação ao vivo oferecida pelas emissoras encontra eco no fenômeno da segunda tela: ao mesmo tempo em que o telespectador assiste a um programa, usa o celular para comentar e repercutir com outros no mesmo momento, pelas redes sociais. “Isso tem ocupado espaço no mundo inteiro e é realmente um refúgio para os canais lineares, porque o ao vivo dá o senso de urgência, dá a emoção. Existem inclusive estudos que mostram que quando tem um programa de TV com o selo ao vivo, a audiência cresce, em comparação com conteúdo gravado”, salienta. YouTube: concorrente ou aliado? Quanto às redes sociais, não necessariamente elas devem ser vistas como concorrentes, mas sim como aliadas, ressalta Morgado. Emissoras com recursos mais limitados tem usado a plataforma YouTube para continuar a se desenvolver. No Brasil, o SBT se tornou um caso de sucesso mundial de migração dos telespectadores da telinha para a plataforma, sem necessidade de investimentos colossais em tecnologia, como fez a Globo com o Globoplay. Dados da Kantar Ibope Media, que tem feito a aferição da audiência de streaming, apontam que o YouTube já representa 15% da audiência de TV no Brasil. “Não precisa pagar e eu diria que é a nova TV aberta, dada a popularidade do conteúdo, a variedade, só que turbinada pela participação do usuário – em que ele também gera conteúdo e não depende apenas de quatro ou cinco redes de TV mais fortes”, complementa Morgado. Segundo um relatório da consultoria especializada americana Nielsen, a...

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Reindustrialização da França vai precisar de mão de obra estrangeira, adverte governo Macron

10/4/2023
No momento em que a União Europeia acerta os ponteiros para reformar a política migratória no bloco, o governo francês também prepara uma nova lei de imigração, que poderá responder à demanda de setores da economia que sofrem com a falta de mão de obra no país. Ministros do presidente Emmanuel Macron têm reiterado que a reindustrialização da França, um objetivo da presidência, vai precisar passar por uma maior regularização de trabalhadores estrangeiros – pelo menos nas áreas sob forte tensão. Em setembro, o ministro da Indústria, Roland Lescure, evocou que só na sua pasta, o país vai precisar de 1,3 milhão de pessoas nos próximos 10 anos e a França será obrigada a fazer uma “seleção econômica” da imigração que recebe, conforme as necessidades no mercado de trabalho. “Um monde de indústrias só funcionam graças à mão de obra estrangeira”, frisou. Depois, foi a vez da ministra da Solidariedade e da Família, Aurore Bergé, afirmar que a aprovação do projeto de lei é uma questão de “pragmatismo, de realismo e de maior eficiência” da economia francesa. “Estamos falando de empregos na metalurgia, por exemplo, justamente uma área que sofreu com a desindustrialização, mas que continua a ter que empregar e tem muita dificuldade para recrutar”, aponta o chefe da Divisão das Migrações Internacionais da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), Jean-Christophe Dumont, à RFI. “Os trabalhadores locais veem esses empregos como tendo pouco futuro. Nesses setores, encontramos, proporcionalmente, um número alto de operários imigrantes.” Setores com vagas abertas Desde a retomada após o choque da Covid-19, áreas como hotelaria, turismo, transportes, construção, segurança e agricultura estão igualmente sob tensão. Vagas mais qualificadas, como às ligadas à saúde e à tecnologia, também penam a ser preenchidas. Dumont observa que uma das principais barreiras para a abertura dos postos para os estrangeiros é o temor da burocracia, a começar pelo desconhecimento da legislação trabalhista para os imigrantes e as equivalências educacionais entre os países. As empresas temem, ainda, serem responsabilizadas por eventuais ilegalidades no processo de contratação de um trabalhador estrangeiro. “Quando eles têm a escolha, obviamente eles vão dar preferência aos franceses. Mas quando há situações de penúria, eles percebem que há recursos humanos com alto valor agregado a quem eles podem recorrer”, salienta o especialista da OCDE. “Só que está cheio de profissionais cujos diplomas ainda não são reconhecidos, em especial para profissões muito regulamentadas na França. O país está mal colocado para facilitar a equivalência de diplomas ou propor uma formação complementar, quando a equivalência não é perfeita”, constata. Segundo a associação Each One, especializada na inclusão profissional de refugiados e imigrantes, 62% das pequenas e médias empresas francesas estão com dificuldades para empregar, mas só um terço demonstra abertura para os estrangeiros. “A questão é conseguirmos levantar o freio, os estereótipos, e acompanhar as empresas para que elas passem a ver pessoas que poderão recrutar não como imigrantes, mas como talentos que elas precisarão observar em alguns aspectos específicos, como talvez a língua. Precisamos reforçar a visão de que isso é, acima de tudo, um investimento positivo para a empresa – e essa convicção deve ser espalhada por cada andar da empresa”, explica Théo Scubla, fundador da Each One. Curso na França Para facilitar esse caminho, o primeiro passo para o imigrante deve ser se qualificar nos moldes franceses, sugere Scubla. “Primeiro, no que chamamos de savoir être, para eles adquirirem os códigos da vida na França e reforçarem o conhecimento do idioma. Depois, direcionamos para as profissões desejadas, que podem ser pouco ou muito qualificadas, conforme a necessidade das empresas”, sinaliza. “Para cada curso, já estamos em contato com uma empresa que está potencialmente interessada, o que nos...

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Ameaça de ‘contágio’ da greve nas montadoras americanas preocupa fabricantes na França

9/20/2023
As montadoras europeias acompanham de perto o desenrolar da maior greve em décadas no setor automobilístico americano. Iniciado na sexta-feira (15) nos Estados Unidos, o movimento por reajustes salariais e melhoria dos benefícios promete ser duradouro e encontra eco em reivindicações de trabalhadores do setor na Europa, igualmente atingida por um contexto inflacionário que achatou o poder de compra. O pleno emprego nos Estados Unidos favorece os trabalhadores na queda de braço com as Big Three – as fabricantes Ford, General Motors e Stellantis. “O mercado de trabalho americano ainda está sob tensão e, histórica e economicamente, esses são os melhores momentos para negociar aumentos de salários. "Os sindicatos têm nas mãos a capacidade de pressionar o sistema agora”, aponta Jeremy Guez, professor associado de Economia e Negócios Internacionais da renomada escola de administração HEC Paris, em entrevista à RFI. As Big Three empregam 12,7 mil pessoas no país e são responsáveis por 3% do PIB americano, segundo a associação AAPC (American Automotive Policy Council). Assim, em 10 dias, a greve tem o potencial de causar um prejuízo de US$ 5 bilhões à economia dos Estados Unidos. Donna Kesselman, especialista em sindicalismo nos Estados Unidos e professora da Universidade Paris-Est Créteil, aposta que o movimento vai durar bem mais do que isso. “As montadoras têm um estoque de, em média, 37 dias. Ou seja, uma greve de menos de 37 dias não teria muito impacto. Então quando os trabalhadores americanos decidem entrar em greve, eles precisam estar determinados a aguentar firme”, diz. “A GM e a Ford têm estoques de 50 a 60 dias, e a antiga Chrysler tem estoque de 70 dias. Se eles começaram, foi para durar, e foi por isso que eles visaram certas fábricas estratégicas, em que eles conseguem bloquear a produção.” Enquanto os empregados de outros setores industriais, como da aviação ou maquinário agrícola, já obtiveram aumentos para compensar a alta da inflação anual de mais de 3% acumulados, os do automotivo não tiveram sucesso nas negociações salariais que duraram dois meses. O último reajuste foi há quatro anos, de 6%, alega Shaw Fain, presidente do poderoso UAW (sigla para United Auto Workers, o maior sindicato da categoria). Os lucros líquidos de US$ 20,25 bilhões das três maiores indústrias de automóveis do país, apenas no primeiro semestre do ano, foram a gota d’água para o início do movimento. “Concretamente, um prejuízo de US$ 5 bilhões pode causar muitos danos à economia americana”, ressalta Guez. “Essa greve simbolicamente representa a rixa entre os trabalhadores e os executivos, entre os mais privilegiados nos Estados Unidos e os que ficaram para trás, entre aqueles que se deram bem nas últimas décadas de crescimento econômico e aqueles que afirmam que, apesar do crescimento, não conseguiram se beneficiar.” Eco na Europa No exterior, a questão é saber se o que acontece nas fábricas dos Estados Unidos poderá se reverberar para outros países nos quais a conjuntura econômica é semelhante. A Stellantis, fruto da fusão entre a americana Chrysler e a francesa PSA, da Peugeot-Citröen, é a mais diretamente impactada pela possibilidade de ‘contágio’ da greve nas plantas instaladas na Europa. Os principais sindicatos de trabalhadores franceses já haviam marcado a retomada das mobilizações sociais, no dia 13 de outubro, com foco na perda do poder aquisitivo. Outro aspecto que aproxima os dois contextos é a insegurança dos trabalhadores diante da transição para os veículos elétricos. Nos Estados Unidos ou na Europa, os sindicatos temem que a saída dos combustíveis fósseis enxugue os salários e as vagas. O economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, no Brasil, nota que os processos de "destruição criativa" nos meios produtivos costumam ser acompanhados por tensões sociais. "Não necessariamente as pessoas que perdem o emprego nesse processo vão obter emprego em outro. Existem diferenças...

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