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Saúde em dia

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Entrevistas e reportagens com especialistas sobre as novas pesquisas e descobertas na área da saúde, controle de epidemias e políticas sanitárias.

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Paris, France

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Entrevistas e reportagens com especialistas sobre as novas pesquisas e descobertas na área da saúde, controle de epidemias e políticas sanitárias.

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Galician

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116, Avenue du Président Kennedy Paris, France 1 5640 1212 / 2907


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Mosquito da dengue prolifera na França e poderá provocar epidemias nas próximas décadas

4/30/2024
Vários países enfrentam atualmente uma epidemia de dengue e este é o caso do Brasil, da Guiana Francesa e do Burkina Faso. De acordo com estimativas da OMS, em 2023 a doença pode ter contaminado entre 50 e 100 milhões de pessoas no mundo. A dengue pode ser transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti, o mais comum no Brasil e na Guaiana, por exemplo, e pelo Aedes albopicus, conhecido como mosquito Tigre, presente na América do Norte e na Europa, incluindo a França. O país já registra casos autóctones, ou seja, que não foram importados. “O mosquito Tigre chegou na Europa em 1990 e em 2004 na França. Vinte anos depois, ele está presente em todas as regiões do país e não vai desaparecer. Sua própria biologia o obriga a se manter no território para sobreviver”, explicou Anna-Bella Failloux, diretora responsável da Unidade arbovírus e insetos vetores do Insituto Pasteur em Paris, ao programa Priorité Santé, da RFI. Segundo ela, o Aedes aegypti e o albopicus são espécies invasivas. “Os ovos do mosquito Tigre são capazes de suportar as secas e as baixas temperaturas no inverno. Ele espera as boas condições climáticas para que os ovos eclodam e se transformem em larvas adultas, que são responsáveis pela transmissão de certos vírus.” A Europa então poderá enfrentar epidemias da dengue nas próximas décadas, como o Brasil? Para a especialista do Instituto Pasteur, o mosquito Tigre continuará colonizando o continente, o que favorecerá a circulação do vírus e gerará cada vez mais casos autóctones, ou seja, contaminações que ocorrem quando duas pessoas adoeceram dentro do próprio território. Segundo Anna-Bella Failloux, outro problema é que a população europeia está menos preparada para lutar contra o mosquito da dengue e ignora certos reflexos já adquiridos em outros países, como não deixar água parada dentro de um recipiente, por exemplo. Mudanças climáticas e atividade humana Como e por que os vetores estão se espalhando tão rapidamente por todo o planeta? O aquecimento global, mas também a atividade humana, explicam em parte a situação, diz a cientista do Instituto Pasteur. “As atividades humanas são a primeira causa da proliferação dos mosquitos e dos vírus transmitidos por esses mosquitos. Esses insetos vivem onde há pessoas. Então, a partir do momento em que moramos no térreo, nas cidades, e mantemos locais propícios para que esses mosquitos reproduzam e piquem os humanos, criamos um coquetel explosivo que vai gerar surgimento de casos urbanos”, diz. O crescimento demográfico, ressalta, cria também um ambiente favorável à doença. A metade da população mundial, observa Anna-Bella Failloux, vive nas cidades e muitas vezes está exposta à precariedade. Os problemas de estocagem, evacuação e abastecimento de água potável também são fatores que facilitam a reprodução do mosquito. Há ainda o aquecimento global, que altera a mobilidade do inseto, fazendo com que ele colonize cada vez mais regiões do hemisfério norte. Quatro tipos de vírus Existem quatro tipos de vírus da dengue, que utilizam os mosquitos como vetores. “Eles se comportam de maneira diferente em relação ao inseto, que não vai transmitir com a mesma eficácia os quatro patógenos. Isso faz que algumas combinações, dependendo do tipo do vírus e do mosquito, sejam mais eficazes”, explica Anna-Bella Failloux. Algumas infecções evoluem para formas mais graves, como a hemorrágica, e podem gerar complicações. Os sinais de alerta são edemas em todo o corpo e sangramentos. Mas, apesar desses riscos, essas situações são relativamente raras e a mortalidade relacionada à doença é baixa, representando menos de 5% dos casos. O infectologista francês Paul Le Turnier atua no Centro Hospitalar de Caiena Andrée Rosemon, na Guiana Francesa. Ele lembra que a vacina Qdenga, já usada no Brasil, deve em breve estar disponível também na Guiana, o que será uma maneira eficaz de lutar contra a epidemia. Além da vacinação, a única maneira de lutar contra o mosquito é mecânica, frisa Le...

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Cientistas franceses criam lentes espirais que melhoram nitidez na correção de distúrbios visuais

4/16/2024
Quem precisa de óculos para corrigir miopia, astigmatismo, hipermetropia e presbiopia conhece os limites e a dificuldade no uso das lentes de contato. Já os óculos multifocais, apesar de confortáveis, exigem adaptação e a correção nem sempre é perfeita. Mas, um novo tipo de lente de contato poderá resolver esse problema. Ela foi inventada pelo optometrista francês Laurent Galinier, com a colaboração do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS). Taíssa Stivanin, da RFI No início, a ideia de Galinier era ajudar os pacientes que sofrem de uma doença genética chamada Queratocone, que altera a forma da córnea, a enxergar melhor. O especialista francês então inventou uma lente espiral: os feixes de luz giram dentro da lente e criam um vórtice ótico, o que proporciona um foco preciso, independentemente da distância e da claridade. Para aperfeiçoar sua invenção, em 2018 Galinier procurou dois cientistas do CNRS para esclarecer dúvidas em Óptica, a área da Física que estuda os fenômenos associados à luz. Para chegar ao resultado final, a equipe realizou um trabalho de modelização matemática para observar como a luz se propagava, explica Bertrand Simon, que atua no laboratório de Fotônica, Digitalização e Nanociências do CNRS. Esse estudo prévio foi publicado neste ano na revista científica internacional Optica. O protótipo digital das lentes foi produzido por uma empresa especializada, que se associou ao inventor na produção. “Para quem tem presbiopia, e esse é meu caso, usamos lentes multifocais. Dependendo da parte da lente, e da direção do olhar, a correção não será a mesma. Os óculos funcionam, mas há pequenos problemas relacionados à deformação da imagem capturada pela visão”, detalha Bertrand Simon. Durante dois anos, Laurent Galinier e os pesquisadores aprimoraram as lentes espirais. Testadas em 2020, elas criam pontos focais diferentes no campo de visão. Lente multifocais geram deformações O cientista francês explica que a maneira como as lentes multifocais são construídas hoje gera deformações. “Nosso problema é que o olho tem um diafragma, a pupila, que vai abrir e fechar em função da luminosidade. E quando ela abre, ou fecha principalmente, vamos perder a correção do lado externo da lente de contato”, explica. Isso pode ser observado quando a pessoa que usa óculos multifocais olha para o lado ou para cima, por exemplo. O resultado é o surgimento de distorções que podem gerar problemas para dirigir, entre outras dificuldades. “A vantagem da lente que estamos propondo é que criamos uma nova maneira de obter o foco. Isso fará com que todas as zonas de correção, inclusive a externa, sejam capturadas pela lente, independentemente da abertura da pupila. Essa é a grande vantagem. As lentes espirais também podem ser usadas para implantes intraoculares, como é o caso de pacientes que foram operados de catarata e têm um implante no lugar do cristalino”, diz. A invenção já foi patenteada e a previsão é que chegue ao mercado em maio, mas ainda não há detalhes sobre a comercialização. Por hora, os cientistas franceses continuam trabalhando com Laurent Galinier para entender melhor alguns aspectos observados durante os testes com pacientes, explica Bertrand Simon. Um dos efeitos, por exemplo, é a hiperacuidade, ou seja, uma visão superpotente. A correção obtida com as lentes espirais melhora a vista em um nível bem mais elevado do que o proporcionado pelas lentes e óculos comuns. “Gostaríamos de entender isso e temos pistas sobre os elementos físicos que estariam na origem dessa hiperacuidade, mas isso requer bastante trabalho para caracterizar e medir. Está relacionado à Física do vórtice”, explica o cientista francês, que testou o produto. Segundo ele, pelo menos 10 pacientes já testaram o acessório durante o estudo, mas vários voluntários já procuraram a equipe para testar as lentes. O uso do vórtice ótico, lembra, abre várias possibilidades, que incluem o aperfeiçoamento das técnicas de cirurgia...

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“Covid-19 não é uma doença sazonal e continua grave”, diz epidemiologista do Instituto Pasteur

4/9/2024
Quatro anos depois do início de uma das piores epidemias da história da humanidade, pesquisadores em todo o mundo continuam analisando a evolução das variantes e outros dados obtidos durante o surto de Covid-19. O objetivo é prevenir e preparar a comunidade internacional no caso do surgimento de uma nova pandemia. Desde o aparecimento do vírus SARS-CoV-2 em dezembro de 2019 até janeiro de 2024, a estimativa é que mais de 360 milhões de pessoas tenham contraído a doença, provocando, oficialmente, cerca de 7 milhões de mortes, segundo a OMS. Mas, na realidade, dados mostram que a Covid-19 matou cerca de 25 milhões de pessoas, isso sem contar os efeitos indiretos da epidemia. Entre eles, o aumento do número de casos de depressão, por exemplo, ou o impacto econômico gerado pelas medidas de lockdown e distanciamento social, no auge da crise. Além disso, a probabilidade da emergência de um novo vírus dessa gravidade aumenta com as mudanças no meio ambiente, provocadas pelo aquecimento global. Neste contexto, a coordenação internacional e científica é essencial, ressalta Arnaud Fontanet, chefe da unidade de epidemiologia das doenças emergentes do Instituto Pasteur. “Progredimos muito e em muitos aspectos. O planeta conheceu uma crise que não ocorria há muito tempo. Os pesquisadores se mobilizaram em todo o mundo e o avanço mais extraordinário foi a descoberta da vacina a base de RNA mensageiro, uma pesquisa que já existia, mas nunca tinha ido para a frente”, disse o cientista em entrevista ao programa Priorité Santé, da RFI. O especialista lembra também que o aparecimento de antivirais como o Paxlovid, que reduz a gravidade dos sintomas e o risco de complicações, representou outro avanço. O medicamento é recomendado para pessoas com mais de 65 anos e outras patologias. “É preciso consultar rapidamente, porque ele deve ser prescrito cinco dias após o início dos sintomas. Nesse caso, o risco de complicação diminui em cerca de 80%”, ressalta. Ele lembra que a Covid-19 não é uma doença benigna, e que, graças às vacinas e aos tratamentos, milhões de vidas foram salvas. Rapidez na propagação O que diferencia a Covid-19 de outras epidemias no passado? A rapidez da propagação do SARS-CoV-2 foi sem dúvida um aspecto inédito, lembra Clotilde Biard, especialista em ecologia evolutiva da universidade Sorbonne e pesquisadora do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica da França). Outros vírus, lembra, se espalham atualmente em silêncio, com potencial epidêmico similar ao do SARS-CoV-2. “Há novos vírus e doenças transmissíveis que estão surgindo, relacionadas à atividade humana e ao impacto dessa atividade nos ecossistemas”, diz. Os vírus respiratórios, ressalta, são mais monitorados pelos cientistas porque se propagam mais rapidamente e têm mais potencial epidêmico para “parar o mundo”, como foi o caso do SARS-CoV-2. Risco hipotético Para o especialista do Instituto Pasteur, após a Covid a comunidade científica compreendeu as graves consequências que uma pandemia poderia trazer para o planeta em pleno século 21. Esse risco era, até então, hipotético, observa. “Para mim, antes da epidemia, esse era um exercício acadêmico: saber como lidar com o perfil hipotético de um vírus “vilão”, que provavelmente nunca veria na minha vida”, diz. Mas, esse cenário se tornou real e obrigou a comunidade científica a se organizar melhor, ressalta o pesquisador do Instituto Pasteur. Ele lembra que os cientistas, as autoridades e os profissionais da saúde nos hospitais tiveram que enfrentar uma crise inédita. Dinamarca teve a melhor gestão Quatro anos depois, Arnaud Fontanet afirma que o país europeu que melhor gerenciou a epidemia foi a Dinamarca. O governo "fechou" todo o país antes que os hospitais ficassem lotados. Os dinamarqueses também fizeram uma campanha massiva de vacinação e só relaxaram as medidas de distanciamento com a chegada da variante ômicron, em 2021. Neste momento, a população já estava mais imunizada e preparada para lidar...

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Cientista explica como doping genético é possível; atletas poderão ser testados nos Jogos de Paris

4/2/2024
A poucos meses dos Jogos Olímpicos de Paris, o doping genético se tornou uma preocupação concreta dos organizadores, apesar de, até hoje, nenhum caso ter sido oficialmente detectado. A RFI Brasil esteve no laboratório do pesquisador francês Bruno Pitard, em Nantes, no oeste da França, que explicou como as técnicas de manipulação genética tornam essa prática possível. Taíssa Stivanin, da RFI Em abril do ano passado, o Parlamento da França adotou um projeto de lei que autoriza o Laboratório Francês de Antidoping, na região parisiense, a recolher amostras de sangue e realizar testes genéticos mais sofisticados, que poderiam detectar mutações naturais ou outras manipulações genéticas em atletas. Elas incluem as técnicas do uso RNA mensageiro, um tipo de ácido nucleico que sintetiza proteínas e leva a informação para o citoplasma – uma região da célula localizada entre o núcleo e a membrana plasmática. O RNA mensageiro funciona como um manual de instruções que vai ensinar à célula como as sequências de proteínas devem se organizar para exercer uma determinada função orgânica. O termo se tornou conhecido do público durante a epidemia de Covid-19 e o advento das vacinas da Pfizer ou da Moderna, que usam esse modelo para gerar a resposta imunitária em seus imunizantes. Mas, neste contexto, como o doping genético é possível? O engenheiro e biologista francês Bruno Pitard, diretor do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França), estuda vetores sintéticos para terapias gênicas e as técnicas de RNA mensageiro há mais de 30 anos. Segundo ele, os avanços dessa tecnologia durante a epidemia, que acelerou pesquisas em todo o mundo, tornaram possível a produção natural do EPO, ou eritropoetina. O EPO é um hormônio formado na medula óssea e produzido principalmente nos rins, em resposta à detecção de baixos níveis de oxigênio no sangue. Como ele oxigena os tecidos, poderia, desta forma, também melhorar o desempenho dos atletas. A molécula isolada de EPO sintética é comercializada há anos e usada principalmente para tratar pacientes com insuficiência renal e anemia, aumentando a taxa de glóbulos vermelhos no sangue. Segundo o especialista francês, a diferença é que, agora, há maneiras de ensinar ao próprio corpo como produzir naturalmente essa substância, graças às novas técnicas de RNA mensageiro, sem necessidade de tomar um medicamento. Mas, esse uso ainda é teórico, já que nunca foram feitos testes clínicos validados em humanos, lembra o cientista francês. Ainda não se sabe também quais seriam os efeitos colaterais no organismo de um atleta que tivesse acesso às ferramentas em laboratório para produzir o EPO utilizando a terapia gênica ou outras técnicas. Experiência em laboratório Há 15 anos, Bruno Pitard conseguiu fazer com que camundongos passassem a produzir naturalmente o hormônio em seu laboratório na Universidade de Nantes, injetando diretamente o gene do EPO no músculo dos animais. Na época, ele recebeu e-mails do mundo todo interessados na pesquisa, inclusive de uma equipe de ciclistas, “interessados”, na experiência. “Pegamos a sequência de aminoácidos do EPO, fabricamos o RNA correspondente e administramos em animais, injetando-o no tecido muscular”, explica. “Ele começou então a produzir o hormônio, que foi secretado pela fibra e entrou em seguida na corrente sanguínea, chegando à medula óssea e atuando no aumento da produção de glóbulos vermelhos", acrescenta. Acesso difícil Concretamente, como as experiências são restritas aos laboratórios, seria difícil para os atletas ter acesso a essa tecnologia. Uma possibilidade, diz o cientista francês, seria tentar utilizar a mesma plataforma de RNA mensageiro produzida para fabricar as vacinas da Covid-19 para produzir EPO. Mas, neste caso, os atletas colocariam a própria saúde em risco. Um deles seria o desenvolvimento de uma anemia autoimune, por exemplo, já que as vacinas à base de RNA mensageiro foram produzidas para gerar uma reação do sistema...

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Leucemia pode ser silenciosa; saiba quando suspeitar da doença

3/12/2024
Neste ano, cerca de 11 mil novos casos de leucemia serão registrados no Brasil. Pesquisas mostram que o número de doentes cresceu entre 2007 e 2016. Um dos motivos, apontam os especialistas, é a dificuldade em realizar diagnósticos precoces. Taíssa Stivanin, da RFI O cardiologista Eurico Correia, de 67 anos, levou um susto quando descobriu que tinha uma forma de leucemia crônica, em 2011. Sem sintomas, ele só procurou um médico porque percebeu que havia uma pequena alteração em seu hemograma. Ele repetiu o exame, mas só houve consenso sobre o diagnóstico meses depois. “Fiz exames hematológicos, cardiovasculares e um PET-CT, que é uma tomografia do corpo todo para determinar o grau de disseminação de uma doença ou infecção. Demorei entre um mês e meio e dois para concluir todos esses exames e é óbvio que fiquei emocionalmente desgastado. Mas continuei trabalhando normalmente. Afinal, não sentia nada”, contou o médico à RFI. Após todos os exames, o cardiologista descobriu que tinha leucemia linfocítica crônica. Ele conta que foi difícil aceitar o diagnóstico, mas isso nunca o impediu de levar uma vida normal. Após vários anos de convivência "pacífica" com a doença, Eurico Correia teve sintomas como anemia e aumento do baço, controlados com quimioterapia e tratamento oral. Doença silenciosa Como aparece a leucemia? Tudo começa dentro da medula óssea, o tecido que fica dentro do osso. Ali nascem as células do sangue, originárias das células-tronco, que vão se dividindo e se especializando em glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas. Quando a leucemia se manifesta, é porque as células imaturas, que ainda não se especializaram, já substituíram as "normais" dentro da medula, do sangue e do sistema linfático. Existem vários tipos de leucemia e a incidência da doença difere de acordo com o tipo e subtipo, explicou o hematologista brasileiro Jayr Schmidt Filho, que atua no hospital A.C. Camargo, em São Paulo. “As leucemias agudas se originam de células imaturas dentro da medula óssea e são doenças mais agressivas. Há, também, as leucemias crônicas, que se originam de elementos de células já amadurecidas da medula óssea no nosso sangue e evoluem de maneira mais lenta”, diz. A classificação também engloba as leucemias mieloides, que se originam de células que produzem globulos brancos, vermelhos e plaquetas, detalha o especialista. Já as leucemias linfoides se originam nos linfócitos – um tipo de glóbulo branco. As combinações ainda incluem outros subtipos e formas da doença menos frequentes, lembra. A leucemia pode atingir crianças, adultos e idosos e cada tipo da doença é mais propício em uma determinada faixa etária. A leucemia mieloide aguda é a que está mais associada à predisposição genética. Tratamento O tratamento depende da forma de leucemia, mas envolve quimioterapia e, às vezes, necessidade de transplante de medula óssea. “A indicação do transplante vai depender da característica e da gravidade da doença, considerando que já se sabe que ela não se resolverá com a quimioterapia e o transplante pode ser necessário. Ele é feito idealmente após a quimioterapia, obtendo a remissão da doença”, explica. O hematologista também lembra que novos remédios revolucionaram o tratamento, como os inibidores de tirosinoquinase. A terapia gênica também é utilizada para tratar algumas formas da doença, como a leucemia linfoblástica aguda. “Temos que prestar atenção aos sintomas de fraqueza e cansaço, e identificar a anemia. Uma anemia não vira uma leucemia, mas é um indicativo de doenças hematológicas, ou de doenças com fatores de risco para leucemia”, conclui.

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Cirurgiã vascular explica por que quem tem varizes deve continuar a fazer exercícios

3/5/2024
Ter varizes não é um impedimento para fazer exercícios, explica a cirurgiã vascular Nathassia Domingues, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Pelo contrário: a atividade física é uma aliada dos pacientes e deve ser praticada com regularidade, explicou em entrevista à RFI. Taíssa Stivanin, da RFI “Existe um mito de que a atividade física pode piorar as varizes e dilatar as veias, mas é o contrário. Quanto mais a gente faz atividade física, mas trabalha a bomba muscular da perna e melhora nossa circulação”, diz Nathassia. As varizes são veias dilatadas que podem prejudicar a circulação e, sem tratamento, causar problemas sérios para a saúde. “O sangue dentro da veia circula do pé para o coração, ou seja, de baixo para cima e contra a força da gravidade. Ela então tem que fazer esse esforço, principalmente quando trabalhamos sentados ou em pé, para o sangue voltar para o pulmão e continuar circulando pelo coração”, detalha. É por essa razão que medidas simples, como colocar as pernas para cima alivia alguns sintomas relacionados à doença. Entre eles está aquela sensação de inchaço e peso que algumas pessoas sentem depois de passar o dia todo sentadas, por exemplo. “A gente até brinca dizendo que o nosso segundo coração do corpo é a panturrilha. Então quanto mais essa musculatura for trabalhada, melhor será para a circulação”. A musculação é indicada em todos os casos, justamente para reforçar os músculos das pernas, diz. “Para quem tem varizes já instaladas em um estado avançado, atividades de impacto podem piorar a situação. Por isso é importante consultar um médico para avaliar qual será o tipo de exercício mais adequado. Mas, de uma foram geral, todas as atividades estão liberadas e não só podem como devem ser feitas por todo mundo, especialmente pessoas com varizes”, lembra. Graus de gravidade Existem seis níveis de gravidade das varizes, que começam com pequenos vasos visíveis na perna e depois podem se transformar em feridas que cicatrizam dificilmente. “Começam com vasinhos e depois as veias vão ficando mais saltadas e visíveis. No terceiro grau, a perna vai inchando. No quarto grau, já há complicações como a dermatite ocre. A pressão na veia e no pé é muito alta e há a dificuldade para o sangue retornar para o coração”, explica a cirurgiã. “São manchas amarronzadas de cicatrização difícil e um indício de comprometimento importante na cicatrização da perna. No quinto grau, o paciente teve a ferida e cicatrizou, e o sexto grau é uma ferida aberta, um estágio que obviamente a gente não quer que chegue”, completa. Existe uma predisposição genética que, associada a fatores ambientais, pode desencadear a doença. Entre eles estão o tabagismo, sedentarismo ou sobrepeso. As mulheres também têm mais propensão por conta das oscilações hormonais que ocorrem na gravidez, explica a médica. Além disso, o uso da pílula também favorecer o aparecimento das varizes e até de trombose. O tratamento é feito com anticoagulantes que vão deixar o sangue mais fluido e visa evitar situações graves, como a embolia pulmonar. “As varizes aumentam o risco de trombose, e a medicação, como dizemos de maneira popular, “afina” o sangue. Com o tempo o organismo vai dissolvendo aquele coágulo. A medicação é para a trombose não agravar e para evitar a embolia pulmonar, que é quando esse coágulo que está dentro da veia desprende, corre na circulação e vai para o pulmão. Dependendo do caso, pode ser fatal, e é a complicação que a gente mais teme da trombose”, conclui.

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Crianças superdotadas também podem ter dificuldades de aprendizado, dizem especialistas

2/20/2024
Quantos mitos você já ouviu sobre as crianças superdotadas? A imagem do bom aluno, que tira 10 em tudo, ou que tem um talento extraordinário em algumas áreas, é apenas um dos muitos clichês que cercam as chamadas pessoas com altas habilidades ou inteligência considerada superior – ou seja, acima de cerca de 98% da população mundial. Na vida real, a situação é bem diferente. Os superdotados que passaram por testes elaborados e validados cientificamente, de fato se destacam pelas suas capacidades cognitivas excepcionais. Uma delas é a memória de trabalho, que permite o armazenamento temporário de informações a curto prazo. Mas essa diferença também pode, em alguns casos, ser acompanhada de outras patologias, como o Distúrbio do Déficit de Atenção, por exemplo, com ou sem hiperatividade, além de outros problemas. Essa combinação "explosiva" pode gerar diversas dificuldades, inclusive na escola. Este é o caso do francês Gelis, 12 anos, que apesar das suas capacidades intelectuais brilhantes, também sofre de dislexia e de um distúrbio neurovisual - um desequilíbrio na capacidade de adaptação à luz pelo cérebro que pode provocar distorções na hora de ler um texto, por exemplo. Ele conta que, aos seis anos, consultou uma psicóloga porque “não conseguia ficar parado na carteira." Diante das queixas dos professores, que reclamavam da falta de concentração de Gelis e do fato que ele “nunca terminava o que começava”, os pais chegaram à conclusão de que era necessária uma avaliação médica. Ele então fez um teste de inteligência e a família do garoto descobriu que Gelis, na verdade, tinha altas habilidades, termo que na França é traduzido literalmente como “alto potencial intelectual”. “É uma inteligência diferente da dos outros e não pensamos da mesma maneira que todo mundo. Não sabia o que isso queria dizer e achava simplesmente que eu é que não era normal”, diz o adolescente. Ele tem consciência da sua facilidade de aprendizado, mas isso nunca foi exatamente uma vantagem na escola, onde os dias pareciam longos demais. “A gente aprende devagar e repete sempre a mesma coisa”, reclama. Na quinta série do Ensino Fundamental, Gelis começou a ter sintomas depressivos e começou a se recusar a ir para a escola. Até mesmo a Matemática, que até então era sua matéria preferida, não despertava mais seu interesse. A fobia escolar levou o menino a abandonar os estudos e ele e sua família agora estão em busca de outras soluções. Cérebro diferente A neurobiologista francesa Béatrice Millêtre é autora do livro “A criança precoce no dia a dia: conselhos para simplificar a vida na escola e no cotidiano”, em tradução livre. Ela lembra que, em geral, a superdotação não está necessariamente associada a outras patologias. Pelo contrário: a maioria dos estudos científicos mostra que os distúrbios mentais são mais comuns na população que tem uma capacidade cognitiva normal. “As pessoas com altas capacidades cognitivas integram aquilo que hoje qualificamos de neurodiversidade. Ou seja, eles utilizam um raciocínio diferente para chegar ao mesmo resultado, utilizando um outro caminho”, explica. Segundo a especialista, uma característica comum a praticamente todos os superdotados é a memória privilegiada. “Sabemos que, em média, uma criança precisa de oito a dez repetições para memorizar um conceito – esse é um exemplo que utilizo com frequência porque ele ilustra bem a situação. Já uma criança superdotada, quando ela ouve, e se a questão interessa, uma ou duas repetições são suficientes”, exemplifica. Essa comparação demonstra como pode ser difícil para uma criança com capacidades cognitivas brilhantes se adequar ao ritmo da escola. Mas, para a neurobiologista, o segredo para facilitar a adaptação está em “usar” a empatia acima da média, que é comum a esse perfil. Explicar, por exemplo, que, para que todos os alunos possam entender o que foi dito, são necessárias muitas repetições sobre um mesmo conteúdo. Esse é um argumento que pode bastar para que...

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Robôs inteligentes chegam ao mercado para ajudar idosos em casa e pacientes nos hospitais

2/13/2024
A era dos chamados robôs de serviço está apenas no início, mas em plena expansão: com o desenvolvimento acelerado da Inteligência Artificial, a estimativa é de que esse mercado atinja cerca de US$ 40 bilhões até 2028. A demanda cresce em vários setores, incluindo o da saúde. Na França e outros países, falta mão de obra nos hospitais e estabelecimentos que atendem idosos. Taíssa Stivanin, da RFI Jason Poiblaud é diretor técnico da AI Robotics, uma empresa francesa situada em Marselha, no sul do país, onde trabalham cerca de 30 pessoas, a maior parte engenheiros especializados em diferentes áreas da Inteligência Artificial. Há cerca de três anos, ela fabrica dois robôs inteligentes: Robby e Stellar. Eles foram criados para assessorar os profissionais da saúde em hospitais e casas de repouso para idosos e também ajudar aqueles que buscam viver por mais tempo sozinhos em casa, com mais autonomia. Robby deve estar disponível no mercado até o final do ano e atualmente está sendo testado em uma clínica particular de Toulouse, no sul da França, onde os profissionais estão sendo treinados para utilizá-lo. “Constatamos a falta de mão de obra no meio hospitalar e decidimos desenvolver um robô chamado Robby, concebido não para substituir as enfermeiras ou outros profissionais, mas para assessorá-los”, explicou Jason Poiblaud à RFI Brasil. O robô é dotado de um sistema de Inteligência Artificial e de navegação autônoma, com o mapa do hospital. Isso faz com que ele seja capaz de se movimentar dentro de um estabelecimento e cumprir sozinho as missões para as quais ele foi programado. Entre elas, a entrega automatica de refeições e de medicamentos, graças a dois compartimentos refrigerados. O robô garante que os remédios sejam administrados no horário correto e monitora as interações medicamentosas, evitando erros médicos. Robby também tem uma interface que permite se conectar ao serviço de gestão do hospital e alerta, por exemplo, se está faltando algum material no quarto. “Também criamos para esse robô um sistema que o torna capaz de se conectar a uma maca, ou uma cama, e transportar os pacientes de um setor para o outro", descreve o executivo francês. "Com esse sistema, ele também pode se conectar diretamente ao elevador. Por exemplo, podemos enviar um pedido diretamente para ele transportar um paciente do quarto 203 para o serviço de radiologia. O robô será capaz de ir até o quarto, se conectar à cama, e transportá-lo”, diz. Robô doméstico Robby tem um “irmão”, chamado Stellar, direcionado para outro público. Trata-se de um robô doméstico que tem funções parecidas, mas está sendo adaptado para ajudar pessoas idosas a viverem mais tempo e com autonomia em casa, evitando ao máximo a internação em clínicas para idosos. Stellar se parece com um humanóide e ajudará, por exemplo, os pacientes a seguirem à risca a receita médica - o que se torna um problema com o declínio das funções cognitivas. Ele também ajudará o idoso a manter o contato com a família. Stellar poderá chegar às prateleiras no início de 2025. Para isso, ele ainda depende de ajustes que envolvem normas de segurança. “E um robô doméstico que poderá medir parâmetros médicos como pressão arterial, batimentos cardíacos, e ajudar uma pessoa se ela caiu, por exemplo. Ele será capaz de ligar para os bombeiros ou para a polícia e se conectar aos sistemas das futuras casas inteligentes, gerenciando as persianas e a entrada de luz no ambiente.” O executivo francês esteve em janeiro deste ano no CES, o maior evento de tecnologia do mundo, e pôde constatar o crescimento do mercado de robôs criados com as novas ferramentas de Inteligência Artificial. Mas, segundo ele, poucos são direcionados para o setor da saúde. “Existem robôs cirurgiões, ou que limpam os hospitais, mas não há um progresso real no desenvolvimento de robôs assistentes”, observa. A empresa francesa busca agora expandir seus negócios nos EUA e na América Central. “Nosso objetivo no CES era posicionar a França...

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Conheça o pesquisador francês que conseguiu rejuvenescer células centenárias

2/6/2024
Por que nós envelhecemos? O que acontece dentro das nossas células com o avanço da idade e como reverter esse processo? Em suas pesquisas, o biólogo francês Jean-Marc Lemaitre, diretor do Instituto de Medicina Regenerativa de Montpellier, no sul da França, já provou que é possível rejuvenescer células e, no futuro, ajudar as pessoas a envelhecer melhor. Taíssa Stivanin, da RFI Em 2011, Jean-Marc Lemaitre conseguiu uma proeza: rejuvenescer células senescentes, ou seja, que deixaram de se replicar, de um homem de mais de cem anos. Elas voltaram a ser embrionárias e conservaram essas características após sofrerem novas divisões. “Imagine quantas portas essa nova descoberta abre? Nossa hipótese, no início, era que, quando nós envelhecemos, nossas células também envelhecem. Quando isso acontece, ou elas sofrem danos quando devem se reconstituir, ou não são mais capazes de se reconstituir”, explica. Muito antes dessa descoberta, Jean-Marc Lemaitre estudou, no início de sua carreira, a chamada replicação do genoma, que nada mais é do que a transmissão do material genético. Ela é fundamental para entender o envelhecimento e suas consequências para o organismo. O pesquisador partiu de uma hipótese surpreendente: será que era possível reverter esse processo? Existem dois tipos de células no corpo: as "envelhecidas", já defeituosas, mas que ainda conseguem se diferenciar, e as senescentes, que perderam essa capacidade e, basicamente, estão à beira da morte. O genoma é organizado nas nossas células durante o desenvolvimento embrionário. Os genes têm “interruptores” que vão agir na maneira como eles serão acionados ao longo da nossa vida. Esses genes, em função de inúmeros fatores, incluindo ambientais, vão se "expressar" e influenciar, ou não, funções de nosso metabolismo. Mas, com o tempo, esse mecanismo deixa de funcionar como deveria, por conta da alteração da fisiologia da célula causada pelo envelhecimento. Assim, com o avanço da idade, a célula não funciona mais da mesma maneira. Em suas pesquisas, a equipe de Jean-Marc Lemaitre buscou, então, reativar esses “interruptores”, essenciais para o funcionamento celular. Estágio embrionário Para provar essa hipótese, o pesquisador francês partiu da descoberta do cientista japonês Shinya Yamanaka, feita em 2007. Ele provou que, ao inserir um “coquetel” de quatro genes no núcleo de uma célula de um adulto, era possível revertê-las em células-tronco. O estudo rendeu o prêmio Nobel de Medicina de 2012 ao pesquisador. A equipe de Jean-Marc Lemaitre foi além e descobriu que as células senescentes, ou seja, que não conseguem mais se dividir, também podiam voltar a ser embrionárias, graças à inclusão de dois outros genes identificados pela equipe. Em 2022, a equipe do cientista francês também conseguiu comprovar, em modelos animais, que era possível aumentar o tempo de vida. “Se destruímos as células senescentes, ganhamos 30% de longevidade em boas condições de saúde, sem doenças ligadas ao envelhecimento. Se reprogramamos novamente as células dos camundongos, acontece a mesma coisa”, explica. “Trabalhamos com essas duas possibilidades e a ideia agora é tentar fazer uma combinação. Devemos tratar esses dois tipos de células ao mesmo tempo se queremos que o tecido rejuvenesça totalmente e frear o envelhecimento”, afirma. Morrer em boa saúde O objetivo é evitar doenças que acometem com frequência os mais velhos, como o diabetes, as patologias cardiovasculares e cânceres. “Não vamos criar seres eternos. Vamos apenas atrasar o envelhecimento o máximo possível, já que todas as vezes que interferimos nesse processo rejuvenescemos também nossos tecidos. Talvez, um dia, a gente possa morrer em boa saúde”. As próximas etapas agora envolvem os testes clínicos com humanos. Sua equipe vai testar a reprogramação celular nas células da pele. A expectativa é ter uma “prova de conceito” dentro de três anos para avaliar a eficácia do tratamento e organizar, em seguida, os testes com voluntários...

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Cientistas franceses criam nova molécula para tratar depressão grave

1/23/2024
A depressão atinge até 5% das pessoas em todo o mundo e se tornou uma epidemia global. Esse número tende a crescer nos próximos 20 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O número de casos explodiu após a pandemia de Covid-19, por conta das restrições sociais, mas também dos efeitos provocados pelo vírus no cérebro. Taíssa Stivanin, da RFI Hoje os antidepressivos que existem no mercado contra a depressão são ineficazes em cerca de 40% dos pacientes. Mas, uma nova alternativa terapêutica traz esperança para casos mais graves e resistentes aos medicamentos atuais. A descoberta que pode revolucionar o tratamento da doença foi feita pela equipe da neurobiologista francesa Jocelyne Caboche, diretora de pesquisa do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Cientifica), do Inserm (Instituto de Pesquisas Médicas da França) e da universidade francesa Sorbonne. Em suas pesquisas, ela estudou uma proteína, a Elk-1, encontrada dentro dos neurônios, que age contra a depressão. Isso possibilitou a criação de uma molécula sintética que combate a doença e será a base de um futuro medicamento. Graças a essa invenção, a pesquisadora francesa recebeu, em novembro de 2023, o prêmio Marcel Dassault de inovação em psiquiatria, um dos mais importantes da área na França. Os resultados ao longo de 14 anos de estudos mostraram que o aumento da Elk-1 no sangue pode contribuir para o aparecimento da depressão. Essa proteína também pode influenciar o gene envolvido no desenvolvimento da doença e, quando ela diminui dentro dos neurônios, tem um efeito antidepressivo. É daí que vem seu potencial terapêutico. “A molécula foi desenhada, inventada e patenteada para agir contra a depressão e seus efeitos a longo prazo nas reorganizações neuronais internas, que ocorrem em regiões muito específicas do cérebro: os circuitos da recompensa e do humor”, explicou Jocelyne Caboche à RFI durante a entrevista em seu laboratório Paris Seine, situado no 5º distrito da capital. O produto hoje integra um dos projetos da startup Melkin Pharmaceuticals, criada pela neurobiologista francesa, que permitirá obter investimentos para viabilizar os testes clínicos e a futura produção de um medicamento contra a doença, que deverá ser administrado com uma injeção. A ideia é que pacientes com depressão grave, resistentes aos antidepressivos disponíveis, possam se beneficiar da nova terapia nos hospitais. A vantagem é que a molécula parece agir imediatamente e não provoca efeitos colaterais, diz Jocelyne Caboche, contrariamente aos medicamentos atuais, que demoram entre quatro e seis semanas para surtir efeito e provocam vários sintomas. “O caminho é longo entre uma descoberta fundamental e a clínica médica. O prêmio Dassault ajudará a alavancar e melhorar nosso produto, o que nos permitirá propor um medicamento. Para isso, é importante fazer novos testes, pré-clinicos e regulamentados, sobre a toxicidade dos componentes. Mas antes, devemos submetê-lo à regulamentação necessária, que nos permitirá fazer os testes em humanos", frisa a cientista francesa. "Estamos trabalhando, para que isso se torne possível nos próximos dez anos. Este é um mercado importante não somente do ponto de vista sanitário, mas também socioeconômico. A Organização Mundial da Saúde já antecipou que, em 2030, a depressão será a primeira causa mundial de invalidez socioeconômica e sanitária", completa. Doença altera funcionamento dos neurônios A depressão, como muitas outras doenças, é resultado de uma expressão genética. Mas o que isso significa? O termo designa o conjunto dos processos bioquímicos que decodificam as informações hereditárias, ou seja, herdadas dos nossos pais, estocadas em um gene. Isso resultará na fabricação de moléculas que terão um papel ativo no funcionamento celular. Quem transporta todas essas informações é o RNA mensageiro. Depois de sintetizadas pelo organismo, elas vão se transformar em sequências de proteínas com funções específicas. A proteína Elk-1, que age dentro...

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O sofrimento de quem tem endometriose, doença que atinge até 10% das mulheres em idade reprodutiva

1/16/2024
As dores intensas provocadas pela endometriose, que às vezes leva anos para ser diagnosticada, transforma a vida de muitas mulheres em um inferno no cotidiano. Taíssa Stivanin, da RFI A endometriose é uma doença crônica caracterizada pelo crescimento anormal do tecido do endométrio, que reveste a cavidade uterina. Durante o período menstrual, ele se transforma e depois descama, o que leva a hemorragias, inflamação e fibrose. Restos desse tecido endometrial podem então ser encontrados nos ovários, na bexiga, no reto e até fora da bacia, além de outras partes do corpo, o que caracteriza a doença. As dores provocadas por esse processo inflamatório são descritas pelas pacientes como insuportáveis, mas muitas acreditam, ou foram levadas a acreditar, que esse mal-estar é normal e está apenas relacionado à menstruação. Este é o caso da jovem francesa Caroline, 31 anos. Ela tem endometriose profunda com infiltração intestinal. Além das dores que sente durante o período menstrual, os sintomas digestivos também atrapalham seu cotidiano. “Esperei 15 anos para ter um diagnóstico. Minha menstruação chegou quando eu tinha 11 anos e aos 26 os sintomas continuaram evoluindo. Pensei: “tem alguma coisa errada” e fiz tudo o que pude para obter um diagnóstico", conta. "Na minha família, infelizmente, todas as mulheres estavam acostumadas a sentir dores quando menstruavam, então minhas dores não surpreendiam ninguém. Minha mãe e minha avó sofriam muito e a resposta a esse sofrimento era dizer que algumas pessoas tinham sorte e outras não. Ouvir isso é de uma extrema violência, mas é assim. Não temos escolha”, diz Caroline, que descreve o diagnóstico como uma "liberação". Felizmente, graças a novas evidências científicas e à tecnologia de imagem, o atraso no diagnóstico é uma situação que vem se tornando menos frequente e os especialistas hoje estão mais preparados para identificar a endometriose, explicou a ginecologista Patrícia Gonçalves, professora da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), em entrevista à RFI. Caso a paciente se queixe de dores pélvicas, os diagnósticos diferenciais permitem afirmar, diz, se ela sofre ou não de endometriose. O exame clínico, que inclui o toque vaginal, e uma boa anamnese, a conversa do paciente com o profissional durante a consulta, também são essenciais. “A endometriose não é uma doença maligna como um câncer, mas também pode ser comparada a uma invasão. Normalmente as mulheres se queixam de sangramento abundante, dor intensa, de profundidade na atividade sexual. Muitas vezes essa dor é incapacitante, principalmente no período menstrual”, explica a ginecologista. Fatores de risco Por que algumas mulheres desenvolvem a endometriose e outras não? Uma das hipóteses é que a propensão é maior se a menstruação chega cedo, antes dos 12 anos. Neste caso, explica a médica, a menopausa pode ocorrer mais tarde e a mulher vai menstruar por mais tempo, o que teoricamente aumenta as chances de ter endometriose. “Sem gravidez, o óvulo será absorvido e isso provocará a descamação do endométrio, que é a camada interna do útero, que se renova o para o próximo mês”, diz. “Se a mulher faz um espessamento muito grande e abundante desse endométrio, ela vai descamar. Uma das teorias é que essa menstruação pode refluir pelas tubas. Desta forma, as células endometriais podem aderir a outros órgãos, como a bexiga, a porção posterior do útero ou o intestino”, acrescenta. Os leucócitos ou glóbulos brancos, que defendem o corpo contra as infecções, vão então fagocitar as células endometriais que estiverem fora do endométrio. “Porém, se por algum motivo essa defesa diminuir, seja por um problema no sistema imunológico, por um processo depressivo, predisposição genética ou outro motivo, o que vai acontecer é que essa célula não será retirada e poderá se acumular, se depositar naquela região e infiltrar, gerando todo o desconforto da evolução da endometriose”, explica Patrícia Gonçalves. Antes da pílula,...

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Hipertensão arterial pode ser silenciosa e ter consequências graves sem tratamento

1/9/2024
A hipertensão arterial, ou pressão alta, atinge cerca de 1 bilhão e 280 milhões de pessoas no mundo. A doença provoca uma pressão excessiva na parede das artérias e o coração do hipertenso precisa fazer um esforço maior para distribuir o sangue no corpo, o que acaba sobrecarregando os órgãos. O diagnóstico é feito quando são detectadas duas medidas acima de 14.9 mmHg (ou 14 por 9). Sem tratamento, a hipertensão pode ter consequências graves e causar derrames, infarto, insuficiência cardíaca e problemas renais. Ela pode ser primária, sem causa definida, ou secundária. Neste caso, normalmente está associada a outra doença pré-existente. Os sintomas são variados e incluem vertigens, dores de cabeça, problemas visuais e até zumbidos no ouvido. Mas, muitas vezes, a doença pode passar despercebida - e aí é que mora o perigo. O diagnóstico precoce previne as complicações. Um relatório divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), no ano passado, mostrou que 76 milhões de mortes poderiam ser evitadas entre 2023 e 2050 se a hipertensão tivesse sido detectada a tempo. De acordo com o clínico geral francês Nicolas Postel-Vinay, que atua no setor de Hipertensão Arterial do Hospital Georges Pompidou, em Paris, a doença atinge principalmente adultos acima dos 50 anos. Jovens que tiveram doenças renais na infância e mulheres que desenvolveram pressão alta na gravidez ou usam anticoncepcionais também devem ficar atentos, mesmo na ausência de sinais específicos. A obesidade, o sedentarismo e o consumo de sal são outros fatores de risco conhecidos. Há, ainda, a predisposição genética – pessoas com mãe ou pai hipertensos têm mais chances de desenvolver a doença. Em 80% dos casos, diz o médico francês, a causa da pressão alta não é identificada, mas o diagnóstico precoce previne as complicações. Os tratamentos são individualizados e podem incluir moléculas diferentes, disse Postel Vinay ao programa Priorité Santé, da RFI. “Os tratamentos contra a hipertensão arterial são muito eficazes. Mas ele deve ser seguido à risca e os medicamentos tomados todos os dias. Esse é um dos principais problemas que temos. Em geral, cerca de metade dos pacientes não toma o remédio como deveria”, lamenta. Pressão desregulada afeta o humor O cardiologista Aimé Bonny, que atua no hospital Le Raincy-Montfermeil, na região parisiense, explicou à RFI que a hipertensão arterial também pode provocar sintomas cognitivos e afetar o humor, principalmente se ela estiver muito acima do normal. “Hoje também já está demonstrado que a hipertensão arterial pode acelerar os problemas cognitivos em alguns pacientes, explica. "Doenças como o Mal de Alzheimer, ou muitas outras, podem se desenvolver mais rápido se estiverem associadas à pressão alta. Se o paciente for jovem e tiver problemas de memória, é necessário eliminar o diagnóstico”, diz. Ter uma vida saudável também é essencial para evitar e tratar o problema. Assim como no caso de outras patologias, é importante manter uma atividade fisica regular, beber pouco e banir o cigarro. Saber medir a pressão arterial também é essencial para um tratamento bem sucedido, explica Nicolas Postel-Vinay. "Depois da confirmação da doença, o paciente deve comprar um monitor de pressão arterial, de preferência usado no braço, como o do médico", diz. "A pressão deve ser medida em repouso, duas vezes por dia, de manhã e à noite. Pela manhã, medimos duas ou três vezes e anotamos o resultado". "De noite fazemos a mesma coisa, com um minuto de intervalo. Repetimos o procedimento de três a sete dias seguidos. Os dados dão uma ideia precisa da situação da pressão arterial. Em seguida, o paciente deve somar todos esses números e obtemos uma média." Em função dos resultados, é preciso consultar um médico rapidamente, alerta. Caso contrário, um novo controle pode ser realizado entre três e seis meses, explica. “Se os resultados são bons, é desnecessário medir a pressão todos os dias”.

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Fim da pandemia e novas armas contra o câncer: veja os assuntos que marcaram a área da saúde em 2023

12/26/2023
O ano de 2023 foi marcado pelo fim da pandemia de Covid-19. O SARS-CoV-2 não desapareceu e ainda provoca picos de contaminações, mas a vida voltou ao normal após três anos de restrições e graças ao desenvolvimento de vacinas que evitam formas graves e mortes pela Covid-19. A tecnologia do RNA mensageiro, usada nos imunizantes da Pfizer e da Moderna, que permitiram o controle da doença, recebeu o prêmio Nobel de Medicina em 2023. A cientista húngara Katalin Karikó, de 68 anos dividiu a recompensa com o pesquisador americano Drew Weissman. Karikó descobriu, em 2005, como impedir o sistema imunológico de desencadear uma reação inflamatória contra o RNA mensageiro fabricado em laboratório. As pesquisas da bioquímica foram a base do desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19, que permitiram o controle epidêmico. Trabalho remoto só traz vantagens? Em 2023, algumas transfomações sociais geradas pelas medidas adotadas durante a circulação mais ativa do vírus, entre 2020 e 2022, foram incorporadas definitivamente ao cotidiano de milhões de pessoas em todo o mundo. Uma delas é o trabalho remoto, que em alguns países tornou-se comum para algumas categorias da população. Trabalhar em casa, entretanto, não traz apenas vantagens. Para muitas mulheres, que sofrem de carga doméstica e mental no dia a dia, ele pode ser uma armadilha, alerta a psicóloga francesa Aline Nativel Id Hammou, autora do livro “Burn Out Parental”. “Em casa, todas as tarefas da vida cotidiana ficam 'gravitando' em torno do computador, enquanto trabalhamos. Podemos, às vezes, nos sobrecarregar. Na hora do almoço, por exemplo, como não estamos na empresa, há a tentação de se ‘obrigar’ a fazer as tarefas domésticas, ou do cotidiano, pelo fato de estar em casa”, alerta. Ao longo de 2023, o trabalho remoto vem sendo mantido em muitas áreas, mas muitas empresas também estão exigindo o retorno dos seus funcionários para o escritório. Uso do Ozempic preocupa autoridades Outro assunto que virou notícia em 2023 é o Ozempic, um medicamento contra o diabetes lançado em 2019, que controla a glicose e ajuda na perda de peso. Por ser eficaz contra o emagrecimento, ele passou a ser usado de maneira deturpada – uma prática que se popularizou e viralizou em vídeos no TikTok. Por conta disso, muitas pessoas têm usado o remédio sem indicação médica, explica Rodrigo Lamounier, endocrinologista professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). “Ele melhora a eficiência da ação da insulina nas pessoas que têm diabetes e é muito eficaz em melhorar o controle da glicose”, diz. Além disso, o remédio tem o efeito de gerar saciedade. “Ele causa um retardamento do esvaziamento gastrointestinal, provocando saciedade. E age também no hipotálamo, no centro da fome, provocando inibição da fome, perda de apetite e diminuindo, assim, a ingesta alimentar”, diz, ressaltando que o remédio deve ser usado em casos específicos. Cresce incidência do câncer do intestino O aumento da incidência do câncer do intestino, o segundo que mais mata em todo o mundo, também foi destaque durante ano de 2023. Se descoberto no início, o câncer colorretal tem 100% de chances de cura, explicou o gastroenterologista francês Michel Ducreux, do instituto francês Gustave Roussy, um dos maiores centros de combate ao câncer no mundo, situado em Villejuif, nos arredores de Paris. “O teste imunológico permite a detecção de 80% dos cânceres e dos tumores benignos, que estão se 'modificando', crescendo e que vão provavelmente se transformar em cânceres. Neste caso, podemos, durante a colonoscopia, retirar os pólipos e evitar o câncer. É uma política que pode trazer resultados, mas se houver adesão”, ressalta. Clones de cânceres podem ajudar pacientes com tumores graves Em busca de soluções contra cânceres e tumores graves, cientistas do mundo todo trabalham nos laboratórios em estudos que buscam, cada vez mais, individualizar os tratamentos. No Instituto Gustave Roussy, um grupo de pesquisadores, liderado...

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Vírus da Covid-19 contamina sistema nervoso central, mostra estudo do Instituto Pasteur

12/12/2023
O vírus SARS-CoV-2, que provoca a Covid-19, continua sendo alvo de descobertas surpreendentes. A última delas envolve sua capacidade de contaminar o sistema nervoso central, mesmo em casos assintomáticos. Esta foi a conclusão de um estudo feito por uma equipe do Instituto Pasteur, no 15º distrito de Paris, publicado em julho na revista Nature Communications. O médico veterinário brasileiro Guilherme Dias de Melo integra o projeto desde 2020, quando teve início a pandemia de Covid-19. Taíssa Stivanin, da RFI Em entrevista à RFI no laboratório do instituto francês, onde atua desde 2014 como pesquisador, Guilherme Dias de Melo contou que o aparecimento do SARS-CoV-2 deu início a uma “revolução” em centros de pesquisa em todo o mundo para compreender melhor a doença e as sequelas causadas pela infecção. “Quando a pandemia foi declarada, o Instituto Pasteur criou uma força-tarefa e todas as equipes interessadas foram mobilizadas para ajudar nas pesquisas para entender como o vírus atuava", diz. "Nosso objetivo era verificar se o SARS-CoV-2 era capaz de infectar os neurônios e provocar algum problema no cérebro”, explicou o cientista brasileiro, que tem o know-how de pesquisas envolvendo o vírus da raiva, uma zoonose que atinge o cérebro. Um dos principais sintomas da primeira cepa da Covid-19, detectada em 2019 em Wuhan, na China, era a anosmia (perda do olfato). Essa característica “inesperada” do vírus foi o ponto de partida do estudo, conta Guilherme. “As pesquisas começaram com a cepa original em 2020 e a produção de modelos celulares e animais. Queríamos entender os sintomas e como o vírus se comportava no sistema nervoso central", explica. "Com o passar do tempo, vimos que o SARS-CoV-2 foi evoluindo e surgiram as variantes alpha, beta, gamma e delta. Ao longo do tempo, nós as integramos aos estudos para ver se causavam os mesmos sintomas com a mesma severidade”, explicou. O estudo publicado há cerca de cinco meses inclui a análise da variante P1 (gamma), que se espalhou no Brasil, da delta e da ômicron BA.1 – a primeira da linhagem que ainda hoje é dominante e já sofreu várias mutações que facilitam o contágio. O objetivo, diz Guilherme, foi entender como o vírus chegava ao cérebro e verificar se as variantes faziam esse “trajeto” até o sistema nervoso central de maneira similar, independentemente dos sintomas ou da gravidade da doença. A pesquisa incluiu testes in vivo, como são chamados os estudos com animais, realizados em função do aparecimento das variantes. Eles aconteceram dentro do próprio Instituto Pasteur, que possui laboratórios de segurança de nível 3 e isoladores adaptados, e levaram cerca de dois anos. A equipe utilizou grupos de oito hamsters para analisar o comportamento do vírus no organismo após a infecção. “Para o SARS-CoV-2, o melhor modelo é o Hamster dourado. Assim como os humanos, eles sofrem da infecção, ficam doentes e se recuperam, e também podem desenvolver uma forma severa ou moderada. Esses animais também perderam o olfato na fase aguda da infecção após a contaminação pela cepa original, identificada em Wuhan.” Os cientistas do Instituto Pasteur também buscaram entender por que só algumas pessoas perdiam o olfato e por que essa perda variava em dependendo da variante envolvida no contágio. Para isso, contaminou os hamsters com o vírus da Covid-19 em laboratório e fizeram uma análise diária, verificando se haviam perdido o olfato. A conclusão é que, nos animais, apenas algumas variantes geravam a anosmia, em formas mais ou menos intensas. Mas, em todos os casos, independentemente da cepa em questão, o vírus chegava aos bulbos olfatórios, uma parte do sistema nervoso central. Essa constatação levou os pesquisadores a dissociarem a neuroinvasão, ou seja, a migração do vírus para o sistema nervoso, da anosmia. “O sistema olfativo é bem complexo e tem duas partes. A mucosa olfativa fica no fundo da cavidade nasal, onde estão nossos neurônios olfativos. Os axônios, o corpo dos neurônios,...

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Infectologista explica por que alguns antibióticos estão cada vez menos eficazes

12/5/2023
A resistência aos antibióticos leva à morte de mais de um milhão de pessoas por ano no mundo, segundo um estudo publicado em 2022 na revista científica The Lancet. Em entrevista à RFI, o infectologista francês Jean-Paul Stahl, do Hospital Universitário de Grenoble, explicou por que alguns desses medicamentos deixaram ao longo do tempo de agir contra as infecções. Taíssa Stivanin, da RFI O surgimento dos antibióticos, que combate as infecções bacterianas, é considerado como um dos maiores progressos da Medicina. A penicilina, descoberta pelo médico inglês Alexander Flemming em 1928 e usada pela primeira vez nos anos 1940, revolucionou a prática na área. Mas, o advento dessas moléculas também revelou o mecanismo de resistência de alguns micróbios que sempre existiu. “Esse mecanismo existe há muito mais tempo do que os antibióticos. Para prová-lo, os cientistas encontraram bactérias fossilizadas e conseguiram cultivá-las em laboratório. Os antibióticos apenas revelaram esse mecanismo, mas não provocaram seu aparecimento”, explica o infectologista francês. Divididos em dois grupos, os antibióticos podem ser bactericidas, ou seja, matam o micróbio, ou bacteriostático, evitando sua reprodução. Ambos têm ações e mecanismos diferentes e também não resistem da mesma maneira às moléculas. Os antibióticos podem ser semissintéticos ou naturais e classificados em β-lactâmicos, tetraciclinas, peptídicos cíclicos, aminoglicosídeos, estreptograminas e macrolídeos. Os de origem sintética são divididos em sulfonamidas, fluoroquinolonas e oxazolidinonas. De acordo com o infectologista francês, quanto mais usamos antibióticos, “mais o mecanismo de resistência é revelado”. Esse, diz, é o “efeito colateral” do progresso gerado pelo aparecimento das moléculas. “Para explicar de maneira bem geral e simplificada, o antibiótico é destruído por uma secreção da bactéria", diz o infectologista francês. "Esta é a primeira possibilidade. A segunda é que as membranas de algumas bactéria impedem a penetração de certos antibióticos", explica. "A terceira possibilidade é a seguinte: para agir, o antibiótico precisa de um ‘alvo’ na célula, que algumas bactérias são capazes de modificar, impedindo a ação da molécula. Ou seja, quanto mais você usa, menor o efeito e o remédio acaba não servindo para nada”, conclui. Algumas bactérias sobrevivem ou continuam se reproduzindo após o uso de um antibiótico porque sofreram mutações ou adquiriram um gene específico que neutraliza a molécula. Esse gene pode ser transmitido para outros micro-organismos similares, mas também para outras espécies. Dose baixa demais Um dos erros mais comuns é o uso de uma dose menor do que a necessária para combater uma infecção, exemplifica Jean-Paul Stahl. “Quando receitamos um antibiótico, contrariamente ao que pensamos, é preciso receitar a maior dose possível. Só assim podemos ter certeza de que vamos matar o maior número possível de bactérias e não gerar resistência”, alerta. Receitar antibióticos para tratar infecções virais é outro erro frequente cometido pelos médicos. Esse tipo de molécula, diz, age sobre todas as bactérias que temos dentro do corpo e acaba perturba o equilíbrio do organismo e do meio ambiente. “Temos bilhões e bilhões de bactérias dentro do nosso corpo. Aliás, temos mais bactérias do que células. Quando utilizamos antibióticos por uma razão qualquer, eles terão um impacto na flora do indivíduo", explica o infectologista francês. "Isso não provocará uma infecção, mas o antibiótico vai se disseminar no organismo e aumentará a população de bactérias resistentes no meio-ambiente, fazendo com que outras pessoas possam se infectar com essas mesmas bactérias resistentes”, diz. Campanha publicitária A França tem lutado contra o uso indiscriminado de antibióticos e a resistência vem diminuindo nos últimos vinte anos. Isso ocorreu em parte graças ao sucesso da campanha publicitária da Seguridade Social, lançada em 2002, “Les antibiotiques, ce pas automatique”...

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A linguagem neutra pode ajudar na luta contra a percepção de gênero? Veja o que diz a Ciência

11/21/2023
A linguagem inclusiva e o uso de palavras neutras podem influenciar o cérebro e mudar a percepção do gênero na comunicação? Um estudo publicado recentemente pela equipe do pesquisador francês Léo Varnet, do CNRS, o Instituto Francês de Pesquisa Científica, mostra que a linguagem neutra, na verdade, não é tão neutra assim. Taíssa Stivanin, da RFI O debate sobre a linguagem inclusiva divide gramáticos e ativistas de gênero no Brasil e está presente há décadas na França. A Academia Francesa tem recusado novas formas de linguagem que evitem o uso sistemático do chamado masculino genérico. Um exemplo é a palavra “homem”, que pode ser usada para designar pessoas do sexo masculino e feminino. Existem diversas formas diferentes de linguagem inclusiva. Algumas se destacam na língua francesa e incluem o uso de palavras neutras nos textos, como "insubstituível", por exemplo. Esses substantivos considerados masculinos e femininos são chamados de epicenos. Outra “estratégia” do idioma francês é incluir as duas formas na mesma frase. Desta forma, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, por exemplo, ficaria assim: “os homens e as mulheres nascem e são livres e iguais em direitos”. A frase original não inclui a palavra "as mulheres". Outra maneira de equilibrar o discurso de gênero no idioma francês é incluir um ponto central nas palavras para marcar a existência da forma feminina, por escrito. Em vez de escrever o músico e a musicista (le musicien et la musicienne em francês), a palavra será escrita com um ponto.(le musicien.ne.s). Mas, oralmente, a pronúncia será idêntica. Masculino genérico é neutro? Recentemente, o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu que o masculino na língua francesa é neutro, reavivando a discussão sobre a linguagem inclusiva no país. Mas, muito além da polêmica social e política, o que a Ciência sabe sobre tudo isso? A Psicolinguística é um campo de estudo que analisa como o cérebro decodifica aquilo que lemos, ouvimos ou falamos, explicou à RFI o pesquisador francês Léo Varnet, do CNRS, o Instituto Francês de Pesquisa Científica. Em seu laboratório na Escola Normal Superior de Paris, no quinto distrito da capital, ele detalhou os resultados do seu estudo mais recente. Suas conclusões, publicadas recentemente na revista Frontiers of Psychology, mostram que a linguagem neutra, na verdade, não é tão neutra assim. A pesquisa foi feita na cidade de Grenoble, ao longo deste ano, e contou com a participação de setenta voluntários. “É importante ressaltar que nosso objetivo não era militante. Fizemos uma pesquisa científica para entender como a linguagem inclusiva é captada pelo cérebro e de que maneira ele privilegia a forma masculina na compreensão de uma frase que utiliza o masculino genérico para designar homens e mulheres", diz Léo Varnet. Experiência em duas etapas A pergunta feita pela equipe de Leo Vernet durante o estudo foi se esse modelo de escrita inclusiva poderia remediar essa percepção favorável ao masculino. Uma das primeiras descobertas aconteceu na primeira etapa da experiência: os participantes demoraram cem milésimos de segundo a mais para concluir que um texto com uma palavra masculina no início se referia, na verdade, a uma mulher. Este foi o caso da frase “o refém não comeu há dias. Ela/Ele perdeu muito peso”, usada na pesquisa. Questionados pelos cientistas, os participantes respondiam mais rápido que o refém era um homem quando a frase começava com o pronome masculino "Ele" em vez do "Ela". “Todo o resultado do estudo envolve essa pequena diferença de cem milésimos de segundo entre o tempo de resposta sobre o gênero do sujeito da ação quando propomos uma segunda frase que começa com o pronome “Ele” em comparação ao “Ela”. Isso indica que o cérebro demora mais para tratar uma frase que começa com o pronome feminino”, explica Léo Varnet. Em termos de sinapses de circuitos neuronais, cem milésimos de segundo é uma eternidade. Isso significa que os participantes...

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Você conhece a SHUa? Doença rara que atinge os rins pode ser fatal sem diagnóstico

11/14/2023
A SHUa (Síndrome Hemolítico Urêmica Atípica) é uma doença tão rara que às vezes os próprios médicos têm dificuldades em diagnosticá-la. No Brasil, o COMDORA (Comitê de Doenças Raras da Sociedade Brasileira de Nefrologia) divulgou o primeiro relatório sobre a doença em 2022, que atinge, em média, entre 2 e 5 pessoas a cada um milhão, em todo o mundo. Taíssa Stivanin, da RFI O relatório, coordenado pela nefrologista Maria Helena Vaisbish, do Hospital das Clínicas de São Paulo, mostra que 56% dos pacientes são jovens mulheres de cerca de 20 anos, que apresentam insuficiência renal. “Trata-se de uma doença ultrarrara. Existe todo um programa de educação continuada para tentar ampliar o conhecimento dessa doença entre os próprios profissionais de saúde”, disse a especialista à RFI. Segundo Maria Helena Vaisbish, muitas vezes as equipes se deparam com pacientes em estado grave, com alterações sanguíneas e renais, sem ter ideia de que os sintomas possam estar relacionados à síndrome. “Para você pensar em uma doença rara, tem que ter ouvido falar dela. Muitas vezes a gente acaba se deparando com casos em que os profissionais não têm ideia do que seja essa patologia”, explica. É essencial, diz a especialista, que os exames sejam feitos antes de qualquer intervenção médica, já que não existe, por enquanto, um teste diagnóstico específico. O exame que detecta os genes alterados e envolvidos no desenvolvimento da patologia mostra que a doença pode estar presente em cerca de 60% dos casos, segundo a nefrologista, e demora cerca de um mês para ficar pronto. Como a patologia é uma emergência médica, não é possível aguardar o resultado dos laudos. “É uma doença que ainda está sendo mapeada no mundo, inclusive em relação às alterações genéticas. Existe muita necessidade de esclarecimento sobre a SHUa e seus diagnósticos diferenciais”, reitera Maria Helena Vaisbish. A síndrome altera o chamado sistema do complemento, que atua nas defesas do organismo. Ela desregula algumas das proteínas codificadas por um grupo de genes, explica a nefrologista. “Nessa doença, existe uma exacerbação da reação natural, que é a defesa do organismo. Ela acaba levando a uma lesão celular na parede do vaso sanguíneo e à formação de trombos dentro das células. O paciente terá então anemia e perda de plaquetas", descreve Maria Helena Vaisbish. "Forma-se uma espécie de coágulo dentro dos vasos sanguíneos, impedindo a oxigenação adequada dos órgãos irrigados por esses vasos, levando a uma deficiência do funcionamento deles. Um dos fatores observados em quase 100% dos casos da SHUa é a lesão renal aguda”, explica a médica brasileira. Neste contexto, a identificação da patologia é essencial para que a função renal seja preservada e também para evitar o recurso crônico à hemodiálise e às vezes até ao transplante renal. Mas a doença não se restringe aos rins. Os pacientes também podem ter sintomas gastrointestinais, cardiovasculares e até cerebrais. A boa notícia é que se for diagnosticado a tempo, o paciente fica protegido das complicações. O tratamento é feito com anticorpos monoclonais específicos. Nos adultos, a SHUa pode se manifestar de várias maneiras e existem diferentes gatilhos, como a existência de outras doenças autoimunes, gravidez ou até cirurgias. Nutricionista milita para divulgar a doença A nutricionista Pamela Notario, 37 anos, de Rondonópolis, descobriu que tinha a doença em 2018. Ela foi diagnosticada durante a faculdade, após desistir da carreira de professora de Direito. “Tive muita sorte. Todo esse meu empenho com a alimentação fez muita diferença no meu diagnóstico, na recuperação e no meu período no hospital.” Antes de descobrir que tinha a SHUa, Pamela pegou uma pneumonia que se tornou crônica. “Os médicos diziam que era coisa da minha cabeça, que eu não sarava porque não queria e tudo isso era emocional”, diz. Até que um dia ela saiu com o marido para comer um lanche e acordou no dia seguinte com muito inchaço. A nutricionista...

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Saiba como identificar os transtornos obsessivos compulsivos

11/1/2023
Os transtornos obsessivos compulsivos (TOC) são distúrbios de ansiedade que podem atingir de 2 a 3% da população. Os pacientes que sofrem da doença têm pensamentos e impulsos incontroláveis, que levam a adotar rituais repetitivos diários, como lavar as mãos sem parar, por exemplo. A psiquiatra francesa Aurélia Schneider, que atua no hospital Bicêtre, na região parisiense, descreveu, em entrevista ao programa Priorité Santé, da RFI, como são os pensamentos obsessivos característicos do transtorno, que, em 65% dos casos, são diagnosticados antes dos 25 anos. “Esses pensamentos invadem o paciente e são, com frequência, sobre desgraças ou tragédias como incêndios, enchentes ou a morte de um ente querido. Uma série de catástrofes que a pessoa teme que aconteçam ou que ela mesma as provoque”, explicou. Os rituais do paciente com TOC podem ser variados e são conduzidos por ideias obsessivas e sem cabimento, explica a psiquiatra francesa. “Por exemplo, se eu passo do lado direito de um poste, posso proteger a vida de alguém que eu amo e que eu não quero que morra”. O transtorno pode se apresentar de formas variadas. Ele se torna mais problemático quando os rituais começam a ser colocados em prática de maneira compulsiva e o paciente acredita que eles o protegem, explica a psiquiatra. Há uma associação que se estabelece entre essas ideias desconexas e a compulsão. Segundo Eric Wynckel, presidente da AFTOC, a Associação Francesa de pessoas que sofrem de problemas obsessivos e compulsivos, os pacientes, em geral, têm dificuldade para identificar o momento em que tudo começou. Ele diz que suas lembranças mais antigas datam da época em que tinha 7 ou 8 anos. “Eu me lembro que, em determinados momentos, eu tinha que encadear uma série de onomatopéias em voz alta e 'mandar embora' os pensamentos negativos, que eu também não conseguia identificar. Foi mais tarde, na adolescência, que percebi que isso não era normal”, conta Eric. Poder dividir as dificuldades com outros membros da associação é fundamental para os pacientes, diz Eric. “Compartilhar nossas experiências e o que vivemos nesses grupos é muito importante. Isso ocorre em uma atmosfera de grande empatia e gentileza. Mesmo que o objeto da angústia não seja idêntico, nós nos entendemos”, diz. Dina, 39 anos, desenvolveu o transtorno após o nascimento de seu filho. Ela não pode evitar o impulso que a leva a lavar, dezenas de vezes por dia, o bico e a mamadeira do bebê. “Uma vez passei das 22h até às 2h limpando a mesma mamadeira e o bico”, conta Dina, que desde então tem medo de que tudo possa contaminar o ambiente em que ela vive. A responsabilidade trazida pela maternidade, diz, aumentou sua ansiedade nata. O transtorno a impede de ter uma vida profissional e social normal, apesar do tratamento e do acompanhamento de um psiquiatra. Família e amigos, conta, muitas vezes não sabem como conviver com o problema. Pacientes estão conscientes do transtorno O que aumenta mais o sofrimento é que os pacientes têm consciência do problema, ressalta a psiquiatra francesa. “Eles estão cientes de sua própria deficiência. Tenho pacientes que às vezes têm oito horas de ritual por dia", explica a especialista. "Eles se levantam de madrugada, fazem seus rituais durante quatro horas, vão trabalhar e depois fazem mais quatro horas de rituais. Esse é apenas um exemplo. Eles têm consciência de que tudo isso é um exagero, ficar lavando, verificando.” Segundo ela, é como se o paciente sempre estivesse em dúvida de ter feito algo errado, por falta de confiança em si mesmo. O tratamento da doença, que é individualizado, pode incluir terapia individual e em grupo, além do uso de medicamentos. “O que funciona mais são os antidepressivos receptores de serotonina, que reduzem consideravelmente a angústia que temos nessas situações. O remédio reduz de maneira significativa essa angústia. Uma terapia também é necessária.” Segundo a psiquiatra, a terapia comportamental ajuda, pouco a pouco, a controlar...

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Como melhorar a vida das pacientes depois do câncer de seio?

10/24/2023
O Outubro Rosa foi criado para conscientizar sobre a importância de prevenir e diagnosticar o câncer de mama. Mas, depois que a doença aparece, como melhorar a qualidade de vida das pacientes durante e após o tratamento? Taíssa Stivanin, da RFI Antecipar soluções e colocá-las em prática é o objetivo da equipe da oncologista portuguesa Inès Vaz-Luis, do Instituto francês Gustave Roussy, uma das maiores referências mundiais no tratamento contra o câncer. A pesquisadora catarinense Maria Alice Franzoi, 34 anos, integra esse projeto há dois anos. “Sempre me interessei por pesquisa, querendo aprender mais e oferecendo estratégias mais inovadoras para os pacientes. Sempre tive essa vontade”. Maria Alice então se candidatou para uma vaga de pesquisa clínica em câncer de mama no Instituto Jules Bordet, em Bruxelas, onde ficou por dois anos. Em seguida, a oncologista brasileira foi convidada para trabalhar no instituto francês, há cerca de três anos. O foco de suas pesquisas é a personalização das trajetórias de pacientes com câncer de mama. “Com o avanço dos tratamentos e o diagnóstico precoce, e o conhecimento sobre a biologia molecular do câncer de mama, as taxas de cura têm aumentado muito”, diz. Mais de 90% das pacientes ainda estarão vivas após dez anos, lembra a pesquisadora. “Ao mesmo tempo, sabemos que esse pós-câncer não é tão fácil quanto parece. Cerca de 50% das pacientes vão sofrer com uma sequela física, com impacto na vida diária, 30% têm stress emocional, como ansiedade ou depressão, e 20% têm dificuldades para voltar ao trabalho, quatro anos depois do tratamento.” Personalização do tratamento Por essa razão, uma das metas da equipe é personalizar os tratamentos. “Trabalhamos neste tópico há mais de sete anos e muitas das informações que temos vêm de um estudo de coorte (observacional), chamado CANTO. É um grande grupo de pacientes recrutados em toda a França. São cerca de 12 mil que são acompanhadas dez anos após o diagnóstico.” Essas pacientes, explica Maria Alice Franzoi, respondem a questionários anuais sobre diversos sintomas, saúde sexual, mental, qualidade de vida e retorno ao trabalho. O estudo, diz, possibilitou quantificar o impacto do câncer de mama e dos tratamentos na vida das mulheres. Os dados também permitiram a criação de algoritmos de predição para que a equipe pudesse entender porque algumas pacientes tinham mais risco de desenvolver alguns sintomas do que outras. Esses algoritmos, diz, permitem estimar esse risco de sequela no momento do diagnóstico. “Expandimos essas análises para todas as pacientes, incluindo as que foram ou não tratadas com quimioterapia.” Os resultados foram apresentados na Asco, o maior congresso de oncologia do mundo, que acontece todos os meses de junho em Chicago. Muitos dos fatores de risco identificados depois do câncer, são modificáveis, diz a oncologista. Entre eles, uma fadiga existente no momento do diagnóstico, o tabagismo, sobrepeso ou a depressão, além de outros. “Se agirmos sobre esses fatores, a trajetória dessa paciente poderá talvez ser diferente”, conclui. O trabalho da equipe busca predizer quais pacientes correm mais risco de ter sequelas e como utilizar os dados para influenciar positivamente trajetória da mulher que terá um câncer de mama. “A ideia é agir nos fatores modificáveis e empoderar a paciente o máximo possível, para que ela entenda o que é possível fazer para melhorar sua qualidade de vida e diminuir o risco de sequelas.” Em 2024, a equipe iniciará a um ensaio clínico, recrutando cerca de 150 mulheres, para testar o efeito das estratégias personalizadas identificadas nos estudos dos fatores de risco e sequelas. “Um mecanismo muito importante, que acreditamos no grupo, é o empoderamento do paciente. Para que ele tenha informações suficientes para iniciar as discussões com a equipe médica e para que faça a auto-gestão de sua saúde. Tem várias coisas que o paciente pode, fazer, ele mesmo sem estar no hospital, para se ajudar”, diz...

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O que você ainda não sabe sobre a menopausa? Professora de Medicina da USP tira dúvidas sobre o tema

10/17/2023
Nesta quarta-feira, dia 18 de outubro, é comemorado o Dia Mundial da Menopausa, que corresponde ao último ciclo menstrual da mulher. Trata-se de um processo natural, mas ainda cercado de dúvidas e tabus. Em geral, ele é acompanhado de muitos sintomas, de intensidade variável. Taíssa Stivanin, da RFI Quando a menopausa chega e a mulher para de menstruar, ocorre também a queda brusca de dois hormônios femininos: o estrogênio e a progesterona. Em média, ela acontece em torno dos 50 anos, mas a idade varia em função do modo de vida ou de outros fatores individuais. A professora do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Isabel Cristina Esposito Sorpreso, criou há três anos o site Menopausando, um projeto que visa aproximar os futuros médicos das pacientes e facilitar a comunicação sobre o tema. “Existem ainda muitos mitos e dúvidas sobre o que é climatério, menopausa, transição para a menopausa ou pós-menopausa e o que é a menopausa propriamente dita”, explica a ginecologista. “As pacientes então mandam perguntas que são transformadas em textos e entrevistas, com profissionais da USP ou de fora. Em seguida, o estudante deve fazer uma transcrição e responder a essa pergunta de uma maneira coloquial, sempre se baseando em evidências científicas. É um aprendizado muito grande." As mudanças da menopausa são psicológicas, sociais e corporais. A fase de transição para esse novo capítulo na vida da mulher, explica, correspondem aos dois últimos períodos reprodutivos. A menopausa é constatada quando a mulher fica mais de 12 meses consecutivos sem menstruar. A partir daí começa a pós-menopausa, o período não-reprodutivo. Os sintomas, ressalta Isabel Cristina Esposito Surpreso, podem começar três ou quatro anos antes do fim das menstruações, que são em geral mais espaçadas, mas há ovulação e risco de gravidez. Nessa fase, o corpo da mulher passa por alterações que predispõem a fogachos, alterações de humor, cansaço, sudorese e insônia. Mas há ainda muitos outros sintomas, que dependem de diferentes fatores, como a prática de uma atividade física, a alimentação e até o índice de massa corporal. “Os sintomas principais são os calores, as sudoreses e os fogachos, os mais comuns, que se iniciam da cintura para cima e acometem o tórax, pescoço e couro cabeludo. Em seguida, pode vir ou não uma sensação de sudorese fria", descreve a ginecologista. "Dependendo da intensidade, a mulher terá outros sintomas vasomotores, como taquicardia, sensação de desmaio, vertigens e até zumbido no ouvido. Eles podem começar três ou quatro anos antes, mas perduram até cinco anos depois da menopausa”, completa. “O mais importante é as mulheres reconhecerem que não são as únicas a sentirem esses sintomas. Elas não estão sozinhas”, diz a ginecologista, que media grupos de orientação. “Por isso, no fim das nossas rodas de conversa, as mulheres estão sempre sorrindo. Chegam incomodadas e acabam dando risada.” Quanto tempo vai durar? Não há regra, mas os sintomas da menopausa duram em média de oito a dez anos. Alguns deles, como as alterações de humor e a insônia, diz a médica, ocorrem porque o processo fisiológico da menopausa é pilotado pelo sistema nervoso central, onde estão os receptores do estrogênio, o hormônio feminino que para de ser produzido com o fim das menstruações. “O sistema nervoso tem que entrar em equilíbrio com a queda progressiva da produção de estrogênio ovariano, provocada por uma insuficiência ovariana fisiológica permanente da mulher”, frisa. Quando chega a última menstruação e com ela a menopausa, os primeiros sintomas reduzem progressivamente, mas surgem outros, também relacionados ao sistema nervoso central. Eles envolvem a pele, as articulações e a produção de fibroblasto, que forma a célula do tecido conjuntivo. O câncer, ou neoplasias, além das doenças cardiovasculares, se tornam também mais comuns depois da menopausa, por influência da idade e pela queda do...

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