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Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.

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Paris, France

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Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.

Language:

Portuguese


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Livro "Dentes de Crocodilo" traz ficção, história e música em trama envolvendo Brasil e França

12/23/2024
“Dentes de Crocodilo”, terceiro livro do escritor e jornalista Maurício Torres Assumpção, é uma obra que entrelaça ficção contemporânea e literatura histórica, conduzindo o leitor por uma narrativa repleta de mistério, tragédia e música. Ambientado entre o Brasil e a França, o romance, publicado pela editora Leya, é inspirado em pesquisas realizadas pelo autor e resgata figuras históricas importantes, como o compositor Heitor Villa-Lobos e a cantora lírica Elsie Houston. Segundo Maurício, o ponto de partida para o livro veio de sua extensa pesquisa sobre a comunidade brasileira em Paris, realizada para sua primeira obra, “A História do Brasil nas Ruas de Paris”, que deu origem ao podcast de mesmo nome publicado pela RFI Brasil. Outra parte da investigação, relacionada aos barões do café, resultou na segunda obra do escritor carioca, o romance Cafeína, lançado em 2020. O material coletado era tão rico que ele decidiu também aproveitar para seu mais recente trabalho. “Quando escrevi Dentes de Crocodilo, ainda aproveitei muito dessa pesquisa, usando agora a vida do Villa-Lobos e da cantora lírica Elsie Houston”, explica o autor. No entanto, desta vez, Maurício optou por criar um romance, inserindo dois personagens contemporâneos que conectam o presente ao passado e dois países, a França e o Brasil. A trama é narrada por Fernando, que retraça uma amizade de mais de 40 anos com Wagner Krause, um professor brasileiro especializado em Villa-Lobos. “Queria criar um personagem para contar a história do outro. Isso também me permitiu explorar a amizade entre dois homens que se conhecem desde a infância e se reencontram em Paris na maturidade”, revela Maurício. Esse reencontro marca o início de uma jornada que mistura pesquisa acadêmica, paixão e tragédia. Wagner Krause é apresentado como um professor de cultura brasileira no King’s College, na Inglaterra, que viaja à Sorbonne para ministrar palestras sobre Villa-Lobos. Durante sua estadia em Paris, ele se apaixona por uma misteriosa mulher, desencadeando os eventos dramáticos do livro. “Essa paixão é o começo da grande tragédia da história”, adianta o autor. Além da ficção, o livro destaca o papel da música brasileira e resgata a trajetória de Villa-Lobos e também de outra figura histórica importante, mas pouco conhecida do grande público, Elsie Houston. “A parte da pesquisa do Villa-Lobos já estava feita e foi incluída no livro A História do Brasil nas Ruas de Paris. Mas também descobri a existência da Elsie, que foi uma cantora lírica muito importante nos anos 1920”, conta Maurício. O autor destaca a relevância de Elsie, não apenas como cantora, mas também como acadêmica. “Ela chegou a dar palestras na Sorbonne e escreveu um livro sobre música brasileira, publicado nos anos 1930. Eu queria redescobrir e revalorizar a Elsie Houston para que as pessoas a descobrissem e se interessem por sua história”, diz. Maurício também aponta que Elsie Houston foi contemporânea, mas acabou “apagada” pelo brilho de Carmen Miranda. As duas dominaram os palcos da época com estilos semelhantes, mas trajetórias muito diferentes. “A Elsie não teve tanto espaço, mas foi muito importante. Ela não tinha só o lado do espetáculo, tinha o lado cultural também”, afirma. Na entrevista, Maurício Torres Assumpção comentou a evolução de sua escrita, que começou com um livro de reportagem até a passagem para a ficção com “Dentes de Crocodilo”. “Meu primeiro livro foi 100% jornalístico. O segundo livro aproveita a pesquisa do primeiro, mas já faz ficção histórica e esse terceiro livro já é uma ficção contemporânea com elementos históricos, jornalísticos. Eu diria que existe um processo gradual de afastamento do jornalismo rumo à ficção total. Esse é o meu objetivo de ser um autor contemporâneo escrevendo só ficção”, conclui

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Se fosse no Brasil, caso de Gisèle Pelicot teria pena mais severa, diz ouvidora Nacional da Mulher

12/19/2024
A justiça francesa condenou à pena máxima, 20 anos de prisão, Dominique Pelicot, o homem que durante mais de 10 anos dopava sua então esposa, Gisèle, para estuprá-la e também a oferecia para outros desconhecidos recrutados pela internet para abusar sexualmente dela. Os outros 50 homens acusados do processo pegaram penas entre 3 e 13 anos, abaixo das penas solicitadas pela Promotoria Pública. Renata Gil, do Conselho Nacional de Justiça e nomeada ouvidora Nacional da Mulher, afirma que, se fosse o Brasil, o caso teria resultado em penas muito mais severas. Entrevista de Patrícia Moribe O drama de Gisèle Pelicot ficou conhecido mundialmente e entrou para a história como um caso emblemático da luta das mulheres contra as agressões sexuais. Mas logo que o veredicto foi anunciado, se multiplicaram os comentários, principalmente de associações de defesa das mulheres, alegando que as penas impostas eram brandas demais diante dos crimes cometidos. “Sinceramente, sinto pena de Gisèle Pelicot, que lutou tanto para que esse julgamento fosse histórico. Na realidade, as sentenças não serão históricas”, lamentou Isabelle Boyer, uma das integrantes do coletivo feminista Les Amazones d'Avignon, que há meses vem colando cartazes contra a violência sexual nos muros da cidade francesa. “A pena máxima foi aplicada, mas ela fica aquém da necessária reparação da barbaridade do crime para a vítima”, concordou Renata Gil. A ouvidora Nacional da Mulher lembra que se trata de um caso de estupro coletivo, repetidamente praticado, o que aumenta a gravidade dos delitos, tanto de Dominique Pelicot, como dos outros 50 acusados. “Eles são pessoas que poderiam ter conhecimento da situação em que a vítima se encontrava”, detalha. Legislação do Brasil mais avançada que na França Segundo ela, se o caso de Gisèle Pelicot tivesse ocorrido no Brasil, as penas seriam certamente mais severas, já que o país “tem uma legislação mais avançada do que a francesa com relação às violências contra a mulher”. Renata Gil lembra que a lei Maria da Penha, que contempla várias circunstâncias específicas ligadas à violência contra a mulher, faz com que o Brasil tenha “a terceira melhor legislação do mundo”. Além disso, ela ressalta que a Justiça brasileira adota um protocolo com perspectiva de gênero que tem um impacto direto nesses casos. “Essa norma – de aplicação obrigatória pelos juízes brasileiros – determina que a palavra da vítima em crimes contra as mulheres tem uma relevância maior. Então, as provas que são cotejadas em casos de crimes comuns, como depoimento testemunhal e gravações, elas não têm tamanha relevância como a palavra da vítima nesses crimes”, exemplifica. Mesmo assim, ela considera o caso francês “emblemático” para que as pessoas saiam do silêncio em situações de agressão, inclusive no Brasil, onde a lei é conta com punições mais severas. “Temos índices alarmantes. O país é o quinto que mais mata mulheres no mundo. Então o fato de Gisèle ter exposto sua intimidade é muito relevante, pois acaba incentivando positivamente as denúncias e as punições”, afirma a ouvidora.

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‘Cientista-artista’ brasileiro lança EP de estreia inspirado pela MPB e por Paris

12/19/2024
O médico Matheus Vieira, natural de Niterói, faz música desde os seis anos de idade, mas era, até há pouco tempo, um diletante. Foi em Paris, onde se estabeleceu há dois anos para cursar um doutorado em Imunologia, que o brasileiro amadureceu a veia artística e criou coragem para se lançar profissionalmente. O resultado é o EP “Moradaramo” que acaba de ser lançado pelo “cientista-artista”. O EP de estreia do cantor, compositor e violonista Matheus Vieira chegou às plataformas digitais em 22 de novembro. “Moradaramo” foi gravado no Brasil, mas foi integralmente composto em Paris. “O desterro da minha casa de Niterói para Paris fez com que as coisas que me atravessam, transbordassem em forma de música, com uma maturidade que eu enfim gostei e quis dar segmento”, conta. O EP, com arranjos e produção do maestro Luiz Potter, tem quatro faixas: “Morada”, “O Corvo e o Assum Preto”, “Casamento de Viúva” e “Nós”. Cada música representa uma estação do ano, espelhando a vivência do artista em Paris. “Viver a marcação das estações foi uma coisa completamente inédita para mim aqui. Eu cheguei no outono e terminei no verão, que já tem sol de novo. Então, eu reencontro esse Sol pessoal”, explica. Cada música também remete a universos distintos da música popular brasileira, como samba ou baião. O compositor diz que a “MPB, que é tão ampla quanto inespecífica”, define o seu estilo musical. Cientista-artista A trajetória de Matheus Vieira se inscreve na história de outros músicos brasileiros que passaram por Paris desde Heitor Villa-Lobos, nos anos 1920, e construíram pontes entre a França e o Brasil. Ao invés de músico-médico, que não rima, ele se define como um “cientista-artista”, em uma referência ao poeta-diplomata Vinícius de Moraes que serviu muito tempo em Paris. “Ele é uma das referências, inclusive, porque mostrou dentro do meio artístico brasileiro que a gente pode ser várias coisas ao mesmo tempo. Não sou diplomata, talvez um pouco poeta, mas para fazer uma coisa que rime mais, (fica) artista-cientista, que eu acho que dá mais caldo”, aposta. Outra referência almejada é a antropofagia de Oswald de Andrade, que também passou anos importantes em Paris. “A música brasileira é antropofágica por definição”, ressalta o compositor. Leia tambémTom Jobim: 30 anos após sua morte, jornalista francesa relembra entrevista icônica com o músico Palíndromo O título do EP, “Moradaramo”, é um palíndromo, isto é, um recurso estilístico que pode literalmente ser lido de trás para frente e vice-versa. O nome apareceu de maneira “acidental”, relembra o músico. “Eu fiz a canção ‘Morada’ e a um determinado momento, quando eu estou no final da música, eu repeti a morada, a morada eu vi que (ouvia) ‘dar amor’. E era exatamente isso que eu queria fazer nessa nova fase, nesse capítulo da minha vida”, descreve Matheus Vieira, que vai continuar desenvolvendo paralelamente as duas carreiras, a de médico e a de músico. Nesta quinta-feira (19), ele faz uma primeira apresentação do EP de estreia na Casa de América Latina de Paris. Clique na imagem principal para assistir à entrevista completa.

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Brasileiro cria spray que economiza água da descarga do “xixi” e conquista prêmios internacionais

12/18/2024
O empreendedor brasileiro Ezequiel Vedana da Rosa, criador do produto inovador “Piipee”, foi um dos 13 vencedores do programa internacional “Líderes do Futuro”, promovido este ano pela Fundação Príncipe Albert II de Mônaco. Em entrevista à RFI, Ezequiel compartilhou sua trajetória e destacou como sua invenção, um spray que substitui a descarga do vaso sanitário, pode economizar milhões de litros de água potável e conscientizar sobre a importância de preservar recursos hídricos. A ideia do “Piipee” surgiu como um insight. Em 2010, o empreendedor brasileiro, hoje com 36 anos, acordou se perguntando “por que gastamos tanta água para eliminar urina no vaso sanitário?”. Ele lembra que cada pessoa gasta em média de 8 a 12 litros por descarga. No Brasil, isso representa cerca de 40 litros por dia e por pessoa. Ezequiel Vedana da Rosa, que não é químico de formação, levou cinco anos e meio de pesquisa e desenvolvimento para transformar essa ideia em produto e lançar sua startup. A comercialização começou em 2015. O “Piipee” funciona como uma alternativa à descarga do “xixi”, responsável por 80% do consumo de água nos vasos sanitários. Segundo Ezequiel, o spray neutraliza os componentes da urina, composta de 95% de água e 5% de sais e minerais, entre eles a ureia. Ele garante que o produto não faz mal à saúde nem ao meio ambiente. “É como trazer uma estação de tratamento para dentro do sanitário da sua casa”, disse, destacando que, além de economizar água, a inovação higieniza, altera a coloração e perfuma. Concretamente, o usuário pulverizaria o vaso a cada ida ao banheiro. Mas, como o nome indica, o spray só substitui a descarga do “xixi”. Sustentabilidade Ezequiel, claro, visa vender seu produto, mas seu foco também é a sustentabilidade, tentando influenciar hábitos para proteger um recurso que é finito e que cujo acesso está cada vez mais difícil. Atualmente, os principais clientes do Piipee são grandes empresas e indústrias, que conseguem reduzir em até 40% os custos mensais com água. O produto também é adotado por particulares que, em alguns casos, reduzem pela metade suas contas. “Não é só economia financeira; é um processo de reeducação sobre nosso impacto no planeta”, diz. Um dos principais desafios para a aceitação do Piipee é cultural. O hábito de acionar a descarga está fortemente associado à higiene e à saúde pública. “Independentemente da cultura, as pessoas não refletem sobre esse ato diário”. Em todo o mundo, ele indica que “7 bilhões de pessoas acionam a descarga todos os dias” sem pensar no desperdício de água que esse ato representa. Ezequiel Vedana ressalta que temos “a falsa sensação” de que só porque acionamos a descarga, limpamos o vaso sanitário. “A gente toma banho, lava nossas roupas, nossas louças, só com água?”, questiona. Crises hídricas Cenários de crise hídrica, como o que está previsto em Barcelona novamente em 2025, “ajudam a quebrar essas barreiras e abrir portas para soluções como a nossa”, afirmou. Diante do racionamento de água inevitável, sem água para fazer comida, para tomar banho, para limpar pelo menos uma vez por semana a casa, a população veria a inovação como uma boa alternativa, defende o empresário. Apesar de o Brasil possuir grande disponibilidade de água, Ezequiel alerta para os riscos das mudanças climáticas. Ele mencionou as secas históricas recentes na Amazônia como um indicativo de que situações semelhantes se repetirão. “A temperatura global está subindo além do esperado, e muitas metas para 2030 não serão alcançadas. Precisamos criar métodos que prolonguem nossa sobrevivência no planeta”, destacou. O reconhecimento internacional não é novidade para o empreendedor. Além do prêmio da Fundação Príncipe Albert II de Mônaco, o Piipee já recebeu mais de 35 premiações, incluindo um selo da ONU como uma das soluções mais inovadoras para combater as mudanças climáticas até 2030. Para ele, esses prêmios são essenciais para legitimar a proposta. “Não é só um maluco do Brasil com...

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"Ele sempre soube que nasceu músico", diz francês autor de romance biográfico sobre Hermeto Pascoal

12/13/2024
Um romance biográfico para contar a história de um dos maiores instrumentistas do Brasil. “Hermeto Campeão, os pensamentos de Pascoal” em tradução livre, foi publicado na França pela editora L’Harmattan. O livro escrito por Pierre Cicsic, um engenheiro francês apaixonado pelo Brasil, explora com riqueza de detalhes a cultura, as tradições e o folclore brasileiros, tendo como pano de fundo a vida de Hermeto Pascoal. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris Da infância em Lagoa da Canoa, no interior de Alagoas, até se tornar um ícone da música brasileira. A trajetória de Hermeto Pascoal na música começa muito cedo, quando ele “se comunicava e compunha com os animais, com a natureza, os sapos, as formigas, as cigarras”. Ele era um garoto especial, que ao mesmo tempo que tinha dificuldades na escola por não conseguir ler, tinha um ouvido afinado. “Ele sempre soube que nasceu músico. Talvez por causa do albinismo, já que ele nasceu no campo, mas não podia acompanhar o pai na roça por causa do sol, ele ficava na sombra, perto da água, perto das árvores, perto dos pássaros, e ele aprendeu a música com isso tudo”, contextualiza o autor. Filho do seu Pascoal, que tocava acordeão nas festas do vilarejo, Hermeto e o irmão, Zé Neto, roubaram o instrumento do pai para aprender sozinhos. Autodidata, primeiro no acordeão, depois no pandeiro e no piano, todos logo perceberiam que o lugar dele era no palco. Os dois irmãos fugiram ainda adolescentes para o Recife, onde arrumaram o primeiro emprego na rádio. “Os músicos com quem ele trabalhava viram que Hermeto era muito mais do que um simples tocador de sanfona. Ele toca forró, ele toca a música popular, foi assim que ele começou. Mas todo mundo viu que ele ia muito mais longe”, completa o autor. No livro, dois personagens, Antoine e Chiara, levam o leitor a descobrir a vida de Hermeto Pascoal, nascido em 1936, e que ainda hoje, aos 88 anos, enche salas de concerto pelo mundo. Mas por que um romance biográfico e não uma biografia? “A escolha do romance veio depois de uma conversa com Cacau (Cláudio Cacau de Queiroz), músico que tocou com o Hermeto e que fez o prefácio do livro, ele me falou que realmente o Hermeto merecia um romance, porque a vida dele é um romance”, avalia. Os detalhes do albinismo e como Hermeto Pascoal sempre enfrentou com determinação o preconceito. O amor de uma vida inteira pela esposa Ilza. A amizade com Sivuca. O cabelo comprido e a barba longa, que Hermeto Pascoal adquiriu nos Estados Unidos, entre os anos 1970-1972, onde tocou com grandes nomes da música americana. Tudo isso está exposto ao longo de mais de 300 páginas. Ficção e realidade Pierre Cicsic afirma que os dois personagens principais são frutos de ficção, ainda que Antoine “seja um pouco autobiográfico”. “Tem coisas da minha vida e coisas que imaginei e que inventei para a vida do Antoine”, completa o autor, que incluiu cenas passadas na França. “Eu quis mostrar a diferença entre dois caminhos: o do Hermeto, que é uma linha reta, pois ele sempre fez o que queria fazer, sem compromisso nenhum, enquanto a trajetória do Antoine é diferente. Ele é um técnico, mas também músico amador, até que as duas trajetórias vão se juntar”, explica. O personagem Antoine embarca em uma viagem pela América do Sul, passando pela Bolívia, Peru e Equador, em busca do que acreditava ser a música original, autêntica. Mas ele não encontra nada disso antes de chegar ao Brasil, país do qual não sabia nada, antes de entrar de ônibus, chegando do Paraguai. Foi exatamente a sensação de Pierre ao visitar o Brasil pela primeira vez, no fim dos anos 1970. “Eu não sabia nada de samba, nada de futebol ou das imagens populares do Brasil no mundo”, diz. “Não me interessava. Eu descobri o Brasil primeiro no Rio de Janeiro, depois na Bahia, no momento em que havia essa explosão da MPB, da música popular brasileira, com todos os músicos Chico, Caetano, Gil, etc. Então, fiquei apaixonado por essa música e o que eu buscava estava no Brasil”,...

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Em livro sobre a Amazônia, geógrafo francês derruba mitos e discute caminhos viáveis

12/11/2024
Grande observador do mundo, de suas movimentações políticas e ambientais, o geógrafo Hervé Théry começou a pesquisar a Amazônia há exatos 50 anos. Em seu novo livro, “Amazone, um monde en partage”, lançado na França, ele traça um panorama da região e discute desafios de sustentabilidade da maior floresta tropical do planeta. Pesquisador emérito do Centro Nacional de Pesquisas Cientificas (CNRS), da França, e professor do Departamento de Geografia da USP, Hervé Théry tem sido uma testemunha das mudanças na Amazônia desde que fez sua primeira viagem de pesquisa ao Brasil, em fevereiro de 1974. Uma tradução literal do livro que Théry está lançando seria “Amazônia, um mundo compartilhado”. Ele explica: “Ela foi inicialmente compartilhada no Tratado de Tordesilhas entre espanhóis e portugueses, isso no início da chegada dos europeus. Mas ao chegarem, os europeus tiveram que compartilhar com quem estava lá, com os autóctones, os indígenas. Depois teve de ser compartilhada entre os países que se tornaram independentes e cada um ficou com um pedaço da Amazônia. ” Ele cita ainda a expressão francesa “recevoir en partage”, que significa “receber de herança”. “Ou seja, trata-se de uma herança que a humanidade recebeu e que deveria ser bem cuidada”, explica. O livro expõe uma visão abrangente e reflexiva sobre a Amazônia, desde aspectos geográficos e históricos, até chegar ao que ele chama de “xis da questão”, que são os desafios de políticas públicas para um planejamento sustentável. Para ele, proteger por proteger não adianta, é preciso dar condições de vida aos habitantes do mundo rural, seja os que vão desmatar ou não, colocando em prática culturas mais eficientes e menos destrutivas, por exemplo. Preservar e desenvolver Nos anos 1990 e 2000, Théry participou Comitê Científico do PPG7, um programa-piloto do G7 para a Amazônia, quando presenciou a tensão entre os que defendiam a preservação, de um lado, e do outro, o desenvolvimento. “Mas a Amazônia é tão imensa. Eu sou geógrafo, sensível às questões espaciais. Tem espaço de sobra para todo mundo. Se for decidido que metade da Amazônia é intocável e que com 50% dá para fazer agronegócio, pequena agricultura, pecuária, tem espaço para isso. Só que as duas partes são extremistas e não queriam. É preciso achar políticas que sejam capazes de preservar e dar, ao mesmo tempo, possibilidades para os habitantes de lá ou para gente que queira ir viver lá”. “Às vezes eu tenho discussões bem fortes com os habitantes de lá. ‘Quem são vocês, europeus, para dizer para não desmatar? Vocês desmataram tudo.’ Eu digo sim, é verdade. Principalmente no século XIII. Só que desde então temos uma agricultura estável. Então, em francês não se fala de sustentável, se fala durável. De uma coisa que dura oito séculos”. O mais importante, ele ressalta, é “dar possibilidade de as pessoas viverem bem e preservar o estado da floresta. Porque dependem disso. ” Pulmão do mundo Théry contesta a expressão de que a Amazônia é o pulmão do mundo. “O pulmão absorve o oxigênio e produz CO2. Exatamente o contrário do que a gente quer”, explica. “Já a floresta faz o mesmo, mas também transforma o CO2 em oxigênio pela fotossíntese. Mas, no momento, o balanço da Amazônia, que absorvia carbono e devolvia oxigênio, está começando a fraquejar por conta do desmatamento”. Ele também refuta outra ideia pré-concebida da “floresta virgem, onde não tem ninguém a não ser poucos índios”. São mais de 20 milhões de habitantes na Amazônia brasileira e mais de 30 milhões na região toda. “Ou seja, é uma região já ocupada”, diz, citando a geógrafa brasileira Bertha Becker, que usava o termo “selva urbanizada”. Centro do continente Para escrever o livro, Théry teve de pesquisar sobre a Amazônia de outros países e isso o levou a constatar a comunicação ativa entre todas as áreas. “A Amazônia, hoje uma região, não é mais o fundo de quintal dos nove países, mas um lugar topograficamente no centro do continente”, diz. “Em termos de...

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"Solução para a Síria só pode ser política e diplomática", diz presidente da Comissão da ONU

12/10/2024
A queda do regime de Bashar al-Assad abriu um novo capítulo na história da Síria e representa um grande desafio para a estabilização do país. A ascensão do grupo rebelde Hayat Tahrir al-Sham (HTS), liderado por Abu Mohamed al-Jolani, trouxe alívio para os opositores do regime, mas também alimenta preocupações sobre o futuro político, social e econômico da Síria. Para o presidente da Comissão Independente de Investigação sobre a Síria da ONU, Paulo Sérgio Pinheiro, nenhum "astrólogo" pode prever o que vai acontecer no país, assim como é difícil acreditar na possibilidade de ver Assad responder pelos crimes cometidos durante seus quase 25 anos no poder. “A primeira constatação é a alegria da população das principais cidades, especialmente em Damasco, de ver os presos libertados. As famílias vão, afinal, saber quem está vivo, quem não está. Muitos presos, com mais de 10 anos de prisão, foram torturados barbaramente. Todos os horrores vem à tona, isso é positivo", afirma Paulo Sérgio Pinheiro, que preside a Comissão desde 2011 e já visitou várias vezes o país durante o processo de investigação. Ele destacou que o regime de Assad marcou, além de um período de repressão brutal, um colapso econômico e social, com 90% da população vivendo abaixo da linha da pobreza. Pinheiro enfatizou que 16 milhões de sírios ainda necessitam de assistência básica. "Infelizmente, apenas 23% do financiamento humanitário necessário foi atendido pelos doadores internacionais. A ajuda está fraquíssima. Então, a situação tanto social quanto econômica é desastrosa, e como na geopolítica, é extremamente confusa", ressalta Pinheiro. Solução por via diplomática A presença de bases militares da Rússia, juntamente com milícias iraquianas e iranianas em território sírio tornam as negociações ainda mais complexas para as novas lideranças do país. No entanto, o presidente da Comissão independente da ONU para a Síria destaca que, como tem insistido nos últimos anos com as instâncias internacionais, a solução passa por canais diplomáticos. Sobre a possibilidade de diálogo com o HTS, grupo com origens em organizações terroristas como a Al-Qaeda, Pinheiro foi enfático: "A diplomacia precisa falar com todos. Não há solução militar para a Síria, apenas uma solução política e diplomática." Embora o HTS, do líder al-Jolani, tenha histórico ligado a grupos extremistas como Al-Qaeda e Estado Islâmico, e também de muitas violações de direitos humanos, denunciados pela própria Comissão, Pinheiro reconheceu avanços sob sua administração em Idlib, como melhorias no fornecimento de serviços essenciais. Apesar de terem cometido violações, tortura, assassinatos, prisões arbitrárias, silenciamento das críticas da oposição, por outro lado, eles conseguiram institucionalizar, quer dizer, o lixo, água, eletricidade, que é importante para a população. E uma certa tolerância com outras crenças. Então, de uma certa maneira, o discurso de (al-Jolani) é de um líder moderado”, afirma Paulo Sérgio Pinheiro. Habilidade de líder rebelde Apesar dos discursos moderados da nova liderança, que promete não retaliar aliados do regime de Assad, Pinheiro foi cauteloso ao prever estabilidade a curto prazo. "O cenário é extremamente incerto, com desafios econômicos, sociais e políticos massivos. Mesmo com um líder habilidoso como Jolani, resta saber se ele conseguirá concretizar suas promessas. Poucas vezes eu ouvi de um líder de uma revolução um discurso tão articulado e moderado. Então é um cara hábil. Agora, se essa habilidade dele vai ser concretizada nos fatos, ninguém sabe. Nem um astrólogo pode prever." Sobre a possibilidade do ditador Bashar al-Assad responder pelos crimes cometidos durante seu regime, Paulo Sérgio Pinheiro é pouco otimista. “O Assad está ótimo na Rússia. Ele nunca vai ser pego pelo Tribunal Penal Internacional, porque primeiro, a Síria nem faz parte do tratado, e mesmo que venha a ser parte, a Rússia vai mantê-lo escondido. Ele deve estar em Vladivostok, ou na...

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Transmissão da fé para as novas gerações é um dos desafios da Igreja, diz Dom Jaime Spengler ao ser nomeado cardeal

12/9/2024
O Papa Francisco nomeou, neste sábado (7), 21 novos cardeais. Entre eles, está o brasileiro Dom Jaime Spengler. O franciscano de 64 anos, recebeu o barrete vermelho na cerimônia na Basílica de São Pedro, durante o Consistório Ordinário Público. O arcebispo de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, nasceu em Gaspar, no estado de Santa Catarina. Ordenado padre em 1990, o prelado se junta ao grupo de sete brasileiros que compõe o Colégio Cardinalício. Atualmente Spengler é também presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam). Gina Marques, de Roma, Na cerimônia do Consistório, o Papa Francisco disse aos novos cardeais que a missão deles é a construção da unidade e que não cedam à “competição corrosiva”, nem se deslumbrem com prestígio, poder e aparência. O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, veio a Roma para acompanhar a solenidade. Além de um breve encontro com o pontífice, o político (PSB) se reuniu com o novo cardeal brasileiro. Antes da cerimônia no Vaticano presidida pelo Papa Francisco, os novos cardeais encontraram os jornalistas na Sala de Imprensa da Santa Sé, ocasião para Dom Jaime Spengler comentar a importância de sua nova designação. “Eu diria que a importância talvez seja uma espécie de reconhecimento pelo trabalho que estamos tentando desenvolver ao nível continental. Por outro lado, a importância aponta para o chamado a uma cooperação ainda mais intensa na promoção daquilo que é a missão da própria Igreja no contexto universal, ou seja, de promover a comunhão entre os povos, de anunciar o evangelho onde ela se faz presente.” Segundo o cardeal, atualmente um dos maiores desafios da Igreja talvez seja a transmissão da fé com uma linguagem adequada às novas gerações. “Talvez a linguagem que hoje nós usamos encontre dificuldade na sua receptividade, sobretudo pelos adolescentes e jovens. Esse é um aspecto. O segundo aspecto, que eu creio nos desafie, é tornar conhecida aquilo que é a doutrina social da Igreja nos diversos ambientes. Não só intra, mas também extra eclesiais. A Igreja possui um tesouro que pode ir ao encontro de tantos desafios que a sociedade globalizada hoje deve afrontar.” afirmou. A Igreja vive uma crise de vocações e o problema não é de hoje. Cada vez menos jovens seguem o chamado sacerdotal. Dom Spengler admite que o declínio vocacional, vivenciado intensamente na Europa, começa também a se sentir no contexto brasileiro e latino-americano. “Como fazer frente a isto? Eu gosto sempre de recordar uma expressão de São Paulo VI, que está num texto dos anos 70 chamado Evangelii Nuntiandi, onde ele dizia que o ser humano hoje ouve com muito mais atenção as testemunhas que os mestres. Eu creio que para fazer frente, por exemplo, aos desafios vocacionais hoje, a grande exigência é (ter) testemunhas críveis.” frisou. Guerras pelo mundo Atualmente muitas guerras assolam o mundo. O Papa Francisco incansavelmente faz diversos apelos pela paz. O cardeal ressaltou que aqueles que mais sofrem com os conflitos armados são os pobres. “Atualmente, se não me falha a memória, nós temos 59 conflitos armados acontecendo mundo afora. Para nós cristãos e católicos não podemos esquecer algo que é fundamental: Cristo é a nossa paz. A referência ao foco não pode deixar de ser o Cristo. Portanto, resgatar ou promover um olhar focado para Ele, que de alguma forma é uma referência para nossa cultura, não só ocidental, se torna decisivo para fazer frente as realidades conflitivas que tantos sofrem as consequências. Quem mais sofre com as guerras, com os conflitos, são os pobres. A Igreja estará sempre ao lado dos pobres.” destacou. Durante a entrevista à RFI, o arcebispo de Porto Alegre, emocionado, enviou uma mensagem de solidariedade à população do Rio Grande do Sul que este ano sofreu com a devastação provocada por enchentes. A catástrofe deixou 183 mortos e 27 desaparecidos. Na época, o Vaticano doou quase meio milhão de reais ao...

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Tom Jobim: 30 anos após sua morte, jornalista francesa relembra entrevista icônica com o músico

12/6/2024
Neste domingo, 8 de dezembro, completam-se 30 anos da morte de Antônio Carlos Jobim, um dos maiores nomes da música brasileira. Para marcar a data, o programa RFI Convida conversou com a jornalista francesa Annie Gasnier, que relembrou momentos marcantes de sua entrevista com o cantor, compositor e maestro em 1994, pouco antes de sua morte. Ela compartilhou detalhes dos bastidores da conversa, incluindo o ambiente descontraído na casa do artista, as lembranças do encontro dele com o parceiro Vinícius de Moraes e a confissão feita por Jobim de uma de suas versões preferidas de "Garota de Ipanema". Annie Gasnier descreveu com emoção como foi recebida na casa de Tom Jobim, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, um espaço que refletia a harmonia entre modernidade e natureza, característica muito presente nas composições do artista. “Era uma casa muito bonita, aberta sobre a natureza, com flores e muito verde. Estavam lá a mulher dele, Ana, a filha, Maria Luísa, e os cachorros. Foi perto do piano, tomando café, um momento muito tocante para mim” lembrou. A jornalista destacou a descontração de Tom Jobim durante a entrevista e o tom de bate-papo usado pelo maestro ao comentar os assuntos, variados, desde suas lembranças de Ipanema, até a parceria com Vinícius de Moraes, e a história por trás de uma das canções que o tornaram mundialmente conhecido: "Garota de Ipanema". “O mais interessante é que em Ipanema ainda existe esse bar onde eles escreveram essa canção, onde passava essa garota, que hoje todos sabem que é a Helô Pinheiro. Na época se chamava Bar Veloso, mas que virou Garota de Ipanema. Acho que o Brasil também entrou nos Estados Unidos graças também a essa música”, comentou. Questionado por Annie Gasnier sobre as diversas versões da famosa canção, Tom Jobim respondeu primeiramente ter perdido a conta, mas estimava em mais de 500 versões e traduções para o clássico, que segundo disse na entrevista, era uma "música local que se tornou universal". Depois, ao lado do piano, Tom Jobim confessou à jornalista que uma de suas interpretações favoritas era da cantora de jazz americana, Ella Fitzgerald. “Tom Jobim estava tocando algumas notas no piano e depois disse: ‘acho que uma das versões que mais me tocou e emocionou foi a de Ella Fitzgerald. Ela colocou uma emoção diferente, coisa de mulher', ele disse”, lembrou Annie Gasnier. Relação com a França A gravação mantida pela jornalista mostra ainda que durante toda a entrevista, Tom Jobim se esforçava em introduzir palavras em francês nas respostas. “Faltava prática. Ele era daquela burguesia do Rio de Janeiro que falava francês. O pai dele tinha sido diplomata na França em 1940. Ele morou algum tempo, e também viajava bastante para a França por causa do trabalho, mas também porque gostava”, conta Annie Gasnier. Outra lembrança marcante para Tom Jobim com a França, registrada na entrevista, foi sobre a conquista da Palma de Ouro do Festival de Cannes do filme Orfeu Negro, dirigido por Marcel Camus baseado na obra Orfeu da Conceição de Vinícius de Moraes. Tom Jobim compôs com o parceiro várias músicas para a trilha sonora do premiado longa, entre elas, “A Felicidade”. “Pela primeira vez meu nome com o do Vinícius apareceu em Paris e tudo mais com as músicas do Orfeu”, disse Jobim à jornalista.

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Marco Guimarães revisita mistérios do Quartier Latin em Paris no 3° livro traduzido para o francês

12/3/2024
O escritor carioca Marco Guimarães é autor de 12 romances, alguns deles traduzidos e publicados não só no Brasil, mas em países como Angola, Croácia, Itália e França. Radicado em Paris, ele acaba de lançar o terceiro livro publicado em francês, L’étrange miroir du Quartier Latin (O estranho espelho do Quartier Latin, em tradução livre), que sobrevoa um universo anteriormente já abordado pelo autor: o antigo bairro do Quartier Latin, povoado desde a Idade Média por "fantasmas", "mitos" e "espelhos". Em seus Diários, o escritor argentino Ricardo Piglia costumava dizer que o lugar de onde se escreve determina de alguma forma a escrita. Mas, para o escritor carioca Marco Guimarães, o processo é um pouco mais complexo que uma referência ou transposição geográfica. "De qualquer forma, não é bem isso", diz o autor, radicado há 14 anos na capital francesa. "Nós precisamos pensar o seguinte: há uma ativação inconsciente de uma imagem arquetípica que modula e transforma nossa obra. Acredito que isso está ligado a um inconsciente coletivo que acabamos acessando", afirma. "Trabalhei bastante sobre isso, talvez haja uma relação entre esse inconsciente coletivo, essas imagens arquetípicas e minha escolha por Paris. Essa escolha, talvez, esteja ancorada em simbolismos presentes na vivência na cidade e na própria história dela. Acho que isso pode fazer sentido", admite. " O universo dos escritores latino-americanos que ocasionalmente escreveram em Paris ou sobre Paris, como outro argentino, Julio Cortázar, autor do monumental O Jogo da Amarelinha, clássico da literatura mundial escrito na capital francesa, é extenso. Cortázar costumava dizer que "Paris é uma imensa metáfora" e que "caminhar por Paris significa avançar até mim". "Para mim, esse conceito vai ainda mais longe", afirma Guimarães. "A linguagem da literatura é, essencialmente, metafórica. E a mesma metáfora que usamos para escrever é também usada pelo leitor para interpretar o texto", argumenta. Os "mistérios" do Quartier Latin Mas se o argentino Cortázar fala sobre "constelações mentais e sentimentais" em suas flâneries pela capital francesa, Guimarães traz o leitor de volta em seu novo livro ao velho bairro do Quartier Latin, na rive gauche de Paris, bairro que começou a ser densamente povoado ainda no século 13, na época medieval, um lugar cheio de "fantasmas" e "espelhos". "O Quartier Latin é conhecido como o bairro das 'sorcières', das bruxas, há até histórias e livros publicados sobre isso. Acho que o local tem uma espécie de magia. Pude sentir isso quando cheguei a Paris há 14 anos. Fui muito bem recebido pela comunidade da Rue Mouffetard, onde morei por muito tempo", conta o escritor. "É também uma das áreas mais antigas, porque, na época romana, era um dos caminhos que levavam a Roma. Tudo isso me faz voltar ao tema do inconsciente coletivo e das imagens arquetípicas. A Rue Mouffetard, com seus mistérios e simbolismos, sem dúvida, faz parte da minha trajetória literária", descreve o autor. "Esse livro aborda a história de um suicídio que ocorre em Paris", relata Guimarães. "É difícil classificá-lo em um gênero específico. Ele se insere no realismo fantástico, mas também apresenta elementos do polar [romance policial]. No entanto, não é um policial clássico, porque, nesse gênero tradicional, a narrativa é geralmente muito centrada em um detetive ou policial que investiga e resolve um crime. Não é o caso aqui", avalia. A morte como referência literária "Esse livro, como muitos outros da minha trajetória literária, traz a morte como um elemento recorrente. A morte está sempre presente. Isso é algo que aparece ao longo de várias obras, e não é diferente nesta. Mas, além disso, você vai notar referências literárias, como O Retrato de Dorian Gray, de [Oscar] Wilde, Madame Bovary, de [Gustave] Flaubert, Os Sofrimentos do Jovem Werther, de [Johann Wolfgang von] Goethe, ou A Morte de Ivan Ilitch, de [Liev] Tolstói", diz. "A morte é um tema universal, presente na...

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Celebração na França de 40 anos do MST tem agenda de debates e oposição ao acordo EU-Mercosul

11/29/2024
A celebração dos 40 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na França tem sido marcada por uma agenda intensa de debates e visitas em diversas regiões do país de uma delegação do movimento vinda especial do Brasil. Entre as representantes presentes está Nallyja Fernanda, integrante do Coletivo Nacional de Juventude e do Coletivo Nacional de Cultura do MST. Neste sábado (30), o Comitê dos Amigos na França homenageará a trajetória do movimento em um evento especial em Paris. O evento de sábado marca não apenas os 40 anos do MST, mas também um reconhecimento pela longa parceria com o Comitê dos Amigos na França. “Essa é uma celebração de nossas conquistas e um compromisso com o futuro, reforçando a solidariedade internacional como instrumento de transformação social”, diz Nallyja Fernanda. A relação entre o MST e o Comitê dos Amigos na França remonta ao massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996. “A solidariedade nasceu em um contexto de repressão gigantesca, quando pessoas ao redor do mundo se sensibilizaram e quiseram apoiar o movimento. Desde então, essa relação se fortaleceu como um intercâmbio político e cultural”, explicou Nallyja, que está na França acompanhada de Meriely Oliveira, líder do coletivo “Plano Nacional Plantar Arvores e Produzir Alimentos Saudáveis” no Estado da Bahia. Durante sua passagem pela França, a delegação do MST visitou regiões que vão do norte ao sul do país, explorando a realidade de pequenos agricultores e práticas locais. “Temos aprendido com experiências de mecanização agrícola, produção coletiva e agricultura bio, que dialogam diretamente com a nossa matriz agroecológica”, destacou a líder. Oposição ao acordo União Europeia-Mercosul A visita da delegação do MST foi programada durante todo o mês de novembro e coincidiu com uma série de manifestações dos agricultores franceses por todo o país contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, em discussão entre os dois blocos. Durante o diálogo com os setores agrícolas franceses, as representantes do MST têm exposto o posicionamento do movimento contra o tratado que pode criar a maior área de livre comércio do mundo. Para Nallyja, o acordo favorece grandes multinacionais e o agronegócio, em detrimento dos pequenos agricultores e da soberania alimentar. “Esse tratado potencializa articulações do agronegócio e prejudica diretamente quem produz alimentos para a população, além de impactar negativamente o meio ambiente e reproduzir uma lógica colonialista”, aponta a ativista. Embora o governo brasileiro apoie o acordo, o MST se articula com a Via Campesina e outros movimentos internacionais para combatê-lo. “Entendemos que essa decisão responde a pressões da bancada ruralista, que representa 60% do parlamento brasileiro, mas seguimos firmes na defesa dos direitos conquistados e na luta por um modelo de produção sustentável e justo”, defende Nallyja. Interesse francês pelo MST Entre os temas mais discutidos pelas representantes do MST com o público francês estão a organização interna do movimento brasileiro e suas estratégias de mobilização. “A capacidade do MST de organizar as massas é um modelo que interessa especialmente à esquerda francesa, em um contexto de avanço da extrema direita na Europa”, diz Nallyja, citando a emblemática marcha de 1997, que reuniu 100 mil pessoas em Brasília. Outro ponto de destaque tem sido a agroecologia. Desde 2014, segundo a militante, o MST adotou essa matriz como base de sua produção, reforçando o compromisso com a soberania alimentar e a sustentabilidade. Ela lembra que “70% dos alimentos no Brasil vêm da agricultura familiar, enquanto o agronegócio exporta commodities. É fundamental politizar a questão alimentar e reafirmar o papel dos camponeses”, defende. Diálogo com a juventude e construção de futuro Além das celebrações, o intercâmbio com coletivos jovens na França tem sido central. “Nosso coletivo de Juventude existe desde 2005 e forma lideranças para as lutas do seu...

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"Esse encontro merecia ser registrado", diz Bebê Kramer que se apresenta em Paris com o Trio in Uno

11/28/2024
O primeiro encontro aconteceu em Paris e, desde então, eles vêm encantando plateias da Europa e do mundo. Bebê Kramer, um dos acordeonistas mais respeitados do Brasil, se juntou ao Trio in Uno, formado pela italiana Giulia Tamanini no saxofone soprano, e os brasileiros José Ferreira, no violão de 7 cordas, e Diego Cardoso, no violoncelo. Juntos, eles assinam o álbum “Destinos”, que apresentam numa turnê que já passou pela Itália, antes de ocupar palcos da França e da Bélgica. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris Idealizado e gravado após o sucesso do primeiro show que o grupo fez na capital francesa, em dezembro de 2023, “Destinos” traz um frescor para músicas latino-americanas bem conhecidas, com interpretações e novas versões para composições de Astor Piazzolla, Radamés Gnattali, Sivuca, César Camargo Mariano, entre muitos outros. “Nós já éramos amigos antes de ter o trabalho pronto. Em um dado momento da vida, eu vim fazer uma turnê na Europa com outros trabalhos e acabei passando em Paris para a gente tocar no New Morning, onde agora a gente vai se apresentar de novo”, conta Bebê Kramer em entrevista à RFI Brasil. “E aí, pensamos que esse encontro merecia ser registrado. Então, entramos para o estúdio e acabamos gravando esse CD 'Destinos', que traz releituras de algumas músicas minhas e desses compositores também”, completa. “A gente traz a música brasileira para cá e com versões sofisticadas”, define. O álbum reúne dois instrumentos muito representativos da música brasileira, o violão e o acordeão, enriquecidos com saxofone e violoncelo. “A gente adora essa mistura. É muito bacana”, explica o violonista José Ferreira. “Além dos instrumentos mais característicos da música brasileira, tendo o sopro e as cordas na alma, essa mistura dá um tom quase orquestral para esse pequeno grupo”, continua. “São instrumentos de natureza diferente, que se completam e que se complementam em muitas possibilidades legais para os arranjos e para o som”, observa o músico. O repertório mistura a espontaneidade da música popular ao requinte da música clássica, agradando a um público diverso. “Tem algo que se parece com a música de câmara, dos arranjos que são pensados, com uma arquitetura própria”, explica Diego Cardoso. "Nós nos conhecemos aqui em Paris, 12 anos atrás" diz à italiana Giulia Tamanini. "Para mim, foi um encontro muito afortunado. Tive muita sorte, pois foi graças a eles que eu descobri a música brasileira, a qual eu me apaixonei, e comecei a tocar, e viajei bastante pelo Brasil", destaca. Música com sotaque gaúcho Nascido em Vacaria, no Rio Grande do Sul, Alessandro Kramer, ou melhor, Bebê Kramer, guarda a herança da cultura gaúcha que ele, agora, põe a serviço de estilos diferentes como o chorinho, o samba, o forró e o jazz. “Desde garoto, desde guri, como a gente fala lá, eu sempre tive a cabeça muito aberta para a música e sempre gostei de ouvir outros tipos de discos, de instrumentistas diferentes, de violonistas, saxofonistas e pianistas, além dos acordeonistas todos que me influenciaram, logicamente, principalmente os gaúchos, que foram a minha fonte inicial”, afirma Kramer, que se mudou aos 16 anos para Santa Catarina e depois para o Rio de Janeiro. “Isso foi formando um caldo musical, que eu acabei juntando com Trio in Uno, trazendo um pouco dessa coisa fronteiriça do Rio Grande do Sul. E acaba que tudo o que eu faço, sendo choro, samba ou forró, tudo fica com sotaque gaúcho”, brinca o músico que tem mais de 20 anos de carreira, vários discos gravados e premiados. Os shows acontecem dia 28 de novembro em Bruxelas e 30 de novembro em Paris, no New Morning.

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'Antissemitismo é vírus hipercontagioso', alerta Milton Blay em novo livro

11/27/2024
Em seu livro mais recente, "A Nova Ordem Moral", o jornalista Milton Blay escreve que "a hecatombe em Gaza ultrapassa os limites do conflito israelo-palestino e vai além das fronteiras do Oriente Médio”. Em entrevista à RFI, o autor explica que o que acontece desde o ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023, sugere um momento de “tentativa de refundação da ordem geopolítica e moral do mundo”. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris No livro publicado pela editora Kadimah (2024), Milton Blay defende que o antissemitismo nunca deixou de existir e se dissimula nas correntes de "pseudo-esquerda" e "atrás das cortinas do antissionismo" que, segundo ele, seria capaz de apoiar a discriminação em nome do que considera ser o mal maior, o colonialismo, do qual Israel também é acusado. O autor descreve o antissemitismo como "uma patologia social", um "vírus hipercontagioso" que se espalha "por terras longínquas". E diz que o ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023, questiona a identidade judaica. Para Blay, os judeus "são as primeiras vítimas quando o obscurantismo ameaça se abater sobre a humanidade", num alerta sobre possíveis novas violências. “Atentados são possíveis e mesmo prováveis”, afirma. “Basta lembrar que a França entrou no norte da África para impedir o desenvolvimento de grupos terroristas naquela região, que atacariam a Europa”, exemplifica. “O Hamas é o segundo grupo terrorista mais rico do mundo, depois do Hezbollah, no Líbano. Então, nós temos aí uma guerra, atualmente, contra os dois grupos mais ricos e grupos terroristas que estão prestes a fazer atentados no mundo inteiro”, adverte. Em 2023, na França, “o número de atos antissemitas quadruplicou, chegando a 1.774, para ultrapassar 2 mil nos quatro primeiros meses de 2024", destaca Blay. Em 2022, haviam sido 436 atos antissemitas, segundo o ministério do Interior. Atualmente, "94% dos judeus dizem ter medo", afirma o autor. Em toda a Europa, os incidentes antissemitas se multiplicam. Coquetéis molotov foram lançados contra uma sinagoga na Alemanha, pichações de estrelas de Davi e de mãos ensanguentadas foram vistas em Paris, enquanto ataques a lojas e sinagogas assustaram a população na Espanha. Blay escreve que, há um ano, os judeus se sentem inseguros e desestabilizados pelo Hamas. E que "no dia 7 de outubro, o medo despertou fantasmas de milênios". Coalizão de ultradireita em Israel Por outro lado, o autor também aponta que a existência de um governo em Israel, “liderado por Benjamin Netanyahu, com participação de partidos ortodoxos de ultradireita, racistas, homofóbicos, misóginos, coloca em risco não apenas os alicerces do Estado, como ataca o judaísmo laico” que, segundo Milton Blay, "permitiu a sobrevivência” dos judeus, após o extermínio de um terço dessa população na Europa. “Não há a menor dúvida. É um governo de extrema direita, o pior governo que Israel já teve em toda a sua história”, avalia Milton Blay. “É um governo efetivamente racista, um governo misógino, é um governo que se aproxima dos governos teocráticos que existem no mundo”, completa. Blay compara “os sionistas religiosos teocráticos, que não reconhecem o Estado laico e afirmam a superioridade da lei religiosa sobre o direito civil”, com governos de "certos países muçulmanos onde reina a sharia, a começar pelo Irã”. O jornalista descreve a coalizão israelense no poder como sendo “de extrema-direita hipernacionalista, com teocratas ultraortodoxos, messiânicos, dispostos a acabar com a democracia secular, arrasar os palestinos e combater os judeus progressistas”. E completa dizendo que “Israel nunca esteve tão próximo de uma revolução autoritária religiosa”. Em seu livro, aponta para o risco de Israel se tornar “uma teocracia messiânica com tecnologia nuclear, poder militar e conhecimento tecnológico, de efeito global”. “O que os aiatolás de Teerã querem é aplicar plenamente a sharia, ou seja, a lei islâmica, a lei do Alcorão. Então, não há lei civil. E...

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FestiFrance 2024 reúne 59 filmes internacionais e celebra identidade com mostra 'Mineiridade'

11/26/2024
O FestiFrance chega à sua 10ª edição exibindo 59 filmes de 7 países, sendo 32 curtas-metragens de produção francesa e 15 curtas brasileiros; com curtas de animação de Israel, Palestina, Canadá, França, Estados Unidos e do continente africano. As exibições dos filmes serão gratuitas e se dividirão entre as telas do Cine Theatro Brasil (26 e 27 de novembro) e do Sesc Palladium (28, 29 e 30 de novembro) em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde a mostra acontece desde 2015. Para ver a entrevista na íntegra, clique na imagem principal da matéria "Foi muito difícil o critério de seleção este ano, porque recebemos 2.885 filmes para escolher apenas 59", conta Roberto de Matos, diretor e fundador do FestiFrance. Ele conta que o caráter social do festival garante o interesse do público brasileiro. "Esse é o nosso diferencial. O festival sempre teve um caráter humanitário muito forte", afirma. "Dentro da programação, temos várias atividades paralelas, como oficinas para comunidades carentes, incluindo moradores de aglomerados, detentas da prisão feminina Estevão Pinto (um trabalho que realizamos com as custodiadas desde 2018), e também com a comunidade indígena Pataxó", detalha Matos. "Este ano, vamos atuar diretamente na reserva dos Pataxós. Além disso, pelo segundo ano consecutivo, estamos realizando projeções exclusivas para idosos. Acreditamos que os mais velhos fazem parte essencial da nossa sociedade e não devem ser limitados a assistir televisão em casa", defende. "Organizamos todo um esquema para buscar os idosos nas casas de repouso e levá-los ao cinema, onde têm um acompanhamento tanto da nossa equipe quanto dos cuidadores deles. Fazemos um trabalho semelhante com crianças de comunidades carentes", revela o diretor do festival. "Mineiridade" Ao longo da semana em que ocorre o festival, Belo Horizonte se transforma em um verdadeiro palco para diversas atividades ligadas ao mundo da sétima arte. De um lado, há a exibição de filmes e curtas-metragens que competem na seção oficial; de outro, são promovidas atividades paralelas relacionadas ao cinema, como oficinas, ciclos de cinema social, ciclos de curtas-metragens LGBTQIA+, Mostra Africana, Mostra + Mineiridade, além de exibições de filmes convidados. Além dessas atividades, ganham destaque as galas de abertura e encerramento do evento, onde são concedidos prêmios honorários a profissionais do cinema, em reconhecimento ao seu trabalho e contribuição para a indústria. "Este ano, a mostra francesa conta com 31 filmes. Além disso, temos produções de diversos países como Canadá, Israel, Palestina, Estados Unidos e Japão, compondo a nossa Mostra Internacional. Também vale destacar a Mostra + Mineiridade, com produções de diretores de Minas Gerais, um espaço dedicado ao cinema mineiro", conta Matos. Essa seção específica, criada para edição 2024 do FestiFrance, vai circular por municípios e distritos do entorno de Paracatu, como Unaí e Vazante (distrito de Vazamor). “Esse projeto itinerante visa promover a cultura cinematográfica francesa e a produção audiovisual mineira em cidades do estado de Minas Gerais, democratizando o acesso ao cinema por meio de exibições em locais estratégicos e de grande impacto social, como presídios, APACs, lares de idosos, escolas e bairros periféricos”, ressalta Matos na divulgação do evento. "Em 2015, iniciamos com uma seleção de curtas, mas o festival rapidamente cresceu. Hoje, inclui longas, animações, ficções, documentários e uma vasta mostra internacional com filmes exclusivamente estrangeiros. Então, a nossa programação é bastante extensa e diversificada", diz o diretor. Fortalecer "vínculos" "Esse intercâmbio começou de forma muito modesta há 10 anos, mas cresceu enormemente em termos de aceitação. O público brasileiro tem recebido nossa proposta com muito entusiasmo. Nosso objetivo é fortalecer esses vínculos, não só no aspecto cinematográfico, mas também na gastronomia, literatura e teatro, promovendo uma rica troca cultural entre os...

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"Parque de Diversões", filme sobre 'cruising gay', é destaque na programação de festival em Paris

11/25/2024
O produtor, cineasta e diretor teatral mineiro Ricardo Alves Jr. exibiu seu quarto longa-metragem, "Parque de Diversões" no Festival Chéries-Chéris, em Paris, voltado para a comunidade LGBTQIA+. A obra explora o universo do cruising — encontros sexuais entre desconhecidos em espaços públicos — e é ambientada no Parque Municipal de Belo Horizonte, que desempenha um papel simbólico e histórico na narrativa. Ricardo explica que o cruising é o ponto de partida do filme, mas que a obra transcende a prática ao explorar questões mais amplas de liberdade e repressão. Ele destaca a conexão histórica com o Parque Municipal, um espaço que, na década de 1950 e 1960, era frequentado pela comunidade LGBTQIA+ à noite, até ser cercado por grades na década de 1970. "Esses encontros noturnos, que eram vistos como proibidos em uma sociedade conservadora, são uma metáfora para a fluidez dos corpos e a liberdade que existia naquele lugar", comenta Ricardo, reforçando que o filme adota uma abordagem poética sobre esses temas. Diálogos reduzidos e linguagem corporal intensa Uma das marcas de Parque de Diversões é o uso mínimo de diálogos, o que confere destaque à expressão corporal e à interação entre os personagens. "São apenas quatro cenas com texto falado", diz Ricardo. "Eu vejo o filme como uma espécie de coreografia pornográfica ou erótica, onde a narrativa se constrói a partir dos corpos, da espacialidade e da luz." Para ele, o espaço é fundamental, e o trabalho com a trilha sonora potencializa a experiência sensorial do espectador. Ricardo reconhece que a escolha de cenas explícitas é provocadora e deliberada. "O filme fala sobre sexo e explora suas várias camadas, como o voyeurismo, o exibicionismo e os fetiches. Ele coloca o espectador como um voyeur dessa experiência, desafiando-o a refletir sobre sua própria relação com o desejo e a sexualidade", argumenta. Cinema independente em tempos desafiadores O filme foi produzido sem recursos públicos e filmado em apenas sete noites, com uma equipe reduzida e dedicada. "A independência permitiu que o filme fosse exatamente como eu desejava, sem concessões. É um filme para maiores de 18 anos, que não se esquiva da nudez e do sexo explícito", explica. Ricardo Alves Jr. acredita que o tema do filme é ainda mais relevante no contexto atual do Brasil. "Com a onda reacionária que vivemos, obras como essa são importantes para confrontar o conservadorismo e abrir espaço para discussões sobre liberdade e identidade", pontua. Recepção internacional e a estreia no Brasil Desde sua estreia mundial, em junho, no Festival Internacional de Cinema de Marselha (FID), "Parque de Diversões" vem percorrendo festivais ao redor do mundo, incluindo o Queer Lisboa, o Pink Screens na Bélgica e agora o Chéries-Chéris, em Paris. Ricardo celebra a recepção positiva da obra, especialmente pela sua abordagem sensorial e experimental. "O filme não segue uma narrativa clássica; ele é uma experiência. O público é desafiado, provocado a se envolver com a obra e suas próprias expectativas." A estreia brasileira está marcada para 30 de janeiro de 2024, com uma sessão especial em Belo Horizonte, cidade que inspira e conecta o diretor com suas raízes artísticas. Carreira e transições artísticas Ricardo também refletiu sobre sua trajetória, que transita entre o cinema e o teatro. Para ele, o teatro oferece uma liberdade criativa imediata que influencia diretamente seu trabalho cinematográfico. "O teatro é uma arte que você pode começar com poucos recursos, enquanto o cinema exige um planejamento mais longo e investimentos consideráveis. Ainda assim, as duas artes se alimentam mutuamente em meu processo criativo." Entre seus filmes anteriores estão Elon Não Acredita na Morte (2016), Quem Tem Medo? (2022) e Tudo o que Você Podia Ser (2023). Ele considera que essas obras marcaram uma evolução natural em sua carreira, com Tudo o que Você Podia Ser abordando pela primeira vez a temática LGBTQIA+ e servindo de ponte para...

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COP29: gastar mais em energias fósseis do que na transição "é suicídio planetário", diz Carlos Nobre

11/22/2024
A Conferência do Clima da ONU em Baku, no Azerbaijão (COP29), chega ao seu último dia marcada por um impasse já esperado na questão do financiamento climático. Todos os anos, o tema costuma ser o que mais trava as negociações nas COPs – sintetiza as discordâncias sobre o quanto cada país está ou não fazendo para combater o aquecimento do planeta. Lúcia Müzell, da RFI em Paris Desta vez, o financiamento é o foco da conferência – os quase 200 países reunidos no evento têm a missão de chegar a um novo valor anual de recursos a serem disponibilizados para os países em desenvolvimento promoverem a economia de baixo carbono. O Acordo de Paris sobre o Clima determina que cabe aos países desenvolvidos viabilizarem esta soma, mas as nações ricas avaliam que chegou a hora de grandes potências emergentes, a começar pela China, maior emissora de gases de efeito estufa, também contribuírem. “Vamos torcer que eu consiga sair de lá um pouquinho mais otimista. A transição está muito lenta”, desabafa o climatologista Carlos Nobre, reconhecido internacionalmente pelos estudos sobre o aquecimento global e, em especial, sobre as consequências do problema na Amazônia. Nos anos 1990, ele foi um dos primeiros a teorizar sobre o ponto de não retorno da floresta – quando as condições climáticas terão se alterado a tal ponto que a Amazônia não conseguirá mais se regenerar e entrará em um processo de savanização. Pouco antes de embarcar para Baku, Nobre conversou por telefone com a RFI sobre como as Conferências do Clima poderiam trazer resultados mais efetivos, tema de uma carta enviada pelo Clube de Roma às Nações Unidas, e da qual ele é um dos poucos brasileiros signatários. Carlos Nobre é e ex-membro do IPCC, o Painel de Especialistas da ONU sobre as Mudanças do Clima e vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2007. Leia abaixo os principais trechos da entrevista. RFI: No último fim de semana, o senhor sobrevoou a Amazônia de helicóptero com presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em uma viagem histórica. Ver de perto os impactos do aquecimento global pode mudar o rumo das coisas, e o rumo das COPs? As pessoas e os líderes precisam mais desse contato com a realidade em campo, para começarem a agir de verdade? Carlos Nobre: Sem dúvida, quando políticos tão importantes quanto o presidente dos Estados Unidos, o primeiro presidente americano exercendo o mandato que vem para conhecer a Amazônia, vem e vê o que ele viu, é muito importante. É diferente de só ouvir falar dos riscos. Ele viu. Nesse voo, ele viu todas as áreas do lado de Manaus superdesmatadas, degradadas, um monte de floresta queimada, algumas queimadas que aconteceram há poucos dias ou meses. Tudo queimado, árvores mortas. As margens do Rio Negro todas secas. Nós estávamos voando ali em cima da floresta e aparecem duas fumaças de incêndio. Alguém tinha posto fogo algumas horas antes, no meio da floresta. Eu mostrei para ele o que o aquecimento global está fazendo: a maior seca da história da Amazônia. Falei muito dos prejuízos para a biodiversidade, os riscos para o Rio Negro, que tem mais de 1.000 espécies de peixes. Falei do ano passado, quando o lago Tefé teve a maior temperatura da história, atingiu 41°C e morreram mais de 400 botos e dezenas de milhares de peixes. Eu acho que o presidente, tendo a oportunidade de ver isso com os olhos, é muito mais importante do que simplesmente alguém, cientistas e políticos, comunicarem sobre isso. Ou até o presidente Lula ou outros presidentes dos países amazônicos. Os alertas já são dados há décadas, mas a reação da humanidade ao que está acontecendo com o clima acontece a passos muito lentos – e muito lentamente também avançam as COPs. O senhor ainda confia que as Conferências do Clima são a melhor solução para encarar essa realidade, que inclusive está se acelerando mais rapidamente do que a própria ciência previa? A COP não tem sido a melhor solução. Elas têm sido promessas de salvar o planeta. Promessas. Quando a COP26 em 2021, na...

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“Impressiona a ousadia, mas não a intenção”, diz analista sobre plano de golpe e assassinato no Brasil

11/21/2024
O RFI Convida conversou com o professor e cientista político Cláudio Couto, da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, sobre as revelações da Polícia Federal acerca de um plano que incluía golpe de Estado, assassinato de ministro do Supremo Tribunal Federal e da chapa vencedora nas eleições de 2022. Detalhes, como o arsenal bélico, até o que teria sido uma tentativa abortada de sequestrar o ministro Alexandre de Moraes, renderam muitas repercussões não só no Brasil, mas também na mídia internacional. Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília “Impressionou sim, mas não surpreendeu. É muito impressionante realmente a ousadia que tiveram esses militares ligados ao governo Bolsonaro, especificamente esse grupo de militares que integra uma tropa de elite do Exército Brasileiro, que são chamados Kids Preto. Eles mais do que planejaram, chegaram a iniciar uma ação para sequestrar o ministro do STF que também presidia o TSE. Uma tentativa que foi abortada na hora por uma mudança de agenda. Se a pauta do tribunal não tivesse sido alterada, talvez Alexandre de Moraes tivesse sido sequestrado. Então, o que realmente impressiona é essa ousadia. Mas não chega a surpreender a ideia de fazer alguma coisa desse tipo porque se tratava mesmo de um grupo golpista.” Para o analista político, outros episódios já davam mostras de que a manutenção de poder era o principal objetivo: “Nós vimos uma série de outras iniciativas voltadas para esse fim. Por exemplo, no segundo turno da eleição, as ações da Polícia Rodoviária Federal no sentido de tentar impedir que eleitores da região nordeste, onde o candidato Lula tinha mais intenções de voto, pudessem chegar aos locais de votação. Há muitas dúvidas que ainda precisam ser respondidas pelas investigações, como quem participou e quem sabia do plano que estava sendo traçado e que chegou a ter versões impressas, inclusive se o então presidente Jair Bolsonaro, na época já derrotado na reeleição, tinha ciência do que era tramado por pessoas de sua confiança. “Eu acho muito improvável que ele não soubesse do que ocorria. Há indícios fortes, com essa última investigação da Polícia Federal, inclusive de que o plano desse magnicídio, para matar o presidente do Tribunal Superior Eleitoral e os candidatos eleitos à presidência da República, que isso foi impresso na sala ao lado da sua no Planalto. Seria muito estranho imaginar que ele não soubesse de nada.” Muito se debate se a tentativa de sequestro foi mais exibição de amadorismo do que tática militar. Cláudio Couto afirma que o plano de prisão e execução de autoridades e candidatos poderia sim ter resultado em tragédia, mas para ele claramente era amadora a visão das consequências de um golpe como esse para o futuro do país. “Aquele plano até poderia ser eficaz, ele poderia levar à prisão e assassinato dessas autoridades. Agora, me parece que faltou foi pensar no que poderia vir no dia seguinte, quer dizer, existe amadorismo no que se refere ao cálculo do cenário mais amplo. Como é que ficaria o país após um ato dessa natureza? Como é que nós ficaríamos, inclusive, num contexto tanto regional como global? Nesse sentido, a gente está falando claramente de gente muito despreparada.” E para o analista tal avaliação se torna preocupante ao tratar de militares de alta patente. “São pessoas tão obcecadas pelas suas convicções ideológicas, pelo seu autoritarismo que não conseguem fazer esse tipo de cálculo. E quando você tem militares incapazes de perceberem esse cenário mais amplo, a gente tem um motivo de preocupação, tanto porque eles podem continuar conspirando dentro do país, como porque talvez eles não sejam suficientemente confiáveis caso a gente precise se defender de agressões externas. Se isso vier acontecer, será que eles são gente capaz realmente de entender o que está acontecendo? Se for contar com grupos como esse, eu tenho lá minhas dúvidas.” Forças Armadas O especialista também comentou a visão que...

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Pesquisadora defende capoeira como instrumento de inclusão para crianças de abrigos na França

11/20/2024
Patrícia Pereira dos Santos é formada em Educação Física com especialização em Psicologia Social. Sua tese de doutorado, que ela acaba de defender na Universidade de Rennes, no noroeste francês, se debruça sobre os instrumentos que a capoeira de Angola oferece para ressocializar e interagir com crianças e jovens de abrigos na França. "Fiz um mestrado no Brasil e, após concluir, criei minha própria associação, a Capoeira Angola BREIZH Îlienne", conta Patrícia Santos. Desde então, tenho trabalhado com a capoeira de Angola em diversos setores educacionais na França, incluindo escolas, abrigos e até com pessoas com deficiência. "Decidi continuar minha trajetória acadêmica e me inscrevi em um doutorado em um tema relacionado na Universidade de Rennes", conta. Em paralelo, a educadora iniciou um projeto de parceria entre a universidade e uma instituição de acolhimento para crianças e adolescentes da cidade onde mora, Pornic, município costeiro no noroeste da França. "O objetivo é desenvolver um trabalho com a Capoeira de Angola dentro dessa instituição", afirma Santos. "Atualmente, concluí uma especialização em psicologia social, que será a base teórica da minha tese. Para isso, pretendo utilizar o modelo de Kurt Lewin, que aborda a dinâmica de grupo e a mudança de comportamento das pessoas. A ideia é explorar como mudanças podem ser facilitadas de forma mais lúdica e positiva quando aplicadas a um grupo, em vez de focar no indivíduo isoladamente", explica a pesquisadora. "Minha proposta é levar a capoeira de Angola para dentro dessa instituição, validando-a como uma ferramenta educacional e socioemocional", explica. "A intenção é demonstrar como a capoeira pode atuar de forma benéfica no desenvolvimento comportamental das crianças e adolescentes participantes, promovendo um impacto positivo em suas vidas", sublinha Santos. Capoeira como inclusão A capoeira, de forma geral, é uma poderosa ferramenta de inclusão social, segundo a educadora e capoeirista brasileira. "Um breve contexto histórico já revela seu potencial para promover a socialização, seja por meio do movimento corporal, das técnicas morais, ou da musicalidade. Na capoeira, temos diversos instrumentos a serem aprendidos, e quando uma pessoa começa a tocar e ouvir esses instrumentos, ela também precisa desenvolver a habilidade de escutar o outro. Isso implica em aprender a silenciar para ouvir, o que é um grande desafio, especialmente para crianças e adolescentes que vivem em abrigos", afirma. Essas crianças geralmente apresentam comportamentos antissociais e têm uma intensidade emocional muito elevada. A capoeira Angola, nesse contexto, atua como uma ferramenta educacional que, por meio dos seus movimentos, da sua história, da sua cultura e, principalmente, da sua musicalidade, ajuda a transformar esses comportamentos. Ela promove a escuta, o respeito e o autocontrole, incentivando também a prática de olhar para si mesmo e para o outro com empatia. Com o tempo, isso nos permite trabalhar profundamente o desenvolvimento da empatia e de outras competências socioemocionais essenciais para a convivência social. Retorno "gratificante" e desafios "A pesquisa de campo relacionada à minha tese durou oficialmente um ano e meio", conta Santos. "No entanto, continuamos o trabalho com essas crianças, já que sou presidente da associação de capoeira, e seguimos com o projeto por mais dois a três anos. Muitos dos jovens atendidos se inscreveram na associação para continuar praticando capoeira, mesmo após saírem do abrigo. Hoje, muitos deles são adultos, têm suas próprias casas e suas próprias vidas. Ainda mantenho contato com alguns deles, especialmente com aqueles que, na época, tinham entre sete e oito anos, e hoje têm cerca de 15 anos", explica. "O feedback que recebo é muito gratificante. Mesmo aqueles que não seguiram praticando capoeira afirmam que a experiência mudou suas vidas. Eles mencionam que aprenderam a se expressar melhor, a dialogar com mais alegria e...

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Jornalista brasileira tenta desconstruir clichês sobre franceses no livro “Entrelinhas de Paris”

11/19/2024
“Entrelinhas de Paris” é o título do livro que a jornalista brasileira Luciana Marques acaba de lançar, em português, pela editora Ases. A obra de minicrônicas é uma mistura de guia de viagem, manual de francês e da cultura francesa, descrição de hábitos parisienses e as impressões de uma brasileira sobre isso tudo. Luciana Marques morou em Paris durante seis meses para um intercâmbio na Universidade Sorbonne Nouvelle. Na época, começou a anotar no bloco de notas do telefone celular, principalmente durante os trajetos no metrô, suas impressões sobre a cidade e os parisienses. “Depois, eu fui vendo que aquilo realmente tinha um conteúdo que poderia virar um livro futuramente”, conta. Antes de virar livro, a jornalista apresentou as anotações e informações sobre o que viu e ouviu “de curioso, de choque cultural também” como projeto final do curso de Línguas Estrangeiras Aplicadas ao Multilinguismo e à Sociedade de Informação da Universidade de Brasília. Depois, atualizou e organizou essa visão de “uma brasileira olhando a cidade” no livro “Entrelinhas Paris: microcrônicas desconstruídas e descontraídas da capital francesa”, lançado em outubro. A obra tem sete capítulos, com títulos bilingues francês-português, que podem ser lidos independentemente e fora da ordem. O título é bem bolado, com múltiplos sentidos. “É entrelinhas porque eu escrevi entre uma linha e outra do metrô e também entre uma linha e outra desse livro que é um formato um pouco diferenciado” diz. Ela explica que as frases que compõe o texto foram escritas “como se fossem tuítes, mas são encadeadas. Então, você lê o livro corrido, mas cada frase é uma minicrônica”, detalha afirmando que “Entrelinhas” é uma obra “bem debochada, bem irônica”. As ilustrações do livro, assinadas por Jane Carmen Oliveira, reforçam essa ironia. Paris romântica e franceses mal-humorados Paris seria a capital do romantismo, do luxo, da culinária, e os e as parisienses seriam chiques, mas mal-humorados. Esses são apenas alguns dos clichês associados à capital da França que Luciana Marques tenta desconstruir no livro para mostrar e “entender essa riqueza da cultura, que realmente vai além do que a gente vê no dia a dia”. O texto é repleto de anedotas que confirmam estereótipos, mas revelam outras facetas dos parisienses. Ela lembra que uma vez chegou a uma loja que estava fechando e o vendedor se recusou a atendê-la, porque não podia perder tempo para ir ler um livro na pracinha. “Isso no Brasil seria muito difícil de a gente encontrar, uma pessoa que prefere não vender para aproveitar a vida. A gente aprende muito com esse espírito francês, também de bon vivant, do ‘bobô’ (burguês-boêmio) parisiense”, acredita. O gênero de “Entrelinhas” é difícil de definir. O livro é uma mistura de manual de língua e de cultura, um guia de viagem e um relato de viagem. “Eu defini como minicrônicas exatamente pelo fato de ter essa linguagem do dia a dia, do cotidiano”, indica.

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Sonia Rubinsky conquista franceses com novo álbum 'Goldfingers', homenagem à 'era de ouro' do piano

11/15/2024
Ela é conhecida mundialmente como "Madame Villa-Lobos", mas acabou de ganhar na França, com o lançamento do seu novo CD, "Goldfingers", uma epígrafe ainda mais impressionante: "la grande dame du piano", a "grande dama do piano". Um grande elogio quando se trata de uma pianista brasileira radicada na França, Sonia Rubinsky. Ela conversou com a RFI sobre seu novo álbum, "Goldfingers", que acaba de lançar no país, e já disponível em streaming para amantes do piano de todo o mundo. Para ver a entrevista na íntegra, clique na foto principal da matéria "Goldfingers", considerado pelo jornal francês Libération como uma "grande aula de piano", remete a uma era de ouro do instrumento. "Eu tive essa inspiração de chamar o CD de "Goldfingers". E confesso que brinquei um pouco com as palavras por causa da referência ao título homônimo do cinema [uma referência a "Goldfinger", série do agente 007 estrelado em 1964 por Sean Connery]. Mas, no fundo, é uma reverência aos grandes nomes da história do piano que tocaram profundamente o meu coração quando eu era uma jovem pianista, fazendo meu coração bater mais forte e que continuam me inspirando até hoje", explica a pianista brasileira Sonia Rubinsky, radicada na França. "Esses nomes como Horowitz, Rubinstein, que eu tive a honra de ouvir ao vivo, ou por gravações, tinham algo de especial. Eles conseguiam criar uma magia com as notas que ia além da música em si, sempre com muita elegância, estilo e um grande virtuosismo", analisa. Além de um álbum que celebra grandes intérpretes, "Goldfingers" também convoca grandes compositores. "Exatamente", concorda Rubinsky. "Naquela época, muitos dos grandes pianistas também eram grandes compositores. O maior exemplo, que todos conhecem, é Rachmaninoff, que não só era um compositor genial, mas também um pianista absolutamente magnífico", lembra. "Magia" "Hoje em dia, essa tradição de ser um pianista-compositor, ou até mesmo um pianista que improvisa, se perdeu um pouco. Nos tornamos mais compartimentalizados. Mas isso não significa que precisamos perder essa vontade de criar magia quando estamos diante do público", analisa a intérprete. Sobre sua relação com a França, a pianista afirma que gravou "[Georges] Bizet, incluindo as 'Variações de Carmen', que é uma transcrição de Horowitz sobre os temas da ópera homônima". Ela admite que o repertório francês influenciou seu trabalho e sua relação com a música, no trânsito entre o Brasil e a França. "Sem dúvida. Existem certos compositores que são essenciais para ampliar sua paleta de cores e emoções ao piano. É impossível, por exemplo, não passar por Debussy. Ele trouxe uma estética extremamente rica, sofisticada e que trata a música como uma matéria viva, o que ressoa muito comigo, especialmente quando penso na arte da interpretação", afirma. Sobre o apreço da pianista brasileira pela música contemporânea para piano, como foco no francês Olivier Messiaen, mas também em compositores brasileiros, como José Antônio Rezende de Almeida Prado, Rubinsky diz que "Almeida Prado, que também estudou aqui na França com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen, conseguiu desenvolver uma linguagem muito pessoal e eclética". Almeida Prado e o "pianismo brasileiro" "Quando você ouve uma obra de Almeida Prado, sua autoria é inconfundível. E são poucos os compositores modernos que têm essa qualidade única. Villa-Lobos também tem essa marca registrada, mesmo com a enorme diversidade de estilos que ele abordou. Há um lirismo profundo tanto em Almeida Prado quanto em Villa-Lobos, que é algo que eu valorizo muito. Sonia Rubinsky concorda que não seria exagero dizer que o Brasil tem uma tradição de excelentes pianistas e intérpretes. "Podemos afirmar isso com certeza. Houve um período, há uns 30, 40 ou 50 anos, em que se falava muito em 'pianismo brasileiro'. Isso começou com a formação de uma escola de piano que teve como alunas figuras notáveis como Guiomar Novaes e Magdalena Tagliaferro. Essa tradição de pianismo brasileiro...

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