
RFI CONVIDA
RFI
Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.
Location:
Paris, France
Networks:
RFI
Description:
Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.
Language:
Portuguese
Episodes
Festival de Biarritz recebe 'O Último Azul', filme de Gabriel Mascaro premiado em Berlim
9/24/2025
Em cartaz no Brasil desde 28 de agosto, onde já foi visto por mais de 140 mil pessoas, O Último Azul, longa-metragem do diretor pernambucano Gabriel Mascaro, teve pré-estreia francesa no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz, antes de entrar em exibição no país, em fevereiro do ano que vem. A RFI conversou com o cineasta no evento sobre o sucesso dessa produção, que ganhou o prêmio do júri no Festival de Berlim e foi apresentada, também, em sessões especiais em Toulouse e no Festival Brésil en Mouvement, em Paris.
Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz
Gabriel Mascaro conta que o longa-metragem já foi vendido para 67 países e está passando em mais de 80 festivais internacionais pelo mundo. O filme conta a história de Tereza, de 77 anos, personagem interpretada por Denise Weinberg, que viveu toda a sua vida em uma pequena cidade industrializada na Amazônia, até o dia em que recebe uma ordem oficial do governo para se mudar para uma colônia para idosos. Porém, ela se recusa a seguir a política de exílio forçado, como explica o diretor.
“É quase uma distopia. A gente criou uma alegoria de situações e tem até uma espécie de carrocinha de cachorro que leva os idosos embora para a colônia”, diz. “O filme tenta especular esse Brasil que tira os idosos da sociedade para que os jovens possam produzir sem se preocupar com os mais velhos. E, na verdade, termina falando sobre um sentimento de liberdade”, continua.
Protagonismo na terceira idade
O enredo também faz um alerta de que a vida não termina na terceira idade, quando muitos falam do fim. Ao partir em uma aventura sem rumo, a personagem Tereza acaba se redescobrindo. “Existem pouquíssimos filmes no mundo que falam sobre protagonistas idosos”, destaca Mascaro.
“Em geral, são associados a personagens lidando com a morte em estado terminal ou, às vezes, sobre nostalgia e sobre os gloriosos tempos que passaram e que não voltam mais”, acrescenta. “Esse é um filme sobre o presente. Ele olha para essa mulher que deseja e que pulsa, que transpira vontade de viver”, completa.
A Amazônia em foco
Além disso, o filme mostra para o grande público do cinema a força da floresta Amazônica, com as suas lendas, seu misticismo, e com a sua economia própria: uma vida que acontece de barco, em cima de passarelas, e que Mascaro fez questão de retratar.
“Eu queria fazer um filme sobre esse lugar, esse rio que você pode tanto se perder como se achar”, observa o diretor. “É um lugar quase mítico e um palco muito especial para acontecer essa fantasia, para olhar para a Amazônia de maneira diferente”, explica. “O filme começa em um frigorífico de carne de jacaré. Então, ele vai mostrando, de maneira muito singular, um Brasil que a gente não está acostumado a ver”, afirma Mascaro.
Ao longo da trama, o espectador é apresentado à sabedoria do "Caracol Azul", uma referência às medicinas da floresta. “Em um determinado momento, o personagem do Rodrigo Santoro pinga a baba do caracol no olho. Isso abre caminhos e torna possível ver o futuro”, ele explica. “É inspirado na fauna e na flora psicotrópica da Amazônia. Mas a gente preferiu criar o nosso próprio elemento, não quisemos usar nada que pudesse ser sagrado para algum povo indígena. A gente criou a nossa própria alegoria como uma inspiração do que já acontece”, diz o diretor.
O convite para a participação de Rodrigo Santoro aconteceu de forma natural. Gabriel Mascaro conta que o ator assistiu a seu filme Boi Neon (2015) e que o ator sinalizou o desejo de atuar em uma de suas produções. “Quando eu escrevi esse personagem, eu claramente pensei nele. E foi um carinho muito grande ver o Rodrigo Santoro aceitar esse projeto e o mergulho que ele deu no personagem. Foi muito bonito”, avalia.
Sucesso do cinema brasileiro no exterior
Gabriel Mascaro diz que não esperava um sucesso tão grande logo no lançamento de “O Último Azul”. O diretor também comentou o interesse renovado pelos cineastas brasileiros no exterior. “A gente...
Duration:00:06:05
O Brasil e a ONU aos 80 anos: entre a esperança ambiental e a crise multilateral que trava o mundo
9/23/2025
A ONU está completando 80 anos, em meio a uma grave crise estrutural e financeira, entre guerras na Ucrânia, na Faixa de Gaza, no Sudão e outras partes do mundo. A participação do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), sua busca por maior influência, seu papel crucial nas pautas ambientais, os desafios que a organização enfrenta e a importância contínua da ONU no cenário global são temas centrais abordados pela historiadora Carolina Aguiar, professora no Instituto de Relações Exteriores da USP.
Patrícia Moribe, de Paris
“A ONU foi criada no final da Segunda Guerra Mundial com o objetivo de manter a paz e evitar conflitos de dimensões globais, tendo sido bem-sucedida em prevenir uma guerra direta entre as grandes potências”, explica a especialista. O Brasil se destaca como um dos 51 membros fundadores da ONU em 1945, evidenciando seu compromisso com a organização desde o princípio. “Desde 1947, o país tem a distinção de ser o primeiro a discursar na Assembleia Geral da ONU, um fato simbólico que lhe confere uma certa voz na organização".
Apesar de sua atuação e projeção, o Brasil tem uma "histórica reivindicação" por uma participação mais ativa no Conselho de Segurança da ONU, composto por cinco membros fixos (China, Reino Unido, Estados Unidos, Rússia e França), que detêm o direito de veto, além de membros rotativos. No entanto, a modificação da Carta da ONU para ampliar o número de nações com assento no Conselho é um processo "bastante burocrático e improvável", exigindo a aprovação de dois terços dos votos dos países-membros e a concordância do próprio Conselho de Segurança, um cenário que parece "muito improvável", para a historiadora.
Aguiar levanta dúvidas sobre a eficácia de uma ampliação do Conselho no formato atual, citando a situação na Palestina como um exemplo claro da paralisia causada pelo veto de países aliados, especialmente os Estados Unidos, que são parceiros históricos de Israel, e que têm agido como um "grande entrave" para qualquer ação mais efetiva da ONU em certos contextos.
Os vetos cruzados no Conselho de Segurança impedem ações eficazes em crises como as do Oriente Médio e da Ucrânia. A ineficácia da ONU em conflitos, como os de Gaza e em outros locais como Nagorno-Karabakh, Sudão ou Níger, tem gerado desconfiança e questionamentos sobre sua relevância.
Brasil no protagonismo ambiental
Em um dos pilares mais urgentes da agenda global, o Brasil é reconhecido como um "país-chave" para as questões climáticas e o desenvolvimento sustentável, devido principalmente à vasta porção da Amazônia em seu território, explica a historiadora. A relevância do país é demonstrada por receber conferências da ONU, como a Rio 92, e pela preparação para sediar a COP 30, o que indica que o Brasil é visto como essencial para "atingir os objetivos climáticos e relacionados a um desenvolvimento sustentável".
Carolina Aguiar observa uma "certa descrença no papel da ONU", que ela associa a uma crise generalizada de organismos multilaterais e à ascensão da extrema direita. Existe uma preocupação real com a potencial saída dos Estados Unidos – que historicamente é o maior financiador da organização – de instâncias da ONU, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), e de acordos como o de Paris.
Apesar deste panorama desafiador, Aguiar ressalta a importância de ainda "reivindicar esse espaço da ONU", que permanece um "lugar de encontro, de diálogo e um lugar de desenvolvimento de programas fundamentais". Ela menciona o papel crucial da OMS na pandemia de Covid-19 e a necessidade contínua de abordar guerras, potenciais novas pandemias e as drásticas mudanças climáticas.
Duration:00:06:02
'Temos um Congresso comprometido com outras pautas que não o futuro do país”, critica cineasta Sandra Kogut
9/22/2025
A convite do Fórum das Imagens de Paris, a cineasta brasileira Sandra Kogut veio à capital francesa para exibir seu documentário “No Céu da Pátria Nesse Instante”, que retrata a crise política no Brasil durante a campanha às eleições de 2022 e os atos golpistas de 8 de janeiro do ano seguinte. Ela condenou duramente a aprovação da PEC da Blindagem e as articulações de deputados para aprovar uma anistia ou redução das penas aplicadas pelo STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado.
Adriana Moysés, da RFI em Paris
No longa “No Céu da Pátria Nesse Instante”, Sandra documenta os meses mais tensos da história política recente do Brasil. Ela lamenta que, enquanto parte da sociedade ainda comemorava o avanço da Justiça, com a condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão, o Congresso já se mobilizava para tentar reverter a decisão.
“A gente mal teve tempo de comemorar plenamente esse fato histórico. O Congresso já estava se articulando para tentar fazer essa anistia. É um momento bem complicado no Brasil, porque temos um Congresso completamente comprometido com outras pautas que não o futuro do país”, afirma.
Kogut destaca que o país paga, até hoje, o preço por não ter enfrentado devidamente os crimes da ditadura militar. Para ela, a condenação de Bolsonaro representa uma oportunidade única de o Brasil se comprometer de forma profunda com a democracia.
“O Brasil não foi capaz de fazer isso naquele momento e pagou um preço anos depois, porque ficou um pedaço da história mal resolvida. Agora, essa condenação é a oportunidade do país conseguir realmente se comprometer com a importância da democracia para garantir um presente e um futuro”, avalia.
A cineasta acredita que seu filme pode funcionar como resistência ao apagamento histórico promovido por setores do Congresso. “Mesmo na época em que eu estava fazendo o filme, a vontade de realizá-lo nasceu um pouco disso. As notícias eram tão inacreditáveis que você até esquecia o escândalo da semana anterior. Pensei: talvez, se colocarmos esses instantes lado a lado, seja mais fácil entender o que estamos vivendo”, explica. Para Kogut, o filme ganha novas camadas à medida que o tempo passa e mais fatos vêm à tona.
No documentário, o espectador acompanha personagens de diferentes regiões e espectros políticos do Brasil, mostrando realidades paralelas durante a crise democrática. Sandra Kogut destaca que o documentário não faz uma análise, mas mergulha na tensão e no medo vividos por todos, independentemente do lado político. O filme revela como pessoas com visões opostas consomem informações completamente diferentes e como é difícil criar diálogo entre esses mundos, mostrando a dificuldade de comunicação e compreensão mútua em um país polarizado.
Diálogo com outros países
O impacto da produção, segundo ela, é sentido tanto no Brasil quanto no exterior. “O filme é um pouco um ser vivo, porque registra um momento chave e vai ressoando de maneiras diferentes à medida que o tempo passa. Viajei um ano e meio com esse filme, fui para lugares muito diferentes – Coreia do Sul, Espanha, França. Eu chegava nesses lugares e percebia que aquilo dialogava diretamente com o que aquele país estava vivendo”, relata. Ela observa que o fenômeno da extrema direita e da desinformação não é exclusivo do Brasil, mas parte de uma corrente internacional que ameaça democracias consolidadas.
Kogut ressalta que o filme se diferencia por não ser uma análise fria, mas por acompanhar personagens comuns, o que facilita a identificação do público. “A política no dia a dia das pessoas, na escola, dentro de casa, na rua. Acho que as pessoas se reconhecem ali e reconhecem coisas que estão vendo acontecer em seus países”, diz.
'Não adianta cancelar'
Sobre o desafio da desinformação, a cineasta relata o impacto das campanhas articuladas nas redes sociais. “Era muito impressionante, porque para qualquer coisa que eu dissesse, alguém já tinha feito um vídeo para...
Duration:00:05:51
Homenageado em Biarritz, Kleber Mendonça Filho celebra reconhecimento internacional
9/21/2025
Um dos diretores brasileiros de maior projeção no cenário internacional, Kleber Mendonça Filho vive um momento de grande realização na carreira. O Agente Secreto, dirigido por ele e selecionado para representar o Brasil na busca por uma vaga entre os indicados ao Oscar 2026, abriu o Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz no sábado (20). O cineasta pernambucano é o grande homenageado do evento, que acontece até sexta-feira (26) no sudoeste da França, onde ele conversou com a RFI.
Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz
Kleber Mendonça é considerado uma espécie de “embaixador do cinema nacional” e porta-voz dos brasileiros em Biarritz. Nesta 34ª edição, ele recebeu o prêmio "Abraço de Honra", que celebra o talento de artistas e intelectuais que representam a América Latina. “Eu sempre tive uma referência pessoal de Biarritz, muito antes de conhecer o festival, e para mim foi uma grande honra. Acho que esse é um dos troféus mais lindos que já recebi”, comentou neste domingo (21), em entrevista à RFI.
O Agente Secreto (2025) estreou no Festival de Cannes, onde ganhou os prêmios de melhor diretor e melhor ator para Wagner Moura. Agora, a produção disputa um lugar entre os dez indicados a Melhor Filme Internacional no Oscar, a maior premiação do cinema.
“A cada dia eu me surpreendo mais. Estamos muito felizes com a trajetória do filme. De fato, ele estreou no Festival de Cannes e saiu de lá com prêmios muito importantes. Tenho viajado desde então com esse filme pelo mundo inteiro, e agora ele entra em dois ou três momentos muito importantes, que são os lançamentos em salas de cinema na Europa”, afirma.
O diretor destaca também o lançamento brasileiro, no dia 6 de novembro. Além disso, menciona a temporada dos prêmios na América do Norte, nos Estados Unidos. "Começamos muito bem em Telluride [Colorado] e Toronto, no início de setembro, e agora vem o Festival Internacional de Nova York. São muitas frentes, e eu tento acompanhar o filme da melhor forma possível”, comenta.
Longa ambientado no Recife em 1977
O Agente Secreto se passa no Recife em 1977 e explora as tensões políticas da época da ditadura militar. “Esse passado é, em parte, pessoal, porque eu tinha nove anos na época. Lembro do clima, da atmosfera, do cheiro de 1977”, conta. “Além disso, tem todo o meu conhecimento histórico, histórias que ouvi e que me contaram, as pesquisas que fiz em jornais, as fitas que ouvi. Tudo isso me leva a um panorama do nosso país que considero muito importante contar”, completa.
Na trama, Wagner Moura vive o personagem Marcelo, que representa um dos muitos brasileiros perseguidos pelo regime militar. “Cheguei a essa história observando uma lógica que pode existir em qualquer país que passa por um regime autoritário”, explica o diretor. “Costumo dizer que O Agente Secreto tem a lógica do Brasil. Existem muitas histórias de profunda injustiça no nosso país, infelizmente”, destaca Kleber.
O cineasta pernambucano diz ter buscado inspiração no filme Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho. “Se você assistir àquele filme, verá que ele tem a lógica do nosso país. É uma lógica de profunda injustiça. Mas é o tipo de narrativa sobre o Brasil que me interessa muito”, diz. "Em O Agente Secreto, quis desenvolver algo que fosse muito autêntico, muito humano, que tivesse muito amor, mas que também tivesse essa lógica extremamente cruel do nosso país”, explica.
O filme apresenta elementos de realismo fantástico, como a história da perna humana encontrada dentro de um tubarão. Kleber explica: “Essa história da perna cabeluda não é uma criação minha. É uma lenda urbana que surgiu nos anos 1970 como um antídoto do jornalismo para poder contar histórias que não estavam sendo permitidas por causa da censura”. Ele detalha: “Se alguma coisa acontecia envolvendo a polícia e situações de violência — seja de homofobia ou de preconceito — quando a polícia chegava num parque e espancava as pessoas, como os jornalistas não...
Duration:00:05:55
'A COP30 acontece no melhor momento para mostrar o que está em jogo na Amazônia', diz filha de Chico Mendes
9/19/2025
Durante o festival Brésil en Mouvements, em cartaz até sábado em Paris, o documentário Empate (2019), de Sérgio de Carvalho, resgata a luta de Chico Mendes e dos seringueiros do Acre pela preservação da Amazônia. A RFI entrevistou Ângela Mendes, filha do líder ambiental assassinado em 1988 e presidenta do Comitê Chico Mendes, que foi convidada para um debate sobre o legado do pai e os desafios atuais da causa socioambiental brasileira.
A menos de dois meses do início da COP30, em Belém, Ângela destacou a importância de manter viva a memória da resistência dos povos da floresta. “Quase 40 anos depois do assassinato do meu pai, ainda precisamos continuar resistindo”, afirmou. "O filme continua muito atual", lamentou.
Segundo a ativista, os ataques aos territórios indígenas e tradicionais continuam, impulsionados por um sistema “extremamente capitalista e neoliberal”, que impõe violência sobre as populações locais. “Esses territórios ainda são muito ameaçados pela ambição e pela cobiça. As populações que vivem neles estão à margem do acesso a políticas públicas estratégicas para garantir seu bem viver.”
Ela reconhece os desafios enfrentados pelo governo Lula diante de um Congresso hostil às pautas socioambientais.
“Nunca vi um governo com mais dificuldade de fazer um mandato coerente com sua trajetória. Lula está tensionado por todos os lados por forças de extrema direita”, disse. “A própria ministra Marina Silva, uma mulher negra da Amazônia, sofre as piores violências dentro daquele Congresso.”
Apesar das dificuldades, Ângela vê a realização da COP30 na Amazônia como uma oportunidade histórica para colocar os povos da floresta no centro da discussão climática. “A COP está acontecendo no melhor momento, no melhor lugar, para trazer aos olhos do mundo o que está acontecendo na Amazônia – e não só na brasileira.”
“O Brasil continua entre os países que mais matam ativistas ambientais, e isso precisa mudar”, destaca.
Contradições da União Europeia
Durante a entrevista, Ângela também fez duras críticas à atuação da União Europeia. Segundo ela, embora o bloco mantenha um discurso diplomático pró-preservação, os países europeus têm falhado em oferecer apoio efetivo às comunidades amazônicas. Ela denuncia que, em meio ao cenário global de guerras, como as da Ucrânia e de Gaza, recursos que antes eram destinados a organizações locais foram redirecionados para gastos militares, agravando a crise climática e humanitária.
Ela também apontou a contradição de países como Noruega e Alemanha, principais financiadores do Fundo Amazônia, que mantêm empresas atuando na região com impactos negativos sobre a saúde das populações locais e o meio ambiente.
“É como se a doação ao fundo fosse uma compensação pelos danos causados, mas não há como compensar vidas perdidas ou rios poluídos”, afirmou.
Ângela Mendes defende que os territórios protegidos e os saberes tradicionais são parte essencial da solução para a crise climática, mas ainda não são reconhecidos como tal. Ela pede que a população europeia pressione seus governos, bancos e empresas para que deixem de financiar o desmatamento e a violência contra os povos da floresta, e que acordos comerciais como o Mercosul-União Europeia garantam uma comercialização justa dos produtos amazônicos.
Duration:00:06:23
Em 'romance musical', Antonio Interlandi destaca a potência sonora de dois pianos no palco
9/17/2025
O ator, diretor e produtor goiano Antônio Interlandi, radicado na França, estreia no dia 23 de setembro o espetáculo “Deux pianos et le regard perdu vers la mer” (“Dois pianos e o olhar perdido no mar”, em tradução livre), parte da programação da temporada cultural Brasil-França. Com direção da atriz e cineasta portuguesa Maria de Medeiros, a montagem propõe uma experiência musical e poética que transcende o formato convencional de um recital.
No palco, Interlandi interpreta cerca de 20 canções – brasileiras, francesas, americanas e italianas – que falam de amor, separação, celebração, alegrias e desilusões. Acompanhado pelos pianistas Suzanne Ben Zakoun e Mathieu El Fassi, o espetáculo se constrói como um romance musical, onde cada canção é entrelaçada por textos curtos, como cartões postais, que revelam a jornada emocional do personagem.
“Não é um musical, mas também não é só um recital. Há uma história que se desenrola entre as canções, como se o personagem estivesse em viagem, escrevendo cartas enquanto supera uma 'dor de coração'”, explica Interlandi.
A ideia do espetáculo nasceu da parceria artística entre o ator brasileiro e o pianista francês Mathieu El Fassi, que já trabalharam juntos em projetos anteriores, como o célebre musical intimista “Ciao Amore Ciao”, que reinventava o universo do poeta Luigi Tenco, ícone da música italiana.
Desta vez, em “Dois pianos”, a inspiração de Interlandi veio do disco “Valsa brasileira”, de Zizi Possi, que escutava na adolescência. “Nesse disco maravilhoso, histórico, muitas das canções eram arranjadas para dois pianos. Eu ficava muito maravilhado com o som, a possibilidade de harmonia e orquestral que os dois pianos traziam.” A facilidade e a criatividade de El Fassi para a execução dos arranjos mostrou que a dupla estava na boa direção.
“Começamos pela música, sem compromisso com produção. Trabalhamos quase um ano nos arranjos, que trouxeram uma modernidade e uma nova leitura para canções conhecidas e outras menos exploradas”, conta o artista.
O repertório inclui obras de Chico Buarque, Georges Brassens, Jacques Brel, Claude Nougaro, Cole Porter e até trechos de musicais de Stephen Sondheim. Algumas canções ganham versões que reforçam o diálogo cultural entre Brasil e França.
A cenografia é minimalista e intimista: dois pianos dominam o palco, iluminados por uma luz cuidadosamente desenhada, que guia o público pela narrativa emocional do espetáculo, sem distrações visuais.
"Chamei um imenso iluminador francês de origem portuguesa, que é o Antonio de Carvalho, e a Nadia Luciani, que está vindo do Brasil para participar com a gente desse projeto", conta Interlandi. Com ampla experiência em espetáculos de artistas renomados, como Cirque du Soleil e Ray Charles, entre outros, Carvalho “trouxe aquela pincelada que faltava”, destaca o ator brasileiro.
A chegada de Maria de Medeiros à direção foi decisiva para dar forma teatral ao projeto. Segundo Interlandi, a atriz mergulhou no universo do espetáculo e trouxe o olhar necessário para transformar a sequência de músicas e textos em uma experiência cênica coesa.
“Ela conhece profundamente esse repertório e conseguiu criar um espaço teatral possível, mesmo sem ser uma peça de teatro convencional. A simplicidade e o contato direto com o público foram fundamentais”, afirma.
“Deux Pianos et le regard perdu vers la mer” promete ser um mergulho sensível e sofisticado na música e na emoção, conduzido por um artista que transita com fluidez entre diferentes linguagens e culturas.
O espetáculo será apresentado na sala Le 360, um novo espaço parisiense dedicado à música, no 18° distrito da capital, na terça-feira (23), às 20h30 (le360paris.com).
Duration:00:06:04
PCC já opera na Europa além do tráfico de drogas e autoridades ainda minimizam o risco
9/15/2025
A recente operação da Polícia Federal (PF) brasileira, batizada de Carbono Oculto, revelou uma faceta alarmante da evolução do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo Roberto Uchôa, membro do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o grupo deixou de ser apenas uma organização de narcotráfico para se tornar um verdadeiro “conglomerado criminoso empresarial”, com atuação global e crescente influência em mercados legais, inclusive na Europa.
“O que ocorre é que essa metamorfose que eu assim chamei do PCC, ela não foi rápida, não foi momentânea. É um processo longo”, explica Uchôa, que atua como consultor especializado em crime organizado, controle de armas de fogo e políticas de segurança pública no Brasil.
Fundado nos presídios paulistas como uma irmandade para proteger criminosos da violência do sistema penitenciário, de abusos de autoridade e de tortura, o PCC expandiu sua atuação para fora das cadeias, dominando o tráfico de drogas e, posteriormente, o comércio internacional de entorpecentes.
A facção ganhou força financeira ao controlar toda a cadeia do narcotráfico – da produção à remessa internacional. “É a partir daí que começa a entrada do PCC na Europa, na África Ocidental e em outros países”, afirma Uchôa. Dados do Ministério Público de São Paulo indicam que o grupo já está presente em 28 países, muitos deles europeus.
Do tráfico à lavagem de dinheiro em mercados legais
Segundo Uchôa, há uma percepção equivocada por parte das autoridades europeias de que o PCC atua apenas como fornecedor de drogas em larga escala – o chamado “atacado” do narcotráfico.
“Nesse momento, o PCC está focado no transporte internacional da droga, especialmente para a Europa. A venda, no varejo, é feita por organizações locais”, explica. Essa estrutura faz com que o grupo pareça menos ameaçador, já que não está diretamente envolvido em atos violentos ou em confrontos urbanos no continente.
“Por isso, muitos ainda enxergam o PCC como uma organização criminosa brasileira focada exclusivamente no narcotráfico, sem grande impacto sobre o sistema financeiro ou sobre a segurança pública europeia”, observa Uchôa. No entanto, essa visão superficial ignora uma transformação profunda e estratégica da facção.
A operação Carbono Oculto, realizada no Brasil, revelou que o PCC já ultrapassou a fronteira do tráfico e passou a atuar intensamente nos mercados legais.
“O tráfico de drogas foi, inicialmente, uma forma de capitalização. Depois, o dinheiro passou a ser lavado em mercados ilegais. E, num terceiro momento, o PCC percebeu que o mercado legal não só serve para lavar dinheiro, mas também para gerar lucro direto na ilegalidade”, detalha.
Essa nova fase inclui atividades como contrabando de cigarros, adulteração de combustíveis e garimpo ilegal. “São várias as formas de atuação que o PCC passou a explorar no Brasil, e o risco é que esse modelo seja replicado na Europa”, alerta Uchôa.
A presença da facção em países europeus, como Portugal, já começa a mostrar sinais dessa expansão. “O PCC tem adquirido estabelecimentos comerciais, imóveis e até se falou em investimentos em times de futebol. Isso é um alerta claro”, afirma. Ele adverte que, se não houver uma resposta firme, o grupo pode começar a distorcer o mercado legal europeu da mesma forma que fez no Brasil – comprando postos de combustíveis, por exemplo, para lavar dinheiro em operações que envolvem grandes volumes de dinheiro vivo.
“Esse é o perigo: tratar o PCC apenas como uma organização de tráfico, quando na verdade ele está se infiltrando nos mercados legais e criando distorções profundas. O exemplo brasileiro precisa ser levado a sério pelas autoridades europeias”, enfatiza.
Europa sob risco: o caso português
Em Portugal, a presença de uma grande comunidade brasileira no país facilita a atuação da facção. Uchôa destaca uma operação recente que exemplifica essa complexidade. “O governo português, em parceria com a Polícia Federal brasileira, desmantelou um esquema de...
Duration:00:06:08
ONU aos 80 anos: confiança abalada nas Nações Unidas é reflexo da crise do multilateralismo
9/13/2025
A Organização das Nações Unidas está completando 80 anos em 2025. Em um mundo marcado por crises crescentes, desigualdades e uma confiança abalada nas instituições globais, a organização lançou a iniciativa “ONU80”, a fim de otimizar operações e reafirmar a relevância da ONU em um cenário de rápida transformação. Para Felipe Loureiro, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, a ONU é “um reflexo mais evidente da atual crise do multilateralismo".
Patrícia Moribe, da RFI em Paris
Felipe Loureiro aponta que a crise da ONU é multifatorial e complexa, mas elenca os elementos mais importantes que a minam. Para o historiador, o fator mais significativo é a maneira como os estados mais poderosos, econômica e militarmente, têm atuado no sistema internacional, "minando os princípios de segurança coletiva e as bases do multilateralismo".
Como exemplos, ele cita a intervenção unilateral dos EUA no Iraque em 2003, que "passou por cima do Conselho de Segurança"; a intervenção da OTAN na Líbia em 2011, que excedeu o mandato do Conselho de Segurança de criar uma "no-fly zone" e levou a uma mudança de regime e a agressão da Rússia contra a Ucrânia a partir de 2014 e em 2022, que violou "indiscutivelmente a Carta das Nações Unidas".
Essas ações, muitas vezes realizadas por países que são membros permanentes do Conselho de Segurança, "vão minando o respeito às regras, do respeito ao fundamento mais importante das Nações Unidas, que é o respeito à soberania e à integridade territorial dos seus membros".
Loureiro aponta ainda que a ascensão de lideranças de extrema direita em países também mina o escopo de atuação da ONU. “A falta de financiamentos e o sucateamento da estrutura também é um problema crítico”, com a "seca de recursos" de alguns dos principais financiadores, como os Estados Unidos.
Conselho de Segurança à prova em tempos turbulentos
Loureiro questiona a crescente irrelevância do Conselho de Segurança, afirmando que "cada vez menos faz sentido". Ele argumenta que nos conflitos da Ucrânia e em Gaza, "em ambos os casos, a gente tem, direta ou indiretamente, membros do Conselho de Segurança atuando" em violação à Carta da ONU ou apoiando terceiros que o fazem.
Isso resulta no bloqueio de "quaisquer ações significativas por parte do Conselho de Segurança", tornando-o inoperante. Além disso, o Conselho tem demonstrado "pouca atenção" a guerras e crises no Sul Global, como a guerra civil no Sudão, onde embargos de armas são "deliberadamente desrespeitados" sem consequências. Essa dinâmica, para Loureiro, "coloca em xeque toda a discussão sobre para que serve o Conselho de Segurança" e a legitimidade dessa estrutura.
Apesar de tudo, ONU continua indispensável
Apesar de suas críticas, o professor Loureiro é enfático ao declarar que "o mundo certamente estaria muito pior sem as Nações Unidas". Ele ressalta o papel "muito relevante" da organização em missões de paz, ajuda humanitária (como programas de alimentos do Programa Mundial de Alimentos) e na defesa dos direitos humanos, mitigando os efeitos humanitários de crises.
Para superar os desafios, Loureiro aponta dois caminhos essenciais. Ele defende um maior papel para o protagonismo de "coalizões diversas de países" como BRICS, G77 e G20 que, embora não universais como a ONU, podem "contribuir para mitigar" desafios e "diminuir essa paralisia".
O historiador acredita ainda que é possível "resistir a esse processo de enfraquecimento" do multilateralismo dentro da própria ONU, com instituições como a Assembleia Geral buscando, com seus limites, "dar vida a esse multilateralismo".
Memória e reconhecimento: mulheres e diplomatas brasileiros
Loureiro também destaca a importância de "resgatar essas histórias de atores e de atrizes, principalmente do sul global, que ajudaram a construir as Nações Unidas e que muitas vezes são invisibilizadas". Ele enfatiza o papel crucial de mulheres sul-americanas no início da ONU, mencionando especificamente a diplomata brasileira...
Duration:00:06:06
Jau celebra retorno a Paris na Lavagem da Madeleine ao lado do Olodum
9/12/2025
A Lavagem da Igreja de la Madeleine, a maior festa popular afro-brasileira de Paris, acontece no próximo domingo (14). Neste ano em que a França e o Brasil comemoram 200 anos de relações diplomáticas, o cortejo de blocos de percussão e baianas será puxado pelo Olodum e terá participação do cantor baiano Jau.
O reencontro de Jau com o Olodum na festa popular ganha contornos ainda mais simbólicos, pois foi com o grupo que ele iniciou sua trajetória musical.
“Eu comecei minha carreira no Olodum, já viajei o mundo inteiro com eles. Ter a oportunidade de dividir o palco da Madeleine com o Olodum é sensacional. Estou em casa, com os amigos, com a banda que é o meu útero e que me pariu”, afirmou o cantor em entrevista à RFI.
Nesta 27ª edição da Lavagem de la Madeleine, Jau será acompanhado por uma banda base de cerca de oito músicos, que também tocarão com outros artistas convidados, como Armandinho Macêdo e Robertinho. Segundo ele, tudo está ensaiado e preparado para uma apresentação vibrante: “Está tudo muito lindo para a gente fazer uma entrega maravilhosa.”
Mais do que uma performance musical, a Lavagem da Igreja de la Madeleine representa, para Jau, uma oportunidade de diálogo cultural. Ele destaca a abertura da França à cultura afro-brasileira, afro-baiana e a muitos países do continente africano, como Senegal e Costa do Marfim.
“A França talvez seja o país europeu que mais abre as portas para a cultura afro. Não só a afro-brasileira, mas também uma abertura gigante para a cultura dos países africanos. A França talvez seja o país europeu que mais abra as portas para essa cultura afro-mundial”, afirma.
Após a apresentação em Paris, Jau segue para Lisboa, onde participa de outro evento cultural, antes de retornar ao Brasil. Lá, ele continua envolvido em projetos como o “Pôr do Jau”, que percorre o país com shows ao pôr do sol, e gravações audiovisuais no Pelourinho, exaltando a beleza e a força da música baiana.
Duration:00:05:54
ONU aos 80 anos: encruzilhada entre relevância global e soberania nacional
9/9/2025
A Organização das Nações Unidas (ONU) vive um momento crítico em sua trajetória. Ao completar 80 anos, a instituição enfrenta uma crise multifacetada que envolve desafios financeiros, estruturais e de identidade. Segundo a professora Tânia Mansur, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, o programa de reformas internas da ONU representa uma “tarefa bastante complexa”.
Patrícia Moribe, em Paris
Para enfrentar esses desafios, a ONU lançou a iniciativa "ONU80", um ambicioso programa de reformas com o objetivo de racionalizar suas operações, ampliar seu impacto e reafirmar sua relevância em um mundo em constante transformação.
A professora da UnB identifica um "momento de virada" para a organização, especialmente desde a década de 1990, que exige uma redefinição de seus papéis. Isso levanta questões importantes, como “qual será a participação do Brasil nesse novo contexto?” e “qual o futuro das Nações Unidas?”.
Além dos desafios políticos e conceituais, a ONU enfrenta uma grave crise financeira e estrutural. Em 2024, a instituição registrou um déficit orçamentário de US$ 859 milhões, com apenas 112 dos 193 países-membros em dia com suas contribuições – incluindo a inadimplência dos Estados Unidos, seu maior financiador histórico. Diante desse cenário, o secretário-geral António Guterres foi obrigado a congelar contratações e adotar medidas rigorosas de contenção de gastos.
Tarefa complexa
Para Mansur, reformar a ONU é uma tarefa complexa, pois exigiria a anuência de atores com interesses profundamente divergentes – algumas vezes “inimigos viscerais” –, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade técnica dessas negociações. Ela ressalta que a ONU é uma estrutura gigantesca, com 15 agências especializadas, além de diversos programas, fundos e escritórios, o que torna difícil imaginar soluções simples. Segundo ela, é necessário mais “clareza”, “responsabilização” (accountability) e “agilidade no processo decisório”.
A iniciativa "ONU80" busca justamente esses objetivos: melhorar a eficiência interna, revisar mandatos e promover mudanças estruturais. No entanto, essas propostas têm gerado preocupações internas. Estimativas não oficiais apontam para a possível eliminação de cerca de 2.000 funcionários em Genebra e até 7.000 no secretariado global. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), por exemplo, já confirmou o corte de 3.500 postos de trabalho em todo o mundo.
Para o governo brasileiro, segundo Mansur, as soluções passam pela “negociação” e por uma “mudança na visão do que é o poder mundial”. Ela também destaca que, historicamente, ações de “solidariedade” e “ajuda humanitária” nas relações internacionais carregam elementos de influência estratégica (soft power) e interesses específicos, nem sempre motivados apenas por altruísmo. Essa compreensão exige atenção especial aos modelos e formatos de atuação da ONU, para garantir que a organização continue relevante e eficaz.
Duration:00:06:14
Lavagem da Madeleine 2025: Paris se rende à força da cultura afro-brasileira
9/9/2025
Entre os dias 9 e 14 de setembro, Paris será tomada pelo espírito da Bahia. A 24ª edição da Lavagem da Madeleine, criada pelo artista baiano Roberto Chaves, promete ser a maior já realizada na capital francesa. Mais do que um ritual, o evento é uma celebração da ancestralidade, da fé e da inclusão – e este ano, ganha ainda mais força por integrar as comemorações dos 200 anos das relações diplomáticas entre Brasil e França.
A força da batida do Olodum, liderado pelo cantor e compositor Jau, animará o cortejo no domingo. “Essa edição é especial porque a Lavagem foi colocada como carro-chefe da programação oficial do ano do Brasil na França. A França inteira está sabendo que a gente existe”, comemora Chaves, conhecido carinhosamente como Robertinho.
Apesar de ocorrer em um país laico, o ritual da lavagem das escadarias da Igreja da Madeleine, no 8° distrito de Paris, tem conquistado os parisienses. “Os franceses vão pela cultura, pela alegria, mas muitos também vão pela fé. Já ouvi histórias de cura, de encontros, até de casamentos que nasceram ali”, conta o artista.
A cerimônia mistura elementos do candomblé e do catolicismo, com baianas jogando água de cheiro e fiéis abraçando o padre e o pai de santo. “Cada um interpreta à sua maneira. Uns veem Santa Madalena, outros os orixás. O importante é que a fé move montanhas”, diz Chaves.
A programação começa nesta terça-feira (9), com uma cerimônia fechada ao público na Embaixada do Brasil. O momento será dedicado à entrega de medalhas e honrarias a voluntários, empresários e instituições que, ao longo dos anos, contribuíram para a realização da Lavagem – muitas vezes sem contar tempo, esforço ou recursos. “São pessoas que carregam esse evento nas costas. É justo que recebam esse reconhecimento”, diz o artista.
Cultura e resistência
A Lavagem também assume seu papel pedagógico com um colóquio universitário sobre os afro-atlânticos, o patrimônio imaterial e a ancestralidade como eixo de resistência no anfiteatro da Universidade Nouvelle Sorbonne, na quarta-feira (10). A proposta, segundo Chaves, é reafirmar que o evento não se resume à festa: “A Lavagem é uma manifestação cultural pela paz, pela reparação, pela inclusão. Não é Carnaval de rua.”
No dia 11, o escritor Antônio Cansado lança seu livro “O Menino que Sonhava com Pão de Queijo”, celebrando a força da narrativa pessoal como instrumento de resistência e identidade. Já no dia 12, o palco será do músico Armandinho Macedo, filho do idealizador do trio elétrico e da guitarra baiana. Em apresentação no Bellucci’s Bar, ele representa, segundo Chaves, “a alma do Carnaval da Bahia, a revolução sonora que mudou o Brasil”.
No sábado (13), estão previstas oficinas gratuitas de samba, lambada e samba-reggae. Os workshops, já lotados, funcionam como aquecimento para o cortejo, conectando corpo e espírito à vibração brasileira. “É o esquenta da alma”, resume Chaves.
O ápice da celebração acontece no domingo (14). Às 10h, o público se reunirá na Praça da República, em Paris. "Todos vestidos de branco, em um gesto simbólico pela paz mundial", destaca. A concentração será animada por um DJ brasileiro e pela banda de Robertinho, culminando com a chegada triunfal do grupo Olodum, liderado por Jau. “É o grupo mais mediatizado da cultura afro no mundo. Recebê-los é um gesto de respeito à nossa história”, ressalta.
Apoteose e homenagens
Às 11h, o animado cortejo, embalado pelos ritmos das batucadas e maracatus, a ginga da capoeira e a ala das baianas, seguirá em direção à Igreja da Madeleine. O ritual na escadaria da igreja será celebrado pelo padre da paróquia e o babalorixá Pai Pote, do terreiro Ilê Axé Ojú Onirê de Santo Amaro da Purificação. “A Lavagem é isso: um gesto de amor, de tolerância, de aceitação das diferenças”, enfatiza o baiano radicado na França.
Na porta da igreja, duas mulheres serão homenageadas: a jornalista negra Wanda Chase, responsável por divulgar o evento no Brasil, e a cantora Preta Gil, primeira madrinha da...
Duration:00:10:45
'Queremos um governo de esquerda que defenda justiça fiscal e social', diz deputada socialista
9/6/2025
Em meio à instabilidade que marca a política francesa desde a dissolução da Assembleia Nacional em 2024, o Partido Socialista (PS) se apresenta como uma alternativa viável para liderar um novo governo, caso o atual primeiro-ministro seja derrotado na votação de confiança marcada para esta segunda-feira (8).
Em entrevista à RFI, a deputada socialista franco-brasileira Céline Hervieu, representante de Paris, confirmou que o partido está interessado em uma eventual participação no próximo governo, mas com condições claras. “Não queremos entrar num governo da direita para ser fiador de uma política que não representa nossos valores. Queremos um governo de esquerda de verdade, que defenda os mais vulneráveis, a justiça social e fiscal, e enfrente os problemas climáticos e de desigualdade”, afirmou.
Desde as eleições legislativas de 2024, a Nova Frente Popular – coalizão de partidos de esquerda – obteve a maioria dos votos, mas não conseguiu chegar ao poder Executivo. Segundo a deputada, o presidente Emmanuel Macron ignorou o resultado das urnas ao nomear um governo que não refletia a vontade popular. “O presidente fez uma escolha diferente, não respeitou o resultado das eleições. Isso nunca aconteceu antes”, criticou.
A crise se agravou com a proposta do atual primeiro-ministro, François Bayrou, de centro, de cortar € 44 bilhões do orçamento de 2026, medida que visa conter o déficit público e reduzir a dívida nacional. Para os socialistas, essa política de austeridade é insustentável. “Essa lógica vai desgastar ainda mais os nossos serviços públicos, os hospitais, as creches, as casas de repouso. E ainda querem que os franceses trabalhem mais tempo, sem ganhar mais”, denunciou a parlamentar.
Como alternativa, entre outras propostas, o PS propõe uma economia de € 14 bilhões por meio da revisão de subsídios ineficazes às empresas e da redução de gastos com ex-políticos e agências pouco transparentes. “A França gasta bilhões de euros por ano ajudando empresas sem contrapartida. Podemos economizar sem pesar nas costas de quem já paga muito”, explicou.
Sem maioria, socialistas apostam em compromissos parlamentares
Apesar da disposição do PS em formar um governo de compromisso, a conta no plenário não fecha. Mesmo com o apoio dos ecologistas, comunistas e parte do bloco presidencial, o número de deputados ainda não alcança os 289 votos necessários para garantir a maioria na Assembleia Nacional. Questionada sobre essa limitação, a deputada reconheceu o desafio, mas defendeu uma abordagem pragmática.
“Estamos prontos para encontrar maioria com todos que acreditam que os esforços devem ser compartilhados de forma justa”, afirmou. Ela citou como exemplo o apoio suprapartidário à proposta do imposto Zucman, já aprovada no Parlamento, como sinal de que é possível construir consensos pontuais. “Podemos encontrar maioria com parlamentares que colocam o interesse do país acima do seu próprio interesse político. Pode ser da esquerda, pode ser da direita”, disse.
A deputada também garantiu que, caso o Partido Socialista assuma o governo, não recorrerá ao artigo constitucional 49-3 que permite aprovar o orçamento sem votação. “Nós não iremos utilizar esse mecanismo. Isso significa que seremos forçados a fazer concessões com os outros partidos. E estamos prontos para isso”, afirmou.
Sobre o risco de novas eleições antecipadas, ela reconheceu o impacto do calendário eleitoral, com a eleição presidencial marcada para 2027 e as municipais no ano que vem. No entanto, ela acredita que o momento exige maturidade política. “Os franceses esperam que a classe política seja capaz de tomar boas decisões para o bem do país. Precisamos de responsabilidade e de uma direção justa”.
Duration:00:13:54
Anna Suav traz a força do hip-hop amazônida para festival em Marselha
9/5/2025
No Dia da Amazônia, celebrado neste 5 de setembro, a rapper manauara Anna Suav faz sua estreia internacional no palco do Festival Trópicos de Verão, em Marselha, no sul da França. A artista, que nasceu em Manaus e vive em Belém, é uma das vozes mais potentes da cena afro-amazônida e leva ao palco europeu uma estética sonora e visual que denuncia injustiças, celebra identidades periféricas e transforma narrativas sobre a Amazônia, revelando sua complexidade urbana, cultural e ancestral.
“É a primeira vez que saio do Brasil, e logo para um país que sempre sonhei conhecer”, conta Anna, emocionada. Estrear justamente no Dia da Amazônia, diz ela, tem um simbolismo muito forte. “Acho que cada vez mais o mundo está entendendo o quanto a gente precisa comunicar e denunciar o que acontece na Amazônia. Usar meu trabalho, minha arte e o hip-hop, que é também um movimento ideológico, para ocupar esse espaço é uma responsabilidade enorme, mas também um propósito do meu trabalho.”
Com letras que abordam racismo, machismo, xenofobia e a realidade das periferias amazônicas, Anna Suav vê no rap uma ferramenta de transformação. “O DNA do hip-hop é denunciativo. É sobre dar voz às pessoas que vivem à margem, não por serem marginais, mas por serem excluídas. Meu compromisso com o movimento é iluminar essas questões e provocar micro revoluções.”
A relação com o hip-hop começou cedo, ainda na infância, mesmo sem saber nomear o estilo. “Eu achava incrível as batidas, o flow. Depois, na juventude, fui às batalhas de rima e entendi que aquilo era rap. Fez todo sentido, porque reunia todos os elementos dos quais faço parte: juventude, negritude, periferia. Foi assim que me tornei rapper.”
Ode à Amazônia urbana
Recentemente, Anna lançou o single “Barril 092”, que marca uma nova fase em sua carreira. A faixa é uma ode à Amazônia urbana, conectando Manaus e Belém por meio de referências culturais como o Boi Bumbá de Parintins, o Forró de Galeroso e símbolos da gastronomia local, como o dindim, geladinho que em alguns lugares é chamado de sacolé e em outros de chope (ou chopp). “Queríamos mostrar que as periferias têm linguagem própria, sotaque, vestimenta. E fazer isso sem estereótipos, dentro da cultura hip-hop.”
Enquanto mulher preta, amazônida e LGBTQIA+, Anna encontra no território sua maior fonte de inspiração. Sua arte nasce da vivência e da urgência de transformar realidades. “Essa música é sobre não esperar a validação de ninguém para existir, para sonhar alto ou pra conquistar o que é meu. É sobre ambição sim, mas uma ambição que nasce da vontade de mudar minha realidade e abrir caminho para quem vem junto”, afirma a artista, que também assina a composição e a direção criativa do clipe.
O videoclipe de "Barril 092" traz uma estética pop vibrante, influenciada por divas da disco music e pela formação de Anna como bailarina. “Meu pai me alfabetizou musicalmente com cultura pop. Isso atravessa meu trabalho, minha estética, minha forma de comunicar.”
Reconhecimento
Reconhecida pela Academia Latina da Gravação como uma das dez rappers femininas que estão dando nome ao hip-hop brasileiro, Anna celebra o destaque da região Norte. “Esse reconhecimento carimba nosso percurso. Ainda passamos por esse aspecto da xenofobia dentro do Brasil, por uma região ainda considerada muito isolada, muito distanciada do restante do Brasil. Quando é o Brasil que está distanciado da gente. É importante que a diversidade brasileira seja contemplada, que se lembrem da nossa intelectualidade amazônida, da nossa inteligência ancestral.”
Após o show em Marselha, Anna segue para Paris, onde se apresenta no dia 12 de setembro. Depois, retorna à cidade para uma roda de conversa sobre produção artística e audiovisual na Amazônia. A turnê se encerra em Portugal, com apresentações na cidade do Porto nos dias 20 e 21.
Duration:00:11:12
Em 100 fotografias, livro revela conexões globais da América Latina desde o período pré-colonial
9/4/2025
Um continente marcado por revoluções, trocas culturais e conexões globais ganha nova leitura no livro "História da América Latina em 100 fotografias", do historiador e jornalista Paulo Antonio Paranaguá, lançado neste mês de setembro pela editora Bazar do Tempo. A obra, construída como um mosaico de 100 fotografias, percorre desde o passado pré-colombiano até os dias atuais, revelando momentos decisivos e figuras emblemáticas que moldaram a região.
“As histórias se escreveram na América Latina a partir do século 19 para justificar os países independentes, com fronteiras muito aleatórias. Essas histórias estão voltadas para si mesmas e não tratam das relações na região, e às vezes não tratam sequer das relações entre esses países e o resto do mundo”, afirma o autor, ao explicar o ponto de partida de sua pesquisa.
Paranaguá defende que a evolução da América Latina precisa ser contada como uma história conectada, que reconheça a relação triangular permanente com Europa, Estados Unidos e uma relação forçada com a África, além de uma conexão menos conhecida com a Ásia desde o período colonial. "É importante abordar a história da América Latina em termos de história comparada, de história global, de uma história conectada entre esses países e outras regiões do mundo", sublinha.
A escolha das fotografias não seguiu uma cronologia tradicional. Paranaguá recorreu a registros dos descobrimentos arqueológicos do século 19 e início do século 20 para lembrar ao leitor que a história da região começou muito antes da invenção da fotografia. "Nossa história começou com os olmecas, os astecas, os incas, os guaranis", destaca. “Isso dá uma outra perspectiva histórica para o livro”, explica.
A curadoria das imagens foi um dos maiores desafios. “Enquadrar um período tão amplo em apenas 100 imagens foi terrível. Às vezes choro com tudo o que tive que deixar de fora”, confessa. Produtos como o café e o cacau estão presentes por sua importância econômica, cultural e social, mas o tabaco, por exemplo, ficou de fora – uma ausência que Paranaguá lamenta com humor: “Afinal de contas, eu adoro charutos”.
Entre guerras e diversidade
O livro não ignora os episódios dramáticos da história política e institucional da América Latina, como guerras e revoluções. Mas Paranaguá faz questão de destacar que a região é também marcada por uma diversidade cultural, social, étnica e religiosa espantosa. “A fotografia já é uma história cultural. Ela amplia o espectro. Não podemos tratar a evolução da região apenas com base em batalhas e golpes. É preciso ir mais longe”, defende.
Com textos curtos e linguagem acessível, o livro busca dialogar com um público amplo, especialmente os jovens. “Tenho uma formação acadêmica sólida, mas trabalhei a vida inteira como jornalista. Aprendi que me dirijo ao público em geral, não à panelinha de professores ou estudantes que querem ser cada um mais genial do que o outro. Isso não me interessa”, afirma.
Apesar da leveza na forma, o conteúdo é denso e revelador. “Os conhecedores da América Latina vão descobrir imagens que não conhecem, aspectos para os quais talvez não tenham dado a devida relevância”, garante. A motivação maior, segundo ele, é a transmissão de conhecimento às novas gerações. “Pensei nos meus sobrinhos, no meu filho... essa geração que não teve a ocasião de estudar a América Latina, que é a região do mundo na qual nós estamos inseridos. Nós fazemos parte dela.”
Cartões postais, cabeças reduzidas e a guerra das imagens
Ao mergulhar em arquivos e mercados de antiguidades, Paranaguá descobriu registros fotográficos que o surpreenderam, mesmo após mais de cinco décadas dedicadas ao estudo da América Latina. Uma das descobertas mais marcantes foi uma série de cartões postais produzidos pelas missões salesianas em 1937, em Lyon, com imagens da África, da Ásia e da América Latina.
“Achei imagens sobre o Mato Grosso e várias sobre o Equador. Algumas mostravam o trabalho dos missionários em saúde, ensino, construção...
Duration:00:06:21
'Nova política de vistos reflete exclusão', afirma advogada especializada em imigração nos EUA
9/3/2025
As novas exigências da administração de Donald Trump para a emissão de vistos de viagem aos Estados Unidos entraram em vigor na terça-feira, 2 de setembro. Segundo a advogada Flavia Santos Lloyd, especialista em direitos dos imigrantes, o endurecimento das medidas de admissão no país revela, talvez, "a mentalidade de que nem todas as pessoas devem vir para os Estados Unidos".
Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles
A principal mudança a partir deste mês de setembro é que todos os cidadãos de países que precisam de visto, incluindo os brasileiros, deverão agendar uma entrevista presencial com um oficial consular, inclusive os menores de 14 e os maiores de 79 anos, que eram dispensados até agora.
Desde junho, o Departamento de Estado americano passou a solicitar para quem pedisse vistos de estudante e intercambista, manter públicas suas contas das redes sociais, “a fim de facilitar a verificação necessária”.
“Nós estamos vivendo um momento nacionalista, em que o interior dos Estados Unidos é considerado mais importante do que outros países e do que as relações com outros países. Então, essa movimentação do Departamento de Estado é completamente consistente com a política interna e externa do governo americano”, diz Flavia Lloyd.
"O valor maior do visto, o fato de as pessoas terem que ir para entrevistas, abrir a rede social e, se não estiver aberta, o caso não será aprovado, é uma movimentação de exclusão. Talvez a mentalidade seja que nem todas as pessoas devem vir para os Estados Unidos", pontua a advogada.
Posições políticas pesam em decisões de seleção
Com 23 anos de atuação na área de direito de imigração na Califórnia, Flavia Lloyd está preocupada com a atividade digital dos brasileiros, que estão habituados a manifestar livremente suas opiniões políticas nas redes sociais. Em um memorando publicado em julho, o Departamento de Estado americano, que é responsável pelos consulados e pelas embaixadas, informou sobre as novas diretrizes: "Vamos revisar as suas opiniões e, caso as suas opiniões não estejam alinhadas com o governo ou tenham um sentimento antiamericano ou alguma coisa que afete a política externa dos Estados Unidos, isso pode ser usado para a negação do visto".
No passado, essa verificação de comentários publicados nas redes era focada em terroristas, em pessoas suspeitas que manifestavam sentimentos negativos contra os EUA. De acordo com a advogada, a análise mais abrangente das opiniões de cada cidadão que quiser entrar nos Estados Unidos "é um grande divisor de águas" em comparação às práticas anteriores.
Flavia Lloyd constata que a comunicação da atual administração, mesmo para pessoas que possuem a cidadania americana, vistos de trabalho ou de residência, e que não cometeram crimes, provoca um grande sentimento de medo e insegurança. "Eu acho que a mensagem e a maneira como está sendo comunicada – 'olha, estamos abrindo uma unidade de desnaturalização, vamos tirar a cidadania das pessoas' – tem impacto para quem está no país e para quem está querendo vir para cá", afirma a jurista.
Revogação de visto
Em relação a pessoas que estão recebendo e-mails dizendo que o visto foi cancelado, Flavia Lloyd recorda que a prática de revogação de vistos sempre existiu, principalmente se estivesse relacionada a algum tipo de violação legal e histórico de criminalidade. Porém, a escala em que está ocorrendo atualmente é considerada inédita.
A advogada recomenda aos brasileiros que receberem este tipo de notificação "que tentem entender o que aconteceu, verificando o seu próprio perfil e de familiares nas redes sociais e outras fontes de informações públicas, para ver se vale a pena (ou não) reaplicar o pedido de visto".
Duration:00:08:46
'Objetivo é segurança com respeito à dignidade humana', diz chefe da nova força policial de imigração em Portugal
9/1/2025
A nova Unidade Especial de Fronteiras (UNEF) da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Portugal apresentou o balanço da sua primeira semana de funcionamento: cerca de trinta operações realizadas, que resultaram na identificação de quase uma centena de cidadãos em situação irregular. Em entrevista à RFI, o responsável pela nova unidade de controle migratório garantiu que o trabalho é focado no reforço da segurança e respeita às regras europeias de proteção à "dignidade humana".
Lizzie Nassar, correspondente da RFI em Portugal
“O foco principal esteve nos processos de retorno”, afirmou à RFI o Superintendente-Chefe João Ribeiro, responsável pela UNEF. “Há muitas pessoas em centros de instalação temporária. Além disso, registramos uma elevada taxa de detecção de cidadãos que não cumpriram notificações de saída voluntária. Nestes casos, são detidos e apresentados a um juiz que valida ou não o afastamento”, acrescentou.
Criada recentemente, a UNEF tem como missão reforçar o controle das fronteiras e gerir os processos de afastamento coercivo de imigrantes irregulares. A lei transferiu para a PSP competências que até então pertenciam à Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA).
Segundo o superintendente, as nacionalidades mais frequentes nos casos de afastamento são cidadãos da Índia, Paquistão, Bangladesh e Nepal —, além de imigrantes da América do Sul, sobretudo do Brasil, e de vários países africanos. As primeiras operações foram nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, bem como na região Oeste do país.
A UNEF foi estruturada a partir de cerca de 1.200 polícias e técnicos já atuantes nestas funções, com previsão de expansão para 2 mil efetivos.
"Respeito pelos direitos humanos"
João Ribeiro destaca que a formação dos profissionais segue os referenciais da Frontex, agência europeia de fronteiras, alinhados ao espaço Schengen [de livre circulação entre pessoas, envolvendo 29 países, entre eles, Portugal].
“O pilar central é o respeito pelos direitos humanos. Qualquer violação tem consequências disciplinares ou criminais”, afirmou João Ribeiro.
Até 2027, estão previstos investimentos de mais de 90 milhões de euros para a criação de dois novos centros de instalação — em Lisboa e no Porto — e para o reforço das capacidades tecnológicas da PSP.
Apesar da nova missão, o responsável faz questão de frisar que o tratamento dos imigrantes deve ser pautado pela dignidade: “Uma pessoa em situação irregular não é um delinquente. Está numa situação que obriga a um processo de afastamento, mas o nosso objetivo é garantir segurança com respeito pela dignidade humana.”
A criação da UNEF está inserida na implementação do novo Pacto para a Migração e o Asilo, que reforça mecanismos de retorno e readmissão nos Estados-membros da União Europeia.
Duration:00:05:56
'COP30 será excludente se preços dos alojamentos em Belém não forem repensados', protesta líder partidário senegalês
8/28/2025
O partido Aliança dos Ecologistas do Senegal (ADES) teme não conseguir participar da Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas em Belém (COP30), de 10 a 21 de novembro, devido aos preços "abusivos" que estão sendo cobrados por hotéis e proprietários de imóveis de aluguel turístico na capital do Pará. Em visita a Paris, o vice-presidente do ADES, Serigne Ababacar Cissé Ba, fez duras críticas a essa situação, em entrevista à RFI.
"Os preços dos alojamentos estão absurdos. Os partidos verdes no mundo, em geral, não têm recursos. Estamos tendo que limpar todo o dinheiro da conta bancária para comprar a passagem. Imagine uma noitada a mais de US$ 1.000,00 ou € 1.000,00 – isso é inacessível", protestou o líder ecologista senegalês.
Serigne conhece bem o Brasil, pois foi professor de administração na Universidade Federal de Catalão, em Goiás, e morou no interior de São Paulo e Minas Gerais. Ao todo, passou 25 anos no país. Ele contou que a aliança ecologista africana está negociando com colegas de universidades para saber se podem acolher a delegação africana em suas casas.
"Nós estamos vendo que até países europeus estão sentindo o absurdo dos preços dos alojamentos para a COP. Acho que é uma coisa que ainda dá para se repensar, se realmente vai ser um evento excludente, que vai excluir os países e os partidos que têm interesse em estar lá, mas as condições financeiras não vão permitir", afirmou Serigne.
Na avaliação do ambientalista, se nada for feito para reverter os preços das habitações, a COP30 pode ser um "fracasso".
"Pode ser um fiasco se as pessoas não conseguirem ir ao Brasil – o que vai ser lamentável. Acho que o presidente [Lula] deve pensar nisso: se ele chamou as pessoas, então deve oferecer condições acessíveis para que possamos participar desse evento, que é nosso também", disse Serigne.
Reforma do Conselho de Segurança da ONU
A convite do partido ecologista francês (Europe Ecologie Les Verts – EELV), a delegação senegalesa, liderada pelo presidente da ADES, Baye Salla Mar, participou nos últimos dias de intensos debates sobre o multilateralismo e a necessidade de colaboração entre países para enfrentar os desafios ambientais globais. Eles querem "trazer a voz da África para o centro das discussões internacionais", especialmente no que diz respeito à reforma das Nações Unidas.
Serigne destaca que os países africanos, como o Senegal, enfrentam diretamente os impactos das mudanças climáticas, como inundações e eventos extremos que afetam a vida cotidiana da população. A falta de infraestrutura, como saneamento básico, agrava ainda mais esses problemas, levando ao deslocamento forçado de comunidades inteiras. Ele alerta que, sem uma preocupação real com o meio ambiente, os investimentos em desenvolvimento acabam sendo redirecionados para lidar com catástrofes ambientais.
Diante desse cenário, o partido verde africano, fundado em 2021, defende uma reforma urgente da ONU, com maior integração de países no Conselho de Segurança e o cumprimento efetivo dos acordos firmados em eventos internacionais. Serigne critica a recorrente falta de concretização das promessas de financiamento feitas nesses encontros, o que exige uma nova postura dos países desenvolvidos: mais abertura, mais compromisso e mais solidariedade.
Cooperação Sul-Sul
Além disso, a ADES acredita na força da cooperação Sul-Sul, principalmente entre países que enfrentam desafios semelhantes. Essa união pode fortalecer a representatividade e a capacidade de ação dessas nações. Durante a visita à RFI, os líderes da sigla enfatizaram a importância de políticas voltadas para a adaptação climática, visando garantir a sobrevivência e a resiliência das populações mais vulneráveis. Afinal, a crise ambiental está diretamente ligada ao aumento das migrações clandestinas, impulsionadas pela falta de condições dignas de vida.
Por fim, defenderam uma abordagem mais humanista, que coloque o ser humano no centro das decisões políticas e ambientais. "Somente...
Duration:00:09:04
Crise fiscal e paralisia política: França caminha para ponto de não retorno, diz especialista
8/27/2025
A França entrou em uma nova fase de incerteza política, com prováveis custos econômicos adicionais para o país. Em meio a dificuldades para negociar cortes nas despesas públicas no orçamento do Estado para 2026, o primeiro-ministro François Bayrou decidiu pedir um voto de confiança dos deputados no dia 8 de setembro. A oposição, em peso, declarou que irá votar pela queda do atual governo. Na avaliação do economista Gabriel Giménez Roche, da Neoma Business School, em Paris, apesar do endividamento colossal e da alta volatilidade política, a França ainda não vive uma crise semelhante à que levou Grécia, Espanha e Portugal a recorrer ao FMI.
Bayrou decidiu se submeter ao voto de confiança dos deputados, em busca da legitimidade que lhe falta para concretizar seu plano orçamentário, considerado impopular pelo corte de € 44 bilhões nas despesas públicas em 2026. Desde julho do ano passado, o governo não tem maioria na Assembleia Nacional, que se fraturou em três blocos inconciliáveis após a dissolução provocada pelo presidente Emmanuel Macron e a votação dos franceses nas legislativas antecipadas.
"A crise atual já era algo que se esperava há muito tempo, porque a França não tem superávit fiscal há mais de 30 anos", aponta o economista Gabriel Giménez Roche, professor da Neoma Business School, em Paris. Segundo Roche, o que está acontecendo agora é que a crise fiscal está convergindo com uma crise política.
"Atualmente, a França tem um governo de composição, formado por alguns atores de centro-direita e de centro-esquerda – estes últimos fazem parte do partido aliado ao presidente Macron", explica. No entanto, essa coalizão não possui maioria parlamentar. Se considerarmos os grupos da extrema direita (como o partido Reunião Nacional) e da esquerda radical (incluindo os deputados da sigla França Insubmissa), juntos, eles formam uma maioria de bloqueio. "Isso cria um grande obstáculo para o governo, que enfrenta dificuldades para propor e aprovar reformas, que se tornam cada vez mais urgentes diante da deterioração fiscal", destaca o economista. Para completar este quadro de paralisação do Legislativo – e, por consequência, do Executivo – "os dois blocos majoritários, à direita e à esquerda, não apoiam as reformas necessárias, pois seus programas preveem mais gastos públicos do que o que está atualmente previsto no planejamento orçamentário da França", constata o professor especialista em macroeconomia.
O peso da dívida
A dívida pública francesa atingiu € 3,345 trilhões no primeiro trimestre de 2025, o equivalente a cerca de 114% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, enquanto o déficit fiscal alcançou 5,4% no mesmo período. Esses valores estão muito acima do que preconiza o pacto de estabilidade da zona do euro (3% de déficit e 60% de dívida em relação ao PIB anual), o que preocupa os países que compartilham a união monetária.
Para honrar os juros devidos aos investidores que compraram títulos públicos franceses, o governo deverá gastar cerca de € 66 bilhões neste ano, segundo o chefe de governo – um montante superior aos orçamentos combinados do Exército e da Educação.
Atualmente, os juros da dívida já representam uma despesa de aproximadamente 7% do orçamento do Estado.
Oposição rejeita cortes
Segundo Roche, os economistas que assessoram os partidos de esquerda rejeitam cortes nas despesas públicas por acreditarem que, gastando mais, o Estado irá gerar mais consumo e haverá aumento das receitas fiscais. "Faz anos que nós temos esse déficit fiscal e isso nunca ocorreu. O déficit segue aí. O consumo só aumenta na França quando existe uma situação mais estável, mais equilíbrio – e não é o caso há muito tempo", ressalta.
O partido RN, de extrema direita, também tem um programa que prevê mais gastos, sobretudo com respeito à aposentadoria. "Eles querem, supostamente, baixar a idade [mínima da aposentadoria] para 60 anos, enquanto a média na Europa está mais próxima de 65 anos", aponta Roche, acrescentando que existe um...
Duration:00:10:32
Pesquisadora brasileira é premiada em Paris por tese sobre educação de professores indígenas no RJ
8/22/2025
A pedagoga brasileira e doutora em Educação Carolina Miranda de Oliveira recebeu, em Paris, o prêmio de melhor tese de doutorado sobre a América Latina, concedido pela Fundação Professor Andrzej Dembicz e pelo Conselho Europeu de Investigações Sociais sobre a América Latina (Ceisal). A pesquisa premiada aborda a primeira turma de magistério indígena da aldeia Sapukai, em Angra dos Reis (RJ), e analisa os impactos do curso na preservação da língua e cultura Guarani Mbyá.
A tese de Carolina Miranda, intitulada “Limites e possibilidades: um estudo de caso sobre como um curso de Pedagogia Indígena pode ou não contribuir para o fortalecimento da cultura e da língua indígena”, se destacou por relatar os desafios enfrentados pelas comunidades diante da hegemonia da língua portuguesa. Em suas conclusões, o estudo propõe caminhos para uma educação verdadeiramente intercultural e bilíngue.
A Fundação em homenagem a Andrzej Dembicz foi criada pela família do cientista e sociólogo polonês, que se dedicou durante mais de 40 anos aos estudos da cultura latino-americana e caribenha. Ele foi presidente do Ceisal e chegou a ser condecorado em 2002 com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta honraria da república brasileira. Desta vez, durante o terceiro concurso de melhor tese de doutorado escrita na Europa sobre a América Latina e o Caribe, foi Carolina Miranda quem recebeu uma distinção europeia.
A pesquisadora, nascida em São Gonçalo, formou-se em Pedagogia pelo Instituto de Educação de Angra dos Reis da Universidade Federal Fluminense (UFF) e conquistou uma bolsa de mestrado na Universidade de Cádiz, na Espanha, onde também prosseguiu seus estudos de doutorado, sempre alinhada à temática da educação indígena.
Na cerimônia de entrega da recompensa na Universidade Sorbonne Nouvelle, durante o 12º Congresso do Ceisal, realizado na capital francesa, ela recebeu das mãos da filha de Andrzej Dembicz, Katarzyna, uma medalha e um prêmio de cerca de R$ 6.300.
Carolina Miranda de Oliveira explicou à RFI que o tema de suas pesquisas surgiu ainda no início da sua trajetória acadêmica.
“Eu conheci o projeto do professor Domingos Nobre, que atua na escolarização indígena em Angra do Reis há mais de 30 anos. Passei no processo para ser bolsista desse projeto e, desde então, comecei a estudar sobre escolarização indígena com ele”, conta. Depois, ela se tornou professora alfabetizadora no projeto coordenado por Nobre, que posteriormente foi seu co-orientador na tese do doutorado.
Educação indígena começa a dar os primeiros frutos
O magistério indígena começou em 2018 em Angra dos Reis, após superar muitas barreiras para ser implementado, entre elas a pandemia de Covid-19. Em julho deste ano, aconteceu finalmente a formatura da primeira turma, marcando a conclusão do primeiro curso de ensino médio com habilitação de magistério do estado do Rio.
“É uma grande conquista para mim, para o Domingos Nobre, que foi coordenador do magistério indígena e para outras pessoas que estão envolvidas também no programa Escolas do Território. Esses alunos fazem parte de um grupo de estudantes, uma demanda reprimida, que já tinham terminado a educação fundamental, mas não tinham a oportunidade de seguir estudando na comunidade (...) Abre caminho para que uma licenciatura seja implementada, para que o ensino médio também possa acontecer na aldeia, que é uma das demandas dos Guarani”, destaca Carolina Miranda de Oliveira.
A Constituição brasileira prevê o ensino fundamental para indígenas ministrado em língua portuguesa, assegurando o uso das línguas originárias nos processos de aprendizagem. No entanto, a escassez de professores capacitados para o ensino nestes casos, dificultava o acesso a esse direito. Algo que agora, com a primeira formatura do magistério indígena, pode se tornar o início de uma preservação mais eficiente da língua e cultura, pelo menos para os moradores da aldeia dos Guarani Mbyá em Angra dos Reis.
Valorização da língua e da cultura...
Duration:00:09:00
Pesquisas brasileiras usam inovações tecnológicas para revolucionar o tratamento de doenças
8/19/2025
O aumento do uso da inteligência artificial e das inovações tecnológicas na área da saúde tem sido destaque em diversos países ao redor do mundo. E o Brasil também tem avançado nas pesquisas, com projetos pioneiros dedicados a salvar vidas.
Para falar sobre o tema, a RFI conversou com o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) Chi Nan Pai. Médico e pesquisador, com foco nas áreas de engenharia mecânica e biomédica, ele integra o Departamento de Engenharia Mecatrônica e está desenvolvendo um projeto inovador utilizando novas tecnologias.
Segundo o professor, as principais causas de morte atualmente são as doenças cardíacas e o câncer, e são estes os focos de sua pesquisa, ainda em fase de estudos, mas com potencial para estar em uso nos próximos anos, compartilhando, inclusive, a experiência brasileira com outros países.
“Hoje, no mundo inteiro, uma pessoa que está enfartando chama a ambulância e o tratamento começa no pronto-socorro. Há muitos problemas de logística e o fato de o trânsito estar cada vez pior já atrasa esse atendimento. Então, uma das pesquisas que estamos fazendo é o uso de ultrassom para implodir microbolhas que injetamos nos pacientes. Com isso, vai ser liberada uma energia suficiente para dissolver os coágulos dentro das artérias. É uma solução para um problema que afeta o mundo inteiro e que pode ser feita de forma não invasiva”, explicou.
Além do potencial de salvar milhões de vidas, o professor destaca que essa tecnologia também pode ser usada no tratamento do câncer, reduzindo os efeitos colaterais da quimioterapia.
“Para essas microbolhas usamos um gás que não afeta os pacientes. A ideia, então, é usar, ao invés dele, um medicamento quimioterápico”, disse.
“A quimioterapia hoje afeta o corpo inteiro, destrói todas as células que têm uma replicação rápida e causa os efeitos colaterais indesejados. Se eu conseguir colocar o medicamento dentro das microbolhas, posso usar o ultrassom para liberá-lo só nos locais onde tem câncer. Assim consigo potencialmente diminuir os efeitos colaterais”, contou.
Uso de robôs em cirurgias
O professor Chi Nan também falou sobre o uso de robôs em cirurgias no Brasil. Segundo ele, vários hospitais já utilizam o robô cirurgião para a realização de operações, e há também diversas tentativas de se desenvolver protótipos com essa função no próprio país.
“Hoje se faz a cirurgia laparoscópica, mas o médico precisa ser um bom cirurgião para, caso algo dê errado, ele consiga abrir o paciente para corrigir eventuais problemas. Para isso ele precisa ter duas formações: uma como cirurgião e outra em cirurgia robótica, que é extremamente caro e inacessível. Uma solução seria o uso de membros superiores robóticos, que replicam os movimentos das mãos. Assim, esse braço robótico pode replicar os movimentos do cirurgião à distância”, afirmou, lembrando que um dos grandes problemas da medicina atual no mundo é a distribuição geográfica dos médicos, que acabam ficando mais concentrados nos grandes centros.
“Essa solução pode resolver parcialmente a falta de médicos”, destacou.
Mercado de tecnologia
O professor Chi Nan Pai concorda que atualmente a tecnologia tem sido uma grande aliada da saúde, tanto nos serviços médicos quanto no acompanhamento dos próprios pacientes. Isso vale para os smartphones, relógios conectados e outros aparelhos que têm sido grandes auxiliares na prevenção e no controle de doenças, como a diabetes e a hipertensão.
Assim, o mercado das inovações tecnológicas, sendo na saúde ou não, é hoje uma realidade que atrai investimentos e profissionais interessados no mundo inteiro, o que se traduz em inúmeros eventos que vêm acontecendo com grande frequência. A China, por exemplo, realizou, no início deste mês de agosto, uma conferência de robótica com a presença de mais de dois mil grandes especialistas e empresários de 27 países.
“Essa área de biomédica, há alguns anos, se você for procurar nas redes de contratação de profissionais, é...
Duration:00:05:59