Poesia Crua
Arts & Culture Podcasts
Poesia em baixa-fidelidade. ~ {Música: «Strange Movies» (half cocked, 2019)}
Location:
United States
Genres:
Arts & Culture Podcasts
Description:
Poesia em baixa-fidelidade. ~ {Música: «Strange Movies» (half cocked, 2019)}
Language:
Portuguese
Website:
https://anchor.fm/poesiacrua
Episodes
32. MATER DOLOROSA (John I., 2022)
7/3/2023
A minha mãe tem dores no nome
tantas, tamanhas, que lhe queima a língua.
Foi a minha avó quem lhe pôs as dores
onde podia ter plantado uma oliveira
ou outra árvore de fruto mais modesto
não era preciso que desse ouro
nem que vivesse mil anos.
As dores da minha mãe, plantadas onde
a minha avó não lhe quis pôr uma oliveira
rasgaram terríveis raízes no seu nome
impossíveis de arrancar.
Hoje a minha mãe tem dores perenes
frutos de caroço ruins de roer
sem sumo, sem polpa, sem saber
amadurecer.
A minha mãe não tem perguntas
nem paz, só rimas de dores
penas, mágoas, rancores
culpas sentidas
e um nome que lhe
queima a língua
queima a língua
quem
má-língua
míngua
míngua.
Clara obscura
ama reclama
doce azeda
velha miúda.
Duration:00:01:59
31. A espantosa realidade das coisas (Alberto Caeiro, 1915)
1/12/2022
http://arquivopessoa.net/textos/3364
Duration:00:02:31
30. Ah a frescura na face de não cumprir um dever! (Álvaro de Campos, 1929)
12/3/2021
http://arquivopessoa.net/textos/2543
Duration:00:01:32
29. Vento (Manoel de Barros, 2004)
6/16/2021
https://g.co/kgs/QrWi5V
Duration:00:03:27
28. As Lições de R.Q. (Manoel de Barros, 1996)
2/2/2021
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=28000186
Duration:00:02:25
27. Prefiro as linhas tortas, como Deus (Manoel de Barros, 1996)
1/18/2021
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=28000186
Duration:00:02:51
26. Bernardo é quase árvore. (Manoel de Barros, 1993)
12/14/2020
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=28000038
Duration:00:01:48
25. Oh Eu! Oh Vida! (Walt Whitman, 1867)
10/14/2020
Oh eu! Oh vida!... das questões de estas recorrendo;
Dos infindáveis comboios dos descrentes — de cidades atestadas com os tolos;
De eu próprio continuamente recriminando a mim próprio, (pois quem mais tolo que eu, e quem mais descrente?)
De olhos que debalde anseiam a luz — dos objectos vis — da luta sempre renovada;
Dos pobres resultados de tudo — das multidões arrastadas e sórdidas que vejo ao meu redor;
Dos vazios e inúteis anos dos restantes — com os restantes eu irmanado;
A questão, Oh eu! tão triste, recorrendo — Que bem no meio destes, Oh eu, Oh vida?
Resposta.
Que tu estás aqui — que a vida existe, e a identidade;
Que o poderoso drama continua, e tu contribuirás um verso.
(trad. João Inácio de Paiva, 2012)
Duration:00:02:05
24. Se te queres matar, porque não te queres matar? (Álvaro de Campos, 1926)
10/7/2020
http://arquivopessoa.net/textos/4360
Duration:00:07:18
23. NUNC EST BIBENDUM (Vicente Guedes, 1910)
9/20/2020
http://arquivopessoa.net/textos/2528
Duration:00:01:17
22. Meditação (Álvaro Oliveira, 2020)
9/11/2020
A minha consciência é
um lago límpido,
informe,
infinito,
intocável,
imperturbável.
Eu sou a minha
atenção.
Eu sou a condição de
haver mundo.
Mas
vou acabar por morrer.
Duration:00:01:04
21. Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa (Álvaro de Campos, s.d.)
9/7/2020
http://arquivopessoa.net/textos/553
Duration:00:04:20
20. Viver Sempre também Cansa (José Gomes Ferreira, 1931)
7/20/2020
https://viciodapoesia.com/2013/01/17/viver-sempre-tambem-cansa-diz-nos-jose-gomes-ferreira/
Duration:00:02:41
19. H2Ai (Álvaro Oliveira, 2020)
7/6/2020
Mágoa fresca.
Mágoa das Pedras.
Mágoa com gás.
Mágoa tónica.
Mágoa mineral.
Mágoa-de-côco.
Mágoas-furtadas.
Tinta de mágoa.
Mágoa-mel.
Mágoa-ardente.
Mágoa de Luso.
Mágoa doce.
Mágoa salgada.
Mágoa potável.
Mágoas Livres.
Mágoa de rosas.
Mágoa oxigenada.
Mágoa micelar.
Mágoas correntes.
Mágoas paradas.
Mágoas pluviais.
Mágoa com limão.
Mágoa a ferver.
Magoinha das malvas.
Mágoa natural.
Ciclo da mágoa.
Mágoa canalizada.
Mágoas passadas não movem moinhos.
Mágoa de beber.
Mágoa-forte.
Mágoas de bacalhau.
Dar mágoa aos cavalos.
Dar mágoa pelas barbas.
Mágoa benta.
Mágoa de Todo o Ano.
Estação de Tratamento de Mágoas Residuais.
Mágoas de Mafra.
Mágoas de Março.
Abril, mágoas mil.
Mágoarela.
Bolachas de mágoa e sal.
Não dizer mágoa vai.
Nunca digas desta mágoa não beberei.
Mágoa do Vidago.
Mágoa lisa.
Mágoa engarrafada.
Contador da mágoa.
Mágoa é vida.
Crescer mágoa na boca.
Mágoa destilada.
Mágoa choca.
Mágoadilha.
Mágoa-viva.
Claro como mágoa.
Mágoa-tinta.
Verter mágoas.
Ir por mágoa abaixo.
Trazer mágoa no bico.
Magoarrás.
Mágoa tépida.
Mágoa-pé.
Mágoa não controlada.
Mágoa-mãe.
Mágoa a perder de vista.
60% do corpo humano adulto é mágoa.
71% da superfície da Terra é coberta de mágoa.
Duration:00:03:14
18. Poema de alta (Álvaro Oliveira, 2020)
6/28/2020
Sob anestesia local
com lidocaína a
2% com adrenalina fez-se
excisão
com encerramento por
retalho de deslizamento de
basalioma
dorso
nariz.
A peça operatória segue para
exame histopatológico.
Operando prossegue
no presente
sem uma peça.
Sem intercorrências a
assinalar excepto os
gemidos reprimidos do
ajudante cortante.
Repouso e aplicação
tópica de gelo;
se dor
respirar
como um sábio
hemodinamicamente
estável.
Penso, logo mudo.
Não baixar a cabeça.
Curar a ferida.
Gostar da cicatriz.
Duration:00:01:55
17. AH, UM SONETO... (Álvaro de Campos, 1931)
6/24/2020
http://arquivopessoa.net/textos/3367
Duration:00:01:17
16. O Dantas nu é vintage. (Álvaro Oliveira, 2020)
6/20/2020
O quê, o Axl Rose e o Billy Corgan ainda dão concertos?
Antes queria ver um épico de quatro horas em que o Dantas aparecesse nu em todas as cenas.
Ou a transmissão televisiva de uma prova de decatlo só com o Dantas todo nu.
O Dantas nu é vintage.
O Dantas administrando-me a vacina da COVID-19 em pelota.
O Dantas nu e horroroso em vez da dona Lurdes janota e cheirosa a limpar o pó no meu escritório.
O Dantas nu a fazer ovos mexidos prà gente de manhãzinha.
O Dantas nu a pintar o meu retrato horrorizado.
O Dantas todo nu a trazer-me o pernil com batatinhas e ervilhas no Coelho, e também o Molotov.
Mas como é que o Dantas foi parar a Gafanhotos todo nu?
Terá o Dantas tido a pouca vergonha de ir com elas à mostra comprar vinho a um pequeno produtor de Fernandinho?
O Dantas nuzinho a tirar bicas ou a servir bolinhos finos às mesas da Versailles.
O Dantas nu a dançar o cancã ou o vira da Madeira!
O Dantas a jogar golfe nu.
O Dantas a jogar bowling nu.
O Dantas a jogar voleibol nu.
O Dantas a dispor papinos naqueles preparos.
O Dantas nu a dizer a missa.
O Dantas nu prostrado a rezar.
O Dantas nu a fazer lindos arranjos de flores à entrada da praça.
O Dantas descascado a amanhar peixe, a entoar piropos aos surfistas.
O Dantas desfardado a dar a instrução aos magalas.
O Dantas à comando a surfar um tubo.
O Dantas como veio ao mundo no Preço Certo a mangar com o Fernando Mendes magrinho.
O Dantas sem máscara nem nada a distribuir desinfectante à porta do hospital.
O Dantas a escrever romances nu.
O Dantas com tudo pendente a mandar parar um táxi na Rua Coelho da Rocha.
O Dantas a receber a grã-cruz de não sei quê envergando só gravata.
E onde é que o Dantas enfia o cravo?
O Dantas nu a fotografar casalinhos estupefactos ao pôr-do-sol.
O Dantas nu a fotografar rododendros que nunca mais acabam na América.
O Dantas à fresca a fazer moches em Algés.
O Dantas pinu a gritar golo no Restelo.
O Dantas nu a dar barro aos pombos.
O Dantas nu a comer pipocas escanchado, recostado contra a tela num multiplex.
O Dantas especado a olhar prò Big Ben a badalar.
O Dantas empertigado a dizer baboseiras na assembleia, só que todo nu. Disse.
O Dantas nu a assar castanhas no Rossio.
O Dantas fechado em casa duas quarentenas sempre, sempre todo nu.
PIM, PAM, PUM.
O Dantas a tocar maracas nu em Machu Picchu.
O Dantas nu a fazer uma vénia de todo o tamanho ao Francisco José Viegas.
O Dantas a avançar gingante de braços abertos e nus como tudo para o Pedro Mexia.
O Dantas todo nu, e porco, flácido, medonho, a fazer tudo o que se possa imaginar.
Tudo mas tudo é preferível a ver o Axl Rose ou o Billy Corgan a fazer figuras.
Duration:00:04:14
15. Poeminha com palavras fritas para o Carlos (Álvaro Oliveira, 2020)
6/17/2020
Eis um ossinho exemplar,
de perfeitos contornos,
rechonchudo, pele morena,
perfume de osmazoma
que entontece do
tanto que apetece.
— Paiva,
diga lá a estas bestas
o que é a osmazoma.
Osmazoma.
Do grego
osmé, cheiro,
mais
zomós, sumo.
Substância nutritiva da carne
que dá ao caldo o seu aroma.
Deve-se-lhe o
tostado do assado
e o costume dos antigos
de mergulhar
no molho o pão.
Foi o meu professor de
Comunicação e Difusão
e de Psicologia
que me ensinou a
usurpar o dicionário.
Outros mestres
que não tive
me ensinaram a
fisiologia do gosto
e a orogenia
do apetite.
— Paiva, explique lá
a estes broncos.
Orogenia.
...
Não, meu capitão,
deixai-os comer sem saber
e aprender como ordinário a
usurpar o dicionário.
Eis as palavras,
fritinhas, douradas,
salgadas, sequinhas.
Calha bem uma salada
e uma bebida fresca.
De picles, ainda não gostas.
Só faltam azeitoninhas.
Não as tivesses comido
todas ao pequeno-almoço!
Duration:00:03:42
14. A avestruz (Álvaro Oliveira, 2020)
6/14/2020
Se eu fosse bicéfalo
teria bicefaleias
teria melhores ideias
duas vezes mais quistos?
Se a minha avó tivesse asas
ter-se-ia despenhado
e não morrido?
O meu pai pode ser
mau mas é meu.
Comprei em Utreque
um pente-pássaro.
Os bigodes foram oferta.
Se a minha avó tivesse asas
era um gavião
sem caixa negra
p
r
e
c
i
p
i
t
a
n
d
o-
-s
e
carinhosamente
sobre as minhas pernas
para me esticar as meias.
Este poema escrito
em 2020
não tem rei
nem roque
nem COVID-19.
..................
(avestruz)
Oh, bolas.
Duration:00:01:46
13. Estou cansado da inteligência. (Álvaro de Campos, 1930)
6/11/2020
http://arquivopessoa.net/textos/1120
Duration:00:01:53