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Ciencia - A ciencia a dar cartas em lingua portuguesa

RFI

Uma vez por semana, os temas que marcam a actualidade científica são aqui descodificados.

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Paris, France

Networks:

RFI

Description:

Uma vez por semana, os temas que marcam a actualidade científica são aqui descodificados.

Language:

Portuguese


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África enfrenta chuvas extremas, Sofala reforça preparação contra cheias

9/30/2025
As chuvas extremas continuam a assolar o continente africano. No Sudão, um deslizamento em Darfur matou mais de 1.000 pessoas no final do mês de Agosto, expondo inúmeras fragilidades. Em Sofala, as autoridades moçambicanas reforçam medidas de prevenção e reassentamento antes da época chuvosa. O delegado do INGD em Sofala, Aristides Armando, sublinha que a prevenção e cooperação internacional são cruciais perante os riscos e alterações climáticas. As chuvas extremas continuam a marcar o continente africano. No Sudão, um deslizamento provocado por precipitações torrenciais arrasou a aldeia de Tarazã, em Darfur, e fez mais de mil mortos no final do mês de Agosto. A tragédia expôs a vulnerabilidade de comunidades inteiras perante as mudanças climáticas e a fragilidade das instituições. Em Moçambique, na província de Sofala, o cenário é diferente. As autoridades locais e os parceiros humanitários intensificam medidas de prevenção, reforço de infra-estruturas e realojamento de populações, preparando-se para a época chuvosa de 2025/26. O delegado do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastre em Sofala, Aristides Armando, sublinha que a província já está pronta. “Estamos numa fase inicial da próxima época chuvosa e temos uma série de acções em curso”, afirmou. “Participamos na conferência de prontidão urbana para garantir que a cidade da Beira, sendo uma das mais vulneráveis, possa reforçar a sua resiliência e capacidade de resposta face aos impactos”. O responsável explica, ainda, que as acções não se limitam ao perímetro urbano. “Estamos a realizar simulações em distritos como Nhamatanda, Gorongosa e Marromeu e a reforçar os comités locais de gestão de risco. No total, já contamos com 258 comités comunitários e 30 comités escolares”, detalhou, acrescentando que “o envolvimento das crianças e da juventude é fundamental, porque são elas que podem garantir a resposta imediata em caso de desastre”. Entre as medidas em curso está também o reassentamento de famílias que vivem em zonas de risco. No entanto, “o maior desafio continua a ser orçamental, porque precisamos de mais recursos para reforçar tanto a prevenção como a mitigação”. Questionado sobre as lições a tirar da tragédia no Sudão, Aristides Armando recorda a experiência amarga de Sofala com o ciclone Idai, em 2019. “Ainda temos na memória o impacto devastador do Idai”, afirmou. “O que aconteceu em Darfur lembra-nos que não podemos baixar a guarda. No início do mês de Setembro, o Presidente da República entregou mais de 800 casas resilientes em bairros de reassentamento, o que mostra que estamos a avançar numa estratégia de longo prazo”. Para o delegado, a aposta em tecnologia é decisiva: “Hoje temos o radar meteorológico da Beira, inaugurado há um ano, que já nos permite análises mais rápidas”, disse. “Reduzimos o tempo de aviso prévio de quatro dias para poucas horas, o que aumenta a capacidade de salvar vidas”. Além disso, “os drones ajudam-nos a mapear zonas críticas e recolher informação em tempo real, facilitando o processo de resposta e prevenção”. A cooperação internacional também merece destaque. “Trabalhamos com a UNICEF, com a Fundação SIMA e com várias organizações não-governamentais para garantir que as comunidades tenham informação atempada e consigam actuar rapidamente”, frisando que “as parcerias têm sido fundamentais para criar uma cultura de prevenção”. Porém, o delegado adverte que o contexto climático exige vigilância constante. “Na época passada tivemos, no mesmo distrito, situações de seca e a passagem do ciclone Jude”, recordou. “É a prova de que enfrentamos riscos múltiplos e que temos de reforçar a capacidade de resposta em todas as frentes". Aristides Armando conclui com um alerta: “Os fenómenos extremos vão continuar a surpreender-nos. Mas quanto mais cedo prepararmos as nossas comunidades, menor será o impacto humano e social. A prevenção é hoje a nossa maior arma contra as alterações climáticas”.

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"Não existe na Guiné-Bissau nenhuma organização que lida com segurança digital"

9/15/2025
Neste magazine 'Ciência', abordamos os desafios colocados pelo uso das tecnologias informáticas e pela internet na Guiné-Bissau com um jovem engenheiro, Jeremias Nicolau Fernandes, que acaba de lançar em Agosto, juntamente com uma equipa de informáticos, a ONG 'Jovens Embaixadores da Segurança Digital'. Esta iniciativa educativa e comunitária sem fins lucrativos tem por intuito promover o uso ético da internet e habilitar os jovens face a práticas como o ódio em linha, fraudes como o 'phishing' ou ainda as 'fake news', numa altura em que segundo dados da ONU, quase 60% dos utentes da internet, a nível mundial, estão preocupados com a questão da desinformação. Apaixonado pela informática, Jeremias Nicolau Fernandes cedo se apercebeu que existe ainda alguma reticência geral em usar os meios informáticos nomeadamente para guardar e classificar dados. Ele também refere ter percebido as vantagens que a internet oferece, mas igualmente os perigos a que podem ficar expostos os seus utentes. "As pessoas não estão a usar esse sistema, principalmente o governo. As pessoas têm medo de ser controladas pelo sistema. Há muitas coisas que devem ser informatizadas, que não estão a ser informatizadas, porque as pessoas têm medo de usar internet. Nesse momento, a Guiné-Bissau devia estar noutro nível, porque até agora, a maioria das instituições da Guiné-Bissau não têm banco de dados, não tem um sistema para guardar dados", começa por referir o engenheiro informático. "Tive o privilégio de estudar e lidar com um computador muito cedo, desde 2010. E aí eu fiquei apaixonado. Eu fiz informática básica, depois intermédia. Isso me levou a fazer engenharia informática. E quanto a essa associação, eu estava fazendo pesquisa sobre um outro assunto e deparei-me com esse problema de que não existe nenhuma organização aqui em Guiné-Bissau que lida com esse assunto de segurança digital. É um problema muito sério, mas nos outros países já se trata isso como se fosse um tipo de droga. Aí pensei com a situação que estamos a passar aqui em Guiné-Bissau, vi que é necessário criar essa ONG para sensibilizar, conscientizar a sociedade, dar formação sobre o uso da internet, porque as pessoas são analfabetas sobre o assunto digital. Mesmo as pessoas que se formaram e se tornaram hoje doutores, são analfabetos em assuntos digitais. Não têm noção de que estão a fazer na internet", constata o líder associativo. "A internet hoje está a propagar o discurso de ódio, 'cyberbullying' e está a acontecer neste momento o 'phishing'. As pessoas que estão por trás criam uma conta falsa para atrair outras pessoas. Isso está a afectar as pessoas aqui em Guiné-Bissau, porque há muito desemprego. As pessoas criam uma conta ou um 'site' falso. Eles postam esse anúncio para atrair as pessoas, enquanto têm uma outra intenção", refere Jeremias Nicolau Fernandes. É neste contexto que surge a ideia de criar a ONG 'Jovens Embaixadores da Segurança Digital', o engenheiro informático referindo ter uma equipa à volta dele, com o projecto de trabalhar em todo o país e "não exclusivamente em Bissau". Apesar de não beneficiar ainda de apoios, por "estar ainda a criar esse movimento", o coordenador desta associação que pretende, para já, dar formações de dois dias por cada grupo, mostra-se convicto de que "esse projecto será uma ponte". "Vamos começar com a formação de jovens como multiplicadores, porque vamos formar esses jovens líderes que vão poder multiplicar para formar outros jovens também nas comunidades. Logo, vamos começar com pequenos grupos de jovens nas comunidades, dar uma formação, pode ser também em escolas", refere ainda o engenheiro informático ao indicar estar em contacto com o Ministério da Educação neste âmbito. "O meu sonho é de de formar, de mudar a sociedade, porque esse é o objectivo, de fazer com que as pessoas entendam realmente o que é a internet. Espero que isso mais tarde, possa impactar a sociedade, possa educar, porque é um assunto muito importante",...

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CanSat: transformar uma lata de refrigerante num satélite

9/9/2025
O desafio parece simples: construir um satélite do tamanho de uma lata de refrigerante. Mas, na prática, trata-se de um exercício exigente de engenharia, programação, aerodinâmica e trabalho de equipa. O CanSat, promovido em Portugal pela Ciência Viva em parceria com a Agência Espacial Europeia (ESA), já vai na 12.ª edição e continua a conquistar alunos e professores de todo o país. Cada equipa deve integrar num pequeno recipiente todos os componentes básicos de um satélite: sistema de energia, antenas, comunicações e sensores. O objectivo é lançar o dispositivo a mil metros de altitude, através de um foguete, e recolher dados durante a descida controlada por pára-quedas. “É uma competição muito rica, porque obriga os alunos a lidar com várias áreas da engenharia e, ao mesmo tempo, a aprender a trabalhar em equipa”, explicou, ao microfone da RFI, Ana Noronha, directora executiva da Ciência Viva e coordenadora do programa eZero Portugal. Todas as escolas podem candidatar-se, mas o número de equipas é limitado. As escolhidas recebem acompanhamento de um júri que, além de avaliar, apoia os alunos na resolução de problemas técnicos. Antes do lançamento oficial, há voos de teste para assegurar que os satélites resistem à aceleração do foguete e que o pára-quedas funciona correctamente. Só os projectos estruturalmente sólidos avançam para a fase final. Depois do voo, as equipas têm de analisar os dados e fazer uma apresentação em inglês perante o júri. “Queremos que os alunos sejam capazes de comunicar o seu trabalho num contexto internacional, como terão de fazer no futuro”, sublinha Ana Noronha. Apesar do espírito competitivo, o ambiente é de partilha: “Eles estão todos a competir, mas entreajudam-se. Se há uma peça que queima, há logo outra equipa que empresta, que tem uma suplente ou que empresta a antena, o que é muito interessante observar”, nota a responsável. Mais do que uma competição de engenharia, desvcreve o CanSat como uma experiência inesquecível, onde os participantes aprendem competências que levarão consigo para a vida.

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Moçambique é “zona de charneira” para compreender evolução humana na Pré-História

8/25/2025
Pesquisas arqueológicas em Moçambique estão a mostrar que o país foi uma “zona de charneira” nas movimentaçoes de populações entre a África Austral e a África Oriental na Pré-História. O trabalho está a ser orientado pelo arqueólogo Nuno Bicho que contou à RFI ter encontrado entre “300 ou 400 jazidas arqueológicas com vários períodos”, as mais importantes no Vale do Limpopo, no Vale do Save e junto ao ao Lago Niassa. Nuno Bicho começou as pesquisas arqueológicas em Moçambique há 15 anos. Desde então, o arquólogo da Universidade do Algarve encontrou entre “300 ou 400 jazidas arqueológicas com vários períodos”, nomeadamente no Vale do Limpopo, no Vale do Save e junto ao ao Lago Niassa. “Nós temos várias jazidas arqueológicas que são, digamos, dos últimos 100 mil anos”, ou seja, na Idade da Pedra Lascada, explica o investigador, acrescentando que há um “conjunto alargado de ocupações de várias Idades”. Moçambique é uma peça central para compreender a mobilidade das populações dentro de África e assim ir percebendo melhor o puzzle da evolução humana. Nuno Bicho explica porquê: “A nossa espécie Homo Sapiens aparece há cerca de 300 mil anos em África e move-se no continente africano e, por vezes, saiu do continente africano. Mas do ponto de vista genético, nunca teve resultados evidentes e apenas uma saída de África, da África Oriental, há cerca talvez de 80 mil anos, entre 80 e 60 mil anos, deu resultado para aquilo que somos hoje e espalhou a nossa espécie por todo o mundo. Aquilo que eu, neste momento, estou a tentar perceber, é como é que dentro de África, dentro do espaço do continente africano, se deram essas movimentações que permitiram a saída desse grupo, há cerca de 80 mil anos, para fora de África. Nós sabemos que há principalmente duas áreas muito importantes do ponto de vista de desenvolvimento cultural: uma é a África Austral e a outra é a África Oriental. Nós não sabemos ainda qual é a relação entre as duas e, aparentemente, do ponto de vista genético, parece haver informação que sugere que o grupo que saiu para fora da África veio da África Austral. Portanto, era fundamental perceber-se o que é que acontece entre as duas regiões. Ora, Moçambique é uma das áreas com potencial para se perceber como é que se deu esta mobilidade, esta migração interna ao continente africano e a ligação entre as duas regiões.” Assim, “Moçambique é uma zona de charneira” na conexão de populações que se movimentavam entre a África Austral e a África Oriental na Pré-História. Agora, é preciso perceber quando e como se cruzam. “Vamos proceder a um conjunto de análises, essencialmente de modelação matemática, que juntam os dados que vêm da África Austral com os da África Oriental e tentar perceber exactamente quando e como é que se deu esta passagem entre as duas áreas. Moçambique, naturalmente, estando no meio, é sem dúvida nenhuma, um elemento importante que nos vai permitir perceber esta movimentação e conexão”, acrescenta Nuno Bicho. Nas jazidas arqueológicas de Moçambique encontraram-se materiais dos nossos antepassados porque, geralmente, eram zonas com actividades diárias destes “caçadores-recolectores”. “Aquilo que nós podemos concluir é que muito devido às características dessa cultura material das ferramentas, parece haver uma diferença marcada entre a zona do Niassa e a zona do Save e do Limpopo e, portanto, significa que há áreas de influência cultural que são diferentes. Muito provavelmente do Niassa estão ligadas com Tanzânia e o Malawi (como regiões que se conhecem hoje politicamente), enquanto que as zonas do Save e do Limpopo se encontram mais relacionadas com a África Austral. Isso sabemos. Sabemos que eles utilizavam um conjunto alargado de espécies de animais, não sabemos quais ainda, mas saberemos no futuro através de várias análises. Sabemos que eles utilizavam um conjunto de outras espécies, nomeadamente espécies aquáticas, porque temos um conjunto alargado de conchas de várias espécies nalguns dos sítios...

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Saúde mental em Cabo Delgado : « Nós vivemos com medo constante »

8/14/2025
A saúde mental é um desafio ao qual cada um pode ser confrontado a dada altura, por motivos diferentes. Em Cabo Delgado, no extremo norte de Moçambique, é a violência constante desde 2017 que corrói o quotidiano daqueles que a vivem, são testemunhas ou até acabam por também a praticar. Nestas últimas semanas, chegam-nos regularmente notícias do recrudescimento dos ataques contra povoações designadamente nos distritos de Muidumbe, no norte, bem como em Chiúre e Ancuabe, a sul da província. Apesar da presença de tropas estrangeiras a apoiar as Forças Armadas Moçambicanas, segundo a ONU, cerca de 100 mil pessoas têm fugido de Cabo Delgado desde o começo do ano e mais de metade desde Julho. Mesmo no caso de encontrar algum refúgio em campos de deslocados, os moradores que fugiram dos ataques enfrentam riscos sanitários acrescidos, ligados essencialmente à higiene, à água, ao paludismo, mas também à sua própria saúde mental. Para evocar esta problemática, a RFI falou com Simone Jacinto, psicólogo clínico baseado no distrito de Balama, no sudoeste de Cabo Delgado e também com Osvaldo de Sousa, Técnico de Medicina Geral ligado à Médicos Sem Fronteiras, que esteve recentemente em Chiúre, igualmente no sul da província. Ao recordar as situações com que se deparou enquanto esteve naquela zona, este último refere que encontrou pessoas com as «necessidades quase todas». «Os Médicos Sem Fronteiras foram ao terreno em Chiúre e realmente encontramos pessoas com necessidades quase todas. Mas o nosso foco mesmo foi, primeiro, melhorar e evitar o pior. Estamos a falar de prevenção. A equipa de saúde mental, a equipa de água e saneamento do meio e, assim como os técnicos que estavam lá no terreno para apoiar as pessoas, a missão foi mesmo tratar os doentes e também colocar medidas preventivas, desde promoção de saúde, promoção de saúde mental na comunidade, água e saneamento», conta Osvaldo de Sousa. Questionado sobre o quadro psicológico apresentado pelos deslocados e sobreviventes que apoiou, o técnico fala nomeadamente de «stress pós-traumático. As equipas tentaram chegar às aldeias para criar demanda aos serviços, fazer conhecer de que a falta de saúde mental ou problemas mentais manifestam desta maneira. (…) É deplorável ver pessoas com manifestações evidentes de stress. A ansiedade que este público apresentava, do que vai acontecer no futuro, o que é que vai acontecer, em situações que antes tinham o mínimo para sobreviver, mas agora foi reduzido a nada». Apesar deste sofrimento, as populações afectadas não vão necessariamente de forma espontânea procurar uma ajuda especializada, lamenta Osvaldo de Sousa. «Precisamos muito trabalho para consciencializar as pessoas de que o isolamento, a tristeza, a irritabilidade nas crianças, por exemplo, a falta de sono durante a noite, não é normal. É um problema de saúde mental. São consequências do impacto do que aconteceu.» Relativamente às franjas mais fragilizadas da população de Cabo Delgado, as crianças, o técnico de saúde considera que vivem «uma situação muito caótica». «As equipas tiveram oportunidade de explorar mais do que se passa na mente, na psique das crianças. A equipa busca entender o que é que a criança pensa, o que acha. Por exemplo, ‘desenha o que você não gosta’. Então as crianças desenhavam homens armados, As crianças desenhavam situações que realmente você não tem. Claro que não posso ver o que é que a criança vê. Mas eu consigo entender o que é que se passa na psique da criança, o que é que a criança teve como impacto negativo da violência, tem um trauma, tem um futuro um pouco debilitado mentalmente. É devastador», constata Osvaldo de Sousa. Este é também o quadro descrito por Simone Jacinto, psicólogo clínico baseado no distrito de Balama no sudoeste de Cabo Delgado. As crianças «que passaram directamente por este conflito podem, a posteriori, desenvolver aquilo que se chama de ‘transtornos de agressividade’, porque podem ser dominados por parte do seu...

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6/6 Turismo espacial: “Fala-se de uma forma demasiado simplista de irmos a Marte"

8/12/2025
A longo prazo, a ilha de Santa Maria poderá vir a desempenhar um papel importante no turismo espacial. Muito dependerá da evolução dos sistemas de propulsão, mas não só - o turismo espacial enfrenta, por enquanto, os limites impostos pelo próprio corpo humano. “Biologicamente somos muito frágeis”, sublinha Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa. Para Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, quando se fala em turismo espacial é inevitável a comparação com a história da aviação: “Nós nunca pensámos que, no início do século, com a origem da aviação, os irmãos Wright fizeram aquele voo e que se transformasse naquilo que é hoje. Tiramos um bilhete de avião e vamos...” Ainda assim, reconhece que o turismo massivo actual, assente no transporte aéreo, é ambientalmente insustentável — e que o futuro do turismo espacial terá de seguir outra lógica. “Depende da evolução dos meios de propulsão. Mas falamos em sair daqui, entrar no nível suborbital e sair no Japão. Portanto, o turismo espacial, suborbital vai ser [uma realidade] e não só fazer a linha de Kármán e regressar, mas de permanência.” No entanto, o turismo espacial não depende apenas da viabilidade técnica, mas também dos limites do corpo humano. E esse é que parece ser, para já, o verdadeiro obstáculo à expansão do turismo fora da Terra. Actualmente, a permanência prolongada no espaço - superior a três semanas - tem consequências fisiológicas graves. A viagem a Marte, por exemplo, levanta inúmeros obstáculos. “Fala-se de uma forma demasiado simplista de irmos a Marte. Ir a Marte é muito complicado e há quem queira ir, mas só com um bilhete de ida…", sublinha Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, que acrescenta que é preciso manter os pés na Terra. “Temos que cuidar do nosso ponto de partida, que é a nossa Terra. Isso é o nosso lugar, é o nosso chão, é aquilo que nos dá a continuidade de sermos o que somos. Biologicamente somos muito frágeis. Aquela pequena camada que nos prende à vida chamada atmosfera é o que faz a diferença.” Todavia, acrescenta que nos próximos 20 a 30 anos, poderá haver avanços nesse sentido. Impactos ambientais do desenvolvimento do sector espacial Questionado sobre os possíveis impactos ambientais do desenvolvimento do sector espacial no Açores, o presidente da Agência lembra que outras actividades com impacto muito mais significativo são amplamente toleradas, nomeadamente a aviação civil. “Se perguntar a qualquer pessoa se queria ter aqui mais voos da SATA, ou de outras companhias aéreas, toda a gente dizia que sim. Toda a gente dizia que queria ter um epicentro aeronáutico. O transporte aeronáutico é um problema ambiental brutal. A poluição é brutal.” Ricardo Conde sublinha que mais de 80% do transporte aéreo serve o turismo tradicional, no entanto, poucos questionam esse modelo. “E os cruzeiros? Não ouço ninguém falar dos cruzeiros. Um cruzeiro equivaleria, eventualmente, a 100 foguetões.” Já os lançamentos espaciais previstos para Santa Maria “não têm expressão nenhuma”, de um ponto de vista ambiental, assegura. A desinformação é, para Ricardo Conde, o maior problema. “As pessoas estão mal informadas. Não há pior do que a má informação.” Mesmo o regresso dos veículos espaciais, garante, “não tem qualquer tipo de problema ambiental.” Transformar Santa Maria numa ilha espacial é também uma forma de valorizar o território, segundo Ricardo Conde: “É aumentar o turismo. E aumentar o turismo de qualidade. Porque nós não estamos a falar aqui em destruir nada para construir alguma coisa. Isso é um mito.”

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5/6 Portugal quer posicionar Constelação do Atlântico como ferramenta estratégica

8/5/2025
A Constelação do Atlântico é um conceito estratégico de cooperação internacional na área espacial, inicialmente desenvolvido por Portugal e Espanha, que visa criar uma rede de satélites interoperáveis e híbridos, com capacidades para servir objectivos civis, científicos, ambientais, de defesa e segurança. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, afirma que Portugal está a tentar posicionar a Constelação do Atlântico como uma ferramenta estratégica dentro da Europa. A Constelação do Atlântico é uma iniciativa de cooperação espacial- Portugal e Espanha- com liderança portuguesa, que pretende usar uma rede partilhada de satélites para responder a desafios de sustentabilidade, segurança e desenvolvimento económico, dentro e fora da Europa. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, explica que a Constelação do Atlântico surgiu para dar resposta a necessidades de inteligência, segurança e defesa, num contexto de guerra na Ucrânia. “Fala-se muito da Constelação Atlântica, mas é importante perceber que, antes de mais, se trata de um conceito, não de um conjunto físico fechado de satélites. O nome surgiu porque, na sua génese, estavam dois países- Portugal e Espanha - que partilham o Atlântico. Isso não significa que os satélites estejam posicionados exclusivamente sobre o oceano. A constelação representa sobretudo uma ideia de interoperabilidade, dualidade e operação conjunta. A origem mais recente deste conceito prende-se com a guerra na Ucrânia e a necessidade urgente de resiliência europeia. Percebeu-se que havia falta de imagens e dados em tempo real para dar resposta a necessidades de inteligência, segurança e defesa. No entanto, a sua génese remonta a preocupações com a sustentabilidade dos territórios - e esse continua a ser um eixo fundamental. Os satélites servem tanto para gerir o território em termos ambientais e de recursos como para garantir segurança e soberania”. Ricardo Conde refere que Portugal está a tentar posicionar a Constelação do Atlântico como uma ferramenta estratégica dentro da Europa. "Hoje, Portugal está a tentar posicionar a Constelação Atlântica como uma ferramenta estratégica dentro da Europa. Apesar da colaboração com Espanha, o conceito tem uma matriz fortemente portuguesa. O objetivo é que esta constelação integre programas europeus, nomeadamente os que serão discutidos no próximo Conselho Ministerial da ESA”. A constelação do Atlântico está aberta a outros parceiros, como Angola, Brasil, Grécia ou Finlândia, numa lógica de expansão global. O presidente da Agência Espacial Portuguesa garante que o objectivo é criar uma federação de capacidades. Há também uma componente comercial e internacional em crescimento. A ambição é alargar a constelação a outros países - Angola, Brasil, Grécia, Finlândia, entre outros. Já existe um protocolo com Angola, e estão a decorrer conversações com outros parceiros. A ideia é criar uma federação de capacidades: cada país contribui com recursos e beneficia de um sistema mais amplo, respeitando sempre a autonomia de cada Estado. Ricardo Conde garante que há planos para futuros lançamentos sub-orbitais a partir da ilha de Santa Maria, nos Açores, porém prefere não adiantar datas. “Há planos para usar a ilha de Santa Maria, nos Açores, mas é importante ter expectativas realistas: só serão possíveis lançamentos de pequenos satélites, até 150 ou 200 kg. Dependerá da evolução dos lançadores e das tecnologias desenvolvidas. O objetivo é responder rapidamente com cargas pequenas - o chamado fast response. Ainda não há uma data exata. Foram pedidas licenças e estamos a poucas semanas de as emitir. Muito dependerá da capacidade de resposta da indústria. Há quem fale em voos orbitais em breve, mas parece mais sensato avançar por etapas (step by step), garantindo segurança e aprendendo com cada fase”. O presidente da Agência Espacial Portuguesa fala ainda dos recentes lançamentos falhados, reiterando que fazem parte do processo de...

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São Tomé e Príncipe pode ser primeiro país no Mundo a ter mosquito que visa erradicar a malária

7/31/2025
A Universidade da Califórnia Irving em parceria com o Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa e a Universidade de São Tomé e Príncipe têm vindo a estudar nos últimos anos a possibilidade de libertar um mosquito geneticamente modificado cujo organismo elimina a malária. Os estudos prévios estão quase concluídos e só falta agora as autoridades do país autorizarem a libertação deste mosquito na natureza para verificar a eficácia na erradicação do paludismo. Só em 2024 foram detectados mais de 263 milhões de casos de malária no Mundo que levaram a 597 mil mortes, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Dessas mortes, estimam-se que 95% tenham acontecido em África o que torna a malária, uma doença sem vacina mas que pode ser tratada com os medicamentos adequados, uma das doenças mais preocupantes no continente. Os investigadores da Universidade da Califórnia Irving pensam ter descoberto uma solução, modificando geneticamente o mosquito Anopheles, que transmite a malária. O organismo deste insecto geneticamente modificado passa a eliminar sozinho o parasita que transmitido aos humanos causa o paludismo e essa característica torna-se um gene dominante, fazendo com que toda a população de mosquitos de um determinado local deixe de propagar esta doença. "Este mosquito é um mosquito em tudo idêntico ao mosquito que já existe aqui em São Tomé e Príncipe, mas com uma diferença notável: ele tem dois genes benéficos e sintéticos que são introduzidos no mosquito através de um mecanismo de engenharia genética que se designa por 'gene drive'. O 'gene drive' vai transportar os genes benéficos e integrá-los no genoma do mosquito com precisão, ou seja, nós sabemos exactamente onde é que ele vai ser integrado, mas o drive tem um papel dual, não só a integração dos genes benéficos dentro do mosquito, mas também à dispersão destes genes na população", explicou João Pinto, professor auxiliar e chefe da unidade de Entomologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa. João Pinto lidera as operações de campo nas ilhas de São Tomé e Príncipe, selando assim a parceria com a Universidade Nova de Lisboa e também a Universidade de São Tomé e Príncipe onde este projecto, que se chama UCMI - Universidade da Califórnia - Iniciativa Contra a Malária em STP, instalou um laboratório molecular e onde investigadores locais trabalham lado a lado com investigadores portugueses, norte-americanos e ainda outras nacionalidades. Antes de qualquer trabalho de campo, os investigadores levaram a cabo um estudo de forma a determinar onde se poderiam levar a cabo as primeiras experiências e foram analisados mais de 30 arquipélagos e ilhas, tendo a escolha final recaído em São Tomé e Príncipe devido à presença da malária, do mosquito Anopheles, mas também a própria dimensão das duas ilhas. Assim, desde 2021 que estão a ser levadas a cabo experiências laboratoriais no país e estudos preparatórios sem que ainda tenha havido qualquer libertação de mosquitos na natureza. Os estudos preparatórios terminam dentro de alguns meses e a equipa quer agora passar à fase de libertação na ilha do Príncipe, mas ainda precisa de luz verde das autoridades. "Até à data o UCMI não libertou nenhum mosquito modificado em São Tomé e Príncipe, nem sequer iniciou a sua produção. A primeira fase, que era precisamente uma fase que enquadrava três actividades principais as pesquisas científicas, a capacitação técnica de infraestruturas, de recursos humanos e o engajamento comunitário e das partes interessadas é uma fase que está em vias de conclusão. Dentro de alguns meses teremos essa fase já perfeitamente concluída e teremos que efectivamente passar para a segunda fase. Passar para a segunda fase carece de autorização de aprovação do Governo São Tomé e Príncipe. E é nisso que temos vindo a trabalhar e contamos ter uma resposta nos próximos meses sobre se de facto havemos de avançar ou não. Se avançarmos, teremos que...

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4/6 Santa Maria pode colocar Portugal no mapa das grandes infra-estruturas espaciais da Europa

7/29/2025
Na ilha de Santa Maria, nos Açores, está em marcha um projecto que poderá colocar Portugal no mapa das grandes infra-estruturas espaciais da Europa. Trata-se do desenvolvimento de um hub espacial com foco no retorno de veículos vindos do espaço. A iniciativa é liderada pela Agência Espacial Portuguesa e visa transformar a ilha açoriana no principal ponto europeu de regresso de missões espaciais. O projecto tem como peça central o Space Rider, veículo reutilizável europeu que será lançado a partir da Guiana Francesa e cujo regresso à Terra está previsto para ocorrer em Santa Maria em 2027. Segundo Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, o objectivo não é apenas acompanhar a nova corrida espacial, mas colocar Portugal na linha da frente de um paradigma que valoriza cada vez mais a reutilização de tecnologia e a redução de custos operacionais. "Uma economia espacial sustentável baseia-se nos custos de acesso ao espaço. Se o custo for baixo, a economia eleva-se”, explicou Ricardo Conde, sublinhando a importância do retorno como parte essencial da cadeia de valor espacial. Ao contrário da abordagem tradicional, centrada nos lançamentos, o foco em Santa Maria será, sobretudo, o regresso: “Não queremos só lançar. Queremos recuperar. O retorno, do meu ponto de vista, é o mais importante aqui. Porque não há alternativas a nível europeu.” O conceito é claro: criar em Santa Maria não apenas um porto espacial, mas um verdadeiro ponto de acesso e retorno. Esta abordagem distingue-se de outras infra-estruturas europeias pela sua agilidade e versatilidade, essenciais para responder às novas exigências do sector, nomeadamente a chamada resposta rápida ao espaço. Neste contexto, pequenos lançadores terão um papel relevante, permitindo colocar satélites ou sondas em órbita num prazo de dias, algo particularmente útil para fins militares, de monitorização ambiental ou em situações de emergência. Actualmente, a cadência de lançamentos na Europa é limitada. O novo lançador Ariane 6 poderá realizar no máximo nove voos por ano, contrastando com os quase 200 lançamentos anuais da SpaceX. “Se quiser lançar [um satélite] na Europa, tem de esperar. E quando precisamos de uma resposta rápida, essa espera torna-se um problema. É aqui que iniciativas como a de Santa Maria ganham valor estratégico”, referiu Ricardo Conde. O ecossistema espacial açoriano será composto por várias infra-estruturas. No antigo kartódromo da ilha, cedido pela Câmara Municipal, será erguido o Centro Tecnológico Espacial de Santa Maria, onde se instalarão hangares com câmaras limpas e sistemas de integração. Este centro será a espinha dorsal das operações de preparação e manutenção dos veículos espaciais. Junto ao aeroporto será construído o local de aterragem do Space Rider, uma área circular com 500 metros de raio, concebida especificamente para acolher o retorno seguro do veículo reutilizável. Além disso, no teleporto de Santa Maria, será instalada uma nova antena, já em fase de concurso, destinada a garantir as condições de segurança durante as operações de lançamento e regresso. Todavia, as obras estão atrasadas. “Estamos neste momento com cinco meses de atraso”, admitiu Ricardo Conde, que acrescenta que o financiamento e os quadros de investimento ainda estão em fase de preparação. O objectivo, no entanto, mantém-se inalterado: fazer de Portugal o primeiro e único ponto de retorno de veículos espaciais na Europa, complementando assim a oferta europeia de acesso ao espaço com uma valência estratégica até agora inexistente. O regresso do Space Rider em 2027 poderá marcar um momento histórico para a presença portuguesa no espaço e consolidar Santa Maria como uma plataforma europeia de referência no sector aeroespacial.

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À descoberta da startup moçambicana que transforma lixo em “carvão 100% ecológico”

7/28/2025
Neste programa Ciência, vamos conhecer a startup moçambicana Biomotta que transforma lixo em carvão. O seu fundador é Michaque Mota, especialista em biocombustíveis, energias renováveis e acção climática. A startup vai representar Moçambique no concurso Climate Launchpad que distingue projectos de negócio ecológicos. A final africana é a 30 e 31 de Agosto, em Marrocos, e a final global é em Outubro, em Viena, na Áustria. RFI: O que representa para a Biomotta ser uma das startups premiadas no concurso Climate Launchpad em Moçambique? Michaque Mota, fundador da Biomotta: “É um marco histórico e bastante significativo para a Biomotta poder ser distinguida no primeiro lugar na fase nacional, o que valida aquilo que é a nossa proposta de solução, o nosso modelo de negócio. Esse reconhecimento é bastante crucial, nos motiva e nos faz sonhar e acreditar que é possível desenvolver iniciativas sustentáveis e causar impacto positivo no campo social, económico e ambiental.” Que perspectivas tem relativamente à final continental e à final mundial? “A expectativa é mesmo ser distinguido, mais uma vez, nesta fase regional, na qual iniciámos o trabalho. Estamos bastante engajados e confiantes e será bastante importante passar desta fase e, obviamente, representar Moçambique. É tão especial, é bastante especial e a expectativa é mesmo passar desta fase e fazer parte das outras startups que serão distinguidas nesta fase regional.” O que é a Biomotta e em que consiste o projecto? “A Biomotta é uma startup 100% moçambicana e inovadora, dedicada à conversão sustentável da biomassa local, biomassa essa que deriva de resíduos agrícolas, sólidos urbanos e dos materiais orgânicos biodegradáveis em biocombustíveis renováveis, acessíveis, seguros e fiáveis. Oferecemos também soluções energéticas sustentáveis, cujo produto principal é a energia derivada de biomassa sob forma de briquetes ecológicos ou carvão ecológico, biogás, concebidos como alternativas limpas e eficientes à lenha e ao carvão convencional ou vegetal. Além disso, também geramos produtos valiosos, como os biofertilizantes e pesticidas naturais e, com isso, promovemos agricultura sustentável local. Neste exacto momento, temos uma capacidade de produção de dez toneladas por dia dos briquetes ou do carvão 100% ecológico, o que responde à crescente procura por soluções energéticas renováveis, impulsionando a transição energética em Moçambique, uma vez que o governo promove a diversificação da matriz energética e também procuramos adoptar um modelo de economia circular que garanta o aproveitamento máximo dos recursos locais agro-energéticos, promovendo a sustentabilidade ambiental e económica. Além do impacto ambiental, a Biomotta promove programas de resiliência comunitária para enfrentar as mudanças climáticas, fomentando adaptação sustentável e o desenvolvimento social e económico, com foco na inclusão de mulheres, jovens e pessoas com deficiência.” Falou em “carvão 100% ecológico”. Até que ponto se pode falar de carvão ecológico quando o carvão polui? “É interessante esta abordagem. O carvão ecológico resulta de um processo de conversão que toma três processos fundamentais. O primeiro processo fundamental é mesmo o abastecimento e o fornecimento da biomassa local. Nós temos valorizado, sob o ponto de vista energético, alguns materiais que são gerados potencialmente a nível local. Estamos a falar de bagaço de cana, casca de coco, casca de arroz, amendoim, palha de milho, entre outros materiais que assumem essas características energéticas. São fontes alternativas de energia onde nós carbunizamos, numa primeira fase. Esse conceito de carbonização nos ajuda na remoção das emissões ou das partículas nocivas, o que ainda é um desafio para os ambientes domésticos no contexto moçambicano. De seguida, associa-se a um adesivo ou um aglutinante, um material que terá essa capacidade para unir os elementos constituintes desta biomassa e com a ajuda de uma tecnologia a que chamamos de...

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3/6 "Europa afirma-se potência espacial após os efeitos da guerra na Ucrânia”

7/22/2025
Cinquenta anos depois da criação da Agência Espacial Europeia, o velho continente continua sem autonomia no corpo de astronautas e a presença na Estação Espacial Internacional ainda é assegurada pelos Estados Unidos. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, considera que apesar dos desafios existentes, a Europa começa a afirmar-se como potência espacial, sobretudo após os efeitos da guerra na Ucrânia. Na corrida ao espaço, apenas os mais fortes conseguem lançar, operar e manter a presença. Nesta lista surgem as tradicionais potências espaciais: Estados Unidos, China, Rússia e a Índia , com o Brasil, Israel e a França a serem considerados nações espaciais, depois surgem os Estados emergentes, explica Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa. “Os Estados classificam-se como potências espaciais - space powers. Temos os Estados Unidos, a China, a Rússia - que caminha agora para uma vertente mais militar do seu programa espacial - e a Índia, que está a afirmar-se cada vez mais como potência espacial. Depois, temos as space nations, como o Brasil, Israel e a França, por exemplo. E ainda os emerging states-onde se inclui Portugal e outros pequenos países que querem ter uma palavra a dizer no espaço. O que faz a diferença entre estes grupos é a relação entre capacidade e autonomia. Os que têm ambas são os mais fortes. Basta ver os Estados Unidos, a China, a Rússia e a Índia que têm capacidades próprias de lançamento, navegação e presença no espaço. Outros países são muito mais dependentes”. Cinquenta anos depois da criação da Agência Espacial Europeia, o velho continente não tem autonomia no corpo de astronautas e a presença na Estação Espacial Internacional ainda é assegurada pelos Estados Unidos reconhece o presidente da Agência Espacial Portuguesa, acrescentado que a guerra na Ucrânia obrigou a mudanças. “A Europa não é um país - é um conjunto de vontades políticas, e isso traz fragmentação. No entanto, já podemos dizer que a Europa é hoje uma potência espacial. Isso resulta de um processo de aprendizagem, em grande parte acelerado pela guerra na Ucrânia. Lembro-me dos Conselhos Ministeriais da ESA em que se decidiu cortar laços com a Rússia. A partir daí, percebemos o que hoje se chama “resiliência”. Ficámos cerca de dois anos sem acesso ao espaço, e isso foi um choque. Mas recuperámos essa capacidade, com o desenvolvimento do Ariane 6, por exemplo. Apesar disso, é um facto: a Europa ainda não tem capacidade para colocar humanos em órbita. Por isso, na nova estratégia da ESA para 2040, discute-se a modificação dos lançadores - como o Ariane 62 e 64 - para permitir voos tripulados. Sem isso, a Europa não terá uma voz relevante na economia espacial. Estamos a falar, por exemplo, de programas como o Argonaut, que representa o regresso à economia lunar. Para isso, os lançadores são fundamentais - são o pilar da presença autónoma no espaço. E a Europa tem de fazer essa evolução” .Para cumprir os novos objectivos, a ESA e os seus Estados-Membros precisam duplicar os orçamentos actuais, defende o presidente da Agência Espacial Portuguesa. “O aumento será progressivo, feito “a peditório”, como se costuma dizer, ao longo dos próximos Conselhos [o próximo realiza-se em Outubro] A ESA apresenta os programas, e os Estados subscrevem. O que é preciso é consciência política: se os países europeus querem ter uma palavra no espaço, têm de duplicar os seus orçamentos. A pergunta que se impõe: estarão os governos preparados para isso? A conjuntura mundial - com o cruzamento entre defesa e espaço - pode levar a um maior investimento. E isso vai acontecer. Mas há que distinguir duas coisas: Investir em ferramentas espaciais - satélites para comunicações (incluindo quânticas), observação da Terra, navegação, posicionamento e tempo. Construir uma verdadeira economia espacial - com presença em órbita, na Lua, e até noutros corpos celestes” .Ricardo Conde sublinha que a chave está em tratar o espaço não só como...

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2/6 Lixo espacial: Da ecologia espacial à soberania e segurança internacional

7/15/2025
O lixo espacial deixou de ser apenas um problema técnico e transformou-se numa questão de soberania e segurança internacional. Quem o diz é Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, numa entrevista à RFI realizada em Santa Maria, nos Açores, onde alertou também para os riscos associados à proliferação de satélites e detritos no espaço. Mais do que uma preocupação ambiental, o tema do lixo espacial é hoje tratado como uma necessidade operacional para garantir o funcionamento seguro dos sistemas em órbita. A proliferação de satélites levanta questões geopolíticas, militares e de cibersegurança que ultrapassam a simples gestão de tráfego espacial. Hoje o lixo espacial não é olhado de uma forma de preocupação genuinamente ambiental, a tal chamada ecologia espacial, é mais uma questão de necessidade. Ou seja, tenho que ter isto limpo para ter condições de operação, caso contrário tenho problemas de operação. Levanta-se a questão das ameaças e daquilo que é a soberania. A faixa entre os 500 e os 17.000 quilómetros de altitude - onde circulam satélites de comunicações, navegação e observação - encontra-se cada vez mais saturada. Constelações como a Starlink ou a Kuiper prevêem o lançamento de dezenas de milhares de novos satélites, aumentando os riscos de colisões em cadeia e dificultando a gestão do tráfego orbital. Já há sinais de coordenação internacional, mas o desafio permanece. “Começam a aparecer empresas - nós temos algumas aqui em Portugal, pelo menos duas - a providenciar serviços de evitar colisões, gerar alertas de proximidade.” Mas os riscos vão além das colisões. Para Ricardo Conde, o espaço está a tornar-se um domínio estratégico sensível, e os satélites podem ser considerados alvos em caso de conflito. A questão das ameaças e daquilo que é a soberania. Vamos imaginar que, por alguma razão e no contexto hoje da guerra na Europa, acontece alguma coisa a um satélite de comunicações. Isso é considerado uma ameaça. É considerado uma ameaça como se fosse uma infra-estrutura de telecomunicações aqui dos nossos operadores. O exemplo da guerra da Ucrânia, em que a rede Starlink foi usada como infra-estrutura militar, mostra como a distinção entre alvos civis e militares está a desaparecer. “O Starlink, a Viasat, foram cruciais e são cruciais na guerra da Ucrânia. Ou seja, significa que a capacidade privada está ao serviço da guerra.” Com o aumento do número de satélites e das capacidades tecnológicas de alguns Estados, o risco de manobras hostis é real. “Há neste momento um conjunto de satélites, que são braços robóticos, a desviar satélites. Já existe essa monitorização. Há um conjunto de satélites chineses que estão na cintura orbital, a 36.000 km, e há monitorização de manobras. Para quê? Para desviar, para fazer hacking, para interferir.” Os perigos de colisão em órbita são sérios e as consequências imprevisíveis. “Com a proliferação de detritos, a ameaça, na realidade, multiplica-se. Imagine o que é estarmos numa cintura orbital — e vai ser esse o padrão a partir de 2030 — com muitas estações internacionais e o lixo espacial a passar com velocidades e quantidades de movimentos enormes que são destrutivas. (...) É uma ameaça não só para a integridade da permanência no espaço, mas também para a destruição de outros alvos e destruição de outros satélites.” A resposta europeia a esta nova realidade é lenta e limitada, não por falta de normas, mas por falta de capacidade de fazer cumprir o direito internacional. “O problema não é a legislação, mas o cumprimento do direito internacional.” A ausência de regras claras e eficazes ameaça transformar o espaço numa nova “selva”. “Toda a gente tem [necessidade de coordenação]. Porque vai-se confrontar com uma selva.” Para Ricardo Conde, há duas motivações por detrás da nova corrida espacial. “A primeira é a extensão geopolítica do território. Não há nenhum sítio no mundo por descobrir. Ora, como não há sítios [novos] para descobrir, o que é que fazem as...

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“ESA dá um passo estratégico ao alargar o âmbito para aplicações de segurança”

7/1/2025
A agência Espacial Europeia-ESA- assinala este ano 50 anos de existência. Desde a sua criação, a ESA uniu países europeus que partilhavam, em comum, a visão de explorar o espaço como um avanço conjunto para o conhecimento e o progresso, tornando-se um dos pilares da autonomia estratégica da Europa. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa recorda que a ESA nasceu, inicialmente, com uma vertente científica, mas “em 2023, a ESA deu um passo estratégico ao alargar o seu âmbito para aplicações práticas e de segurança”. A Agência Espacial Europeia – ESA- nasceu há 50 anos, numa tentativa de unir esforços dos europeus, que não tinham capacidade para ter um programa espacial, face à corrida espacial EUA–URSS. Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa refere que a ESA nasceu, inicialmente, com uma vertente científica, sublinhando que Portugal só integra esta corrida 25 anos mais tarde. “Estamos nisto há 25 anos, Falta-nos aqui uma história de 25 anos. Mas essa história dos 25 anos foi, de certa forma, a resposta da Europa à corrida espacial entre os Estados Unidos e a Rússia. Todos nos lembramos da Guerra Fria e do que motivou a primeira corrida espacial. A Europa, como ainda é hoje um conjunto de boas vontades - às vezes também de falta delas - na altura não tinha dimensão. Cada país, individualmente, não tinha capacidade para ter um programa espacial com estrutura e escala que competisse com os dois blocos. Foi graças a pessoas com uma visão estratégica absolutamente brilhante que se pensou: ‘Porque não unimos esforços?’ E assim nasceu a agência, a Agência Espacial Europeia. Mas, inicialmente, nasceu com uma vertente científica. E isso é extremamente importante, porque nos traz até aos dias de hoje”. Ricardo Conde recorda que ao longo da história a Agência Espacial Europeia foi-se adaptando às novas exigências e recentemente alargou o domínio às aplicações práticas e também da segurança. “Foram aderindo novos Estados-Membros, hoje são 23. Mas, em Dezembro do ano passado, assistimos a algo inédito. Eu, particularmente, achava que poderia acontecer, mas muito aos poucos. O status quo em muitos países, por vezes conservador, não permitia imaginar que a ESA pudesse evoluir para algo mais abrangente. E, no entanto, isso aconteceu - alargou-se o seu escopo. Hoje já se discute abertamente a entrada em domínios como o das aplicações práticas e também o da segurança e defesa. Eu não diria ‘militar’. Essa é quase uma palavra proibida. Mas falamos de segurança e resiliência. ‘Defesa’, traduzido em miúdos, pode ser parecido, mas tem outro peso histórico. O que importa é que, neste momento, a ESA se prepara - e Portugal também - para olhar para a sua acção num domínio mais aberto. Não apenas científico, mas com a ciência como espinha dorsal. A ESA continua a ter programas científicos, com conquistas extraordinárias e únicas a nível internacional”. Portugal aderiu formalmente à ESA em 2000, o investimento nacional permitiu o desenvolvimento de competências de infraestrutura espacial, nota o presidente da Agência Espacial Portuguesa. “Hoje, Portugal tem capacidades interessantes. A ESA beneficia do que Portugal investiu e que foi retornando. Temos cerca de 80 entidades - entre empresas, centros de investigação e universidades - a actuar neste sector. Eu diria que 95% ou mais gira em torno da ESA. Ou seja, a ESA foi absolutamente fundamental. Em 2012, praticamente não havia projectos. Nessa altura, foi criada uma task force em Portugal com o objectivo de procurar qualquer projecto - qualquer coisa ligada ao espaço era válida. Não importava se era complexo ou mesmo se era útil - o que interessava era alavancar capacidades e motivação. Havia de tudo: projectos impressionantes e outros totalmente dispensáveis”. Mas o importante é que se investiu, e houve retorno. Hoje temos empresas de nicho com uma capacidade fantástica. Fornecemos para as cadeias de valor dos grandes programas espaciais europeus. A nossa...

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Parque Nacional de Maputo elegível ao estatuto de Património Mundial da UNESCO

6/24/2025
Dentro de alguns dias, de 6 a 16 de Julho, a UNESCO realiza aqui em Paris a sua 47.ª sessão, no âmbito da qual vai examinar as candidaturas ao estatuto de Património Mundial da Humanidade de cinco áreas naturais espalhadas pelo mundo fora, duas das quais situadas na África Lusófona, ou seja os Ecossistemas Costeiros e Marinhos do Arquipélago dos Bijagós da Guiné-Bissau, e o Parque Nacional de Maputo, uma reserva natural situada a cerca de 80 quilómetros a sul da capital de Moçambique. A RFI esteve recentemente nesta reserva natural considerada como sendo um dos 14 sítios mais importantes do mundo em termos de biodiversidade. Com uma superfície de um pouco mais de 1.700 quilómetros quadrados, este parque resulta da reunião em 2021 de duas áreas protegidas contíguas, a Reserva Especial de Maputo e a Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro. A sua história é contudo mais antiga e remonta a 1932, quando a zona era uma área de caça antes de a sua biodiversidade passar a ser oficialmente valorizada e reconhecida em 1969, como nos conta o administrador do Parque, o biólogo Miguel Gonçalves. RFI : Como e quando começa a história do Parque Nacional de Maputo? Miguel Gonçalves : Começa basicamente em 1932, com uma pequena área de caça, então uma espécie de coutada. Depois de 1960, essencialmente por causa do declínio da população de elefantes que existia nesta zona e até porque se acreditava que eram uma subespécie de elefantes, porque viviam muito junto à costa, mas essencialmente pelo declínio, criou-se a Reserva dos Elefantes de Maputo. Já em 1969, com o reconhecimento e o melhor conhecimento da área, o reconhecimento do valor da biodiversidade na área, foi categorizada para Reserva Especial de Maputo e aí tinha o objectivo de proteger toda a reserva, fauna e flora existente na Reserva Especial de Maputo. Depois veio a independência. Em 1985, houve processos que atrasaram alguns procedimentos. Entretanto, o Governo Moçambique assinou um acordo de apoio com uma organização chamada ‘Parks Foundation’, que tem um foco muito grande no estabelecimento de áreas de conservação transfronteiras. São países ligados por áreas de conservação e esse apoio resulta em 2009, na criação da então Reserva Marinha Parcial da Ponta de Ouro. Ficamos ligados a esse parque na África do Sul, sendo essa a primeira área de conservação transfronteiriça marinha no continente africano. Depois, em 2011, agregamos à então Reserva Especial de Maputo aquilo que chamamos o corredor do Futi para ficar ligado ao Parque dos Elefantes de Tembe na África do Sul. Em 2021, por várias questões económicas, de gestão, de efectividade, unimos a Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro e a Reserva Especial de Maputo, num único Parque Nacional de Maputo, que é a categoria mais elevada de conservação possível na nossa Lei de Conservação, para a nossa candidatura a Património Mundial. RFI : Qual é a particularidade dessa área em termos de biodiversidade? Miguel Gonçalves : Nós estamos entre os 14 sítios mais importantes do mundo, em termos de biodiversidade. Nós fazemos parte da área que é chamada ‘’Maputaland’. É enorme. Estamos a falar de um sistema terrestre com planícies, planícies pantanosas, florestas, lagos, rios, o oceano e a baía de Maputo. Tudo isto traz consigo todos estes grandes sistemas, chamemos-lhe assim. Possivelmente não é o nome mais correcto. Traz toda uma biodiversidade associada. Temos estado com alguma regularidade em encontrar espécies novas. RFI : Que espécies novas? Que espécies possui esta zona que não encontramos em mais lado nenhum ? Miguel Gonçalves : Quando lhe digo que fazemos parte do Maputaland, isto inclui a África do Sul e Suazilândia. Portanto, é uma área grande. Não lhe vou dizer espécies, mas temos um certo número de plantas que são endémicas a este sítio. Possivelmente encontrámos 100 espécies novas no trabalho de uma senhora sueca. Tivemos também aqui um especialista em insectos de um museu na Inglaterra que identificou 100 espécies...

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Otchiva defende legislação específica para proteger os mangais em Angola

6/17/2025
Durante a terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (UNOC3), a organização ambiental angolana Otchiva, representada pelo director executivo, Danilson Lunguenda, alertou para a ausência de uma legislação específica dedicada à protecção dos mangais em Angola — ecossistemas vitais para a biodiversidade marinha e o combate às alterações climáticas. Embora Angola disponha de leis ambientais e sobre biodiversidade, ainda não foi aprovada um documento legal que se dedica exclusivamente à protecção dos mangais. Para a Otchiva, esta lacuna representa um risco para a conservação destas zonas húmidas que, apesar da sua reconhecida importância, continuam expostas à degradação. “Temos a Lei de Bases do Ambiente, temos a Lei da Biodiversidade, mas não temos ainda uma lei específica para protecção dos mangais. Este também é um dos nossos grandes objectivos”, sublinhou o biólogo. Activa desde 2017, a Otchiva tem desenvolvido uma série de acções de sensibilização ambiental, reflorestação e limpeza dos ecossistemas. A organização considera os mangais “berçário e maternidade da vida marinha”, lembrando que “cerca de 80% das espécies de interesse comercial das zonas tropicais reproduzem-se nos mangais ou passam o estágio de vida nesses ecossistemas”. A pressão sobre estas zonas provém sobretudo da poluição plástica, da pesca predatória e das construções em áreas sensíveis da orla costeira. Angola tem cerca de 1.650 quilómetros de costa, dos quais entre 50% a 60% são ocupados por mangais, estendendo-se de Cabinda a Benguela. Apesar disso, a resposta institucional ainda depende largamente da mobilização da sociedade civil. Os mangais têm também um papel central na luta contra as alterações climáticas, por serem altamente eficazes na retenção de dióxido de carbono. “As florestas dos mangais absorvem e armazenam até dez vezes mais dióxido de carbono do que outras florestas”, destacou o dirigente associativo. A Otchiva tem apostado numa abordagem inclusiva, envolvendo comunidades locais, voluntários, escolas e representantes do poder político em acções de reflorestação e capacitação. “O assunto mangais já é tido como de interesse nacional e até mesmo internacional. Mas em Angola, particularmente, o governo, a academia, as instituições públicas e privadas, os estudantes, as comunidades locais, [devem realizar] um trabalho conjunto”, afirmou. Para Danilson Lunguenda, só com uma lei dedicada aos mangais será possível garantir a sua protecção efectiva e a preservação dos benefícios que estes ecossistemas oferecem às comunidades costeiras, à economia pesqueira e ao ambiente.

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Petróleo e gás têm impactos devastadores nos oceanos e nas comunidades

6/16/2025
As actividades da indústria do petróleo e gás causam impactos significativos ao longo de todo o ciclo, desde a exploração até o abandono das infra-estruturas. O alerta é de Bruna Campos, responsável de campanhas sobre petróleo e gás offshore (no mar) do Centro para o Direito Ambiental Internacional (CIEL – Center for International Environmental Law), durante a terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (UNOC3), que decorreu em Nice, França. Segundo Bruna Campos, os efeitos da actividade extractiva estendem-se a cada etapa do processo — exploração, produção, transporte e desactivação — afectando de forma profunda os ecossistemas marinhos e as comunidades costeiras. “As actividades de petróleo e gás têm um impacto em todo o ciclo, exploração, produção e transporte. E até na fase final, que se traduz no abandono da infra-estrutura, cada parte do ciclo tem o seu próprio impacto”, explicou. Na fase de exploração, o uso intensivo de sonares representa uma ameaça séria à fauna marinha. “Aquilo causa um grande problema a muitas espécies no mar, como por exemplo, às baleias ou aos golfinhos. Mas não só, aos microrganismos também, como o zooplâncton, que têm muitos problemas com esse tipo de som. Não reagem muito bem. Isso causa um problema em toda a parte da alimentação marinha.” A responsável de campanhas sobre petróleo e gás offshore alertou ainda para a frequência com que ocorrem derrames de petróleo, contrariando a percepção comum de que são eventos raros. “As pessoas pensam que o derrame de petróleo é muito raro, só que não. E os derrames acontecem todos os dias. Uma publicação da SkyTruth, organização que utiliza imagens de satélites para poderem ver esses tipos de derrames, repararam que os derrames acontecem todos os dias em muitas infra-estruturas.” Estes derrames têm implicações ambientais e humanas, com consequências particularmente graves nas comunidades que dependem da do oceano e da pesca. A especialista destacou que os efeitos não se limitam ao meio-ambiente, mas também afectam directamente a segurança alimentar, os direitos culturais e os modos de vida tradicionais. “Todos os direitos humanos são postos em causa.” Apesar das múltiplas discussões e anúncios, uma das críticas que frequentemente se apontam às grandes cimeiras é a ausência de acções concretas por parte dos governos. “É isso o grande problema. Estamos a pedir para os países mudarem esse tipo de retórica e para começarem a falar sobre as acções, sobre o que eles vão verdadeiramente fazer.” Bruna Campos acrescenta igualmente a importância de incluir as comunidades afectadas nas decisões que dizem respeito ao seu futuro. “As comunidades que vivem nessas áreas devem fazem parte da decisão, mais do que serem ouvidas devem fazer parte da decisão.”

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UNOC3: Açores e o compromisso com a conservação marinha

6/9/2025
A Rede de Áreas Marinhas Protegidas nos Açores foi criada com uma abordagem inovadora, definindo 17 objectivos de conservação para beneficiar todo o espaço marítimo da região, especialmente as áreas de actividade pesqueira. É este exemplo de compromisso com a conservação marinha que o arquipélago vai levar à conferência das Nações Unidas que começa esta segunda-feira, 9 de Junho, na cidade francesa de Nice. Criada com uma abordagem inovadora, a Rede de Áreas Marinhas Protegidas dos Açores define 17 objetivos de conservação que beneficiam todo o espaço marítimo da região, especialmente as áreas de actividade pesqueira. A rede visa proteger 30% do mar dos Açores, garantindo a conservação de ecossistemas e montes submarinos importantes, como explicou à RFI Andriano Quintela, biólogo na ong Blue Açores. "Foram definidos 17 objectivos de conservação e identificados para criar uma Rede de Áreas marinhas protegidas que fosse capaz de criar benefícios para todo o espaço marítimo do Mar dos Açores e para as áreas onde efectivamente pode haver actividade de pesca. Portanto, pela escala e pela forma como as áreas foram definidas, estamos convictos de que estas áreas podem criar benefícios para todo o espaço marítimo e não só para as áreas dentro das áreas, Existe uma certa prevenção para que depois se possa voltar à actividade pesqueira", defendeu. O processo baseou-se em mais de 40 anos de pesquisa científica, compilada no chamado "Blue Paper", que orientou a identificação das áreas prioritárias. Houve também um trabalho de co-criação com comunidades locais e partes interessadas, buscando soluções conjuntas que cumprissem os objetivos científicos, lembrou Andriano Quintela. "Mais de 40 anos de investigação científica de excelência que foi feita nos Açores e continua a ser feita. Compilou-se essa informação e produziu-se um relatório, que é o que nós chamamos o Blue Paper, um processo de planeamento sistemático de conservação, onde, com base nesta informação, se identificam as áreas prioritárias para a conservação", detalhou. O mar é um elemento central da identidade açoriana, despertando paixões e unindo pessoas. O programa aposta na participação cívica e na literacia ambiental, reconhece Ana Monteiro, responsável pelo envolvimento da comunidade e suporte ao programa Blue Azores. "O mar dos Açores é o nosso factor mais identitário, mas também é o elemento mais unificador. Nunca se falou tanto do mar como se fala hoje. Penso que o programa também trouxe essa grande discussão e acreditamos que proteger o mar só faz sentido se for também com as pessoas. O nível de literacia e de participação cívica tem sido um dos pilares do programa e hoje em dia temos mais de 40 organizações mapeadas. O envolvimento das pessoas é crescente", sublinhou. Ana Monteiro considera que apesar das resistências naturais à mudança há um reconhecimento crescente da importância da protecção marinha, inclusive entre pescadores, que percebem as mudanças nos recursos naturais. "Creio que estamos a atravessar também uma fase de mudança e todas as mudanças geram resistência. Se nós virmos, por exemplo, quando acabou a caça à baleia nos Açores, nos anos 80, houve um período de transição que foi muito polémico e de grande tumulto social. Mas hoje em dia percebemos que a protecção das baleias gera muito mais benefício económico do que gerava a caça à baleia. Os pescadores perceberam que é preciso fazer qualquer coisa para proteger o nosso mar", acrescentou. A conservação e o uso sustentável dos oceanos vão estar em debate na terceira Conferência das Nações Unidas, que decorre em Nice até 13 de Junho. Os Açores vão ser apresentados como caso de sucesso ao nível das Áreas Marinhas Protegidas.

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Guiné-Bissau acolhe primeira Conferência Nacional sobre Piscicultura

6/2/2025
A Guiné-Bissau vai acolher no próximo domingo, 08 de Junho, a primeira Conferência Nacional sobre Piscicultura. O evento pretende reunir técnicos nacionais e internacionais, com o futuro dos oceanos no centro do debate. A organização do encontro está a cargo da Mana Nanque Piscicultura. Um dos objectivos é chegar ao fim da conferência com um documento, a entregar ao Governo, que permita lançar as bases do sector, como explicou em entrevista à RFI Dembo Mané Nanque. A primeira Conferência Nacional sobre a Piscicultura da Guiné-Bissau decorre precisamente no dia dos Oceanos, 08 de Junho, no Centro Cultural Francês e “contará com a presença de investigadores internacionais e nacionais. Nós escolhemos como lema deste evento “sustentando o que nos sustenta”. Estamos a realizar esse evento com o intuito de criar uma reflexão nacional sobre a saúde dos oceanos, sobre os recursos marinhos, como é que nós, a partir da nossa realidade, podemos criar soluções que vão impactar os oceanos de uma forma positiva”, sublinhou o organizador. O jovem guineense denuncia a sobrepesca a nível global, com os pescadores a não respeitarem os períodos de repouso biológicos. Portanto, defende a piscicultura para “libertar a pressão sobre os oceanos”. Segundo Dembo Mané Nanque, “a piscicultura contribuirá de uma forma significativa para garantir a sustentabilidade dos oceanos. Uma das coisas mais importantes que nós queremos com este evento é propor ao Estado um documento - planos estratégicos - que vise essencialmente promover a economia azul e o desenvolvimento sustentável através da promoção da piscicultura. Sabemos que os oceanos estão a ficar cada vez mais ácidos, a maior parte dos resíduos da humanidade vão directamente para os oceanos. É urgente investir na piscicultura como uma das alternativas para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade do planeta.” A primeira Conferência Nacional sobre Piscicultura da Guiné-Bissau está agendada para o próximo domingo, 08 de Junho, no Centro Cultural Francês, em Bissau.

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Luta biológica: A arma ecológica contra pragas nos Açores

5/26/2025
A luta biológica destaca-se como uma estratégia essencial para o controlo sustentável das pragas nos Açores, substituindo pesticidas químicos por organismos naturais que regulam as populações invasoras. O professor jubilado e investigador do Centro de Biotecnologia dos Açores, Nelson Simões, explica como a luta biológica se tornou uma ferramenta essencial no combate às pragas nos Açores, destacando as vantagens ecológicas e os desafios desta abordagem face às ameaças crescentes causadas por organismos invasores e às alterações climáticas. Qual é o papel da luta biológica no combate sustentável às pragas nos Açores? Trabalhamos com germes patogénicos de insectos e o meu interesse é particularmente a utilização desses germes, uma vez que eles produzem moléculas que são tóxicas para os insectos. Nós retiramos os genes edificantes dessas moléculas, tentado melhorar a actividade dessas moléculas. O controlo biológico, ao fim ao cabo, é a substituição dos pesticidas de síntese química por organismos que são parasitas ou predadores naturais das pragas. Aquilo que vamos fazer é procurar esses agentes, quer sejam predadores, quer sejam agentes patogénicos dessas pragas. No meu caso concreto, estávamos a falar de pragas insectos. Íamos à procura desses agentes de controlo e depois tentávamos desenvolver o processo de modo a torná-lo eficaz, visto que, na realidade, há uma grande distância entre a existência desse agente patogénico ou desse controlador no terreno e depois a sua utilização. Aquilo que fazemos é tentar melhorar estes agentes e adaptá-los de modo a que eles possam ser controladores. E porque é que a ilha dos Açores, especificamente, é um terreno fértil para esse tipo de investigação? As ilhas estão muito sujeitas a invasões, ou seja, à entrada de organismos estranhos. Normalmente, quando entram esses organismos estranhos, não têm controladores naturais para fazer o controlo. A tendência é que esses invasores se expandam com muita facilidade e ocupem o terreno. Isto é um aspecto. Outro aspecto é que, quando se consegue encontrar algum controlador, temos um espaço físico muito limitado que facilita o estudo dessas relações. Por exemplo, no caso aqui do escaravelho japonês, enquanto conseguimos delimitar duas ilhas, fazer trabalhos distintos em São Miguel e em São Jorge, por exemplo, os nossos colegas italianos e suíços não conseguiam fazer isso porque a praga dispersava e aquilo que faziam num sítio, no ano imediato, já estava noutro. Refere-se ao escaravelho japonês? Estamos a falar do escaravelho japonês, mas tem-se usado muitos outros insetos. Estou a falar do escaravelho porque foi o último com que trabalhámos e, neste momento, é um problema efectivamente na Europa desde 2018. Que outras pragas ameaçam o arquipélago? Temos pragas, por exemplo, em fruteiras e em pastagens que são extremamente importantes e que causam estragos. Existem ainda uma série de outros invasores que são efectivamente problemáticos para outras culturas, nomeadamente o tabaco. Atualmente já se faz muito pouco, mas temos pragas no tabaco e no milho que são muito importantes. As alterações climáticas influenciam, de alguma forma, a chegada de novas pragas? De certeza absoluta que isso vai acontecer. A dispersão vai ser diferente daquilo que foi até agora. Neste momento, nos Açores não temos esses sinais, mas a expectativa é que venha a acontecer. Há vários estudos de predição, de distribuição de pragas em que efectivamente as alterações climáticas vão criar grandes problemas. Por exemplo, na situação actual, o norte da Europa — estou a falar de grande parte da Bélgica, Holanda e dos países escandinavos — provavelmente estão protegidos do escaravelho. Mas com as mudanças climáticas, aquilo que aparece é que o escaravelho vai lá chegar e vai sobreviver. Aqui no arquipélago, que bom exemplo trouxe a luta biológica? A luta biológica é considerada uma alternativa a tudo o que é a utilização de químicos, etc. Portanto, ecologicamente, a luta...

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Açores: São Miguel quer duplicar a produção de energia geotérmica até 2026

5/19/2025
O arquipélago dos Açores tem vindo a aumentar a aposta nas energias renováveis. Em São Miguel, maior ilha do arquipélago, a geotermia corresponde a cerca de 32% do total das energias renováveis. O objectivo é “duplicar a produção geotérmica em São Miguel até Junho de 2026. O que significa que a ilha vai passar a ter cerca de 65% de energias renováveis”. A garantia foi dada por Félix Rodrigues, administrador da Electricidade dos Açores (EDA) Renováveis. A energia geotérmica, que aproveita o calor do interior da Terra para produzir electricidade e aquecer edifícios, tem vindo a ganhar destaque. Graças à sua vulcânica, a ilha de São Miguel possui um enorme potencial geotérmico. O relevo vulcânico permite extrair do subsolo água a elevada temperatura e vapor, que podem alimentar as turbinas. Os cientistas garantem que os riscos sísmicos associados às explorações são controlados. Félix Rodrigues, administrador da EDA Renováveis, sublinha que há sempre riscos associados, todavia lembra que não corresponde à verdade a ideia de que a “geotermia pode provocar sismos". Há riscos associados a todas as explorações. Há risco de uma torre cair e há riscos associados à geotermia no sentido de que pode haver um blowout de um poço que rebenta. Não é uma entrada em erupção de um vulcão, mas pode afectar as pessoas que trabalham na proximidade. Portanto, estes riscos são geridos e há os cuidados de todos. E, por outro lado, é utilizado um fluido num circuito fechado que faz transferências de calor e, portanto, há algum risco associado a temperaturas elevadas, que é o caso da exploração geotérmica. Há, de facto, a ideia de que a geotermia pode provocar sismos. E a exploração geotérmica pode efectivamente provocar micro sismicidade. Ou seja, quando se está a extrair vapor e água, essa água no interior da terra provoca uma pressão. Se despressurizamos, podem haver pequenos microssismos. Nós monitorizamos e, ao longo de todos esses anos, tem sido feita uma monitorização sísmica das explorações e não há nada que tenha sido detectado. Não há sismos, grandes, micro sismicidade, sim pode ser induzida. Questionado sobre se a geotermia pode ser o caminho a explorar para uma Europa que se quer mais verde, o também professor universitário responde que "não há recursos de grande entalpia na Europa”, “apesar dos Açores serem uma referência internacional na exploração geotérmica na Europa”. O facto é que o arquipélago beneficia desta “posição privilegiada”. A geotermia de alta entalpia, usada nos Açores, “estou a falar de temperaturas muito acima dos 100 graus que atingem por vezes os 250 graus, não é fácil encontrar no território continental.”

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