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Ciencia - A ciencia a dar cartas em lingua portuguesa

RFI

Uma vez por semana, os temas que marcam a actualidade científica são aqui descodificados.

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Paris, France

Networks:

RFI

Description:

Uma vez por semana, os temas que marcam a actualidade científica são aqui descodificados.

Language:

Portuguese


Episodes
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Resíduos eléctricos e electrónicos aumentam 82% em relação a 2010

4/30/2024
Num mundo cada vez mais industrializado e consumista, continuam a ser colocados no mercado produtos que não são sustentáveis do ponto de vista ambiental. Em 2022 foram produzidos 62 milhões de toneladas de resíduos eléctricos e electrónicos, destas apenas 13,8 milhões de toneladas foram alvo de recolha e de reciclagem adequada. Num mundo cada vez mais industrializado e consumista, continuam a ser colocados no mercado produtos que não são sustentáveis do ponto de vista ambiental. O último Registo Global de Resíduos Eléctricos e Electrónicos 2024 confirma um aumento de 82% de Resíduos eléctricos e electrónicos em relação a 2010, o que representa um aumento anual de 2,3 milhões de toneladas. Em 2022 foram produzidos 62 milhões de toneladas de resíduos eléctricos e electrónicos, destas apenas 13,8 milhões de toneladas foram alvo de recolha e de reciclagem adequada. Rui Berkemeier, engenheiro do ambiente e colaborador da ONG ambientalista portuguesa ZERO (na área dos resíduos), sublinha que em todo o mundo a gestão destes resíduos, altamente poluentes, continua a ser insuficiente: Continua a haver um aumento brutal do consumo de todos os recursos do planeta e o consumo para equipamentos eléctricos e electrónicos tem essa agravante que consome matérias escassas, minerais escassos e metais escassos em grande quantidade. Depois a gestão dos resíduos gera também impactos ambientais tremendos quando é mal gerido, o que acontece na maior parte dos casos, até mesmo na Europa.

Duration:00:10:49

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Guiné-Bissau apostada na protecção dos mares

4/19/2024
A protecção dos oceanos é um tema candente à escala planetária e tem estado no centro de uma série de reuniões internacionais. É o caso da nona conferência alusiva "O nosso oceano" da semana passada na Grécia. A Guiné-Bissau fez-se representar pelo ministro do ambiente, biodiversidade e acção climática Viriato Cassamá. Viriato Cassamá, ministro guineense do ambiente, biodiversidade e acção climática conta-nos quais as dinâmicas em curso em prol da protecção dos mares. "É uma iniciativa global que visa preservar os oceanos. Porque os oceanos constituem um recurso inestimável para todo o mundo e a forma como os recursos naturais têm estado a ser explorados e a forma como os oceanos têm estado a ser utilizados preocupa o mundo. Nesse sentido, houve várias conferências internacionais sobre os oceanos e este anos estamos a realizar a 9 Conferência Internacional sobre os Oceanos. Acho que é muito importante para todos os países costeiros e países insulares que se envolvam com muita força nesta iniciativa global, porque os nossos recursos marinhos devem ser protegidos, devem ser conservados e devem ser geridos de forma a poder servir não só a nossa geração como também a geração futura." Precisamente em Atenas marcaram presença uma série de personalidades de primeiro plano também da lusofonia. Ulisses Correia e Silva, enfatizou o facto de mais de 99% do território de Cabo Verde ser composto por mar. O primeiro-ministro cabo-verdiano afirmou aí estar empenhado em que o país se posicione como um líder na economia azul, estabelecendo metas ambiciosas para a transição energética, gestão da água e desenvolvimento sustentável, envolvendo activamente o sector privado. Por seu lado o seu homólogo são-tomense Patrice Trovoada enfatizava o facto de a sobrepesca, a poluição transoceânica e o impacto ambiental das actividades da marinha mercantil serem alguns dos desafios significativos que o arquipélago equatorial enfrenta. Timor Leste, através do seu chefe do executivo, Xanana Gusmão, salientou, por seu lado, que o país asiático tem uma biodiversidade marinha rica com “75% das espécies de corais existentes no mundo". Vamos ver, então, como é que a Guiné-Bissau se posiciona quanto a estas questões. De novo com Viriato Cassamá, ministro guineense do ambiente que interveio em dois debates em Atenas, um deles do PRCM, o Programa Regional Costeiro Marinho, que engloba desde a Mauritânia até à Serra Leoa. "A minha intervenção vai no sentido de mostrar o que é que a Guiné-Bissau tem na manga para cumprir o objectivo 30 30 do Quadro Global da Biodiversidade. Neste momento temos 26,3% do nosso território nacional, como as áreas protegidas, e é a meta 30 30 diz que até 2030, todos os países partes da convenção devem ter pelo menos 30% do seu território nacional como áreas protegidas. E nós neste momento já contamos com 26,3% e dentre esses 26,3%, 12,6 são áreas marinhas protegidas e 13,7 são áreas protegidas terrestres. E dentro dessas áreas protegidas terrestres, a Guiné-Bissau conta com uma cobertura florestal de 10% do Mangal e entre esses 10%, 29% da floresta do Mangal encontra-se dentro dessas áreas protegidas. E nós sabemos que temos os desafios a enfrentar relativamente ao atingimento desta meta 30 30 Mas o país tem implementado diversas iniciativas, que posso citar.E no mês de fevereiro último nós entregámos a nossa candidatura ou então a candidatura do arquipélago dos Bijagós como Património Natural Mundial da UNESCO." Tinha vindo aqui a Paris para o efeito. "Exacto. E esta acção visa proteger e preservar um dos ecossistemas mais ricos e diversos do país. Uma outra acção que temos estado a empreender é a criação de um santuário ecológico ao redor de algumas ilhas do arquipélago dos Bijagós, cobrindo 0,26% do território nacional. E esta acção também visa proteger as espécies vulneráveis e seus habitats. Por exemplo, as tartarugas marinhas. Uma terceira acção que a Guiné-Bissau tem estado a empreender é a criação da Segunda...

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Doença renal crónica na Guiné-Bissau tem vindo a aumentar

4/10/2024
A doença renal crónica na Guiné-Bissau tem vindo a aumentar, essencialmente provocada pela hipertensão e diabetes. Em 2023 foram registados 135 pacientes. No Hospital Nacional Simão Mendes está, em fase de preparação, uma unidade de hemodiálise, entretanto os doentes são enviado para o Senegal ou para Portugal. Fidalgo Raul Ferreira sublinha que a “doença renal é muito silenciosa” e, por causa disso, o paciente só se apercebe “quando está numa fase muito avançada". A doença renal crónica na Guiné-Bissau tem vindo a aumentar, essencialmente provocada pela hipertensão e diabetes. Em 2023 foram registados 135 pacientes. No Hospital Nacional Simão Mendes está, em fase de preparação, uma unidade de hemodiálise, mas enquanto se aguarda o início do funcionamento os doentes renais crónicos são enviado para tratamento para o Senegal, a custas do próprio, ou para Portugal, no âmbito de um protocolo entre os dois países. Fidalgo Raul Ferreira, médico nefrologista no Hospital Simão Mendes, sublinha que a “doença renal é muito silenciosa” e, por causa disso, o paciente só se apercebe da doença “quando está numa fase muito avançada, onde o paciente está muito pálido, anémico, começa a ter edemas nos membros inferiores e superiores, náuseas, cansaço e pode até convulsionar. Mas, é uma doença assintomática no início.” O especialista acrescenta que faltam aos guineenses hábitos de saúde: Aqui os pacientes só fazem um check-up só quando têm sintomas, não têm hábitos de ir ao médico para fazer um check-up, um controlo. É uma questão de hábito. Não temos o hábito de ir ao hospital para fazer um check-up, para saber qual é o problema, para corrigir desde o início, para evitar a doença. A gente tem o hábito de ir ao hospital só quando tem uma febre ou quando tem um outro tipo de doença. Mas, normalmente, a cada ano, temos que fazer um check-up para saber se temos um problema e corrigir desde o início, evitando a doença. Como na Guiné-Bissau não se realizam sessões de hemodiálise, os doentes com insuficiência renal que precisam de hemodiálise são enviados ora para o Senegal, Dacar ou Ziguinchor, ora para Portugal. Não temos o serviço de hemodiálise ainda a funcionar e estamos a diligenciar para que isso funcione o mais rápido possível, mas até então não temos o serviço de hemodiálise para os pacientes iniciarem a hemodiálise. Já estão a preparar o local e posso dizer que já está quase. Estamos à espera de uma triagem. Um paciente com doença renal crónica só pode fazer hemodiálise, é a única solução. E hemodiálise é três vezes por semana. Se transferimos o paciente para Ziguinchor ou para Dacar é o paciente é paga. Mas se é transferido para Portugal, no âmbito da junta médica, não paga nada, porque é a cooperação que temos com Portugal. Questionado sobre os hábitos que devemos ter para evitar a doença renal, Fidalgo Raul Ferreira é peremptório: Evitar muito sal, hidratar sempre, beber muita água, sempre. Temos que aferir a pressão arterial, fazer uma dosagem de creatinina e exames de urina e medir a glicose. É importante também fazer exercício físico, que é extremamente importante para manter um peso saudável, sabemos que o excesso de peso pode causar uma doença renal.

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Alterações climáticas: Tribunal Europeu mostra que “inacção do Governo suíço viola direitos humanos”

4/9/2024
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos deu razão esta terça-feira, a um grupo de mulheres idosas que acusaram o Governo suíço de não cumprir as suas obrigações na luta contra as alterações climáticas. Mariana Gomes, presidente da associação Último Recurso, sublinha uma decisão histórica do tribunal porque mostra que “inacção do Governo suíço em matéria de aumento de temperaturas, ondas de calor e alterações climáticas, viola direitos humanos e viola os direitos humanos daquelas pessoas”. O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) deu razão esta terça-feira, 09 de Abril, a um grupo de mulheres idosas que acusaram o Governo suíço de não cumprir as suas obrigações na luta contra as alterações climáticas. Por outro lado, o TEDH recusou a acusação de um ex-autarca francês que acusava o Estado de não cumprir a obrigação de garantir o direito à vida ao não combater adequadamente as mudanças climáticas. Em terceira deliberação, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos rejeitou a queixa de seis jovens portugueses que acusavam 32 Estados europeus de inacção em relação às alterações climáticas. O tribunal considerou que a acusação não preenchia as condições de admissibilidade. Mariana Gomes, presidente e fundadora da associação portuguesa Último Recurso, sublinha uma decisão histórica do tribunal porque mostra que “ inacção do governo suíço em matéria de aumento de temperaturas, ondas de calor e alterações climáticas, viola direitos humanos e viola os direitos humanos daquelas pessoas”. RFI: Peço-lhe uma primeira reacção a estas deliberações do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Mariana Gomes, presidente e fundadora da associação portuguesa Último Recurso: A primeira reacção é de vitória, o Tribunal [Europeu dos Direitos Humanos] hoje respondeu à questão: a inacção do Governo em relação às alterações climáticas viola ou não os direitos humanos? E a verdade é que, apesar de o caso dos seis jovens portugueses ter sido rejeitado, o caso suíço das idosas com mais de 75 anos não foi e, portanto, à partida, será uma vitória. Do ponto de vista jurídico, nós já tínhamos feito uma primeira interpretação, o facto dos seis jovens portugueses não terem esgotado as instâncias nacionais e de se terem dirigido imediatamente ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, poderia, desde logo, colocar aqui um impedimento legal, porque a norma é que se esgote primeiro nos tribunais nacionais e só depois então recorremos ao Tribunal Europeu. Mas, os casos do ex-autarca francês e dos jovens portugueses, apesar de o autarca ter esgotado as instâncias nacionais, acabaram por ser recusados pelo TEDH. Foi sim, o caso das idosas suíças, que acabou por ter aqui um “carimbo verde” do Tribunal Europeu. De alguma forma, fala-me de uma vitória, mas é uma vitória agridoce? Sim, eu iria utilizar a palavra agridoce, mas acredito que agora o foco deve ser em perceber aquilo que correu mal e perceber como é que o caso que hoje está nas instâncias nacionais portuguesas, será impactado com esta decisão histórica do tribunal em relação à Suíça. Aquilo que o tribunal decidiu é histórico, é que a inacção do Governo suíço em matéria de aumento de temperaturas, ondas de calor e alterações climáticas, viola direitos humanos e viola os direitos humanos daquelas pessoas. E é exactamente isto que a associação ao Último Recurso veio alegar na primeira acção de litigância que colocou em Portugal. Portanto, a inacção do Governo português no não cumprimento da Lei de Bases do Clima violava uma série de direitos constitucionais. Agora imaginemos que esta decisão não é aceite nos tribunais portugueses, nós já teremos uma maior certeza de que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos nos iria dar razão. Daí que eu acho que isto coloca um precedente histórico. De qualquer das formas, tanto o caso francês como o caso português tinham muitos erros substantivos de direito nas questões da territorialidade e o português pela abstracção com que os danos foram colocados. O impacto das...

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Alternativas ao plástico podem gerar mais gases com efeito de estufa que o próprio plástico

4/2/2024
As alternativas ao plástico podem gerar mais gases com efeito de estufa que o próprio plástico. A conclusão é de um estudo publicado na revista Environmental Science & Technology. Miguel Brandão, co-autor do artigo, explica que este estudo “compara as maiores aplicações do plástico com os substitutos para perceber os impactos no clima”: “se ao substituirmos um pelo outro há ganhos ou perdas no sentido de mudanças climáticas”. Os plásticos são responsáveis por 4,5% das emissões globais de gases com efeito de estufa (GEE). Devido à ameaça que representam para a biodiversidade e para a saúde ambiental e pública, a eliminação dos plásticos transformou-se numa urgência dos diferentes poderes políticos. Todavia, as alternativas ao plástico podem gerar mais GEE que o próprio plástico. A conclusão é de um estudo publicado na revista Environmental Science & Technology. Os plásticos são controversos devido à sua produção a partir de combustíveis fósseis, às emissões durante a produção e eliminação, à potencial toxicidade e à contaminação do ambiente. Face a estas preocupações é comum apelar-se à redução da utilização do plástico e ao aumento do recurso a alternativas não plásticas. Todavia, estes apelos, muito transformados em leis, vastas vezes ignoram os impactos ambientais dos materiais alternativos. Acaba de ser publicado na revista Environmental Science & Technology, assinado por Fanran Meng, Miguel Brandão e Jonathan M Cullen, um estudo que revela que na maior parte dos casos, os produtos utilizados para substituir o plástico geram ainda mais impactos no clima. O documento não se debruça sobre o impacto do plástico na saúde ou poluição marítima, avalia única e exclusivamente as emissões de GEE dos produtos de plástico e das suas alternativas ao longo do ciclo de vida. Miguel Brandão, co-autor do artigo, explica que este estudo “compara as maiores aplicações do plástico com os substitutos para perceber os impactos no clima”: “se ao substituirmos um pelo outro há ganhos ou perdas no sentido de mudanças climáticas”. O professor de Ecologia Industrial e Avaliação de Ciclo de Vida no KTH Royal Institute of Technology (Instituto Real de Tecnologia) em Estocolmo, Suécia, sublinha que “seria limitativo descartar o plástico sem se ter a noção de que os seus substitutos possam ser piores, pelo menos no que diz respeito ao clima.” O cientista defende a necessidade de uma visão “holística, sistemática, compreensiva e com base na ciência” que olhe para o ciclo de vida do produto de forma a evitar a troca de um produto mau, por outro ainda pior. RFI: Peço-lhe que me dê as linhas gerais deste estudo. Miguel Brandão: O que nós fizemos foi comparar as aplicações mais representativas do plástico com os substitutos mais comuns em cada uma dessas aplicações e estimar o impacto no clima, tanto dos plásticos como das alternativas ao longo do ciclo de vida, para sabermos se ao substituirmos plásticos pelos substitutos haveria ganhos ou perdas no sentido de mudanças climáticas. Este artigo recentemente publicado demonstra que na maior parte das aplicações as alternativas ao plástico têm um impacto no clima superior. Nós não defendemos o uso de plásticos, porque aliás há muitos impactos que vão para além das mudanças no clima, como por exemplo, o tema dos microplásticos e da poluição marinha, mas em termos de mudanças climáticas, realmente o plástico parece ser um material bastante eficiente e seria limitativo descartar o plástico sem ter a noção de que os seus substitutos possam ser piores, pelo menos no que diz respeito ao clima. Portanto, o estudo avalia precisamente o impacto do plástico na emissão de gases com efeito de estufa. Não na questão do impacto do plástico na saúde humana, microplásticos, poluição marinha… mas na emissão dos gases com efeito de estufa? Exactamente. Portanto, [compara as emissões de gases com efeito de estufa] ao longo do ciclo de vida dos plásticos e dos substitutos. Em termos climáticos, o plástico parece ser...

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Guimarães premiada por combate às alterações climáticas

3/25/2024
Decorre esta terça-feira em Paris, os CDP Awards Europe. A participar no evento está a cidade de Guimarães pela acção climática que tem vindo a desenvolver. Paulo Lopes Silva, Vereador da Cultura, Turismo e Transição Digital da Câmara Municipal de Guimarães sublinha tratar-se de “um reconhecimento das políticas de adaptação e de mitigação do município às alterações climáticas.” Guimarães volta a candidatar-se a Capital Verde Europeia 2026. Decorre esta terça-feira em Paris, os CDP Awards Europe, prémios europeus da CDP que é uma uma organização internacional que opera na acção e transparência ambiental. CDP quer dizer Carbon Disclosure Project. A participar no evento está a cidade de Guimarães, o concelho integra a Lista A do CDP pela acção climática que tem vindo a desenvolver. Paulo Lopes Silva, Vereador da Cultura, Turismo e Transição Digital da Câmara Municipal de Guimarães sublinha que integrar a Lista A do CDP é “um reconhecimento daquilo que são as políticas de adaptação e de mitigação do município de Guimarães às alterações climáticas.” A Cidade volta este ano a candidatar-se a Capital Verde Europeia 2026. RFI: O que é que significa integrar a lista A do CDP? Paulo Lopes Silva, Câmara Municipal de Guimarães: Significa, acima de tudo, um reconhecimento daquilo que são as políticas de adaptação e de mitigação do município de Guimarães às alterações climáticas. Guimarães tem feito um caminho importante do ponto de vista das políticas de sustentabilidade ambiental e também da neutralidade climática. Sendo uma das 100 cidades europeias pela neutralidade climática que antecipou as suas metas de 2050 para 2030. Este é o reconhecimento de todos esses indicadores, da política da transparência, com que comunicamos tudo aquilo que tem a ver com a nossa qualidade ambiental neste território, com as medidas de redução das emissões de carbono e depois de mitigação daquilo que são as alterações climáticas no nosso território. Já não é a primeira vez que que Guimarães tem este reconhecimento, mas agora, nestas duas dimensões da adaptação e da mitigação, que mostra, de facto, que este compromisso do município de Guimarães é reconhecido pelas entidades internacionais como boas práticas e como um grande envolvimento não só do município, mas dos cidadãos e das empresas. É fundamental que todos estejam a bordo para haver sucesso nestas políticas. É a única cidade portuguesa que integra este ranking. ? Precisamente. Foram cerca de 900 candidatas, 119 neste nível, a única cidade portuguesa e, portanto, isso também é um sinal claro de que Guimarães, do ponto de vista nacional, em Portugal, está na vanguarda. Está no pelotão da frente deste combate às alterações climáticas. E quando é que começou este trabalho “verde”, este trabalho climático por parte da autarquia? Em 2013, houve uma mudança política, uma nova presidência, com o nosso Presidente Domingos Bragança a iniciar os seus mandatos na Câmara Municipal de Guimarães. E estabeleceu de imediato como prioridade a sustentabilidade ambiental, como a política transversal de todas as políticas públicas em Guimarães. Guimarães tinha sido Capital Europeia da Cultura, Cidade Europeia do Desporto, portanto habituada a andar nos patamares europeus de exigência nas áreas políticas públicas em que se envolvia. Na realidade, nesse momento houve uma mudança de paradigma, um grande investimento nesta área, focando naquilo que hoje, dez anos depois, se calhar é uma prioridade para muitos municípios, para muitos territórios, para muitos países. Mas há dez anos atrás era de facto uma grande convicção. De imediato foi criada uma estrutura de missão Guimarães 2030, que funciona no fundo como um ecossistema de governança que é multidisciplinar e que vai a todas as áreas de actuação do município e que faz não só das políticas ambientais, mas como de todas as políticas públicas definidas pelo município esta pedra basilar da sustentabilidade ambiental. Muito ancorada também no trabalho desenvolvido...

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Ilha do Príncipe debateu financiamento ambiental inovador

3/18/2024
A ilha do Príncipe recebeu na quinta e sexta-feira da semana passada, 14 e 15 de Março, uma conferência internacional sobre financiamento ambiental inovador. Em cima da mesa os diferentes desafios do contexto arquipelágico das ilhas, a necessidade de conservação da biodiversidade, a manutenção dos meios de subsistência da população e as alterações climáticas. A reserva mundial da biosfera foi o local escolhido para o evento que discutiu a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável no arquipélago são-tomense. Em cima da mesa os diferentes desafios do contexto arquipelágico das ilhas, a necessidade de conservação da biodiversidade, a manutenção dos meios de subsistência da população e as alterações climáticas. Para Filipe Nascimento, presidente do Governo Regional do Príncipe, “foi uma oportunidade de reflexão e partilha de conhecimento destes especialistas e parceiros, apontando os caminhos para um futuro com um acesso mais directo a oportunidades que venham reverter-se em investimentos para responder aos desafios da biodiversidade.” O presidente da região autónoma dá o exemplo da ilha do Príncipe como “uma combinação sustentável do património natural com a economia, sobretudo no turismo”. Todavia, Filipe Nascimento que ainda há um longo caminho a percorrer, nomeadamente no que diz respeito à transição energética: “é um caminho que requer um investimento considerável. A barragem do rio Papagaio é um processo que já leva sensivelmente quatro anos e estamos determinados em avançar agora e paralelamente o solar fotovoltaico também. Temos contacto com mais parceiros para que seja uma realidade e consigamos sair da actual situação muito delicada do fornecimento de energia na Região Autónoma do Príncipe.” RFI: Em que é que consistiu a conferência internacional sobre financiamento ambiental inovador? Filipe Nascimento, presidente do Governo Regional do Príncipe: A conferência foi uma oportunidade de juntar vários peritos e especialistas nas áreas ligadas a formas inovadoras de financiamento da biodiversidade e desenvolvimento sustentável. Foi uma parceria entre o Estado santomense através do Governo e do Ministério do Ambiente, junto dos parceiros do Sistema das Nações Unidas e Banco Africano de Desenvolvimento, realizado na Região Autónoma do Príncipe, com toda a participação e colaboração do Governo Regional, sobretudo por sermos uma Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO. Foi uma oportunidade de reflexão, mas também de um trabalho de partilha de conhecimento destes especialistas, destes parceiros, apontando os caminhos como se pode aceder às oportunidades para um futuro com um acesso mais directo em oportunidades que venham reverter-se em investimentos para responder aos desafios que temos no sector da biodiversidade. Houve, naturalmente, a partilha de experiências interessantes do ex-ministro das Finanças de Seychelles, do vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças de Cabo Verde, vários representantes de instituições com experiências acumuladas que partilharam com o nosso país, São Tomé e Príncipe. O que nós vimos de toda essa experiência, é a necessidade de uma melhor coordenação, mas também depois monitoramento e seguimento de todas as oportunidades que foram espelhadas durante a conferência. Os novos modelos de financiamento como crédito de carbono, o crédito de carbono é um novo modelo de financiamento e o nosso país tem um potencial, não diríamos só em termos quantitativos, comparando com outros países de um território muito maior, mas em termos, por exemplo, qualitativos, temos uma floresta e uma biodiversidade muito conservada. Pegando no caso do Príncipe, em que cerca de 59% de toda a ilha é um parque natural que é área protegida, estamos no processo de criação de áreas marinhas protegidas, tanto na ilha do Príncipe como também na ilha de São Tomé. E se olharmos nas duas ilhas em termos da proporção da área terrestre protegida, que são os dois parques, constituem um terço do país, sendo que...

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São Tomé e Príncipe: Celulite necrotizante entre as principais causas de internamento hospitalar

3/11/2024
A celulite necrotizante é uma das principais causas de internamento hospitalar em São Tomé e Príncipe. No mês de Janeiro, o serviço de cirurgia geral do Hospital Ayres de Menezes acolheu 22 pacientes. Trata-se de uma doença de fácil diagnóstico e tratável com recurso a antibióticos, todavia o diagnóstico tardio, muitas vezes por falta de informação e recurso a tratamentos tradicionais, culmina em internamento e em cirurgia para retirar os tecidos destruídos pela infecção. A celulite necrotizante é uma das principais causas de internamento hospitalar em São Tomé e Príncipe. Posição que partilha com a hipertensão e a diabetes. No mês de Janeiro, o serviço de cirurgia geral do Hospital Ayres de Menezes acolheu 22 pacientes, 12 mulheres e 10 homens. A celulite necrotizante não é uma doença contagiosa, manifesta-se sob a forma de úlcera na pele que evolui de forma rápida e profunda. É de fácil diagnóstico e tratável com recurso a antibióticos, todavia o diagnóstico tardio, muitas vezes por falta de informação e recurso a tratamentos tradicionais, culmina em internamento e em cirurgia para retirar os tecidos destruídos pela infecção. O médico são-tomense Jailson Vasconcelos alerta para a necessidade de um diagnóstico precoce, como melhor resposta para a doença, que com recurso a antibióticos permite “uma boa recuperação” “em menos de 5 a 7 dias”. RFI: O que é a celulite necrotizante? Jailson Vasconcelos, médico são-tomense: A celulite necrotizante é uma das formas de apresentação da celulite. É uma infecção da pele e tecidos moles, que inclui a parte da gordura, a parte dos músculos, tendões, até os nervos dos vasos sanguíneos. Esta infecção é causada principalmente por uma bactéria, que é a bactéria estreptococos e também pode ser causada por uma outra bactéria comum que habita na nossa pele, que é o estafilococo. A celulite aguda é aquela em que o paciente tem a pele inflamada, tem dor, tem vermelhidão. Na celulite sobreaguda o paciente tem bolhas nas pernas e umas lesões mais profundas. Já a celulite necrotizante não é uma lesão somente superficial, é mais profunda e pode alcançar também a capa do músculo, até mesmo o músculo. Trata-se de uma lesão mais grave e mais profunda e a recuperação do paciente é mais demorada. É uma doença do foro dermatológico? Não, necessariamente. Quando afecta somente a pele, chamamos de celulite aguda e médicos dermatologistas podem dar atendimento. Mas quando já é um pouco mais profunda, a infecção pode tornar-se grave e fazer uma infecção mais grave e pode pôr em causa a vida do paciente. Nesses casos, dessas lesões profundas, o cirurgião é que deve dar atendimento e um dos tratamentos é o deslizamento, é tirar aquela zona que foi destruída pela infecção. Normalmente isso se faz numa sala operatória, num bloco. É uma cirurgia? Geral, uma cirurgia, sim. Qual é a causa desta doença? É uma infecção causada por uma infecção que se inicia na pele por uma lesão. Na nossa pele temos bactérias, todo mundo tem bactérias que habitam na pele de forma permanente e algumas de forma transitória. Então, se eu tiver, por exemplo, um arranhão na minha perna, as bactérias que habitam a minha pele entram através desta ferida, colonizam aquela área e fazem uma infecção. Mas, de forma geral, se o meu sistema de defesa não for competente o suficiente, este pequeno arranhão, esta pequena ferida, é o suficiente para que a infecção se torne maior, infecta os vasos sanguíneos, os vasos linfáticos e seja algo um pouco mais grave. Então é uma infecção que acontece quando nós estamos imunodeprimidos, principalmente. Esta infecção acontece porque as defesas do organismo estão em baixo. Mas existem outros factores? A falta de higiene também pode ajudar no agravamento da infecção? Sim, aí estão os factores de risco. Aqui no nosso país, em São Tomé e Príncipe, ultimamente, no mês de Janeiro, tivemos no nosso serviço Cirurgia Geral na parte infecciosa, 22 pacientes internados, sendo 12 do sexo feminino, dez...

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Seca reduz produção de energia hidroeléctrica

3/4/2024
O mais recente relatório da Agência Internacional de Energia avança que as emissões globais de CO2 relacionadas com a energia aumentaram 1,1% em 2023, atingindo um nível recorde. Em causa está o crescimento económico da China e a baixa produção hidroeléctrica causada pela seca. Francisco Ferreira da Zero, dirigente da organização ambientalista Zero, explica que esta situação se deve ao facto de o mundo ainda continuar a recorrer aos combustíveis fósseis para a produção de energia. RFI: A que se deve este aumento das emissões globais de CO2? Francisco Ferreira da Zero, dirigente da organização ambientalista Zero, Este aumento, infelizmente, é a consequência de continuarmos a ter uma predominância muito grande do uso de combustíveis fósseis na produção de electricidade à escala mundial. Mas há também razões particulares que levarem a este aumento que, mesmo assim, foi inferior àquele que se verificou no ano anterior, entre 2021 e 2022. Nós tivemos um aumento de 410 milhões de toneladas, ou seja, 1,1% em 2023 em termos de emissões em relação a 2022 e de 2021 para 2022 tínhamos tido um aumento de 490 milhões de toneladas. Começa a haver aqui uma ligeira estabilização, mas, como digo, este aumento é explicado, em grande parte, por muitas secas. Uma das causas apontadas é a fraca produção de energia hidroelétrica associada às secas severas e prolongadas em várias regiões do mundo. A falta de água pode ameaçar a agenda climática? A falta de água já é, sem dúvida, uma consequência das alterações climáticas. É também um factor de agravamento dessas próprias emissões. Ou seja, temos aqui como que um ciclo positivo onde o clima leva ele próprio a termos maiores emissões. É o caso principalmente da Índia, onde o regime de monções foi diferente do habitual e, portanto, levou a uma redução significativa da produção hidroeléctrica. E também em Portugal, nós vimos como as emissões foram muito significativas não em 2023, mas em 2022, por causa da seca, quando as renováveis têm nas centrais hidroelétricas uma percentagem ainda importante. A China, que acrescentou 565 milhões de toneladas de CO2 ao total mundial, prosseguiu o crescimento económico intensivo depois da crise da pandemia da covid-19. A China continua a ser a avestruz, mete a cabeça debaixo de terra, ao não querer ver as ameaças que representas as alterações climáticas? A China tem aqui um misto de aspectos positivos e negativos, porque realmente o recurso ao carvão e a meta que a China tem de apenas atingir a neutralidade climática em 2060 está longe daquilo que se acha ser possível pelo país que, neste momento, tem a maior pegada carbónica à escala mundial. A China não tem conseguido, mesmo com o abrandamento da sua actividade económica, garantir objetivos mais ambiciosos na área do clima. Mas, por outro lado, a China, e isso transparece neste relatório, foi o país que em 2023 colocou tanta capacidade de painéis fotovoltaicos para aproveitar a energia solar como todo o resto do mundo em 2022. E, portanto, sem dúvida que nós temos um misto de uma transição energética a ser feita por parte da China, mas por outro lado, os objectivos podiam e deviam ser mais ambiciosos. Esta tendência é contrária à das economias avançadas, que registaram uma redução recorde das emissões, com a utilização do carvão no nível mais baixo desde o início do século XX. São Boas notícias? Estamos realmente a abandonar cada vez mais o uso do carvão. Em Portugal, 2021 foi o último ano em que recorremos ao carvão para a produção de eletricidade e, portanto, mesmo que recorramos a outros combustíveis fósseis-aqui refiro-me ao gás natural, o que é facto é que as emissões são praticamente cerca de um terço para produzir a mesma eletricidade em comparação com o carvão. Há aqui uma diferença avassaladora quando nós conseguimos retirar o carvão da equação. Agência internacional de energia faz questão de sublinhar o importante contributo das "energias limpas", incluindo as renováveis… É absolutamente...

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Bruma seca em Cabo Verde também prejudica a saúde

2/26/2024
Um episódio de bruma seca voltou a afectar o arquipélago cabo-verdiano no final do mês de Fevereiro. Trata-se de um intenso nevoeiro, que tem origem num vento carregado de pó vindo do Norte da África. Afecta o tráfego marítimo e aéreo, mas não só. Também se trata de uma questão de saúde pública. A doutora Maria do Céu Teixeira, alergologista em Cabo Verde, ajuda-nos a perceber os efeitos da bruma seca no sistema respiratório. O fenómeno de bruma seca é corrente em Cabo Verde entre Janeiro e Março. Este nevoeiro carregado de poeira também contem poluintes, o que pode provocar rinites ou bronquites ou até agravação de doenças respiratórias crónicas, como a asma. As pessoas mais vulneráveis são as crianças até os 5 anos e os idosos, assim como os doentes crónicos. Recomendo a utillização de máscara bem útil neste tipo de situação, cessar a actividade física e para os doentes crónicos tomar a medicação habitual. Em caso de febre ou de tosse aguda, não hesite em procurar cuidados médicos, insiste a doutoura Maria do Céu Teixeira. Em declarações à Lusa, com respeito as brumas secas, o meteorologista cabo-verdiano José Pimenta Lima salientou “uma intensidade relativamente crescente na concentração de partículas” nas recentes brumas secas. Além disso, consta que nos últimos três meses, Cabo Verde registou "uma temporada climatologicamente anormal”, com temperaturas muitas altas, vento pouco intenso e mar mais calmo do que o habitual, mostrando-se, por isso, preocupado com os indícios de mudanças climáticas.

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Cabo Verde: investigadora Pamela Borges vence prémio L’Oreal UNESCO 2023

2/20/2024
Pamela Borges, investigadora cabo-verdiana, de 33 anos está a realizar um trabalho de caracterização do cancro da mama em Cabo Verde, com apoio da Fundação Caloust Gulbenkian, projecto que termina em 2025. O Hospital Agostinho Neto foi a instituição que hospedou o projecto juntamente com o serviço de Oncologia de Cabo Verde. Antigamente, a análise das amostras tinha de ser feita no exterior, muitas vezes em Portugal, o que acabava por atrasar o início do tratamento. Actualmente, e graças também a este projecto, já é possível fazer o diagnóstico em Cabo Verde, o que ajuda a encurtar o tempo entre a descoberta da doença e o início da terapêutica. O trabalho de investigação de Pamela Borges já levou a que fosse distinguida com o prémio L’Oreal UNESCO para as mulheres na ciência em 2023. A cientista foi uma das 30 vencedoras na edição do ano passado e a primeira cabo-verdiana a receber tal distinção. Em entrevista à RFI, a engenheira biomédica fala-nos sobre este trabalho de investigação e começa por explicar-nos que este estudo começou depois de se ter observado que o número de casos de cancro da mama estava a aumentar significativamente no país.

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"Flexibilizar as regras ambientais é uma resposta simplista" aos protestos dos agricultores

2/13/2024
No continente europeu, os agricultores de vários países como a França, a Bélgica, a Alemanha, a Itália e Portugal, iniciaram um movimento de contestação, insurgindo-se nomeadamente contra o peso das regras ecológicas e exigindo maior protecção contra o que consideram ser concorrência desleal de produtos de fora da UE. Será necessário flexibilizar as regras ambientais para responder ao descontentamento dos agricultores, como o fez a Comissão Europeia, desregulamentando a utilização dos "novos" Organismos Genéticamente Modificados (OGM), altamente reprovado pelas associações ambientais, ou como a recente decisão do Governo francês, com a suspensão do plano Ecophyto, que previa a redução do uso dos pesticidas? A agricultura é uma das actividades que mais produz e emite gazes com efeito de estufa em França, o maior produtor agrícola da União Europeia. A nível mundial, a agricultura é responsável por 20% das emissões de gazes com efeito de estufa, segundo o Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS). Por onde é que passa a adaptação de um modelo agrícola às necessidades da segurança alimentar, sem causar danos à biodiversidade, ao clima e ao planeta? Ouça a entrevista com Carmen Bessa Gomes, especialista em Ecologia na AgroParisTech:

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São Tomé e Príncipe: "As pessoas vão para o mar e regressam sem peixe"

2/5/2024
Na semana passada, o governo São-Tomense anunciou a intenção de criar zonas marinhas protegidas, no intuito de fazer face ao aumento da pesca desregulada, fenómeno que associado às mudanças climáticas tem contribuído para a redução do pescado no mar são-tomense. Com o apoio de vários parceiros, nomeadamente Portugal, o país tem vindo a reforçar a sua capacidade de fiscalização marinha, sendo que o outro pendente da sua estratégia se relaciona com a protecção marinha e a possibilidade de o país regenerar os seus recursos haliêuticos. Neste âmbito, desde 2018, um conjunto de ONGs activas na área da protecção do meio ambiente, nomeadamente a 'Oikos', a 'Fauna e Flora Internacional', a 'Fundação Príncipe' e a 'Marapa' têm efectuado um trabalho de campo juntamente com os actores do sector, os pescadores e as palaiês, as vendedoras ambulantes de peixe, no sentido de definir áreas a serem protegidas e modos alternativos de complementar os rendimentos da pesca. Ao cabo de quase cinco anos de trabalho, foi elaborada com o governo uma proposta para a criação de seis áreas protegidas na ilha do Príncipe e de duas na ilha de São Tomé. Esta proposta que foi apresentada na semana passada deve ser objecto de um decreto, o país devendo em breve dotar-se daquelas que serão as suas primeiras áreas marinhas protegidas. Ao falar da importância destas medidas, Albertino Santos, técnico responsável por este projecto no seio da ONG 'Marapa', começa por esboçar o panorama que vive actualmente o país em termos de falta de pescado. "Temos uma plataforma que é bastante pequena e que também não tem grandes quantidades e a pesca é diária em São Tomé e Príncipe. Diariamente se pesca com artes boas e com artes nocivas. Por exemplo, nós temos aqui as redes de cerco que, pelas características da rede e pela maneira como é utilizada, chegamos a capturar peixes ainda antes do tamanho de desova. Este processo não é bom, não é saudável para o mar. Depois, se calhar há também a má influência das mudanças climáticas. Também já se nota alguma alteração do clima e logicamente também do mar. Mas o que se nota mesmo no mercado, é que os pescadores e as palaiês reclamam a diminuição da pesca", começa por referir o perito ao admitir que o desconhecimento da lei em matéria de pesca também tem algum impacto nesta situação em que "as pessoas vão para o mar e regressam sem peixe". Ao referir-se ao longo processo de discussão com as comunidades, os pescadores e as comerciantes de peixe, Albertino Santos refere que se optou por criar duas zonas protegidas em vez das oito inicialmente encaradas na ilha de São Tomé, sendo que na ilha do Príncipe, é ponderada a criação de seis zonas marinhas protegidas de pequenas dimensões. "No processo de consulta junto aos pescadores e às autoridades, havíamos identificado oito pontos diferentes que poderiam constituir áreas de interesse para a criação de áreas marinhas protegidas. Após alguma reflexão justamente das partes todas, concluiu-se que criar oito áreas marinhas em São Tomé de repente, seria muito exaustivo e exigiria muito financiamento. Então, houve um comité que decidiu criar inicialmente duas áreas marinhas protegidas experimentais, uma nos arredores de Santana, perto do 'Clube Santana' e há outra na zona sul que abarca Malanza, Porto Alegre, Jalé e o Ilhéu das Rolas. Essas áreas marinhas vão ter duas componentes: uma componente que é a chamada 'zona limitada' à pesca, onde nada poderá ser realizado e a outro 'zona de pesca sustentável', onde haverá regras" para continuar a pescar, refere o biólogo. Este processo inédito em São Tomé e Príncipe acontece num contexto em que ainda há muito trabalho de sensibilização por fazer junto da população do país e junto dos actores do sector, considera o técnico. "Os pescadores e as palaiês estão bem, não todos, mas a maioria está sensibilizada relativamente à diminuição dos recursos que lhes permitem ganhar a vida do dia-a-dia. Portanto, haverá todo um trabalho a ser feito assim...

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Cabo Verde livre de malária é “ganho histórico”

1/26/2024
A Organização Mundial da Saúde certificou Cabo Verde como país livre de malária. Este é “um ganho histórico”, sublinha Adilson de Pina, responsável pelo Programa de Eliminação do Paludismo em Cabo Verde, que falou à RFI sobre as etapas da luta contra a malária no país, as perspectivas que se abrem com esta conquista, como é que se evita a reintrodução da doença no arquipélago e até que ponto é possível sonhar com a erradicação da malária em África. RFI: O que significa para Cabo Verde esta certificação da Organização Mundial da Saúde? Adilson de Pina, responsável pelo Programa de Eliminação de Paludismo em Cabo Verde: "Cabo Verde foi certificado como país livre do paludismo. Isso significa que o país, a nível da doença do paludismo, deixa de registar casos locais de paludismo. Um dos critérios para a certificação da OMS é passar pelo menos três anos sem casos locais, o que significa que qualquer pessoa em Cabo Verde, qualquer pessoa que visite Cabo Verde e qualquer cabo-verdiano em Cabo Verde, está livre de contrair a doença, o que é um ganho histórico, sobretudo, para os países africanos. A nível da história do paludismo em Cabo Verde, desde a sua colonização, o país teve períodos nos anos 1940, 1950 em que mais de 50 por cento das hospitalizações eram devidas ao paludismo. Houve momentos em que foram criadas equipas de brigadas de luta contra a doença, nos anos 70 e 80. E por dois momentos consecutivos, o país também tinha chegado a esta eliminação desses casos locais. No primeiro momento, durante cinco anos, e no segundo momento, durante três anos. Mas a seguir a essas duas situações, o país voltou a ter casos, centenas de casos. Em 2017, foram registados 423 casos locais, últimos dos quais em Janeiro de 2018. A partir daí, o país reorganizou e reorientou as políticas, as intervenções, as acções de luta contra a doença, chegando a que, desde Janeiro de 2018 até à data, o país deixou de ter esses casos locais. Portanto, esta certificação significa, além de tudo o mais, a reorganização das intervenções, a eliminação dos casos locais e um sistema de vigilância robusto que é capaz de detectar todos os casos importados que entram no país." Que vantagens práticas vai ter para Cabo Verde, por exemplo, em termos de estruturas de saúde e até para o próprio turismo? "As vantagens: primeiramente é que o povo cabo-verdiano não sofre da doença, é menos uma doença que deixa de ser uma preocupação para nós. Significa melhor qualidade de vida e melhor saúde. É uma vantagem enorme a nível turístico. Isto significa que qualquer turista, em qualquer parte do mundo, ao decidir visitar qualquer país, Cabo Verde certamente estará na lista prioritária, uma vez que o turista que visita o país sabe que não corre o risco de ter uma doença mortífera a nível mundial. Nós sabemos que há mais de 600 milhões de casos que acontecem por ano e mais de 90% dos casos acontecem em África. Cabo Verde, sendo um país africano da África subsariana que não tem casos de paludismo local, significa que é um país certamente elegível para pessoas que querem ter um turismo saudável e um turismo sem risco de contrair o paludismo." Falou em 600 milhões de casos, 90% em África. No continente africano, só há quatro países livres de paludismo, nomeadamente Cabo Verde que é o quarto. Como é que isto acontece? "Argélia, Maurícias, Marrocos e Cabo Verde que é o quarto país [no continente africano]. Cabo Verde acaba por ser uma referência em África porque também a questão do paludismo exige o seu trabalho. Não é só diagnosticar e tratar dos casos, é a questão do sistema de saúde, é a questão da educação das pessoas, é a questão da sensibilidade à saúde, é a questão do saneamento, é a questão do meio ambiente. Portanto, são um conjunto de factores e Cabo Verde tem uma vantagem que é a seguinte: o facto de sermos ilhas. Aliás, temos dados de que há 35 anos e muito mais, há dezenas de anos, os casos tinham sido restritos às ilhas de Santiago e Boavista. Boavista registou...

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Governo aposta em Ano da Saúde Mental em Cabo Verde para cidadãos mais "saudáveis" e "felizes"

1/22/2024
A ministra da Saúde, Filomena Gonçalves, diz que o Governo de Cabo Verde está preocupado com a indicência do suicídio, do consumo de alcool e drogas e a vida sedentária dos cabo-verdianos. O Ano da Saúde Mental visa criar um conjunto de acções preventivas para dar uma melhor qualidade de vida à população. O Governo cabo-verdiano decretou 2024 como o Ano da Saúde Mental no país. Em entrevista à RFI, a ministra da Saúde, Filomena Gonçalves, diz que esta escolha foi motivada pelos números alarmantes relacionados não só ao suicídio, mas também ao consumo de drogas e alcool no arquipélago. "3,3% da população adulta ponderou seriamente o suicídio no último ano. Estes números não são apenas estastísiticas. São um grito de alerta sobre o estado da sáude mental colectiva. E por detrás destes números existem pessoas e famílias, uma comunidade e um país", disse a governante em entrevista à RFI. A falta de recurso aos estabelecimentos médicos é também preocupante, sendo assim necessário desconstruir o estigma associado ao recurso a profissionais de saúde mental. "A nossa preocupação intensifica-se ao saber que das pessoas que tentaram o suicídio, 35,1% pensaram nisso pela primeira vez no ano passado e apenas 36% procuraram apoio médico, evidenciando uma lacuna nos nossos serviços e no estigma associado à saúde mental", declarou a ministra. As questões ligadas ao consumo de drogas e alcool também peocupam a ministra, que quer um estilo de vida mais saudável para a população. "9,6% da população fuma tabaco e 45% consome alcool. Na ilha de São Vicente, o consumo de tabaco atinge 16,3% e alcool 57,5%. É também preocupante que a marijuana seja a droga mais consumida entre os jovens", indicou. Entre as soluções apresentadas durante este ano está uma forte sensibilização à importância da saúde mental, que se vai estender a escolas e à sociedade civil em geral. Para esta governante, uma saúde mental equilibrada, associada a um estilo de vida baseado na morabeza e na boa vizinhança, terá como resultado cidadãos mais "felizes" e "saudáveis". Caso nos esteja a ler a partir de Cabo Verde e tenha problemas com o alcool pode recorrer à linha telefónica verde anónima 800 25 27. Se tiver problemas com drogas ligue para a linha verde 800 25 25.

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Estudo mostra que “raspadores” fintam os plásticos nos rios

1/15/2024
Quais são as consequências da presença de plásticos de grandes dimensões nos rios e ribeiros? Verónica Ferreira, investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, debruçou-se sobre o tema e concluiu que, afinal, há quem se consiga adaptar e até tirar partido da presença dos plásticos. A investigação foi publicada na revistaEnvironmental Pollution e estudou os efeitos da poluição por macroplásticos nos rios e ribeiros, a partir de 18 estudos já existentes. A autora é Verónica Ferreira, investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, que concluiu que nem todos os organismos são negativamente afectados e há um grupo de invertebrados aquáticos, os raspadores, que consegue tirar proveito dos macroplásticos. Porém, raspar essa camada de plástico pode libertar para a água toxicidade e ser fonte adicional de poluentes. A RFI conversou com a investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. RFI: Qual é a principal conclusão do estudo? Verónica Ferreira, investigadora: O estudo concluiu que a poluição dos rios por plástico de grandes dimensões, os chamados macroplásticos, aqueles que se conseguem ver facilmente a olho nu, têm geralmente efeitos negativos nos invertebrados aquáticos, que são aqueles organismos que vivem no fundo do rio associados às areias e aos detritos vegetais. No entanto, nem todos estes organismos são negativamente afectados. Aparentemente, o grupo dos raspadores, organismos que raspam as superfícies aquáticas, normalmente as superfícies das pedras e das folhas para retirarem a camada de algas das quais se alimentam, conseguem também raspar a superfície dos plásticos, onde também se desenvolve esta camada de algas. Por isso, parecem não ser muito afectados pela presença destes plásticos se na sua superfície desenvolver esta camada de algas que lhes serve de alimento. Mas todos os outros grupos são negativamente afectados: os predadores que se alimentam de outros organismos, os trituradores que se alimentam de detritos vegetais, e outros que efectivamente sofrem um impacto negativo pela presença destes plásticos no ambiente. Mas, de uma forma geral, não podemos esperar que estes raspadores limpem os riachos dos plásticos que lá estão? Não, isso não vai acontecer porque os raspadores efectivamente só usam os plásticos como uma superfície. Eles não consomem os plásticos, os plásticos não têm características nutritivas para os organismos aquáticos. Assim que os plásticos entram na água são colonizados por algas que servem de alimento aos raspadores. Simplesmente os raspadores vão ter como que uma superfície adicional onde se alimentar, mas não vão eles alimentar-se dos plásticos, nem levar a uma degradação muito intensa dos plásticos. De qualquer maneira, os resultados são muito interessantes porque se assumia que os plásticos teriam sempre um efeito negativo por serem um elemento completamente externo ao ecossistema ao qual os organismos não estão adaptados e do qual não podem tirar muito proveito. No entanto, este grupo particular, como raspa as superfícies, tira proveito dos plásticos que fornecem uma superfície adicional para o desenvolvimento das algas. No entanto, não podemos esquecer todos os outros efeitos que esta presença de macroplásticos pode ter. Os macroplásticos contêm compostos químicos, como aditivos e substâncias que são adicionadas durante o processo de fabrico para conferir aos plásticos determinadas características que podem ser libertados para a água, e que depois podem levar a efeitos nefastos em toda a vida aquática porque são químicos que muitas vezes interferem com o funcionamento hormonal dos organismos, por exemplo. Por isso, só a presença dos plásticos, sejam eles de que tamanho for, pode ter esse efeito negativo, que não é directo, não é devido à presença do plástico em si, mas devido à libertação das...

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Pandemia fez aumentar percentagem de mortes em casa em 23 países

1/9/2024
A percentagem de pessoas que morreram em casa aumentou em 23 países durante a pandemia de Covid-19, revela um estudo internacional que analisou dados de 32 países. Durante a pandemia, os sistemas de saúde tiveram que responder às necessidades dos pacientes com COVID-19, ao mesmo tempo que cuidavam de pacientes com outras doenças fatais. A percentagem de pessoas que morreram em casa aumentou em 23 dos 32 países, revela o estudo desenvolvido no âmbito do projecto de investigação EOLinPLACE: Escolha onde morreremos: uma reforma de classificação para discernir a diversidade nos caminhos individuais de fim de vida. O estudo foi realizado por quatro equipas de investigação em Portugal, Holanda, Estados Unidos e Uganda e consistiu "numa analise de dados de certificado de óbitos com informação sobre o local onde as pessoas morrem", descreve a investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Bárbara Gomes, que liderou a equipa portuguesa que integra o projecto EOLinPLace. "Nós recolhemos a informação em 32 países, com financiamento do Conselho Europeu de investigação que nos permitiu obter e trabalhar esses dados durante uma década - desde 2012 até 2021 - incluímos os dois anos da pandemia", acrescenta a investigadora. "Este é o maior estudo de tendências internacionais no local de morte e é o primeiro a mostrar o impacto de pandemia. Na maioria dos países foi registado um aumento da morte em casa. Isto é importante porque representa uma mudança nunca antes vista nos cuidados prestados em fim de vida, no sentido de ser um retorno a morrer em casa. Antes da pandemia, já sabíamos que existia uma tendência crescente nalguns destes países, como o Reino Unido e os Estados Unidos. Agora sabemos que há mais países em que essa tendência já se verificava antes da pandemia. Durante os anos da pandemia foi notório esse aumento de percentagem de pessoas que morreu em casa", realça a investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. "O Uganda foi o único país africano [a participar no projecto] e é um dos países alvo do projecto onde este estudo de insere, que é o projecto OLinPLACE. Neste projecto temos quatro países que fazem parte destes 32 que analisamos - Portugal, Holanda, Estados Unidos e Uganda. Escolhemos estes países porque sabemos que são bastante contrastantes. No Uganda verificamos a taxa mais elevada de morte em casa de todos os países entre os 76 e 82%, antes da pandemia. Verificamos que foi um dos países onde essa percentagem mais diminuiu, ao contrário da tendência dos outros países", concluiu a investigadora Bárbara Gomes. O artigo científico O aumento da mortalidade domiciliar na pandemia de COVID-19: um estudo de base populacional de dados de certidões de óbito para adultos de 32 países, 2012-2021 foi publicado na revista eClinicalMedicine, editada pela revista The Lancet.

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COP 28: “É possível limpar a atmosfera?”

12/21/2023
No âmbito da COP 28 que decorreu, em Dezembro, no Dubai, o pavilhão de Angola recebeu uma sessão coordenada pela CPLP sobre a limpeza da atmosfera. O evento foi apresentado por Paulo Magalhães , director executivo da Casa Comum da Humanidade. Em cima da mesa, o problema do CO2 acumulado. No âmbito da COP 28 que decorreu, em Dezembro, no Dubai, o pavilhão de Angola recebeu uma sessão coordenada pela CPLP sobre a limpeza da atmosfera. Trata-se de mais um passo do bloco lusófono para a introdução do “Clima Estável como Património Comum da Humanidade”, na agenda da COP 30, que deve acontecer no Brasil. O evento intitulado “É possível limpar a atmosfera?” foi apresentado por Paulo Magalhães , investigador da Universidade do Porto e director executivo da Casa Comum da Humanidade. Em cima da mesa, o problema do CO2 acumulado na atmosfera e a diferença entre fluxo e stock. Toda a actividade humana pressupõe enquadramento jurídico. Hoje temos conhecimento científico que nos permite definir aquilo a que a ciência chama de espaço de segurança da humanidade. Ora, esse espaço não é um espaço físico, é um espaço qualitativo. Já conseguimos desenhar as condições que definem esse clima estável. Eu posso dizer para um avião não entrar no meu espaço aéreo. Não posso dizer para as alterações climáticas não entrarem no meu espaço aéreo, é inevitavelmente um bem comum. Se reconhecemos isso como património comum da humanidade, nós, em cima disto, podemos construir uma forma diferente de gerir este bem comum. Isto permite harmonizar tensões históricas, mudar as relações entre países com mais responsabilidade e outros com menos responsabilidade e criar um projeto para a humanidade: limpar a atmosfera e construir um futuro novo. Para que esta solução seja efectiva, o sistema climático, o clima, tem de ter um estatuto jurídico e ser considerado património comum da humanidade. Possibilitando assim direitos e obrigações resultantes das remoções e emissões de CO2. Em Angola, no Lubango, em Abril do ano passado, os ministros do Ambiente dos países da CPLP comprometeram-se a “considerar a possibilidade de acolher as diferentes percepções dos Estados Membros e dos seus parceiros num debate sobre o tema “Clima Estável como Património Comum da Humanidade”, pode ler-se no artigo 13° da Declaração do Lubango. O objectivo é a introdução na agenda da COP 30, prevista para o Brasil em 2025, do “Clima Estável como Património Comum da Humanidade” A Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC, na sigla original), COP 28, decorreu de 30 de Novembro a 13 de Dezembro, no Dubai, principal cidade dos Emirados Árabes Unidos.

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Desflorestação e seca são as grandes problemáticas ambientais de Angola

12/15/2023
Angola é um dos países que mais perde florestas primárias. Estima-se que, na última década, tenham sido destruídos diariamente 925 hectares de floresta. A desflorestação e a seca são, nas palavras do biólogo angolano Timóteo Júlio, as duas grandes problemáticas ambientais do país. O assistente de projectos da Fundação Kissama lembra a necessidade de se encontrarem soluções “adaptadas às comunidades locais” de forma a mitigar os efeitos das alterações climáticas. No que toca à desflorestação o processo pode passar pela educação ambiental. É do conhecimento de todos que Angola enfrenta a questão da seca no sul do país, propriamente nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe, essa é uma das questões que tem levantado, um pouco, a preocupação do Governo angolano. A outra questão é o desmatamento, a desflorestação. Que é fruto das actividades humanas, da pressão social. Temos que tentar fazer o nosso máximo enquanto país e procurar compreender em que ponto estamos e para onde queremos ir, porque é necessário estabelecermos uma visão holística de que país queremos em 2050. Temos que ter uma abordagem muito mais clara e objectiva do que é que queremos exactamente fazer. Olhando para o orçamento geral do estado, qual é o investimento que o estado angolano tem feito para questões climáticas? Qual é o investimento que o estado angolano tem aplicado nas questões voltadas para o sector do ambiente? É dentro deste sector que estão as pessoas que pensam acerca deste assunto. A seca já não devia ser uma questão de mitigação, mas uma questão de adaptação. Timóteo Júlio explica que no caso da desflorestação, o problema não é a falta de legislação, mas sim a falta de fiscalização: Mecanismos legais existem, a questão que se coloca aqui é a fiscalização. A desflorestação não acontece somente por parte de empresas, também acontece por parte das comunidades locais e dentro das comunidades locais é muito difícil fiscalizar. Temos que olhar para o nosso plano de gestão territorial e definir exactamente que percentagem queremos proteger para poder dar abertura às comunidades locais. Uma das causas de desflorestação em Angola, é a agricultura, as comunidades precisam ter esses espaços para poderem cultivar e o abate de árvores é a primeira opção. Outro ponto está relacionado com a produção de carvão devido à falta de energia. O uso de carvão e de lenha por parte das comunidades ainda é muito elevado. O biólogo angolano Timóteo Júlio participou na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que decorreu de 31 de Novembro a 13 de Dezembro, no Dubai, Emirados Árabes Unidos.

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COP 28: Lídia Brito defende importância da ciência para fazer face às alterações climáticas

12/12/2023
Decorreu, à margem da COP 28, um evento, no pavilhão de Moçambique, sobre Ordenamento do Território e Resiliência Climática. A participar no encontro esteve a moçambicana Lídia Brito, recentemente nomeada diretora-geral adjunta da UNESCO para as ciências naturais exactas. A antiga ministra do Ensino Superior de Moçambique sublinha a importância da ciência para fazer face às alterações climáticas. A directora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, nomeou, no mês de Novembro, Lídia Brito, para o posto de directora-geral adjunta da UNESCO para as ciências naturais exactas. A antiga ministra do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia de Moçambique (2000-2005) é especialista em estudos florestais e é reconhecida internacionalmente pelo desenvolvimento de políticas científicas, tecnológicas e de inovação, essencialmente em África. Durante a COP 28, que decorre até hoje, 12 de Dezembro, no Dubai, Emirados Árabes Unidos, Lídia Brito integrou um painel sobre Ordenamento do Território e Resiliência Climática. O evento teve lugar no pavilhão de Moçambique. Em entrevista à RFI a antiga ministra do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia de Moçambique sublinha a importância da ciência para fazer face às alterações climáticas, tanto na prevenção como na mitigação e adaptação. A ciência tem vários tipos de contributos em relação às mudanças climáticas e à possibilidade de mitigação e adaptação. A primeira, é a questão da vulnerabilidade e dos riscos. Portanto, nós hoje temos metodologias e tecnologias que nos permitem fazer uma avaliação do risco às mudanças climáticas de uma maneira muito mais profunda, muito mais detalhada e, portanto, ajuda a preparar-nos a ter sistemas de alerta prévio a termos nas comunidades e a construir resiliência nas comunidades, porque sabemos que tipo de riscos é que as várias zonas em enfrentam. Esta parte do risco está ligada ao monitoramento e à análise de dados. Depois há a necessidade de buscar soluções mais sustentáveis. A ciência também pode trazer soluções que permitam a mitigação ou que se faça uma melhor adaptação às mudanças climáticas e ao seu impacto. Por exemplo, o clima está a mudar, temos zonas que estão mais secas, mais quentes, tudo o que a ciência traz em termos de comida, produção, produtos alimentares e como, através da genética, se pode adaptar às mudanças no clima ou a introdução de espécies que podem ter bastante melhor rendimento. São áreas em que a ciência contribui no quotidiano na vida das pessoas, além da própria contribuição da ciência e, em particular, da ciência básica no desenvolvimento das grandes tecnologias que depois nos ajudam a monitorar e até intervir em casos, quando isso é possível. A outra área que eu acho que a ciência também traz às comunidades, aos países, ao mundo, é a capacidade de olhar para as coisas holisticamente, e isso é uma grande transformação da ciência. Hoje já falamos mais de ciência interdisciplinar, multidisciplinar, porque os desafios que temos com as mudanças climáticas são desafios multidimensionais. A Unesco desenvolve actualmente vários projectos em Moçambique, entre eles uma rede de sistemas de alertas colocado no terreno depois da passagem devastadora do ciclone Idai. Um projecto conjunto entre Moçambique e o Zimbabué nas bacias dos rios Púnguè , Búzi e Save, de forma a evitar a repetição da devastação provocada pelo ciclone Idai, que em Março de 2019 arrasou o centro do pais, levando ao transbordo dos rios, inundações, deslizamento de terras, perdas de infra-estruturas e e centenas de mortos. Por causa do Idai, começamos a trabalhar com o Zimbabwe para termos os sistemas de alerta prévio nos rios e trabalhando com as comunidades e com as rádios comunitárias de maneira que pudéssemos garantir que o que se passou durante o Idai não se repita de novo. Apesar de termos sistemas bastante sofisticados, que têm a ver com os satélites, temos também sistemas mais simples que são operados pelas próprias comunidades. O que nós estamos a criar é este...

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